16. Sobre Jungkook, narizes quebrados e verdades universalmente conhecidas.
TW: Violência, Xenofobia.
Três meses passaram com a mesma velocidade assustadora de um tornado quando suas espirais de vento tocam uma superfície plana, destruindo tudo ao redor no rastro de sua passagem. Parecia um daqueles momentos cruciais após uma catástrofe natural, quando um silêncio assustador domina o cenário caótico, depois que cada peça foi tirada de seu devido lugar.
Mas desde que ele se foi, a sensação insuportável de sua presença, como um eco do que restou, parecia transbordar.
No primeiro mês, sobrevivia em fendas de realidade ao qual me segurava no meio das marés inconscientes de memória, era guiada de maneira automática para aquele lugar ao sentir um perfume familiar, ou pensar vê-lo no rosto de outros garotos — as mesmas figuras altas e de cabelos compridos no meio da faculdade, nos seus sapatos esportivos favoritos, perdido entre as camisetas de tons escuros sempre maiores que seu tamanho —, até olhar outra vez para confirmar que não se tratava sequer de uma característica similar, tudo não passava do produto de uma alucinação difusa que me levava a recriminar a saudade por ser tão cruel assim. Coração, mente, mãos, olhos, boca, quadris, coxas; tentava encontrar alguma parte minha que Jungkook não tivesse tocado. Procurava, em vão, reconectar o que havia restado para sentir que ainda era eu ali, habitando naquele corpo sem que o amor fizesse de mim uma intrusa em minha própria pele.
Contudo, eu permanecia sendo a memória em carne e ossos de nós dois, o arquivo vivo em uma pasta segura e esquecida. Seguia sustentando nas mãos um amor que nunca foi solicitado, mas que ainda era meu. A dor se alastrava por todas as partes do meu corpo, mantendo meu coração aceso, como um aviso claro de autodestruição iminente, aquiescendo as vozes repetitivas em minha cabeça.
Volta em meia, me pegava caminhando durante horas por Seul, inquieta, por entre as conveniências vazias tarde da noite, casas de muros altos do bairro de celebridades e as luzes cegantes de uma cidade imensa que parecia minúscula para mim. Nenhum lugar me cabia. Nenhum espaço era suficiente.
Às vezes tinha o ímpeto de ligá-lo só para ouvir sua voz de novo. Sanar as dúvidas que continuavam a doer dentro de mim; se de todas as coisas que foram ditas no meio de seu discurso de namorado falso, houve alguma verdade escapando pelas entrelinhas que não foi apagada pelas suas desculpas baratas na partida. Porque acreditei em cada palavra que ele disse e em cada eu-te-amo tragado pelo seu abandono. Não queria acreditar que tudo aquilo também fazia parte do seu teatro armado para cair fora quando a base sólida foi arrancada de nossa estrutura.
Me odiava por tê-lo deixado entrar e o odiava ainda mais por ter ido embora.
Encarava por horas o display do celular com sua foto anexada ao contato até seu rosto perder o sentido. Minha mente conseguia transformá-lo em um total estranho por alguns minutos, como prender a respiração embaixo d'água, se sentir invencível por suportar sem precisar de ar, e então, retomar a superfície outra vez desesperada por um pouco de oxigênio para sobreviver.
Meus passos trôpegos seguiam a rota invisível para lugar nenhum. Sorvia algumas garrafas de Soju nas escadarias mal iluminadas do prédio desativado em companhias desconhecidas, corpos e bocas erradas demais para mim, e então voltava para o dormitório, ainda tonta, sem me preocupar com os sermões de Christine — pelas horas fora de casa, as notificações sem resposta lotando minha caixa de entrada, as ligações perdidas e as mensagens nunca lidas. O aparelho seguia desligado por dias até me lembrar de recarregá-lo outra vez.
Adormecia inerte à realidade, quando o cansaço vencia o choro, mas acordava com o sabor amargo e residual do álcool impregnado em minha língua, o mundo ao redor lentamente me tomando de volta. Um looping cretino de dias ruins seguidos por dias piores que só me levavam, como uma espiral, para baixo.
Contudo, no mês seguinte, um sopro de claridade pareceu me tirar de uma zona escura, quando meu cérebro hiperfocado, na tentativa de escapar de mais uma avalanche de pensamentos que seguiriam me derrubando outra vez, me fez voltar minha energia para todas as atividades acadêmicas que consegui dar conta naquele período de tempo; mentoria, iniciação científica, revisão interna do jornal semanal da universidade. Todas as minhas obsessões disseminadas em palavras escritas.
A ida de Jungkook para Tóquio levou com ele os boatos, que perderam força durante os feriados de fim de ano, afundando junto à neve densa de uma tempestade em meados de Dezembro. Quando o gelo derreteu, a Kyung Hee renasceu como a mesma de seis meses atrás, em sua essência. Os olhares de soslaio e os comentários maldosos, aos poucos, pararam de ter importância quando um novo rumor veio para tirar a atenção que ainda restava sobre o caso e eu acabei sendo escanteada como um arquivo antigo na bancada de um júri desatento.
