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09. Códigos vermelhos, Kyosanim e eu sei o que vocês fizeram noite passada.

— Eu não acredito, sua safada! — É a expressão surpresa de Trine, enquanto sustento seu pulso segurando firme seu braço no meio do refeitório, na tentativa de puxá-la em direção à uma das mesas, que me faz pensar que estou lentamente perdendo a sanidade. Ela abre a boca como uma criança surpresa e consigo ver o chiclete rosa pink que ela está mascando preso em algum dente enquanto ela fala — Temos um código vermelho aqui, não é? — continua, rindo de desespero quando reconto pela terceira vez o que havia feito com Jungkook após a festa de Halloween. — Acho que isso é mais do que um código vermelho. — Respondo, enquanto olho ao redor alguns pares de olhos curiosos prestando atenção na nossa conversa porque Trine está basicamente gritando. — O Hobizinho sabe disso? — ela pergunta, sentando-se na cadeira em frente a minha. Está com o cabelo preso em dois coques rosquinhas e parece até inocente olhando assim, talvez em silêncio, sem os comentários absurdos que ouvi há dois minutos — Não, mas o chamei aqui também. — É o tempo de fechar a boca para Hoseok surgir na entrada do refeitório, sustentando a bolsa na lateral do corpo, puxando a alça para o ombro, ofegante e suado como se tivesse atravessado o campus inteiro correndo. Tudo por uma fofoca.

Trine acena e ele caminha até onde estamos, é a primeira vez em dois anos que temos um código vermelho. Um tipo de aviso que tínhamos estabelecido para uma situação obviamente emergencial para que todos soubessem juntos e de imediato o que havia acontecido, o último código vermelho havia sido de Trine se dando conta de que estava apaixonada por Yoongi. Ela havia dado um strike no seu primeiro red code enquanto Hobi e eu continuávamos com os nossos intactos.

Até agora.

— Que porra aconteceu agora? — ele diz, assim que afasta a cadeira, sentando ao lado de Christine para sentar ao lado dela.

— A Eleanor trepou! — Trine diz, tão alto que provavelmente alguém na fronteira entre os países estava sabendo disso também. — Christine! — Meus dedos vão direto pra sua boca quando alguns alunos nas mesas ao lado olham em nossa direção.

— O que? Nãaaaao! — Hoseok e Trine se olham, se compreendem naquele meio tempo.

— Eu te disse, né? Tá me devendo 20 pilas. — Não acredito que os dois estavam apostando aquilo. Porra!

— Pera, foi com o Tsunderezão? — É quase uma pergunta retórica. — ele parece ser do tipo que tem uns fetiches de sufocamento ou sei lá, que gosta de beijar pés. — Hoseok estava em alguma realidade paralela, preso em alguma ideia que vinha pensando provavelmente, mas não tenho intenção de respondê-lo. Não sobre uma pergunta dessas.

— Foi bom? Eu quero detalhes. Ele gosta de falar sacanagem?

— Pera, vocês entendem a gravidade da situação?

— Você fez sexo desprotegido? — Hoseok pergunta imediatamente. — Ele é tipo miojo?

— Lógico que não! O ponto é que... — respiro fundo, mudando o foco do assunto. — Miojo?

— É, você sabe, "pronto em três minutos". — Ok, vamos fingir que não acabei de ouvir o que acabei de ouvir. Abstrair e acenar. Vamos lá, Eleanor.

— Hoseok, não! Olha, o ponto é que eu meio que não me sinto culpada... —

A expressão confusa de Trine e Hoseok só denuncia o quanto aquilo tudo tava começando a virar uma bola de neve, sem lógica ou sentido algum. Ok, talvez não fosse assim tão estranho não me sentir culpada se no fim das contas, não foi algo ruim, mas porque eu sentia que algo naquilo tudo estava errado?

Okay — Trine arqueia as sobrancelhas. — E isso é algo...ruim?

— Eu sou a Eleanor, lembra? Me senti culpada por dois meses quando derrubei o almoço da Sra. Lee. — Começo. — E agora eu simplesmente faço absolutamente tudo com um garoto que conheci há pouco mais de um mês e... — Os dois estão me olhando com aquela cara que não consigo entender exatamente o que significa. — ... E eu simplesmente não me sinto mal com isso, entendem? — É naquele segundo crucial, quando os olhos de Trine e Hobi passeiam em algum ponto por cima de minha cabeça que me viro e vejo Jungkook, pela primeira vez desde tudo tinha acontecido e sou atingida pela dimensão do que fizemos.

Ele está usando suas calças largas, diferentes daquela noite, as camisetas cheirosas e gigantescas de sempre e quase tremo quando nossos olhares se encontram. É estranho porque a sensação de familiaridade ainda está presente, do que tínhamos feito e do quanto o conhecia agora: desde o seu toque até o seu gosto. Merda!

Respiro fundo quando aquela cena toma forma na minha cabeça: Jungkook de olhos fechados, com o rosto entre minhas coxas e minhas mãos emaranhadas no seu cabelo.

A sensação queima na boca do meu estômago, como se a minha memória muscular ainda reconhecesse seu corpo e ainda se lembrasse exatamente de cada ponto onde suas mãos tocaram. Cada um deles.

— Ele tá vindo pra cá, Hoseok, olha só. — Trine comenta, baixinho, mas soa como a voz da minha própria consciência. Jungkook definitivamente se esconde por baixo daquela quantidade infinita de tecido, a quantidade de músculos que mantém debaixo daquela camada de roupas ainda me surpreende.

Quando ele se aproxima, não sei direito o que fazer com as mãos, com o rosto, não sei o que dizer. Parece que estou aprendendo novamente a dominar meu próprio corpo, a me movimentar ou agir com naturalidade.

— Ei, e ai? — Ele fala e Hoseok e Trine sorriem. — Eu te mandei uma mensagem hoje cedo, você não viu? — Vi, mas não tive coragem de responder. — Não, eu tava meio... ocupada com uns trabalhos da Sra. Lee. — respondo automaticamente. Tipo derrubar o almoço dela no meio da pasta de avaliações. Há dois meses. Mas quem liga?

— Oh, ok. Hmmm, eu preciso ir pro laboratório de audiovisual, o hyung tá me esperando, só passei pra te ver mesmo. — "Só passei pra te ver". Alguém me dá um soco no meio da cara. Estou sorrindo. De novo. — Queria saber se você não quer ir comigo pro treino de Taekwondo hoje? Ainda tá me devendo uma, lembra? — Ele sorri. Tão bonito. Mostrando todos os seus dentes alinhados demais e a covinha fofa na bochecha.

Havia tocado nela naquela noite em que estivemos juntos, enquanto conversamos sobre alguma coisa estúpida envolvendo as cores dos planetas, antes de adormecer no peito dele, como uma dessas coisas clichês demais que eu queria experimentar uma vez na vida. E experimentei. Não da forma como havia calculado e planejado, mas da última maneira que achei que poderia acontecer.

— Hmmm, treino...?

— É, que te falei naquela noite. — A palavra ganha ênfase, sutil mas perceptível. — Agora que nossa punição aqui no refeitório acabou, vou retomar as aulas dos meus alunos de Taekwondo, lembra? — Ele havia falado daquilo, estava distraída demais observando como seus lábios eram sensuais demais enquanto ele falava. Exatamente como estou fazendo agora.

— Oh, Claro! É... hmmm, é, eu vou. — Não negaria seu convite, não depois do esforço que ele havia feito no almoço com papai e mamãe.

— Então, nos encontramos às 16h na entrada do dorm, certo?

— Uhum. — É repentino. Jungkook se curva segurando a alça da mochila, que repuxa sua camiseta, e me beija. Simples assim. Rápido. Doce. Na frente de todos. Não tenho tempo de fechar os olhos no meio de uma ação tão inesperada, e observo suas pálpebras inchadinhas lentamente se fecharem quando seu rosto se aproxima do meu. Podia até contar seus cílios se quisesse. Sentir o gostinho do protetor labial de melancia que ele estava usando. O cheirinho natural da pele dele, frutado.

— Até mais tarde. — ele diz, assim que se afasta, acenando pra Hobi e Trine, que estão segurando o riso. E quando Jungkook caminha até a porta, os dois basicamente se reviram nas cadeiras.

— OKAAAAAY! OKAAAAAY! O que foi isso? — Trine comenta, esticando os braços na mesa. — ele simplesmente te beijou assim?! ASSIM?! Na frente de todo mundo?! — Meu estômago revira, uma, duas, três vezes. Não sei o que pensar. Precisava ter certeza de que minha ansiedade não me devoraria lentamente pelas próximas horas.

— Eu quero saber como foi que isso começou? — Hoseok pergunta, estendendo as mãos abertas contra a mesa de uma maneira quase dramática. O que poderia ser dito?

"Foi impulsivo e completamente baseado em um sentimento temporário"? Ok, parece uma boa justificativa, mas sabia que aquele sentimento estava ali, sendo alimentado desde muito antes, tinha consciência de que uma pessoa quando excitada poderia agir de uma maneira completamente impetuosa e desinibida. Apertar sua mão contra o meu seio esquerdo e pedir que ele não me deixasse ser atingida pelo arrependimento parecia exatamente o tipo de coisa descontrolada que um sentimento temporário me diria para fazer, como um diabinho materializado em meu ombro me lembrando sobre o quanto Jungkook parecia bonito enfiado naquela calça justa. Droga, aquelas malditas coxas, sua maldita bundinha bonita. As grandes culpadas pelo meu descontrole emocional.

— Foi ele que começou a coisa toda ou foi você? — Trine pergunta, apoiada nos próprios cotovelos, os olhos fixos no meu rosto. Quase eufórica.

— Bom... foi algo natural... tipo... — começo, brincando com o porta-guardanapos da mesa. — Foi você, não é? — Ela questiona, e Hoseok sorri. — Foi totalmente você.

— Talvez eu tenha meio que dito coisas pra ele, mas... — É a expressão incrédula de Hobi que me desarma, talvez porque eu tivesse repetido por todos os cantos durante os últimos quatro anos que nenhum dos garotos daquela faculdade, além do Kim, me despertava aquele tipo de vontade. Nem mesmo o que tinha vivido com Jimin. — Preciso pegar um lanche, pera. — Ele diz.

— Todo mundo tem uma safadinha escondida dentro do coraçãozinho, Eleanor. — Trine começa. — Nem adianta lutar contra. A regra é: nunca alimente a safada que existe dentro de você e porra, você não só alimentou, você estendeu um banquete pra ela. — Hoseok gargalha enquanto Trine explica, tão séria no meio daquele comentário que até penso na possibilidade de acreditar no que ela diz.

— Alimentei a...safada? Que tipo de designação é essa, Trine? — A verdade é que Christine e Hoseok conseguiam deixar as coisas mais leves de um jeito que eu nunca conseguia sozinha, mas que tipo de sentimento era aquele? Culpa por não sentir culpa?

— É, ela se alimenta dos desejos que você realiza. É real isso, comprovado! — ela diz, despretensiosamente, como se aquela fosse uma coisa óbvia e muito comum de se ouvir no dia-a-dia: a criação das safadas.

— Ok, não acho que tenha "alimentado minha safada", isso me pareceu mais um impulso de um momento, eu tinha bebido, tínhamos brigado, eu meio que senti saudade dele, sei lá, foi uma junção de coisas que me fizeram querer e pelo visto ele também queria. — Tombo a cabeça pra frente, apoiando a testa contra o mármore gelado. Eu me sentia bem. Completamente bem. A sensação chegava a ser errada. Por que não estava confusa e mal depois de tudo que havia feito?

— Você alimentou a sua safada e quando você menos esperar, ela vai voltar por mais, você sabe, essa foi a primeira mas não vai ser a última. — As palavras de Trine soam como um oráculo, aqueles furrecas de previsões astrológicas no rádio com direito à dicas de números da sorte, cores para atrair o amor e toda aquela coisa que ela levava à sério e acreditava ao ponto de analisar o mapa astral de qualquer pessoa antes de se aproximar.

— Ok, Trine, então como eu posso parar a minha safada? — A pergunta soa melhor na minha cabeça. Dita em voz alta soa tão estúpida quanto toda aquela conversa.