A vida seguiu como se os danos não fossem permanentes, e embora as feridas continuassem em carne viva, os dias se passaram. Às vezes podia até fingir, com doses homeopáticas de autoconfiança forçada, que nada havia acontecido.
Seu nome seguia sendo uma palavra injustificavelmente proibida. Driblada pela percepção aguçada de frases reformuladas às pressas, perguntas que mencionavam a ação de um sujeito oculto, com predicados óbvios relacionados somente a um indivíduo. Um arquétipo shakespeariano vagabundo distribuído em um metro e setenta e nove de puro romantismo barato, retaliativo e inacessível, do garoto misterioso e problemático que sumiu do campus.
A essência de Jungkook desbotava em outras memórias que já nem lhe davam um nome, embora permanecesse vibrando em todas as cores somente na minha, doce o suficiente para continuar enroscado em minha língua.
Mas o tempo avançou e com ele, o meu desejo de colocar tudo para fora também rescindiu. Trine constantemente me forçava a falar sobre como me sentia, uma espécie de pseudo-terapia disfarçada de conversa fiada que me fazia mentir e continuar mentindo descaradamente para ela.
— Colocar para fora ajuda a curar, é melhor do que deixar isso criar raízes em você.
Estava cansada de ser a amiga cuzona, o título esteve sob o meu domínio por tanto tempo que precisava passá-lo adiante. Mesmo que isso significasse engolir uma afiada e dolorosa verdade.
Os dois viviam ocupados demais com suas rotinas atarefadas. Christine, como conselheira do congresso regional de psicologia de Seoul, assustando alunos da escola anexa à faculdade com terapias comportamentais, enlouquecendo com os pacientes adolescentes.
Já Hoseok, havia conseguido a vaga de estagiário no setor de Jornalismo Esportivo e passava boa parte da semana exercendo, pela primeira vez em sua vida acadêmica, suas funções determinadas por um supervisor rigoroso. Nem mesmo o conjuntinho brega de camisa polo e calça cáqui do uniforme do time de repórteres esportivos foram suficientes para pará-lo em sua meta. Pelo contrário, Hoseok se mostrou um especialista diante das câmeras. E fora delas também.
Ao fim de cada tarde, após o seu turno — quando não se atrasava com um motivo plausível, batizado de Park Jihyo, a capitã do time de voleibol, no vestiário do clube esportivo —, aparecia no primeiro andar da biblioteca, suado e descabelado, para revisarmos os conteúdos das provas finais juntos.
Exatamente como agora. Quando sobe as escadas ajustando os botões da gola de sua camisa polo cafona.
— Não acredito nisso! De novo? — comecei, assim que ele se aproximou, deixando um beijinho no topo de minha cabeça.— Você está indo trabalhar ou transar com a Jihyo, Hoseok? Ao menos leva a garota a um lugar legal se quer sair com ela. O vestiário do clube não é bem a meta de encontro de uma mulher.
— Relaxa! Estamos só aproveitando o melhor dos dois mundos, sabe como é, né? É até meio excitante.
— Tá, deixa só alguém te pegar aproveitando "o melhor dos dois mundos" para você receber um pé bem grande nessa sua bundinha bonita, Hannah Montana. — disse e Hoseok gargalhou.
— Você vai me dar um sermão agora? Vai gastar a pouca energia que me restou pra estudar... — começou — E antes de mais nada, fiz as anotações que você pediu durante o intervalo do jogo hoje, tá no bloco de notas do meu celular, toma, dá uma olhada.
Hoseok deslizou o aparelho sobre a mesa, digitando a senha para desbloquear a tela.
O feed da rede social, ainda aberto, atualizou sozinho e não pude deixar de ver a foto, — como um castigo kármico que eu me negava a chamar de coincidência banal, postada por Euwoo há menos de dois minutos: a imagem exibia um Jungkook sorridente ao lado de um grupo de outros rapazes felizes erguendo certificados emoldurados, e inevitavelmente, percebi que seus braços estavam ao redor de uma garota linda. Meu dedo correu pelo visor, indo contra todos os meus bloqueios emocionais seguros, clicando nas marcações. E lá estava ela: Aya Yukimura. Design Gráfico. Universidade de Tóquio. Sua personalidade é cortada e subdividida em tópicos de valor: nome, localização e intuito. Mas o conjunto ainda é perfeito.
Os olhos de Hobi avançam da tela até mim, clicando na barra de notificações o mais rápido possível para que a imagem estagnada no feed desaparecesse na velocidade de seu desespero.
— Desculpe por isso! — ele disse, tirando o celular de meus dedos. — Achei que tivesse fechado esse troço!