— É simples, não pare. Deixe sua safada brincar um pouquinho, já já ela cansa de ficar por aqui e vai embora... — Ela começa. — Eleanor, você passou os últimos quatro anos sem fazer absolutamente nada, ela tá faminta, deixa ela ser livre um pouquinho, ok? — Seu sorriso sarcástico no final me faz pensar que Trine há muito tempo já tinha percebido que aquilo tudo iria acontecer. A roupa, a maquiagem de Ziggy Stardust, a conversa. Tudo aquilo teve dedo de Trine, eu sabia. Uma traidora.

— E o Kim? Você o encontrou na festa? — Hoseok chega trazendo um hambúrguer com uma quantidade absurda de Cheddar por cima e Trine não pensa duas vezes antes de passar o dedo.

— Sim, no banheiro. — Os dois me olham surpresos demais, talvez esperando que aquela tivesse sido a noite do comeback da Eleanor, depois de dez mil anos sem nenhum envolvimento amoroso. Errados. —... Mas com a Sohye. — A expressão de Trine muda drasticamente.

— Esse cara te chama pra sair em um dia e no outro já tá com outra menina, hmmm, fica de olho hein, Eleanor. — Hoseok está dando tapinhas de leve na mão dela, mas nem isso a impede de continuar puxando as crostas de queijo do seu hambúrguer.

— Mas na cabeça dele, da faculdade inteira na verdade, eu sou a namorada do Jungkook... — Começo. — Ele não tentaria nada, você sabe. Além de que, ele é um cara solteiro e livre... ele deixou claro que o encontro foi sem segundas intenções. — Hoseok assente.

— De qualquer forma, foi bom com o Tsunderezão? — Ele pergunta. — Você também é uma mulher livre. — Trine comenta.

— É, foi... foi bem legal. — Digo.

— Legal, Eleanor? Legal é ir ao cinema, no parque de diversões, transar com o Jungkook tá na categoria "legal"? — Trine pergunta, imediatamente. — Com o tanto de tesão contido que vocês dois têm, podiam construir uma nova Seoul, selar a paz entre as Coreias, sei lá, fazer chover no deserto. — Ok, talvez eu estivesse sendo fria em relação à tudo que aconteceu, mas como eu poderia dizer que no total de três transas que tive na vida, duas delas com Jimin, Jungkook havia simplesmente tomado um posto que ele não queria no Top 1? Admitir pra mim mesma já estava sendo difícil, pelo menos estava agarrada a ideia de que era inexperiente no assunto, ao contrário dele, provavelmente.

— Ok, foi muito bom. Feliz? — É nesse momento que Trine gargalha sem parar e Hoseok a acompanha. — Então ele manja do assunto, né? Oh, Jungkook! Isso, assim! Oh, yeaaah! Oh! — Ela começa e quero morrer. Eu poderia morrer ali. Naquele momento.

Imediatamente.

São quase 15h49 quando encontro Jungkook lá fora, o reconheço de longe, com os braços apoiados contra o corrimão de saída dos dormitório e a mochila pendurada no ombro por uma única alça. Demoro alguns segundos para assimilar o que vejo; primeiro suas costas bonitas marcadas pela camiseta preta, em seguida o cabelo úmido de um pós-banho como parecia ser a uma regra pessoal de dele para manter aquele cheiro bom que sempre tinha, e por último o perfil bonito, seu nariz cheio de personalidade e os olhos fixos em algum ponto distante. Lindo. Inteiramente lindo. Puta merda, lindo pra caralho. Me pego parada ali, entre as catracas frontais e as portas de vidro assistindo enquanto ele se move minimamente, checando as horas no seu relógio esportivo cafona e então virando a cabeça na direção do dormitório, me encontrando ali.

— Você tá aí! — Ele diz, sorrindo automaticamente. Ele parece diferente, sem a fachada de arrogância do Jeon Jungkook que conheci no dia 0. Sua dualidade ainda me surpreendia todas às vezes, essa era a verdade. Aquele não parecia em nada com o garoto que estava comigo naquela noite, tão sensual e fodidamente quente me pedindo coisas que são erradas demais para se pensar agora, muito menos com o cara prepotente que conheci na biblioteca, me oferecendo um pacote caro de aulas de Corel Draw. Era uma versão nova e tão suave, diferente dos extremos a que fui apresentada nas últimas semanas.

— Tá tudo bem? — Ele pergunta, provavelmente pela minha capacidade de deixar tudo tão óbvio assim. — Tá, tá tudo bem. Tava só... pensando. — Ele se aproxima, olhando ao redor e sei exatamente o que vai fazer. — E no que tá pensando, uh? — É aquele tom de voz, é sua boca, seus dentes mordiscando o próprio lábio, é o cheiro dele me deixando tonta, e uma resposta automática de um sim gritando no corpo inteiro. — ...Que vamos acabar nos atrasando! — Digo, dando a volta ao redor dele, em direção às escadas, desviando completamente de sua intenção de um outro beijo. Ok, mais um beijo e eu desmontaria bem ali, mas um pouquinho e não iriamos embora. E eu sei disso. — Vamo? — A ideia de ficar à sós com ele, sabendo que em algum momento o que aconteceu naquela noite viria à tona uma hora ou outra, como aquela tensão que não experimentava há anos mas que estava ali, existindo entre nós.

A sensação de que havia um segredo que era só nosso deixava tudo extremamente animador, mesmo que talvez fosse assombrada por aquilo no futuro, assim como aconteceu com Jimin. Pelo menos, meu segredo estava à salvo com Park, ou então contaria para todo mundo que ele tem... É, eu não preciso voltar a este detalhe novamente.

— Quer que eu leve sua bolsa? — Ele pergunta, assim que me alcança, com aquele seu ar de pureza e suavidade novo demais para mim. — Não, não se preocupa, só tem um protetor labial e uma carteira aqui dentro. — Ele está tão perto que pela primeira vez noto alguns detalhes no seu rosto que nunca havia percebido — no escuro de meu quarto na noite no nosso primeiro beijo, nem sob a luz verde da sua luminária de cacto —; Jungkook tinha uma pequena falha na sequência de pêlos de uma de suas sobrancelhas, uma marquinha de catapora na bochecha direita e uma pintinha bonita na ponta do nariz, coisas tão pequenas e sutis, mas que pareciam ser um complemento perfeito dele.

Por alguma razão, toda vez que ele me olha, tenho a sensação de que vai me beijar, seus olhos passeiam no meu rosto enquanto falo, parando na minha boca por alguns segundos cruciais e retornando à posição inicial de me analisar. E estranhamente, me sinto nervosa.

Talvez porque aquele assunto permanece nos rondando em cada maldita palavra dita, quando uma frase que agora tem algum tipo de duplo sentido mesmo que de uma maneira quase imperceptível parece ter o peso real do seu significado. E pra alguém como Jungkook, isso é muito.

— Quer tomar alguma coisa? Posso comprar um café pra gente. — Ele diz, no meio tempo que atravessamos a calçada que nos tira do campus. — Do que você gosta? — A frase em si, quando dita por ele, com aquele sorriso bonito e aqueles olhinhos brilhantes demais, quase inofensivos, só faz com que me sinta culpada pelo que penso no momento:"eu gosto de tudo em você."

Macchiato de caramelo, você gosta? — Pergunto, no meio tempo que tento silenciar o pensamento e ele assente. — É docinho, então eu gosto. — Mas ainda é engraçado, parece que a qualquer momento vamos tirar nossas roupas ali mesmo e reproduzir o que fizemos naquela noite, que éramos uma encenação barata de personagens que já não nos cabem mais. Estamos completamente desarmados, sem guardas levantadas como em qualquer momento como aquele, sem humor ácido ou piadas cruéis e gosto do modo como tomamos um rumo completamente diferente do que eu imaginava. Será que é assim que é ter um quase namorado?

— Mas então, há quanto tempo você é Kyosanim? — A pergunta chama sua atenção, logo depois que ele faz o pedido na cafeteria, apoiando o cotovelo contra o balcão bonito de madeira. — Há uns dois anos, eu meio que precisava de um emprego com horários flexíveis por conta da faculdade e como eu consegui meu 1º Dan aos dezesseis, procurei alguma academia que precisasse de instrutor... — Imaginava a reação desses alunos com Jungkook instruindo alguma coisa, ficava me perguntando se ele tinha ficado com todo talento da família ou se a mistura coreana e maori havia criado uma espécie de super-poderes para ele e a irmã mais nova. — Ok, você desenha, canta, gosta de cinema, luta boxe e é faixa preta em Taekwondo, tem mais alguma coisa coisa que preciso saber sobre os seus talentos? — Pergunto e ele sorri. — Você e sua irmã são tipo o que? A família do Clark Kent? — Ele desliza a mão no próprio cabelo, puxando uma mecha para trás. — Acho que sei fazer muitas coisas, mas não significa que sou excelente em todas elas, sabe? — Poderia citar uma ou duas coisas em que você é excelente caso você me pergunte agora, Jungkook.

— Entendo, mas seus desenhos por exemplo, são maravilhosos... — Digo e um sorriso se forma no canto do seu lábio. — Eu te acho muito talentoso, não sei fazer metade dessas coisas.

— Você é boa em muitas coisas... — Ele começa e estremeço pelo rumo que aquela conversa toma, mas por sorte a atendente do café volta trazendo o Macchiato de caramelo. Apenas um. E fico me perguntando se ele havia me oferecido por educação ou se estava pensando na possibilidade de dividirmos uma única bebida. — Você gosta de esportes? — Ele continua.

— Hmmm, eu gosto de dança. — Digo, observando sua movimentação antes de abrir a porta da cafeteria. — Fiz balé por nove anos, parei porque não conseguia conciliar com a faculdade, o de sempre. — Ele toma um gole da bebida, antes de me entregar o copo. — Isso justifica sua postura, você tem uma postura muito bonita... — Tá aí um elogio que nunca esperaria receber de Jungkook: algum comentário positivo sobre minha boa postura

— Bom, evita a dor nas costas — Sorrio — Tem seus benefícios. — Nossas mãos se entrelaçam como velhas conhecidas, sem sentimentos estranhos ou desconfortos que me deixavam sem saber para onde olhar. — E a elasticidade também, não é? — Ele está despreocupado demais, com uma das mãos enfiadas no bolso enquanto a outra está segurando a minha enquanto seus dedos fazem um carinho na minha palma. A verdade é que não me pergunto absolutamente nada, não sinto o peso do mundo nos ombros ou qualquer outra coisa que vinha me perseguindo depois do nosso beijo, sou fraca demais para mudar o foco naquela ocasião e estou totalmente e completamente voltada pra ele. Pela primeira vez.

A linha de metrô mais próxima fica a uma quadra dali e só me dou conta naquele meio tempo que caminhamos conversando sobre qualquer bobagem que envolve a mudança brusca no clima naqueles dias que estamos agindo completamente como namorados.

E quando foi que as coisas começaram a ficar intensas daquele jeito?

Ok, Jungkook não tinha magicamente deixado de ser um grande panaca, e eu não havia desistido da minha intenção inicial com Kim, mas me dou conta de que no meio daquelas risadas sobre assuntos banais e goles de cafés babados não havia parado uma única vez para pensar sobre Taehyung ou nosso acordo. Até aquele momento.

Repassando as regras mentalmente, totalizavam cinco.

1. Em hipótese alguma envolver sentimentos.

2. Não interferir nas regras ou nas escolhas do outro, a menos que seja em prol do acordo

3. Nada de beijos, amassos ou sexo.

4. Nada de envolver familiares ou pessoas sentimentalmente importantes para ambas as partes.

5. É proibido falar sobre o acordo após o seu fim.

Em duas semanas, havíamos quebrado o total de duas regras, uma delas pelo menos duas vezes. Supondo que isso nos levasse para o fim do acordo, esperava que pelo menos a regra principal não fosse quebrada, mas algo também havia mudado e eu sabia disso.

— Tô ansioso pra você conhecer os meus alunos... — Ele comenta, me arrasta daquele pensamento em que me pego presa. — Acho que eles vão adorar você. — Seu braço envolve meu ombro, me puxando para mais perto. — Você deve ser o tipo de professor que faz as garotas não se concentrarem na aula... — O comentário o faz rir. — Digamos que sim, mas isso é ciúmes, Leanor? — Tomo um outro gole do café antes de olhá-lo outra vez, uma dose de coragem quando estamos tão perto, em um clima tão amistoso que sinto medo. — Você se acha, né? Não tenho ciúmes de você! — Respondo e ele assente, sarcástico antes de tomar um gole do café enquanto me avalia.

— Não precisa ficar vermelhinha, tô só brincando! — Ok, ainda era o mesmo Jungkook com sua mania de me deixar constrangida com seus comentários indiscretos demais. — Não tô vermelha coisa nenhuma! — Sua mão aperta a ponta de meu nariz de leve, estamos rindo, completamente envolvidos um no outro e é naquele meio segundo que Jungkook se afasta um pouco, que o sorriso no seu rosto desmancha, e seus olhos arregalados com a mesma expressão de uma criança se dando conta de que havia aprontado algo que não devia toma conta do seu rosto.

— Gukkie! — É a voz feminina soa um pouco mais atrás de mim que chama minha atenção naquele meio tempo em que ele parece estranhamente surpreso. — Quanto tempo, não? — Me viro na direção da garota tatuada e de cabelo longo que caminha em nossa direção, tão bonita que parece que saiu diretamente das páginas de uma mangá. — Kang! Nossa... eu, eu não esperava te encontrar por aqui. — A maneira como a mão de Jungkook desliza pela própria nuca e sua cabeça tomba lentamente para o lado só denuncia o seu nervosismo óbvio. O olhar da garota recai sobre mim, sorrindo abertamente antes de envolver Jungkook em um abraço e me sinto uma completa estranha no meio da situação.

— Leanor essa é a Yun-Hee, hmmm, ela também é Kyosanim no Dojang — é uma... amiga de muito tempo. — Ele diz e a garota arqueia as sobrancelhas. Yun-Hee era linda, e a primeira coisa que noto é que não havia sequer um espaço na sua pele que não estivesse preenchido por uma tatuagem; elas cobriam os braços e as mãos, algumas subiam pelo pescoço e contornavam os dedos, era quase impossível não manter os olhos nela e acredito que ela tinha consciência disso. — Pode me chamar de Kang, é como todo mundo me chama. — Ela diz, para mim, mas seus olhos continuam fixos em Jungkook. — E você é...? — Demoro alguns para assimilar que a pergunta é direcionada à mim — Oh, sou a Eleanor, sou amiga do Jungkook.

— Namorada. — Ele corrige, no meio de uma tosse falsa. — Ela é a minha namorada. — Kang sorri quase amigavelmente para ele, mas existe algo ali que não consigo identificar inicialmente. Já havia dito para Jungkook que não precisávamos manter o rótulo do nosso relacionamento falso fora do campus, já estávamos indo longe demais naquilo envolvendo minha família naquele fim de semana caótico em Busan, não queria que a situação se tornasse um amontoado sem início, meio e fim, completamente fora do nosso controle.

— Mas então, vocês estão indo pro Dojang, né? Tô indo pra lá também. — Tava na cara que Kang não era só uma amiga. Provavelmente como no caso de Nayeon, não queria ter sido só isso, mas ela parece tranquila com a situação e deduzo que provavelmente é coisa da minha cabeça. Apesar do desconforto evidente de Jungkook, Kang se limita a falar sobre trabalho, sobre o quanto os alunos sentiram falta do Tama-Kyosanim durante aquelas duas semanas em que trabalhamos no refeitório e não toca em nenhum assunto que não se resume ao dojang, mas estou completamente de fora, como se sequer estivesse ali.

— Ei, você fez outra tatuagem? Não acredito que finalmente fez a tatuagem de proteção. — Ela comenta, tocando o pescoço de Jungkook de leve, contornando a ponta do sol que surge desenhado ali. E ela sabia do que se tratava. Bem interessante, uh?

— É, faz uns dias que fiz a Ta Moko. — Ele responde, naquele tom de constrangimento e educação que era quase sutil. Eles tinham intimidade, era óbvio. "Outra tatuagem"? Isso significa que ela sabia sobre a tatuagem na coxa, será que tinha visto na mesma situação que eu ou em alguma outra que não deveria imaginar agora?

A imagem mental que se forma na minha cabeça me faz querer parar por um segundo e respirar fundo, por alguma razão, não gosto do que vejo — muito menos do que deduzo —; não estava em posição de questioná-lo sobre nada e não iria, afinal, aquilo tudo não era da minha conta, mas tinha quase certeza de que não se tratava de algo que parava na linha de amizade. Definitivamente.

A viagem de metrô parece durar o dobro do seu tempo, como se ocorresse em câmera lenta, e faço meu papel de fingir que não estou ali, vasculho no Twitter, releio a mesma página de um e-book umas quatro vezes e sinto o olhar de Jungkook, sentado ao meu lado, indo e voltando até mim, sinto o cheirinho gostoso do seu shampoo de essência de graviola quando ele se move, mesmo quando sua atenção retorna para Kang que não parou de falar nenhum segundo desde que nos encontrou.

Ele não havia me dito nada sobre Jieun — nada realmente relevante — , talvez se eu perguntasse sobre Kang, ele agisse com a mesma frieza com que falou de ex, um aviso claro de "não se meta na minha vida, e eu não me meto na sua", havia entendido como funcionava quando se tratava dos seus segredos e daquele lado patético e misterioso que ele mantinha sempre.

— Vamos descer na próxima estação! — Ele diz, tentando chamar minha atenção para ele, mas continuo com os olhos fixos no celular passeando pelas fotos da galeria, que já vi um milhão de outras vezes.

O Dojang onde Jungkook trabalha não fica tão longe da estação, consigo ver o prédio de três andares pintado de branco, vermelho e a azul logo quando atravessamos a rua e Kang continua com aquele assunto que não me inclui. Não é culpa dela, não estou incluída naquela outra parte da vida dele, há alguns dias ele havia contado sobre o trabalho no dojang, me convidado para conhecer os seus alunos e agora me pergunto se Kang não era o grande motivador para isso tudo, assim como obviamente ele quis uma desculpa para dizer a Nayeon que não estava interessado, talvez fosse o mesmo quando se tratava de Kang, embora eu saiba que ele não é do tipo que gosta de mentir sobre o que sente.

— Mas então, Eleanor-ssi, você também é de Artes Visuais? — Ela pergunta pela primeira vez desde que saímos do vagão.

— Hmm, não, meu curso é Jornalismo. — Respiro fundo. — Último ano.

— Oh, você é tipo, intercambista? — Ela me analisa novamente.

— Não, moro aqui há mais de doze anos. — Sua expressão não muda, não parece surpresa, mas definitivamente noto que seu olhar parece muito mais curioso do que intimador. Será que em nenhum momento Jungkook pensou que seria interessante me falar sobre Kang?

— Eu preciso me trocar, você quer esperar aqui? — Jungkook pergunta, desviando também a atenção de Kang pra ele.

— Não se preocupa, Gukkie! Ela fica aqui comigo. Vou só me trocar e a levo até sua sala, certo? — A mão de Kang está segurando a minha de maneira quase cordial, mas a expressão de Jungkook, com as sobrancelhas franzidas, não negam que a situação em si é particularmente estranha. A acompanho até o vestiário feminino porque tinha certeza que ela perguntaria sobre algo e eu estava interessada em saber. Gukkie? Ah, por favor.

Quando atravessamos as portas azuis do vestiário feminino, Kang solta a mochila em um dos bancos e caminha até um dos armários, abrindo a porta que ecoa dentro do ambiente vazio.

— Então, você é a namorada do Jungkook... — Ela começa, enquanto amarra o cabelo em um rabo-de-cavalo. — Isso é novo. — Continua, se livrando dos sapatos de está usando.

— Pois é, foi algo bem... bem recente. — O assunto em si parece estranho, mas não desvio dele, deixo que ela vá até onde quer ir, sabia que ela não perderia a oportunidade de perguntar alguma coisa, o que me daria a chance de questioná-la também.

— É, parece que ele superou o fantasma da ex-namorada. — Ela diz, balançando os dedos no ar como se aquela fosse uma piada interna, mas não soa maldosa, nem com segundas intenções de criar um clima estranho, parece muito mais uma avaliação da situação, que provavelmente eu estava completamente à parte, mas é naquele meio segundo quando ela tira a camiseta que está vestindo que identifico as tatuagens na sua cintura e deduzo quase de imediato que se trata da garota que vi entre os desenhos de Jungkook naquele dia, definitivamente se tratava de Kang.

Talvez eu tenha sido ridiculamente óbvia quando não consigo mover meus olhos de sua cintura e ela acompanha meu olhar. — Gostou? Foi uma das primeiras que fiz. — Ela diz. — Jungkook que a desenhou pra mim, adoro essa tatuagem. — Ela comenta, tirando a calça que está vestindo, antes de colocar o par de calças do seu Dobok.

— É, é bem bonita. — Junto os lábios, soltando um estalo que ressoa pelo espaço.

O clima entre nós parece pesar, definitivamente, naquele meio segundo. Jungkook desenhando tatuagens? Ah, por favor.

— Olha, bonitinha, não me leve à mal, o Jungkook é um carinha fofo, muito educado e que sabe bem como fazer a coisa toda acontecer... — Ela diz, enquanto enfia os sapatos dentro do armário de forma desajeitada. — ...se é que me entende. — Poderia muito bem dizer que não sabia do que ela estava falando, deixar que ela dissesse o que tivesse vontade porque sabia que ele não iria falar. — Quer dizer, não sei, vocês já...? — Sua pergunta é indiscreta, mas ela não parece incomodada com a maneira como cruzo os braços ou tento ser sutil o bastante para ela perceber que não quero responder aquilo. — Provavelmente sim, não é? — Seus olhos me analisam, enquanto ela veste o dobok, passando a faixa ao redor da cintura. — Enfim, o que quero dizer é que não vale o esforço, entende? A Jieun não vai embora. Ela sempre tá ali, o assombrando vez ou outra... — Ela começa e naquele momento tem toda minha atenção. — Mas olha, não quero ser chata, nem nada, é só um conselho de uma ex-namorada para a atual namorada... — Ex-namorada? Kang era uma ex-namorada? Ok, o que mais Jungkook continuava escondendo de mim? — Ele ainda não se curou direito do que aconteceu com essa garota, então, toma cuidado, ok? Evita se machucar. — A palavra continua ecoando no meu subconsciente, como se o peso do mundo estivesse caindo nos meus ombros: "ex-namorada".

Jungkook havia mentido quando disse que Jieun havia sido a única, mas porque razão?

— Ei, vamo? — Ela diz, depois de se olhar uma última vez no espelho e caminhar para fora das portas azuis do vestiário. Estou logo atrás, mas completamente fora daquele ambiente, provavelmente as forças místicas do Universo inteiro estavam me guiando logo atrás de Kang, porque sinto vontade de ir embora e por algum motivo pouco claro, odeio o que sinto naquele momento.

— Tá entregue, bonitinha. — Kang diz, antes de abrir a porta para a sala onde vejo Jungkook de pé diante de um grupo de crianças. Seu cabelo está preso em um meio rabo-de-cavalo, não fazia ideia de como ele ficava bonito vestido naquele dobok e me odeio naquele momento porque o sentimento confuso que Kang me causou ainda está ali.

Ele acena para mim e as crianças também prestam atenção na minha entrada, enquanto tiro meus sapatos.

— Quem é ela, Tama-Kyosanim? — Uma garotinha pergunta, quando caminho para me sentar um pouco mais afastada deles, não queria atrapalhar a aula, muito menos chamar uma atenção indevida.

— Essa é a minha namorada. — Ele responde e as crianças parecem surpresas. Namorada, não é? Parece que você é cheia de namoradas que não lembra! — E você beija ela na boca, Kyosanim? — Um dos garotinhos pergunta, parecendo extremamente curioso.

— Sim, namorados beijam na boca. — A expressão do garoto é de extrema timidez. — Kyosanim, porque o cabelo dela é assim? — A mesma garotinha de antes pergunta uma outra vez. — Porque a namorada do Kyosanim é tão especial que Poseidon deu ondas do mar só pra ela colocar nos cabelos. — Jungkook responde e estremeço. Por que ele havia mentido pra mim? Idiota!