O nó na garganta já me cortava o ar, o aperto familiar no coração já dava as caras outras vezes, como um velho conhecido.
— Não precisa agir como se ser amigo dele fosse um crime... — rebati, enquanto Hoseok seguiu me acompanhando com o olhar até eu me sentar na cadeira outra vez, fingindo que aquela foto não tinha me afetado com a mesma força de um soco no estômago.
Os olhos de Hobi pararam na tela por um segundo, verificando a foto mais de perto, com mais clareza.
— Mas se quer saber, não acho que seja nada de mais, é só uma foto com o pessoal da nova faculdade, diz bem aqui. — Sua tentativa de amenizar a situação só fez com que eu fosse devorada pela ideia de ter sido descartada mais rápido do que imaginei. Era óbvio que Hoseok havia pensado o mesmo que eu. Sua cautela é acusatória. Claro, poderia muito bem não significar absolutamente nada, afinal, somos a prova viva de que amigos podem ser só amigos. Mas eu ainda não estava pronta para vê-lo amando outra pessoa. E pior que isso, amando outra pessoa enquanto eu ainda o amava.
— Não me interessa, Hobi. Não me interessa mesmo. O que ele faz ou deixa de fazer não é problema meu. — falei — Você trouxe o texto? — desviei do assunto sem nenhum tato, se tratando de Hobi, alguém que me conhecia como a palma de sua própria mão, poderia muito bem ver o que estava estampado em minha testa. Escrito em letras maiúsculas. Aquilo havia me atingido.
De todas as ideias mirabolantes que se passaram na minha cabeça nos últimos meses, aquela poderia ser classificada como a mais assustadora. O clímax do meu medo irreal. Esmagador e violento. Como sal jogado nas feridas que nunca chegaram nem perto de cicatrizar.
Por isso resolvo não comentar nada, dizer algo só daria mais força e mais impacto às minhas paranoias. Está tudo certo, Eleanor. Está tudo certo.
Repito como um mantra.
Não significa nada.
— Ok, ok. Não precisamos falar disso. — Hoseok diz, como se pudesse ler minha mente.
Ele abre a mochila, retirando a apostila meio amassada e estendendo em minha direção.
— Ótimo, onde paramos?
— Formação sócio-econômica e política, página 24.
— Ok. — Alcancei o meu caderno, entregando-o. — Leia as minhas anotações enquanto reviso as suas.
Hobi permaneceu imóvel. As mãos apoiadas contra a capa do caderno de motivos florais, observando cada mínimo movimento meu. Sei que queria perguntar, de qualquer maneira, se tudo estava bem, porque, visivelmente, estou me controlando para não me jogar outra vez do precipício que me levaria de volta àquele lugar ruim.
Meus olhos continuavam indo e vindo nas frases que se amontoavam em um texto que parecia não ter sentido, nada era sólido o bastante para me sustentar ali, liquefeito ao ponto de acompanhar as lágrimas que começam a se formar no canto externo dos meus olhos.
Os braços dele ao redor dela.
A imagem volta a minha mente causando uma dor quase física, me obrigando a encolher o corpo contra a mesa na tentativa de amenizar o efeito agonizante. Os sorrisos. A felicidade estampada no rosto dos dois.
Os braços dele ao redor dela.
Poderia muito bem ser só uma foto fora de contexto de pessoas que acabaram de se conhecer. Hoseok estava certo. Não era nada demais. Não deveria ser.
Continuaria me agarrando a ideia de que três meses era um tempo muito curto para superar alguém, mesmo que soubesse, no fim das contas, que Jungkook não me devia absolutamente nenhum tipo de reparação. Mas eu ainda estava intoxicada por ele, em cada parte, em cada canto meu, em cada célula que ainda não teve tempo suficiente para regenerar até meu corpo ser uma matéria renovada que ele jamais tocou.
Esta pele, esta mente e este coração ainda estavam, irrevogavelmente, infestados dos vestígios de Jungkook. Um teste de papiloscopia, com suas luzes ultravioletas, mostrariam suas digitais por todos os lugares, suas mãos ainda tatuadas em mim.
Não tive tempo o suficiente de me desvencilhar de nada que foi nosso. O amor continua aqui.
Repasso as informações mentalmente e a ideia me causa arrepios, rompe fio delicado e invisível que ainda me sustentava e me faz afundar de novo em meu limbo emocional. Estava tão exausta de sentir que nunca era boa o suficiente para receber amor. De qualquer tipo.
Os textos motivacionais continuavam me respondendo, em uníssono, que eu deveria voltar meu coração somente para mim mesma. Mas é tão óbvio que chega a ser patético; se eu ao menos tivesse controle de meu próprio coração, não deixaria que ele seguisse um rumo que só me machuca. Manteria ele aqui, somente comigo. À salvo. O problema é justamente este, como uma roleta russa de emoções arbitrárias, ninguém pode escolher quem irá amar.
Meus olhos continuam pescando palavras aleatórias no texto de Hoseok enquanto minha mente divaga para muito longe dali em um ritual de autoflagelação, imagino que a existência de uma nova pessoa em sua vida era a prova concreta de que ele havia me esquecido por completo. E quando digo isso, não falo do esquecimento da distância física aplicada, mas sim, de quando o sentimento parece menos assustador porque o outro não está ali, materializado, para ser um calcanhar de Aquiles. Falo do esquecimento cruel e frio, de ter sido tirada de seu coração sem chances de defesa. Se é que já estive nele em algum momento.
Sendo realista, sabia que aquela garota poderia ser o real motivo de sua ida a Tóquio. Tudo faria um pouco mais de sentido. Deixaria tudo muito mais claro em minha cabeça. Aya provavelmente estava lá durante as viagens dos festivais, participando ativamente de sua rotina como uma peça fundamental. Mas não era possível que o meu sentimento fosse assim tão unilateral e platônico, depois de tudo que ele havia dito, depois de tudo que havíamos feito, não era possível que tivesse me enganado tanto assim.
Não era.
Não era.
Droga!
A tela do meu celular piscando sem parar, com um número desconhecido, me faz voltar para a realidade quase violentamente quando tento silenciar a música repetitiva tocando alto. Tinha me esquecido de ativar o modo silencioso do aparelho e os olhares de reprovação dos outros alunos em mesas vizinhas seguem direcionados para mim enquanto me desespero.
— Alô? — atendo, tão nervosa que mal consigo posicionar o celular contra a orelha.
— Srta. Greene?
— Sim.
— Sou MinHee, da secretaria da Universidade Kyung Hee, poderia comparecer ao escritório do reitor Choi em meia hora? Temos algumas atualizações sobre o caso da senhorita.
Meu cérebro congela por um segundo.
— Sobre o meu caso?
Minha voz rompe uma barreira paralela que faz Hoseok deslizar sua cadeira para mais perto. Sibilando um "coloca no viva-voz."
— Sim, a situação envolvendo o fórum estudantil e a exposição online, recebemos uma denúncia e ela está sendo averiguada no momento. O reitor Choi gostaria de esclarecer algumas questões antes de enviarmos a papelada para a Corte.
A informação parece não ser absorvida devidamente, como um solavanco violento contra todas as minhas estruturas, despreparadas demais para revirar o mesmo assunto que me trouxe até este ponto.
— Ok, hum, você disse... meia hora, certo?
— Exato.
— Estarei aí. — Chequei as horas em meu relógio de pulso. 16h20.
— E aí? Me fala, o que foi? — Quando desliguei, Hoseok estava quase fundindo a cabeça contra o aparelho na tentativa de ouvir alguma coisa.
— Alguém denunciou o possível autor da postagem no fórum. — A frase se forma na minha boca como uma dublagem tosca vinda de um narrador externo.
— Puta merda!
— Você pode ir comigo? Não quero ficar sozinha lá.
— Lógico.
Meia hora era o tempo exato que me separava da identidade do autor daquele post cruel. Trinta minutos injustos depois de três longos meses de um castigo que me foi imposto.
Um fluxo de autoconsciência me atravessa enquanto observo Hoseok, quase em câmera lenta, enfiar os seus cadernos na mochila e se movimentar para alcançar minha bolsa e encaixá-la em seu ombro. Me movo em um ritmo muito mais lento que o comum, vestindo o sobretudo azul esquecido na cadeira ao lado da minha e caminho rumo às escadas. Sinto uma camada de suor escorrer em minhas costas, por dentro da camisa de algodão. As mãos geladas e os lábios secos. Características que identificava como a presença da ansiedade que esteve como uma constante em minha vida nos últimos meses.
Meus sapatos deslizam no piso linóleo provocando um som agudo quando paro abruptamente e quase esbarro em Hobi, derrubando os meus livros pelo chão.
Não tinha plena certeza se estava pronta para aquilo, muito menos para lidar com as consequências posteriores de que, muito provavelmente, o responsável por todo desastre arquitetado nos últimos meses, estava bem ali, como um rosto familiar.
— Tá tudo bem, Nonô? — Hobi começa — Podemos ligar para reitoria e remarcar, não sei, você passou por muito esses dias, se não tiver pronta ainda, tudo bem.
De alguma forma, não era mais uma questão sobre estar pronta ou não. Poderia fugir disso e esperar o tempo fazer o seu trabalho de me deixar esquecer, mas sei que seria atormentada por esse boato no futuro, ele voltaria para me assombrar.
— Não, eu preciso saber. Eu preciso saber de qualquer forma.
A verdade era que por mais dolorosa que a situação inteira fosse, e que consequentemente o gatilho existisse ali me punindo vez ou outra, com comentários ridículos dos garotos que sempre andavam em grupo ou de meninas más que não faziam ideia do quanto atingiam a si mesmas quando também me apontavam o dedo, eu precisava saber. Eu precisava dar um rosto àquela figura assombrosa, um nome por trás do título idiota de Paladino da Verdade.