— Mas o cabelo dela nem é azul! — A garota rebate e Jeon sorri. — Pra você ver o quanto ela é especial, Poseidon mudou a cor das ondas só por isso. — Ele me olha e não sei o que dizer, minha vontade é de confrontá-lo, mesmo que não tenha aquele direito.

— Bom, chega de conversa, vamos começar! Todos em suas posições, cumprimentem o companheiro! — Minha cabeça está em outro lugar, não consigo raciocinar direito, eu entendia que Jungkook manteria seus próprios segredos, mas porque havia dito que Jieun foi a única e porque caralho aquele sentimento tava me incomodando tanto?!

O que tínhamos não era sério, era só um acordo, a droga de um namoro falso, mas imaginá-lo com Kang faz com que algo me corroa por dentro, tão lento que aos poucos me sufoca. Ótimo! Uma boa hora para bancar a idiota emocionada.

Não sentia raiva de Kang por ter me dito, mas não entendia porque me sentia decepcionada com Jungkook ao ponto daquele sentimento doer. Talvez porque tenha sido sincera com ele desde sempre sobre tudo, sobre o que quis e o que não quis e sobre todas as coisas que envolviam o meu passado, mas agora me sentia idiota. Uma completa e total idiota.

Provavelmente era assim que ele me enxergava também.

Kang não nos acompanha na volta e agradeço, já estava me sentindo péssima e não queria mesmo me sentir ainda pior. Jungkook parece animado falando um filme de terror japonês que havia encontrado online depois de quase seis meses de busca, em algum daqueles sites ilegais que precisam ser acessados em redes públicas, um amigo havia baixado para ele em um Cybercafé e ele aproveitaria para assistir durante a viagem até Busan no fim de semana.

Forço um sorriso quando ele sorri, sentando ao meu lado nas cadeiras vagas do metrô que não ficava ridiculamente cheio naquele horário.

Sinto vontade de perguntar se ele não desconfiou que Kang me contaria, porque até mesmo para mim parecia muito claro que ela estava querendo alguma coisa. Talvez estivesse sendo infantil, mas aquela altura não tinha controle daquele sentimento ruim, se pudesse escolher, provavelmente não escolheria senti-lo.

O trajeto de volta parece bem menor quando ela não está por perto e quase me surpreendo quando levamos o tempo exato até a estação próxima a faculdade e não dez mil anos, sendo obrigada a ouvir a conversa que não me incluía ou seja lá quais forem aqueles códigos utilizando a palavra Dojang que Jungkook e Kang estavam falando repetidas vezes.

— Eu tava pensando... — Ele começa, enquanto caminhamos de volta até o campus. — você tem planos pra hoje à noite? Eu pensei que podíamos ver um filme no meu dorm hoje, não sei, pedir uma pizza?! — Sua mão aperta de leve minha cintura. — Talvez só ficarmos juntos um pouquinho... — Seu rosto se aproxima a medida que a frase aos poucos perde força na sua voz.

— Desculpa, preciso estudar. — Digo, com as mãos espalmadas contra o seu peit, o afastando minimamente, e seus olhos me analisam.

— Aconteceu alguma coisa, Leanor? Você tá fria comigo...

— Não querer transar com você não significa que estou fria. — Começo. — Significa só que não tô a fim. — Ele respira fundo, tirando a mão do bolso e deslizando o cabelo para trás. Estava nervoso.

— Se eu colocar café em você agora posso fazer um Iced Americano. — Ele diz e continuo caminhando alguns passos à frente dele. Você não é tão engraçado quanto pensa, Jungkook!

Ele avança alguns passos e me alcança.

— Você tá sendo fria comigo só por que transamos? É isso? — Como ele podia ser tão lento? Era óbvio que se tratava de Kang, suas mentiras e o fato dele não ter sequer se importado em ao menos citá-la como namorada, mesmo naquela noite, quando o perguntei sobre os desenhos.

— Quando você pretendia me falar que a Kang é sua ex-namorada, uh? — A pergunta definitivamente o pega desprevenido, sua boca se movimenta várias vezes provavelmente tentando formular alguma frase que faça sentido, mas naquele momento nada faz sentido e sei que estou errada de questioná-lo por coisas que não me dizem respeito, mas sinto que se não disser agora, posso morrer com aquilo preso na garganta.

— Só não achei que precisava falar de algo que deu errado... — Ele começa. — ... Foi uma coisa de alguns meses apenas, eu não tava pronto pra me relacionar ainda e não sei, não achei que era importante falar disso, a Kang e eu resolvemos tudo isso numa boa. — E ela continuava pensando nesse assunto mesmo depois de tudo? Estranho. — Não sei porque ela comentou sobre isso com você, eu realmente não sei... — Sua mão ainda está segurando a minha, por alguma razão quando ele confirma aquela história o sentimento retorna outra vez com ainda mais força, o que exatamente era aquilo?

— Mas porque você tá assim? — Ele começa outra vez. — Você tá com ciúmes? É isso? — A palavra se forma como um soco no meio da minha cara, na boca, literalmente, como aquelas cenas clássicas de luta nos filmes, o vilão sendo nocauteado em câmera lenta para o delírio do público. Me sentia exatamente como o cara malvado naquele segundo. Ciúmes.

Não, aquilo não fazia sentido. Por que sentiria ciúmes de Jungkook se não gostava dele? Não sentia ciúmes dos meus amigos mais próximos, imagine de um panaca daquele. Há.

— Ciúmes? De você? Ah, por favor! — Digo e sua expressão preocupada não muda.

— Então o que é? uh? Qual o motivo disso tudo?

— O motivo é que estou sendo sincera com você e você não está sendo comigo. — Começo. — desde o inicio você sabe porque estou aqui, mas você não me diz nada, nem sobre a Kang e muito menos sobre a Jieun, não é? — Ele revira os olhos, as mãos estão apoiados na própria cintura e estamos parados no meio de Seul, discutindo seja lá o que for aquilo.

— Mas porque é tão importante pra você saber sobre a Jieun? Não quero ficar voltando nisso, revirando meu passado, é um direito meu. — Ele diz e apenas assinto.

— Você tá certo, então é um direito meu não te dizer mais nada sobre mim ou sobre o que decidir fazer daqui por diante, certo? — Jungkook apoia a mão contra a testa, respirando fundo.

— Vamo fazer o seguinte, Jeon, vamos parar de agir como namorados. Nós não somos namorados e não precisamos fazer esse teatrinho fora da faculdade, ok? Isso aqui é negócio, não é diversão, já entendi como as coisas vão funcionar com a gente, então é melhor parar por aqui com essa coisa de... — As palavras parecem fugir de mim, correr na direção oposta do que quero dizer. — de fingir que somos algo que não somos.

— Então vai ser assim? — Ele pergunta, com aquele olhar cruel demais. Os olhos tão negros pareciam mudar conforme seu humor, igual as turmalinas que mudavam de cor conforme nossos sentimentos e aquilo me fazia temê-lo às vezes, parecia nunca saber o que estava pensando de verdade. Seus olhos diziam uma coisa, seu corpo outra.

— É, vai ser assim.

— Ok.

— É, ok. — Respondo. Antes de sair pisando fundo e dessa vez, sozinha.

— Que horas o Tsunderezão disse que viria? — Hoseok pergunta pela sexta vez, enquanto estamos ali, aguardando Jungkook há mais de meia hora perto da saída do campus da KYU.

— Ele disse que estaria aqui às 14h, será que ele desistiu? — Merda! Sabia que havia uma grande possibilidade do Jungkook ter desistido: primeiro por conta da nossa discussão na noite passada e do pequeno surto sobre não agir como "namorados". Segundo, porque com todas as mensagens que havia enviado, ele não havia respondido uma sequer.

Talvez eu tivesse extrapolado, no meio daquela discussão idiota, mas não conseguia compreender o que havia sentido naquele meio tempo entre Kang ser ex-namorada de Jungkook, sobre ele não ter me contado sobre aquilo e eu ter me sentido completamente confusa a respeito.

— Hobi, hmmm, pode me dizer uma coisa? — Começo, contornando a situação enquanto brinco com a alça de minha mochila apoiada entre minhas pernas.

— Fala, o que foi? — Ele pergunta, antes de se aproximar um pouco mais, tirando um dos fones de ouvido e pausando a música alta que está ouvindo.

— Hmmm, você acha que quando ex-namorados são tipo, amigos próximos, pode acontecer algo entre os dois mesmo que esporadicamente? — Estou me odiando por tocar naquele assunto, por estar preocupada com ele, mas preciso de uma segunda opinião além das paranoias. — Tipo, uma recaída? — Hoseok para um segundo e pensa, balançando os pés desajeitadamente quando se senta na calçada — Acho que depende da relação que eles mantém, é que são casos e casos, não dá pra ter 100% de certeza que vai acontecer, mas porquê? — Óbvio! Agora Hoseok me dissecaria até descobrir de quem estava falando, e pior, iria descobrir uma hora ou outra, porque Hobi era bom naquilo: descobrir coisas.

— É que ontem eu descobri que o Jungkook teve outra namorada depois da Jieun... — Começo. — Uma das professoras do dojang onde ele trabalha, uma garota chamada Kang. — Hoseok parece surpreso, mas me avalia. — E você está preocupada se os dois estão tendo recaídas, é isso? — Bingo!

— Não, é só que sei lá, ele nunca me contou isso e fiquei um pouco chateada, sabe? — Hobi apoia a mão contra o queixo, riscando o próprio solado do seu tênis nas pedrinhas presas no chão.

— Nonô, você tá com ciúmes do Tsunderezão? — Sua pergunta me faz rever a cena de nós duas no vestiário, o modo como ela falou que Jungkook "sabia bem como lidar com as coisas", provavelmente insinuando que ele era bom naquilo que eu havia descoberto algumas noites atrás. Imaginava aquelas unhas enormes e pintadas de esmalte preto brilhante subindo pela coxa de Jungkook, antes de apertar firme o tecido de sua calça justinha. A maldita calça apertada que ainda me assombrava nos piores pesadelos. Porra! Odeio mentalizar aquilo, odeio imaginá-la o tocando daquele jeito, odeio!

— Hoseok, por favor! Ciúmes? Pff! — Respondo, mas sei que ele não me leva à sério, seu meio sorriso e os olhos revirados só denunciam o que tá escrito no meio da minha cara: estou com ciúmes de Jungkook, obviamente.

— Bom, então, hipoteticamente, se você sentisse ciúmes de Tsunderezão... Isso pode significar que o que tá rolando entre vocês tá começando a ter reações naturais, não é? — Não! Não! Não! Não tinha nenhum tipo de sentimento ali. Nada. Zero.

— Hipoteticamente falando, se eu estivesse apaixonada pelo Jungkook preferia passar o resto do meu ano beijando o Jimin em um looping infinito. — A reação de Hoseok é sorrir, como sempre. — Olha só, ele apareceu. — Quando me viro, vejo Jungkook caminhando em nossa direção, usando aquele bucket hat que escondia metade do rosto e as mãos enfiadas nos bolsos, a passos lentos como se não estivesse trinta minutos atrasado.

— Tá atrasado! — Digo, assim que ele se aproxima.

— Boa tarde pra você também, Leanor.

— Boa tarde, está trinta e dois minutos atrasado. — Digo e ele revira os olhos.

— A Trine não vem também? — Jungkook pergunta, antes de caminhar até minha mochila pra pendurá-la em seu ombro. — Ela vai acampar esse fim de semana, é o mês da purificação, lembra? — Respondo e ele comprime os lábios. — Não precisa levar minha bolsa, tá meio pesada. — Mas ele ignora o que estou dizendo e continua caminhando enquanto Hobi puxa sua mala com rodinhas vermelhas. Típico de Jungkook, me ignorar completamente.

— É melhor pegar um táxi? — Hoseok pergunta, olhando de um lado para o outro na calçada. — É, o trem pra Busan sai às 15h30, se o bonitão aqui não tivesse se atrasado, já estaríamos lá. — Quando digo isso Jungkook sorri, com seu sarcasmo habitual, arqueando as sobrancelhas. E Hoseok silenciosamente nos observa.

— Você sabe que tô fazendo isso por sua causa, né? Não tenho obrigação alguma de ir. — Jungkook comenta, cruzando os braços.

— Você não quer ir? Não precisa! Pode ficar aqui. — Estou dizendo aquilo da boca pra fora, a verdade é que no meio tempo que levo para formular a frase, estaria disposta a me ajoelhar e implorar pra Jungkook ir, porque não conseguia visualizar nenhuma realidade onde ele não estivesse comigo na droga da condecoração de River. — Que Deus me ajude! — Hoseok comenta.

Kāti noa te utiuti, e hoa! — Jungkook começa, falando em maori, provavelmente algum tipo de comentário que eu seria capaz de entender.

— Xingamentos em outro idioma não são permitidos. — Eu começo e ele ri.

— Ok, vocês podem parar com essa melação aqui? Vamos perder o trem! — É o comentário de Hobi que nos puxa para fora daquele mundo paralelo que pareciamos sempre ficar presos quando estavamos um com o outro. Não via a hora daquele fim de semana acabar, sabia que aqueles dois dias com Jungkook enfiado na minha casa seria uma espécie de pesadelo materializado, e precisava me preparar para a reação de River, porque até agora não fazia ideia do que ela achava do meu namoro. Na época de Jimin, ele quase nos pegou dando uns amassos com a porta do quarto aberta, óbvio que Park quase cagou nas calças, sorte é que sua cara de bom moço convencia o suficiente para River achá-lo inofensivo, assim como provavelmente também achava que eu ainda era virgem.

River tinha aqueles par de olhos azuis assustadoramente bonitos como os de mamãe, parecia um mocinho de filme de sessão de sábado, aqueles água-com-açúcar que sempre acabavamos locando nos fins de semana, quando deixamos Rhiannon e viemos para Busan, River obviamente fez sucesso na escola, com as garotas do bairro, teve uma ou duas namoradas nesse meio tempo, mas sempre foi apaixonado pelo exército e se dedicou à isso, tinha uma bandinha de grunge que tocava em um pub nos fins de semana e um cabelo longo como o de Jungkook, mas abriu mão dessas coisas porque admirava papai como soldado, ficar longe dele naquele período foi difícil, crescer longe de River não foi a melhor coisa do mundo, mas seus retornos recompensavam as idas. Quase todas às vezes.

Ele costumava dizer que não confiava nos garotos de Busan, tinha amigos no exército e sabia exatamente os rumores que espalhavam entre si sobre as garotas com que saíam como um bando de panacas e River odiava aquilo. E temia que algo do tipo acontecesse comigo.

Definitivamente não sabia como ele iria reagir à Jungkook, River me conhecia tão bem que se me pressionasse um pouco, eu acabaria contando sobre a droga do acordo e do namoro falso, definitivamente era a primeira vez que viveria aquela experiência de fingir estar com alguém fora daquele ambiente da faculdade, pelo menos, poderia contar com Hoseok ajudando mesmo que indiretamente e estava aliviada por isso.

— O táxi já tá chegando, vamo? — Hobi comenta e pouco tempo depois, o carro azul-escuro se aproxima com um motorista bem-humorado que elogia o chapéu ridículo que Jungkook está usando.

O caminho até a estação de trem é silencioso, não temos muito assunto. Hoseok está trocando mensagens com alguém, tirando selfies, avisando ao mundo que aproveitaria o fim de semana em Busan e Jungkook está lendo um livro ao meu lado, é Moby Dick, e ele está quase na metade. Jungkook gosta de ler? Ok. Isso é novo.

Meus olhos continuam fixos nele, no modo como seus lábios se movem de maneira muda, acompanhando as palavras. Ele definitivamente tinha uma boca sensual. Talvez fosse aquela pintinha abaixo do lábio inferior que me fizesse lembrar de quantas vezes mantive meus olhos fixos nela naquela noite, enquanto ele me perguntava se eu gostava quando ele ia fundo daquele jeito.

— Por que tá me olhando? — Ele pergunta, sem desviar os olhos da página que está lendo.

— Não estou te olhando. — rebato, desviando o olhar pra janela.

— Está lembrando de nós dois sem roupas?  — Ele sussurra, sei que é puro sarcasmo, mas me pega desprevenida. Imediatamente foco no taxista, mas ele está concentrado no trânsito que provavelmente não escuta. Torço para que não.

— Até parece que me lembro disso! — digo, respirando fundo, porque é exatamente a imagem que tenho na minha cabeça agora, enquanto tento focar em qualquer outro pensamento. Baleias-jubarte, o princípio Hermético da Polaridade, o buraco na camada de ozônio, a boca de Jeon ao redor dos meus seios. Uma. Duas. Três vezes.

— Não? — Sua mão solta a base do livro e pousa em meu joelho. Ele está quente. Muito quente. Aquela sensação febril natural dele e que eu, claramente, sabia. — E isso aqui te faz lembrar? — Seus dedos deslizam por cima do tecido de minha calça, do joelho até a coxa e aperta bem ali, entre a curva de quadril. Seguro um suspiro, voltando minha atenção para o que ele está fazendo agora. — Acho que você lembra, sim. — Ele comenta, tirando a mão dali e levando até a base do livro, retomando à leitura como se nada tivesse acontecido.

Estou hiperventilando.

Jungkook era mesmo um filho da mãe.

 

Inflo o peito com o ar frio de Busan assim que colocamos nossos pés na plataforma de trem e olho ao redor procurando um rosto familiar. Mamãe havia dito que provavelmente River iria nos buscar na estação de trem de Busan quando chegássemos, mas é papai que está lá, recostado no seu carro esportivo quando caminhamos para fora das portas de vidro da estação.

— Aí está meu rouxinol! — Papai diz, assim que me avista. — Você só fica mais e mais bonita, sabia? — Jungkook vem logo atrás de mim segurando duas mochilas nos ombros e Hoseok está atualizando as redes sociais, ainda.

— Eu pensei que o River viria nos buscar. — Comento e papai sorri, antes de cumprimentar Jungkook com um abraço. O momento mais estranho de todos.

— Ele queria resolver algumas coisas antes de vocês chegaram, você sabe como o seu irmão é, certo? — Certo. E sabia bem que ele ficaria nos rondando como um cão farejador, com suas desconfianças sobre todo e qualquer rapaz que eu conhecia. Imaginava o que River pensaria de Kim, se é que pensaria alguma coisa, no ritmo que estava indo, as chances daquele plano fracassar eram altas até mesmo para mim.

— Ok, então vamos? Eu tô com muita fome. — Digo e papai assente, antes de acenar para que Hoseok se apresse.

Levamos cerca de vinte minutos até em casa, Jungkook parece curioso sobre tudo, um pouco surpreso de termos vivido na mesma cidade por tanto tempo e nunca, em hipótese alguma, termos nos encontrado uma única vez sequer. Trine costumava dizer que era assim que o destino funcionava, perto-e-longe, como se tivesse um período certo e calculado de tempo para que as coisas aos poucos tomassem o rumo que deveria.

Jungkook tomando o rumo de me tirar a paciência e eu tomando o rumo da insanidade, uma linha tênue se observasse com cuidado agora.

— Então, Tama, posso te chamar assim? Tama? — Papai pergunta a Jungkook e ele assente, sabia que adorava aquela droga de nome de guerreiro, e papai não falava em outra coisa.

— Claro, Senhor. Pode me chamar como quiser. — Filho-da-mãe-sem-noção? Penso.

Já imaginava que quando chegássemos em casa, River faria um questionário sobre Jungkook e eu: como nos conhecemos, quando nos conhecemos, se ele tinha alguma intenção com aquele relacionamento, onde seus pais viviam, seu tipo sanguíneo, se ele pretendia se alistar em breve. As perguntas praxe nada sutis, fora aquelas que seriam feitas à Jungkook em sigilo, porque sabia que elas existiam, da maneira mais assustadora possível.

— Chegamos! — Papai avisa, assim que cruzamos a rua e vejo a casa com portões de arabescos que lembram ondas do mar.

O jardim de mamãe estava cada dia mais bonito, as plantas haviam crescido consideravelmente desde a última vez que havia vindo aqui, era uma típica casa da família Greene, e era aquela uma das vantagem de ser filha de hippies, minha casa vivia sempre cercada de flores.

O cheiro de incenso de lavanda é o aviso claro de que estou em de volta, era o favorito de mamãe, o purificador de energias, e imaginava que Trine estaria surtando agora porque adorava todas aquelas bugigangas de cristais mágicos que estão dispostos como um caminho de pedras até a entrada da casa. Havia sentido saudades daqui e de tudo isso.

— Ah, finalmente você chegou! — Mamãe me recebe na porta com um abraço apertado. — Tá tão corada! O cabelo tão bonito... — Ela sussurra, segurando meus ombros. — Tá transando, não é? Faz muito bem para uma jovem como você! — Bom, ser filha de hippies também tinham suas desvantagens como a inexistência daquele filtro que os pais deveriam manter quando falam sobre alguns assuntos com seus filhos. Mamãe claramente não tinha.

— Olha só que rapaz lindo! — Ela diz, segurando o rosto de Jungkook entre as mãos. — Se eu fosse uns vinte anos mais nova, também estaria de olho em você! — É a primeira vez que vejo Jungkook corar. As bochechas ficam tão rosadas e os olhos somem em um sorriso.

Meus pais são malucos.

Caminho para dentro enquanto a vejo abraçar Hobi, o considerava um terceiro filho e sabia que havia feito as comidas favoritas dele, como havia sido basicamente implorado durante a semana inteira, por que acham que Hoseok aceitaria passar um fim de semana comigo e Jungkook se isso não envolvesse comida de graça e um tratamento de rei oferecido por mamãe e papai? Não teria cabimento, nem lógica pra ele.

— River? — O vejo no topo das escadas, sorrindo tão bonito pra mim. E subo os degraus de dois em dois até alcançá-lo.

— Permissão para abraçar, senhor?

Permissão concedida! — Ele responde, batendo continência e me gira em seus braços como se eu fosse um brinquedo. Havia sentido tanta falta dele. Tanta. Estava orgulhosa pela sua condecoração de dez anos, mas estava ainda mais feliz por saber que era a nossa chance de um fim de semana em família depois de tanto tempo.

— Você cresceu tanto, El! — Ele suspira, apoiando os meus pés novamente no piso de madeira.

— Você que tá ficando velho! — Digo e ele sorri, mas seus olhos focam em outro ponto, no meio da sala de estar, usando um chapéu ridículo de verão e camisas largas.

— Então é esse o famoso Jungkook? — Ele pergunta e estremeço. — Ele é maior do que imaginava... — ele comenta. — Jimin era um tantinho menor. — E isso fazia você se sentir um deus.

— River, pega leve, ok?

— Nem se preocupa, maninha. — É o seu tom quase acusatório que me faz lembrar outra vez o quanto aquele fim de semana seria absurdamente longo, e que o Universo me ajudasse.

River desce as escadas como se estivesse em um filme, lentamente, com os olhos fixos em Jungkook que está distraído demais no celular para perceber a presença dele.

— Então você é o namorada da Eleanor, certo? — A voz de River reverbera. Droga. Odiava a acústica dramática que aquela casa tinha.

— Oh, hyung! Prazer, sou sim! — Jungkook se ergue do sofá, se curvando para River e estica a mão oferecendo um cumprimento. Sabia exatamente o que River faria. Ah, Deus, minha família de malucos!

A mão de Jungkook paira no ar, solitária e envergonhada, assim como a expressão dele colocando a mão outra vez no bolso e sugando os próprios lábios, sem saber exatamente o que dizer em seguida.

— Então, Jeon Jungkook, você tem ascendência maori não é? — River começa, caminhando de um lado para o outro. — Fiquei sabendo.

— Isso, meu avô é maori e eu... — River estendo o dedo, interrompendo o que ele está dizendo.

— Então sugiro que mantenha sua espada maori muito bem guardada, certo? — O olhar dele é desafiador, provavelmente está no ápice da sua sensação de poder. Naquele ritmo eu ficaria solteira para sempre!