Mais do que qualquer outra coisa, aquela era uma necessidade para seguir adiante: enterrar o meu passado, um rumor idiota que eu não deixaria viver escondido como um esqueleto em meu armário.
A mão de Hoseok se entrelaçou à minha, amparando meu desespero em um lugar seguro.
— Seja lá quem for, estou com você. — sussurrou, enquanto seu rosto se aproximava para tocar a minha testa outra vez. — Estou sempre com você.
Respiro fundo, avançando até os degraus de mármore.
— Vamos?
🔱
Eu odiava o cheiro da sala de Choi. Parecia uma mistura ruim de produtos de limpeza e essências para ambientes que acabava me causando uma sensação de repulsa. Odiava também o aspecto opaco e acinzentado dos móveis antigos e das fotos em quadros velhos dos presidentes me encarando como uma intrusa. Os troféus exibidos em prateleiras altas; os esportivos e acadêmicos, e fotos de rostos que muito provavelmente envelheceram muito nos últimos anos, ainda jovens e felizes erguendo taças de campeonatos estaduais pareciam ser um destaque na decoração cinza. Na foto daquele ano, podia ver um Taehyung animado: boné para trás, o emblema do time em contraste com a cor da camisa, o seu número favorito estampado como uma insígnia orgulhosa. 95. Me perguntava como alguém que parecia ser tão certo para mim, simplesmente, desvaneceu daquela maneira? Em outras ocasiões, ainda amaria Taehyung e ainda desejaria que ele fosse o mesmo cara incrível daquele primeiro dia. Vestindo a camiseta do Bowie, com um olhar perdido de quem vislumbra um futuro premeditado, com seu bom gosto para a arte e para música, que dançaria comigo em algum cenário fantasioso que eu seguia criando antes de dormir. Por pura ingenuidade minha.
Nem sei mais onde aquela garota está agora. Muito menos o cara que jurei que ele poderia ser.
Estou consciente disto. Dolorosamente consciente de quem Taehyung era. Do que havia feito.
Por um segundo, tento desviar do pensamento cretino e observo Hobi trocando mensagens com alguém enquanto sorri, feito um bobo.
Faltavam apenas dez minutos para o horário marcado quando chegamos ao prédio principal porque ele parou para comprar dois cafés, enquanto tagarelava sobre Jihyo. Dizia não estar tão apegado a ela, porque tudo não passava de um lance casual, mas sabia até mesmo de suas rotinas de fim de semana, dividido entre: pilates, treinos, estudos e os hobbies envolvendo pintura. Ele poderia mentir o quanto quisesse, mas estava se apegando.
Tudo que começava em negação, acabava mal. Sabia bem disso. Por experiência própria.
— Greene-ssi? Venha, ele vai recebê-la agora. — MinHee disse, enquanto Hoseok já estava de pé, com um rosto assustado.
A sala gelada de Choi me fez pensar na última vez que estive ali, consequentemente, quando tudo desmoronou nas horas seguintes.
— Olá, srta. Greene, como tem passado? — Choi pergunta assim que me curvo para cumprimentá-lo, caminhando até uma das cadeiras diante de sua mesa para me sentar.
— Sr. Jung, eu não lembro de ver seu nome envolvido neste caso.
— Eu que pedi que ele me acompanhasse, então, não tem problema que ele saiba.
— Mas é um caso confidencial, senhorita.
— Não pareceu tão confidencial quando fui exposta para mais de trinta mil pessoas em um fórum, então... — rebato quase imediatamente e Choi me encara, mas não se atreve a dizer mais nada. — Ele fica.
Respiro tão fundo tantas vezes que meu peito dói, estava morrendo por antecipação.
Os papéis dispostos na mesa mostravam a minha ficha anexada a outra papelada que exibia o selo da corte universitária. Logo abaixo, vejo a lateral do rosto de um Jungkook mais novo, o carimbo em vermelho evidenciava a dor evitada por semanas em uma palavra só: TRANSFERIDO, demarcada por cima de sua foto.
Mantenho meus olhos fixos no que Choi procura, até retirar da gaveta trancada a chave, um envelope amarelo e com um documento rabiscado com letra cursiva de lá.
— Senhorita Greene, recebemos uma denúncia oficial sobre o suposto autor da postagem no fórum, não apenas a que envolvia o seu caso, como outros casos já recorrentes aqui, inclusive o cyberbullying praticado contra o seu... — Ele pausa por um segundo, me olhando por cima da armação dos seus óculos. — Seu colega, Jeon Jungkook.
Meu corpo inteiro estava tenso. Paralisado. Minhas unhas fincadas no tecido de meu casaco, enquanto ele, pacientemente, folheava os papéis confidenciais.
— Parece que ele ouviu meu conselho e deu voz à razão. Fez bem em ir embora. De qualquer forma, essas informações serão repassadas a ele por e-mail. — Choi ri. — Não me leve a mal, querida. Crianças problemáticas aparecem aqui o tempo todo, não vale a pena gastar nossos esforços com jovenzinhos que não estão interessados em seguir as regras de como a vida funciona.
O que ele estava insinuando?
— Babaca do caralho! — Hoseok sussurrou e o silêncio da sala fez com que a frase reverberasse mais alto que o esperado.
— O que disse? — O olhar de Choi se ergueu mais rápido que o tempo que levei para encontrar o rosto de Hoseok, que estava de pé, com as mãos apoiadas contra o encosto de minha cadeira.
— Eu disse que preciso comprar pão de alho, senhor. São ótimos para estimular as funções respiratórias. — Hobi riu. Como uma criatura poderia ser subdividida entre 70% água e 30% cinismo barato?
— Mas como dizia, Eleanor-ssi, gostaria de saber se você teve algum tipo de envolvimento amoroso com algum outro rapaz que faça parte do nosso corpo discente.
— Isso mudaria alguma coisa?
— Eu quero avaliar as motivações antes de enviar uma denúncia tão séria para a corte universitária.
Foi como um soco. Uma joelhada certeira no queixo.
— Espera, o quê? O senhor está tentando me dizer que está avaliando a possibilidade de não enviar uma denuncia para a corte com base nos caras que beijei? O senhor sabe da gravidade do que aconteceu comigo, não é?
— Senhorita, entenda que isto também é muito grave. Se envolver apenas situações amorosas que vocês, estrangeiros, vivem se metendo, não posso arriscar o nome dessa instituição mais uma vez.
— Não consigo acreditar que tô ouvindo isso!
— Eu preciso que me responda, senhorita.
— Só quero saber o nome do suspeito, só isso. O senhor diz e vamos embora.
— Não posso revelar a identidade de nenhum dos alunos sem provas concretas, como disse. A denúncia está sendo avaliada há três meses.
Três meses.
A informação rodopia em minha mente.
Ele tinha aquela informação há três meses.
Seu falatório patético continua como um texto sem fim, mecânico e ensaiado. Não suporto ouvir sua voz. Sua falta de tato com as preliminares quando queria deixar bem óbvio que a razão da investigação não ter avançado se tratava justamente dele, protegendo sabe-se lá quem. O enjoo é a primeira reação somática de meu corpo quando o encaro outra vez.
90 dias inteiros de retaliação desnecessária enquanto ele mantinha aquela informação ali.
Observo todas as minhas saídas emergenciais possíveis: uma porta aberta, o olhar desatento de Choi enquanto repete seu texto pronto e sua falta de mobilidade física, levando em consideração a sua idade, eu precisaria passar por dois corredores e estaria do lado de fora. Só isto. Só bastava isto.
Não raciocino muito, nem avalio as consequências de minha atitude impensada: arranco o documento das mãos de Choi e corro para fora da sala como se minha vida dependesse disso.
Acabo esbarrando em um aluno carregando aparelhos do clube audiovisual, chuto alguns arquivos para longe e continuo correndo, correndo, correndo.
Desviando de uma massa aglomerada no canto da porta, avançando por baixo das catracas e tropeçando no asfalto áspero. Mas nem mesmo isto é capaz de me parar.
Só me dou conta do quanto avancei quando já estou de joelhos no gramado frontal do prédio mais próximo, a 300 metros de distância da reitoria. Trazendo comigo a minha resposta.
— Porra, como você... corre...e... não... não... me avisa. — Só quando finalmente paro é que me dou conta de que Hoseok me acompanhou. Avançando por baixo de duas catracas, pulando arquivos chutados e pastas soltas no chão para chegarmos até aqui.
Estou tremendo tanto que não consigo recuperar o fôlego. É necessário uma pausa dramática com as mãos no joelho, para que eu possa finalmente ler o que está escrito naquela porcaria de documento.
Minha mão chacoalha, enquanto minha respiração se alinha outra vez ao meu ritmo cardíaco. Estou zonza, nervosa e sabia que tinha feito uma merda gigantesca. E talvez, irreparável.
Sei que não foi a minha ação mais coerente, mas precisava ter aquela resposta.
Meus olhos vasculham pela folha, buscando um único nome para o culpado disto tudo e lá está ele. Marcado e sublinhado: Shin Dong-Yul.
— Merda, Eleanor... — Hobi segura o documento, lendo atentamente as páginas.
E eu continuo buscando as razões, algum motivo plausível que levaria Dong-Yul a agir assim, se tudo envolvia alguma mágoa justificada contra Jungkook, esse ainda era o modo mais impiedoso de minar a vida e a reputação de alguém e além do mais, se esgueirando como um verme escondido por uma identidade falsa na internet. Me levar junto em sua vingança de sexto ano e transformar a situação em um trauma sem sentir nenhum remorso por isso era, no mínimo, brutal.