— Ok, eu vou manter a minha... espada guardada. — Jungkook responde, estendendo os olhos até o topo de escadas, onde estou, com a expressão confusa.

Bem-vindo ao meu pesadelo!

As coisas começam a tomar um rumo consideravelmente pior durante o jantar, como se assistisse a direção daquilo um milhão de vezes na minha própria cabeça antes dele realmente acontecer. Hoseok está ocupado demais devorando uma lasanha que mamãe havia feito justamente porque ele adorava e Jungkook está sendo alvejado de perguntas indiscretas demais sobre nós dois.

— Então, como vocês se conheceram? — Papai pergunta, e os olhos de Jungkook passeiam pela mesa até encontrarem os meus do outro lado.

— Hmm, na faculdade, Jungkook me ajudava com alguns lances do curso. — Digo, fincando o garfo em um pedaço de frango em meu próprio prato, antes que tenha tempo de pensar em alguma coisa mais problemática do que aquilo.

— E você é aqui de Busan, não é Jungkook? — Mamãe pergunta, e ele assente, no meio do desconforto que se instaura entre nós. — Sim. Sou de Busan.

— Ah, poderíamos passar o Natal todos juntos, não é? A família de Jungkook e a nossa! — Mamãe diz, animada e quase engasgo com um pedaço de brócolis deslizando pela minha garganta.

— Mãe, o que? Não! — Minha expressão talvez seja um pouco mais exagerada do que pretendo, já que todos os pares de olhos na mesa se voltam para mim. — digo, é meio cedo pra isso, não acha?

— Lógico que não! — Ela começa. — Nós adoramos o Jungkook, queremos mesmo que isso aconteça. — Continua. E os olhos de Jungkook permanecem na própria comida.

Ele está desconfortável. Tão desconfortável que poderia levantar e ir embora naquele momento se pudesse. Sabia que aquela era uma situação que queríamos evitar, qualquer encontro que envolvesse pais e familiares, mas minha família inteira já estava mais que envolvida no meio do nosso namoro falso e ainda insistindo para que a dele estivesse presente nas nossas festas de fim de ano. Ótimo!

Jungkook havia me dito que odiava aquela situação antes mesmo dela acontecer, mentir para os meus pais e envolvê-los no meio disso, a possibilidade de deixar seus pais fazerem parte daquilo também era quase nula. Em pouco mais de duas semanas já não existiria um nós. Teria Jungkook e teria Eleanor, sem o título de casal não-casal. E acabaríamos com aquilo de uma vez por todas.

— Jungkook, podemos conversar depois do jantar? — River diz, a nós três automaticamente nos olhamos, de forma nada sutil.

— Rio, vamos assistir um filme depois do jantar, pode ser depois? — Pergunto, enquanto aquela última sílaba se torna uma risada quase desesperada de que em hipótese alguma eu poderia deixar Jungkook e River à sós.

— Vai ser rápido, não se preocupa... — Ele diz, e Jungkook me olha tão rápido que não

tenho certeza se aquilo foi algo da minha cabeça ou realmente aconteceu. — Ok.

Que as forças do Universo me ajudem!

Hoseok e eu ficamos responsáveis por arrumar a cozinha quando Jungkook e River sobem as escadas até o primeiro andar.

— O Rio vai descobrir, eu sei. Eu tenho certeza. — São os olhos arregalados de maneira quase cômica de Hoseok que me desmontam quando ele estica os braços até alcançar uma pilha suja de pratos e voltar o olhar para mim — Tô fodida.

— Calma, Nonô! — Hobi diz, enfiando um pedaço de lasanha solto em um dos pratos. — Vai dar tudo certo, confia.

Confiar no surto de River ou no temperamento difícil de Jungkook? Duas opções inviáveis.

Caminho de um lado para o outro tantas vezes que meus pés doem, provavelmente abriria um buraco nos azulejos da cozinha se continuasse naquele ritmo. Hobi está despreocupado, usando luvas amarelas até a altura do cotovelo e cantarolando Chicken Noodle Soup daquele carinha do BTS enquanto esfrega os pratos e os coloca na secadora. Tem quase trinta minutos que Jungkook e River estão lá em cima falando sabe-se lá sobre o que. Ótimo!

Nos próximos minutos provavelmente Jungkook desceria as escadas com sua mochila e iria embora, meus pais ficaram chateados e River diria que fui infantil, arruinando tudo que eu havia planejado, mas nada disso acontece. Jungkook desce as escadas sim e caminha até onde estamos como se nada tivesse acontecido, puxando um dos bancos do balcão de mamãe e apoiando os cotovelos contra o mármore.

Minha expressão é de incredulidade, quando olho ao seu redor e não o vejo com bagagem nenhuma,tudo parece tão tranquilo que aquilo me apavora. Como aquela música que falava sobre calmarias estranhas antes de tempestades.

— E ai? — Eu pergunto, fingindo estar despreocupada e seu olhar é confuso.

— E aí... o que? — Péssima hora para bancar o desentendido, Jungkook.

— E aí o que o River queria? Você passou meia hora lá... — Digo e Jungkook me olha outra vez.

— Ele queria ajuda no Overwatch, começou a jogar tem pouco tempo. — A frase se forma na boca de Jungkook mas não consigo acreditar. Eu simplesmente não consigo levar à sério. Então, era isso? Aquilo tudo hoje cedo, pra isso? Ok.

— Hmmm, podemos conversar mais tarde? — Ele pergunta, com o olhar fixo nas próprias entrelaçadas contra o balcão. — É um assunto sério. — "É um assunto sério." As palavras parecem um soco, e sabia que mais alguma coisa tinha acontecido, eu sabia. Engulo a seco no momento em que ele me olha uma última vez, com a indiferença habitual que aos poucos estava me acostumando, ignorando completamente o meu olhar assustado.

— Vou tomar um banho rápido — Jungkook diz. — Vocês ainda vão assistir o filme?

— Sim. — Hoseok assente. E o vejo outra vez caminhar na direção das escadas, sumindo das minhas vistas.

Puta que pariu!

  

É quase meia-noite quando Hoseok finalmente adormece na metade de um filme que havíamos escolhido pra ver. Um thriller psicológico que o deixava entediado demais, e é exatamente isso que está fazendo no colchão na sala de estar, babando contra o travesseiro no meio das cenas de ação. Jungkook está sentado ao meu lado e sinto seu olhar sobre mim pelo menos duas vezes naquele meio tempo que evito fazer movimentos bruscos demais. Estamos sozinhos. Papai e mamãe estavam dormindo há horas e River também, costumava dormir cedo por conta da rotina na base militar e nunca aguentava varar a madrugada inteira, a menos que estivesse bêbado.

— Podemos conversar agora? — Jungkook pergunta, desviando minha atenção do filme. Estava com os olhos fixos na tela, mas definitivamente se me perguntassem o que acabou de acontecer ali, não saberia responder.

— Claro, mas aqui não. — digo, apontando para Hoseok. — Tem um lavabo na cozinha, vem. — Levanto com cautela, tirando a pipoca do colo e desviando do colchão onde Hoseok está deitado, provavelmente acordaria amanhã reclamando da escolha do filme.

Jungkook me acompanha atravessando a cozinha no escuro até a porta lateral, perto da lavanderia, quando giro o trinco tentando fazer o mínimo de barulho possível.

O lavabo é minúsculo, com uma bancada de mármore que sustenta a pia e um espelho atrás dela. Lembrava que mamãe adorava aquele espelho com um formato exótico na moldura, mas parando para observá-lo agora, papai estava certo quando disse que era brega.

— Ok, o que você queria me dizer? — Pergunto, assim que fecho a porta, enquanto Jungkook está de braços cruzados encostado na parede do lado oposto do espelho, de frente para mim.

— Não dá mais pra mim.. — Ele começa. — O acordo, não dá mais. — Não consigo processar o que ele está dizendo, por um segundo tento entender de uma forma diferente, mas é exatamente aquilo que ele quer dizer: está fora.

— Pera, o que? Ainda temos duas semanas, Jungkook... — Minha voz sai quase como um sussurro, não consigo acreditar que ele desistiria agora. Exatamente naquele fim de semana crucial.

— Essa coisa toda de envolver seus pais, mentir pra eles... É errado, Leanor. E eu não quero continuar fazendo parte disso. — Seu olhar desvia para qualquer outro ponto dentro daquele espaço minúsculo onde estamos.

— Mas o acordo era de um mês, UM MÊS, lembra? — Começo. — Você concordou com tudo isso e estava sendo beneficiado também! — É a primeira vez que me altero, minha voz sai mais aguda do que pretendo e o olhar de Jungkook me censura. Se fossemos pegos ali, mesmo que não estivessemos fazendo nada, as coisas ficariam ainda piores.

— Só não dá mais pra mim, entende? — Eu sei que existe outro motivo, não se tratava apenas das mentiras, afinal, ele havia aceitado por conta própria o convite para a condecoração de River, então como tinha mudado de ideia de uma hora pra outra?

— Então você não vai ficar pra condecoração? É isso? — Pergunto, e ele respira fundo.

— Vou, dei minha palavra então vou, mas não quero continuar... — Seu olhar está fixo em outro ponto, qualquer um, menos em mim.

— Tem outro motivo, não é? — Pergunto e ele desvia o olhar para as próprias mãos. — Não é, Jungkook? — Leva as mãos até o cabelo, puxando-os para trás.

— As coisas estão ficando intensas demais e eu não sei se isso é bom, entende? — Pela primeira vez desde que entramos ali, ele me olha nos olhos.

— Intensas...? Ok, tipo...? — Eu sei exatamente sobre o que ele está falando. Sei que quebramos regras e agimos da maneira mais inconsequente possível, mas queria ouvi-lo me dizer aquilo. O real motivo, sem suas mentiras ou omissões.

— Leanor, eu vou ser sincero com você. — Ele começa. — Aquela noite me deixou confuso. Na verdade, às vezes você me deixa confuso... — Ele caminha de um lado pro outro, com os braços cruzados na frente do corpo e observo o modo seus piercings balançam quando ele se movimenta. — Eu continuo pensando no fizemos e no que tenho vontade de fazer... e não acho que isso tudo seja bom. —

Aperto minhas mãos contra o mármore gelado da bancada atrás de mim, de todas as coisas que esperava ouvir, definitivamente, não era aquela. Jungkook está me olhando de novo, agora um pouco mais de perto. — Fico lembrando do seu toque... — Sua mão para na alça de meu pijama, deslizando os dedos ali. —... do seu cheiro... — Seu rosto se encaixa na curva do meu pescoço e seu nariz toca de leve aquele ponto, provocando um arrepio fora de contexto que sobe pela minha espinha —... seu gosto. — Os dedos deslizam, tocam de leve minha coxa nua e minha voz se torna um fio quase inaudível no meio dos seus sussurros.

Sei exatamente como se sente. Meu corpo está apoiado contra o balcão e Jungkook está perigosamente perto. Tão perto que não consigo pensar direito, não quando sua boca está quase tocando a minha daquele jeito. A safada definitivamente estava viva dentro e fora do meu coração e Trine estava certa, ela voltaria em busca de mais. E puta merda, Jeon Jungkook não ajudava em nada no quesito matá-la de fome.

— Então, era só isso que você tinha pra me dizer? — Pergunto, de olhos fechados, no meio tempo que Jungkook distribui beijos no meu pescoço, como se algum outro assunto pudesse sobrepor o desejo latente dele na minha pele.

— Tem algo mais que quero te dizer... — ele diz, as mãos subindo pelo short do meu pijama, a pior escolha que poderia ter tido naquela noite era definitivamente aquele maldito pijama que facilitava toda e qualquer coisa naquela situação. — Mas eu quero dizer com as minhas mãos. — Seu polegar desliza em meu lábio inferior e o toco com a ponta de minha língua.

— Diz... — sussurro pra ele, que está tão perto que preciso levantar os olhos para vê-lo.

Sua boca toca a minha outra vez e o primeiro pensamento que tenho é que senti falta dos lábios dele, da sua língua quente demais enroscada na minha. Parecia que estava faminta de saudade. Do seu gosto, de suas formas, do sabor do seu beijo e do seu suor.