A raiva se espalhou como uma mancha de vinho tinto em um tecido branco.
Aquele era o pior momento para tomar uma decisão com base no calor de minhas emoções, com as veias cheias de adrenalina pelo que tinha feito há alguns minutos, mas não consigo desviar da rota que meus pés seguem sozinhos rumo ao campo de baseball, cega pelas emoções que falam mais alto que minha própria voz interna: pare, você vai se arrepender disso.
Avanço pela grade do campo e avisto alguns jogadores se aquecendo enquanto o técnico Jang separa os tacos de baseball e as luvas para o treino.
— Seonsaengnim, o Dong-Yul-ssi veio ao treino hoje? Tenho um documento muito importante para entregar a ele e não o encontro — pergunto, tão cínica que estava começando a achar que a influência de Hoseok agia de forma silenciosa.
Ele checa a prancheta, avaliando os nomes dispostos em letra cursiva.
— Hoje só os reservas treinaram, já checou no laboratório de engenharia? Pela hora ele deve estar lá. — Seus olhos pararam no relógio de pulso.
— Ah, claro! Obrigada pela ajuda, Seonsaengnim.
A ideia volta a minha mente como um sussurro diabólico quando Jang dá as costas e agarro um dos tacos largados no chão. Os olhos de Hoseok dobram o tamanho já absorvendo a energia de minha ideia.
— Eleanor, você não tá pensando no que eu acho que você tá pensando, não é? — Caminho até ele observando a estrutura pesada do taco, a base escorregadia que precisava de uma força extra para não escapar da mão. Provavelmente precisaria das duas.
— Só se for bem ruim!
Meus lábios tremem denunciando meu nervosismo aparente, o sentimento que havia ignorado pelas últimas semanas, retorna com força o suficiente para transbordar pelas bordas dos limites seguros, para me encorajar a seguir adiante com a péssima ideia que tenho.
A biblioteca central fica só a alguns metros dali e tenho a opção de desistir agora, enquanto Hoseok me desencoraja dando voz à razão. Quando ainda posso me arrepender. Sei que estaria arriscando uma série de coisas mais sérias do que apenas a chance de colocar as cartas na mesa, mas desta vez, não precisava de uma aprovação externa para colocar para expelir o que estava sentindo.
— Pensa bem, Nonô. O que vai fazer com isso?
Tarde demais, Hoseok. Tarde demais.
Avanço pelas portas de vidro e os olhares me acompanham quando cruzo rumo ao laboratório de engenharia.
As luzes estão acesas e um grupo de rapazes está reunido com os olhos fixos em uma anotação atolada de cálculos confusos ao redor de peças de robótica, passo como um raio, esbarrando em cadeiras e mochilas que caem no chão, chamando a atenção de todos para mim.
Nos fundos da sala, sentado em uma mesa ao lado de outro panaca, Dong-Yul fazia anotações em seu notebook, despreocupado demais e sem qualquer sinal de culpa.
Aquela cena é o combustível necessário para o meu ataque de impulsividade.
— Ei, Dong-Yul... — Antes que seus olhos me encontrem ali, de pé, diante dele, o taco já está fincado contra a tela de seu notebook, fazendo com que a carcaça prateada fique pendurada na base, que arremesso para longe.
A cabeça de Dong-Yul se movimenta minimamente, o tempo que a ficha leva para cair, quando tenta reconectar os pedaços soltos de um notebook, agora, estilhaçado.
— Sua vadia maluca, o que você tá fazendo?!
— Você fez a postagem, não é? Você fez aquela merda de postagem no fórum, seu escroto! — A pergunta o faz parar, sem resposta, com os olhos fixos em mim. — Eu quero que você admita! Foi você, não foi?
Ele ri.
— Você é um verme, Dong-Yul. E sabe porquê você se comporta assim? Vou te dizer. Porque é um bostinha que precisa de atenção!
— Ah, é? e você realmente se acha muito importante, não é?! Mas sabe o que você é de verdade? Vou te dizer... — ele começa, caminhando até mim, tão próximo que me preparo para o soco que ele provavelmente está prestes a me dar. — Você é só uma vadiazinha estrangeira que serve como depósito de porra, sabia? Ah, não! Não sabia?! — Seu sarcasmo me faz querer quebrá-lo inteiro — Você realmente acha que alguém aqui quer namorar você? Ah, que bonitinha! — Seu rosto está a poucos centímetros do meu, conseguia sentir seu hálito asqueroso em meu nariz e sua mão tocando de leve meu queixo. — Deixa eu te contar um segredo, talvez eu tenha mesmo postado aquilo, mas pelo menos, eu não menti: você é mesmo uma vadia que precisa pagar um michê pra te comer.
Seus lábios encostam nos meus, de leve, instigando uma ânsia de vômito imediata.
— Mas eu meio que entendo o babaca do Jungkook, até que você é gostosinha.
Dou um passo para trás. Seguido de outro. Embora meu coração relute contra minha mente, minhas sinapses já foram incineradas pelo calor da raiva que me consome, escurecendo as vistas, me deixando completamente zonza.
Não penso duas vezes antes de fechar o punho e acertar o nariz de Dong Yul com toda força, ao ponto de sentir os ossos de meus dedos afundando no rosto dele, causando uma dor profunda e que se irradia pela extensão de meu braço, na mesma proporção de meu ódio.
Só levo um segundo para puxar o braço e perceber o estrago que causei. O sangue jorra do nariz de Dong-Yul, tão vivo e vermelho, que em poucos minutos ensopa seu moletom azul cafona. Suas mãos amparam a quantidade de sangue que continua gotejando sem parar
— Vadia louca! — ele diz, enquanto lentamente se afasta para apoiar o corpo contra a mesa.
— Você não é tão durão assim, né? — Seguro o taco pela base, mirando justamente em seu saco, enquanto ele se contorce inteiro, se preparando para a ação seguinte. — Essa merda que carrega entre as pernas é importante, não é? — questiono — Mas deixa eu te avisar uma coisa, Dong-Yul, esse seu pau ridículo é tão insignificante quanto você. Não vale nem o meu esforço.
Poderia muito bem terminar o meu serviço. A merda já havia começado e que teria uma consequência destruidora da mesma forma, mas pelo menos por agora, evito pensar sobre como isso ressoaria em minha vida porque vê-lo agonizar na mesma proporção de minha dor, até me causa um certo prazer culposo.
Quando olho ao redor, os rostos estão sincronizados em uma expressão espelhada, completamente assustados. Incluindo Hoseok, com sua camisa polo suja e fora do lugar, as mãos na cabeça, os olhos fixos em mim.
— O que você fez? Caralho, Nonô, o que você fez?
Ele me puxa pelo braço para fora do laboratório de engenharia, enquanto os garotos se reúnem ao redor de Dong-Yul.
Meu impulso mais primitivo é chorar. Chorar compulsivamente nos braços dele. Encolhida em seu peito enquanto ele tenta soltar meus dedos da base do taco que seguia arrastando junto a mim.
— Vem, vamos sair daqui.
Caminhamos até a porta da biblioteca, cruzando a escultura gigantesca de anjos com asas abertas, centralizado no meio de um corredor extenso.
Me encolho no mármore gelado e choro ainda mais. Ao ponto de meu peito doer. Minhas emoções se embaralham no vácuo da minha mente e não consigo distinguir o que sinto, tudo tem gosto de medo, arrependimento, prazer e culpa.
— Porra, o que você fez, Nonô?! — Hoseok segura meu rosto entre as mãos.
— Como alguém pode ser assim? Eu não entendo. Ele sequer negou. Nem se envergonha do que fez.
— Eu não sei o que te dizer agora... — Hobi começa — Não esperava por isso.
— Pior de tudo é saber que vou sair como culpada no fim das contas e essa denúncia nunca chegará à Corte, nunca.
Apoio as mãos no rosto e só então percebo a dimensão do resultado daquele soco em meus dedos que tinham ganhado uma coloração arroxeada e um inchaço visível.
O olhar de Hoseok passeia por todos os lados e se volta para mim.
— Você ao menos checou o denunciante?! — ele pergunta, enfiando a mão no bolso de sua calça cáqui e retirando o papel dobrado. — Talvez queira ver isso aqui.
Hobi abre a folha e vira a página, apontando para o final do depoimento assinado.
A letra cursiva é linda e compreensível, logo acima da data de denúncia, três meses e onze dias atrás. Logo abaixo, seu nome digitado em letras de imprensa. Meu sangue congelou nas veias. Não conseguia acreditar naquilo. É preciso reler uma segunda vez para meu cérebro associar as duas informações.
O denunciante era Taehyung.
—
TAG de CCEG no Twitter é #ClaCCEG
Ai, a Eleanor é muito boa sendo má. Sou contra a violência tá, gente? E a destruição de bens privados também (já sei que configura crime de danos pelo código penal), rs.
Esse capítulo me deixou nervosa demais, mas espero que tenha dado para conectar alguns pontos soltos ou pelo menos, entender mais ou menos o que vem por aí. A próxima atualização acontece no dia 01 de Agosto, já com uma conversa bem esperada (pelo menos por essa autora aqui, porque sou a maior fã das minhas fics sim! haha), com mais algumas informações vindo à tona.
Agradeço a vocês que tiraram um tempinho para ler, comentar, votar e que estavam ansioses esperando por essa atualização.
Tem muita coisa pra rolar ainda, podem acreditar!
Nos encontramos dia 15, certo? Até lá.
— Com amor, S.
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