A primeira certeza que tenho é de que aquele não é o lugar certo para começarmos aquilo, definitivamente. A segunda, é que cheguei a conclusão que não me importo nenhum pouco com a primeira. Havia assinado o meu próprio cartão de boas-vindas ao inferno, mas arrastaria Jeon comigo, sem dúvidas.

Jungkook se livra da própria camiseta no primeiro minuto e noto uma única gota de suor que desliza de seu pescoço, contornando o peito e não hesito em chupá-la antes que desapareça pela linha do abdômen. Sabia que as coisas estavam começando a ficar literalmente quentes demais. Insuportáveis e pesadas.

— Olha como você me deixa... — sussurra, meus dedos tocam de leve os ossos de seu quadril, enquanto ele acompanha a minha ação, fechando os olhos quando deslizo a mão na direção do volume visível em sua calça, apertando firme seu pau. — Você sabe que isso tudo é um erro, não é? — A palavra perde o sentido na minha boca, quando Jungkook tomba a cabeça para trás, voltando o olhar até aquele ponto apenas para apertar sua mão por cima da minha. — Isso, assim! — ele sussurra, sua voz aveludada demais parece perdida em um suspiro. — Podemos parar se você quiser...— começa outra vez — Você quer parar? — É aquele jeito quase manhoso dele que soa quase como um pedido secreto e exigente de continuidade, como eu poderia parar se queria aquilo o mesmo tanto?

— Não... — É o sorriso presunçoso que se forma nos lábios dele com minha resposta que me desarma completamente, e sua boca na minha outra vez, trazendo uma calmaria estranha de que silencia os sinais de perigo. Porque eles continuavam voltando com uma força absurda, uma confusão interna entre sim e não. Parar e continuar.

Porra, seu cheiro é muito bom... — ele diz, enquanto mordisca minha orelha, antes de se livrar da minha camiseta, segurando a barra e puxando-a para cima. — Tô doido pra te foder. — É a primeira vez que Jungkook vê meu corpo nu com as luzes acesas, e uma ponta de constrangimento me envolve no momento que seu olhar para exatamente nos meus seios, livres de qualquer tecido. — Vamos tentar não fazer tanto barulho, uh? — ele cochicha contra minha pele, distribuindo beijos pela minha clavícula, não acreditava que iniciaremos o fim de semana naquele cenário, transando no lavabo de minha casa, enquanto meus pais, meu irmão mais velho e Hoseok dormiam ali ao lado.

Por que nossas brigas sempre acabavam daquele jeito? Por que sempre desviamos de tudo e acabávamos cedendo às nossas vontades? Não resolveríamos nada, absolutamente nada com aquilo.

Sua língua desliza em meu seio e solto um gemido baixo, lembrava exatamente daquela sensação e porra, havia sentido falta disso, do meu corpo sendo tocado por ele, mesmo que tudo o que tínhamos vivido e experimentado tivesse acontecido há apenas uma semana.

A linha tênue daquilo tudo acusava uma única coisa, apontava o meu erro em repetir outra vez aquilo que havia dito que não faria: mais uma vez isso está errado.

Errado. Errado. Errado. Brilhando em um telão em letras garrafais.

Mas Jungkook é bom demais usando a boca para que eu possa contrariá-lo agora, enquanto ele me chupa de um jeito tão gostoso que só quero derreter. Mordo os lábios o máximo que posso, porque era difícil me manter silenciosa com ele ali, deslizando a língua pela minha pele até minhas coxas, deixando que minha mão afunde no meio do seu cabelo negro outra vez, como ainda me lembrava e a outra continuasse ali, segurando firme a sua ereção entre meus dedos, sentindo a quentura vencer o tecido de sua calça de pijama de flanela.

Quero te chupar agora... — sussurro, inebriada pela sensação do seu toque. — ... agora, Jun!

Seu peito sobe e desce no meio de uma respiração pesada quando seu olhar me encontra e pela primeira vez, me afasto da bancada de mármore e ajoelho diante dele.

Estranhava aquele lado meu, viciada no gosto de Jungkook no primeiro instante, estranhava não só os começos repentinos como o ápice de uma vontade que se colocava ali como uma velha conhecida, mas a maneira como o meu corpo reagia a ela, em que outra realidade me imaginaria dizendo aquilo em voz alta?

Nossos olhares se separam naquele meio tempo que o ajudo a desfazer o nó que amarra firme sua calça de pijama, e então o vejo – perfeitamente – diante de mim. Sem a luz esverdeada de sua luminária bonitinha, nem a claridade do poste lateral do corredor do dormitório como uma vantagem para amenizar os efeitos de sua presença, mas não me permito desviar de nenhum detalhe dele. Porque nada mais era sutil, escondido, em segredo.

Estava tudo ridiculamente visível, como se as nossas vontades estivessem em carne viva.

Como se diz não a um desejo quando ele está diante de você, materializado como um sonho que pode desaparecer se você soprar forte demais?

Meus dedos seguram a barra de sua calça e com facilidade ela desliza por suas coxas torneadas, o desenho bonito de sua tatuagem está bem ali e o toco na tentativa de sentir na ponta de meus dedos a textura das formas arredondadas e escuras que cobrem sua pele.

É quase instintivo o modo como meus lábios tocam o lugar desenhado, fazendo os pêlos de seu corpo eriçarem instantaneamente, não desvio meu olhar dele quando deslizo a língua por cima de seu pau ainda coberto pelo tecido da cueca azul. De maneira quase automática, como uma reação natural, seus olhos se fecham e suas mãos puxam o elástico daquela última peça para baixo, acariciando o próprio peitoral e arrastando a mão em sua própria pele como se ansiasse o meu próximo passo, traçando uma linha invisível que terminava diante dos meus olhos.

Estava quente, deliciosamente quente,  deslizando em minha mão. 

Todo o trajeto de ir até a base de seu pau pulsante e voltar, a verdade é que queria chupá-lo tanto, sentir outra vez a sensação dele inteiro dentro de minha boca, mas não facilitaria as coisas, não adiantaria os processos porque era a minha vez de ter o controle da situação. Deveria fazê-lo implorar por aquilo, deveria, de fato, mas não consigo ir muito além naquele meio tempo que minha língua toca a ponta dele e seu corpo, antes tão tenso e firme, se desmancha em um suspiro quando o coloco em minha boca quase inteiramente.

A cabeça tombada para trás e as mãos indecisas entre se perderem no meio de meu cabelo ou de controlar seus próprios gemidos, informações demais para processar no meio de uma ação repentina.

Caralho! — Aquela é única palavra que consigo identificar no meio dos sussurros de Jungkook, enquanto seu quadril acompanha o mesmo ritmo que minha boca. 

 É uma cena excessivamente erótica quando aquela outra versão dele assume o controle da situação, o ar se torna rarefeito e aquele olhar que ele me lança, como se eu fosse sua presa, só me faz pensar que não estou pronta para o que quer que seja que ele esteja pensando em fazer em seguida, sentindo sua mão enroscada em meu cabelo enrolando como um laço ao redor dos dedos, segurando firme. Não me machuca, mas me provoca.  E não tiro os meus olhos dos seus enquanto devoro cada centímetro do seu pau, arranhando no fundo de minha garganta.

Seu corpo inteiro treme, como se eletricidade percorresse no emaranhado de suas emoções, dos fios de cabelo até os dedos dos pés; e assisti-lo controlar os próprios gemidos ainda era estranhamente satisfatório.

Sua voz soa profunda e arrastada,  sua entonação é suja e errada,  me pergunto — por um segundo —, como chegamos tão rápido até aquele ponto como se nunca tivéssemos nos afastado dele, como as coisas avançavam até aquilo sem nenhum constrangimento de sua parte, já que era ele, há um segundo, me pedindo para não continuar fazendo parte do acordo.

Solto-o de mim em um estalo quase erótico para avançar até sua boca outra vez, e Jungkook está molhado de suor, tão quente e convidativo que no segundo que nossos corpos se tocam, me sinto zonza.

Vem cá, senta aqui... — ele diz, no meio tempo que se desvencilha de minha boca para me guiar de volta até o mármore gelado da pia. Sei exatamente o que vai acontecer em seguida e quero tanto aquilo que poderia implorar caso ele me pedisse.

— Pega leve, sério... — digo, enquanto ele mordisca minha orelha. — essa porta não tem nenhuma tranca. — E você sabe bem que não deveria deixar as coisas irem tão longe assim. Por que não conseguia conter aquele sentimento que queimava forte demais dentro de mim quando Jungkook estava tão perto assim? Era ridículo.

A visão tentadora que tenho dele enfiando a mão dentro do tecido úmido da minha calcinha só me faz ter vontade de instigá-lo a continuar, e afasto ainda mais as coxas, por mais errado que aquilo pareça naquela situação.

— Precisamos parar de resolver nossos problemas assim, Jungkook. — digo, no momento em que ele se aproxima para beijar outra vez, mordiscando meu queixo. — Toda molhadinha... — ele sussurra, ignorando completamente o fato de que aquilo não iria resolver nossas questões pendentes, talvez só torná-las uma bola de neve ainda maior — ...você sempre fica tão molhadinha pra mim. — Puxa meu lábio entre seus dentes e me desligo outra vez daquele fio racional no qual estava presa.

É um outro lado dele, aquela outra ponta da dualidade que me deixava confusa, ela estava ali e já havia tomado conta completamente. Os olhos brilhantes haviam se tornado dois pontos escuros, sem começo, meio ou fim, como dois buracos negros, na sua versão sacana, suada e fodidamente quente, como havia reconhecido minutos atrás e naquele dia no dormitório.

— Eu gosto quando você me toca... — digo, como se meu corpo tivesse parado de responder a comandos racionais, como se tivesse me desligado do filtro comportamental que avalia minhas ações, e  seus dedos prosseguem, se movimentam em um ritmo ainda mais gostoso. — Assim?! — Sua boca desliza até meu seio outra vez, chupando com tanta vontade enquanto me fode com os dedos que preciso afundar meus rosto no meio de seu cabelo para não gemer alto. O que porra tava acontecendo? A verdade é que nunca tinha experimentado aquelas coisas, não daquela forma. Tudo que havia feito com Jimin parecia infantil e inexperiente demais comparado a maneira como Jungkook fazia aquilo, como parecia conhecer cada parte do meu corpo e como gostaria de ser tocada. De novo e de novo.

Jungkook para por um segundo para se livrar do shortinho de pijama que estou usando com sua habilidade sobre-humana de tirar roupas em uma velocidade absurda — o que parecia um dom —, antes de ajoelhar entre minhas coxas.

— Coloca a perna no meu ombro, aqui... — Provavelmente teria a marca dos seus dedos contornando minha pele como uma tatuagem pela manhã, mas no segundo que ele afasta minha calcinha para o lado oposto e desliza sua língua em mim, – uma prévia do que faria quando se livrasse dela –,  não consigo mais me agarrar ao antes ou depois, não consigo desviar meus olhos dele, que me prova como se fosse seu sabor favorito.

— Sabe que posso te chupar a noite toda se você pedir, né? — ele sussurra, naquele meio segundo que enfia as mãos nas laterais de minha calcinha para puxá-la para baixo, lentamente deslizando em minhas pernas. — Eu gosto quando você controla — ele quase ordena, pressionando meus dedos no seu cabelo emaranhado, me instigando a manter a mão firme ali.

Os espasmos que sinto só denunciam que naquele ritmo vou me desmanchar em sua língua a qualquer momento, não aguentaria muito mais daquilo porque sentia a impulsividade alcançar o nível mais alto no momento que suas mãos me apertam como se pudessem tocar minha alma. Sentia sua respiração ofegante fazendo um trabalho dúbio, como se não precisasse parar um segundo para recuperar o fôlego – e precisava –, mas mesmo assim continuava com a intensidade do segundo perdido.

Provavelmente gozaria se ele continuasse daquele jeito, não teria muita resistência as habilidades de Jungkook quando se tratava de sua boca me chupando com tanta vontade e puta merda, aquele maldito piercing na língua só piorava toda e qualquer situação.

No melhor pior sentido.

Ele percebe aquilo quando me movo contra sua boca, na tentativa de senti-lo o máximo que podia, e seus toques se tornam cada vez mais suaves, se afastando do centro de todas as sensações que estou sentindo e subindo pela minha pele: cintura, seios, pescoço, até outra vez estar na minha boca.

— Deixa eu te foder um pouquinho... — ele solta um sussurro desconexo, se afastando minimamente de mim, masturbando o próprio pau. — uh?!

Não consigo verbalizar nada enquanto observo sua ação, nunca havia visto Jungkook de uma maneira tão erótica e essa era a verdade, ainda tinha a sensação de que aquela noite no seu dormitório havia sido uma alucinação sexual, uma dose de tesão contido, misturada ao álcool, suas calças justas e coisas particulares demais na gaveta de seu banheiro que me deu muito para imaginar. Mas a imagem de Jungkook tocando o próprio caralho diante de mim, com a expressão tão pidona por seja-lá-o-que-for que sua mente tenha criado para nós dois, não me deixa dizer não. Não quero dizer não.

Pensava nas fatores de risco de estar nua, em um lavabo – com a fechadura quebrada – na cozinha da minha casa, com Jungkook fodendo enquanto narro mentalmente todas as coisas que poderiam dar errado, mas a sensação de perigo só me deixa ainda mais excitada, só me faz focar nos motivos de continuar e não naqueles que gritam para serem evitados ao máximo.

— Vira de costas pra mim... — ele diz — ...agora. — enquanto observo sua movimentação pelo reflexo do espelho, minimamente.

Quando sua pele toca a minha outra vez, e suas mãos deslizam em minha nuca, afastando meus cabelos para o lado oposto, prendo a respiração por um segundo.  

Quero ver tudo que ele está fazendo, quero assistir seus movimentos irritantemente calculados, mas seus beijos molhados demais em minha nuca são como um golpe certeiro em minhas fraquezas e minhas pálpebras praticamente se fecham sozinhas.

— Isso é tão gostoso, Jun... — sussurro, embora duvide que ele posso me ouvir enquanto traça uma linha de saliva com a própria língua na curva de meu ombro. Suas mãos deslizam pelos meus seios deixando um aperto provocativo ali e descem até a cintura, assistindo sua própria rota em mim.

— Apoia as mãos aqui... — ele diz, esticando meus braços até o espelho, com as mãos firmes por cima do seu próprio reflexo. — Inclina um pouquinho o corpo, assim — Jungkook sabia sobre tantas coisas. De tantas formas. Me sentia infinitamente inexperiente em qualquer situação que envolvia nós dois, e penso nisso quando ele me encara pelo reflexo com um meio sorriso, enquanto puxa o próprio cabelo para trás, afastando os fios do rosto. Sua mão está espalmada contra minha bunda, apertando minha carne entre os dedos, a outra desliza em mim outra vez, me causando vertigens e nuances de cores que em algum outro momento, jamais imaginaria que eram possíveis de ver . Será que era disso que Kang falava?

— Gosta de sentir meus dedos aqui? — ele questiona outra vez, e tombo a cabeça para trás, contra seu peito, desejando que ele me foda de uma vez, porque não aguentaria muito mais daquilo, nem das suas provocações na tentativa de prolongar ainda mais o ápice das coisas.

Continuava a encostá-lo lá, antecipando o que faria depois, conseguia sentir com clareza o pulsar do seu pau no espaço de minha coxas. Quente e firme. E pelo reflexo, conseguia ver a veia saltada que contornava e descia da cintura até a virilha, se perdendo no meio dos pêlos que cobriam a pele bem ali.

Seus beijos continuam indo e vindo pela minha nuca, mordidas e chupões que precisariam ser disfarçados na manhã seguinte, mas que naquele momento, enquanto me encaro no espelho, são só vergões avermelhados como rastros precisos de meus pecados, cada vez que seus lábios se desprendem da pele.

Você fica linda assim... — sua boca parece posicionada estrategicamente por cima de minha orelha, serviria como um lembrete do porquê havia começado aquilo a cada palavra que ele dissesse em seguida. Todas as palavras sujas que por experiência própria sabia que ele conhecia bem. Tudo que ia muito além de um apelido brega e sacana ou uma piada sexual ridícula. 

Não, Jungkook era muito mais criativo que aquilo.

Ele me penetra devagar. Tão devagar que a sensação perdura, da sua pele raspando na minha de um jeito tão gostoso que manter os olhos abertos e fixos no seu reflexo parece uma tarefa impossível. Seu gemido baixo contra meu ouvido me motiva a soltar a respiração pela primeira vez e deixar escapar um suspiro mais alto do que pretendo.

— Não podemos fazer muito barulho, gatinha. — ele sussurra e a entonação daquele apelido soa outra vez extremamente excitante para mim. Puta que pariu! Seria uma tarefa quase impossível não fazer barulho naquela situação, principalmente quando suas mãos apoiam firmemente no meu quadril, puxando em direção o seu corpo, fazendo com que seu pau vá fundo em mim. Quando consigo o encarar outra vez, encontro a expressão sensual de suas sobrancelhas franzidas e dos próprios lábios mordiscados. Como diria para o cara que não pretendo namorar que estava viciada na droga da sensação de senti-lo entrando em mim daquele jeito, naquele ritmo?

Porra — ele sussurra, contra minha orelha. — você é tão gostosa! — As mãos apertam firme meu quadril, em um movimento delicioso e lento, uma, duas, três vezes e comprimo os lábios para não gemer o tanto que eu quero, quando aquela sensação gostosa atinge meu corpo mais de uma vez. Jungkook era grande. Proporcional a todo restante dele, mas a sensação ainda era estranhamente confortável.

Estava curvada na bancada de mármore de um lavabo na casa dos meus pais, minhas mãos suadas marcando o espelho favorito de mamãe e imaginava que se um dia, daqui vinte ou trinta anos, eu contasse sobre aquela aventura irresponsável para alguém da minha família, teria grandes chances de ser deserdada.

— Mais rápido, Jun... — é tudo que consigo dizer no tempo que levo para recobrar a consciência da situação e observá-lo afundando o rosto na curva de meu pescoço e indo muito mais fundo dessa vez. Muito mais intenso.

A mão subindo pelo meu quadril até o meu seio, apoiada entre o espaço de minha costela e cintura, enquanto seus olhos me procuram outra vez.

— Tá gostoso assim? — sua boca se encaixa perfeitamente ali, na curva de meu ombro, e sua voz soa profunda demais, porque até mesmo ela mudava quando a outra parte da sua dualidade dava as caras — Diz pra mim, vai! Gosto de te ouvir dizer. — curvo o braço até alcançar o seu cabelo e puxá-lo com força, de um jeito que instiga Jungkook a meter ainda mais rápido.

Onde toda aquela vontade estava escondida dentro mim?

A verdade é que queria que Jungkook me fodesse daquele jeito. Finalmente estava ali, com alguém que gostava. Fodendo, fodendo gostoso. Maldita palavra suja.

Gostar parecia muito mais arriscado.

Talvez estivesse indo longe demais com aquela história, indo muito além de uma transa casual depois de tanto tempo sem experimentar ao menos algo parecido. Não, não havia comparativos para a sensação que Jungkook causava, nem antes e muito menos agora. Não sabia como aquele lado ficava tão escondido no meio de todas as outras coisas visíveis e odiáveis demais, mas não imaginava nenhuma outra pessoa naquele posto, havia avançado de terceira transa de uma vida inteira para a melhor de todos os tempos.

Não que ele vá saber disso. Preferia morrer engasgada com meu próprio orgulho (ou com qualquer parte do corpo dele, figurativamente falando) a admitir isso em voz alta.

— Vira um pouquinho, quero te beijar enquanto... — ele não conclui a frase, mas meu cérebro emenda palavras que se encaixam ali, naquela situação não havia muito para se imaginar, o óbvio estava escancarado diante de nós. Tínhamos tanto tesão um no outro que não nos permitia ficar à sós em um espaço como aquele sem sentir vontade de tirar a roupa, era para ser apenas uma conversa e bom, levamos tudo para a parte prática. Outra vez.

— Enquanto o quê? — O meio tempo que levo para dar a volta e observá-lo naquele estado de êxtase, molhado de suor e completamente perdido no meio da situação errada demais e se encaixar outra vez dentro de mim, mantendo minha perna ao redor de seu quadril, mas ele não responde minha pergunta, só me beija enquanto se move no mesmo ritmo gostoso de antes.

Jungkook era lindo. Lindo pra caralho. Lindo de maneiras que as pessoas não deveriam ser permitidas a ser e naquelas situações ele era a porra de um deus.

Tinha tanto dele que queria tocar e beijar, apertar e arranhar, ter no meio de minhas mãos enquanto ele fazia todo o trabalho sujo, mas o máximo que faço é apenas manter meus olhos fixos no seu rosto. Em cada expressão que parecia acompanhar uma onda de prazer que era muito mais gostosa de assistir do que só sentir. Lábios mordidos, respirações ofegantes, olhares roubados, palavras soltas. Como uma canção não escrita. 

Eu tô tão perto... — ele sussurra, mordendo os próprios lábios de novo e naquela proximidade consigo escutar o som de sua respiração entrecortada de tanto tesão.

Era lindo. Fodidamente lindo. Em todos os aspectos.

Seus movimentos se tornam mais intensos e certeiros, roçando no lugar certo a medida que entra e sai de mim, sabia que não demoraria muito pra gozar. Outra vez meu corpo me acusava primeiro.

Seu nariz está colado em minha bochecha me mantendo perto, nossas bocas em uma distância mínima de necessidade e certeza que bastaria avançar um pouco mais para senti-lo de novo, e outra vez havíamos avançado uma barreira difícil de reconstruir, não que tivesse intenção de colocá-la no lugar novamente, quando na verdade, era por minha causa que ela já nem existia.

Mas aquele pensamento vira pó, se destrói sozinho, porque estou perto, tão perto que preciso beijá-lo por um instante para conter a quantidade de sensações que me atravessa naquele meio segundo, preciso usar a chave de emergência que é sua boca bonita pra me calar no meio da onda de prazer que me atinge em cheio. 

Finco os dedos em suas costas e me contorço nos seus braços, tenho seus olhos me assistindo sem perder nenhum detalhe, quase em câmera lenta, quando minha cabeça pende em seu ombro de novo. Sua voz trava, cortada pelos suspiros que denunciavam nas expressões do seu rosto, e na maneira como ele pulsava dentro de mim que ele seria o próximo.

Diz que você é minha, diz pra mim que você é completamente minha... — é um pedido fora de contexto, mas a intensidade com que ele me fode não me deixa pensar com tanta clareza assim, talvez eu seja um pouco dele assim como ele também era um pouco meu. Mesmo que por uma quantidade limitada de dias.

— Sou sua... — começo — Sou só sua. — Jungkook desmancha inteiro em mim, afundando o rosto em meu pescoço, apertando meu corpo entre os dedos, a respiração pesada movendo seu peito para cima e para baixo.

Tenho a sensação estranha de que aquilo não vai acabar bem, muito menos daquele jeito. Aquilo só parecia o início de algo muito maior. E era real, sobre nós dois. O peso de tudo.

Não um devaneio estúpido de bebida e falta de tato para a escolha de paixonites.

Me dou conta que em todo aquele tempo ocupada em sentir Jungkook, Taehyung não esteve em meu pensamento nenhuma vez, nem mesmo para trazer um pouco de culpa no meio de uma situação inapropriada, e isso pela primeira vez, me apavora.

O que estávamos fazendo? 


— Atira! Atira nele! Aish! — O som estridente da voz de Hoseok é o primeiro som que escuto pela manhã, sobreposto das risadas de Jungkook e River. Pondero a possibilidade de não estar completamente acordada ou em alguma espécie de paralisia do sono que estava me fazendo ouvir coisas irreais, mas a claridade que entra pelas frestas da janela, alcançando minha cama não me deixam outra alternativa além de levantar.

São pouco mais de nove da manhã, havia revirado a cama inteira noite passada até pegar no sono, estava ridiculamente quente e até pensei na possibilidade de descer as escadas e pedir para Jungkook continuar de onde parou,  se é que meu corpo seria capaz de sustentar outra vontade como aquela, acho que foi depois desse pensamento estúpido que voltei aos eixos e peguei no sono.

— Caraca, você domina todas as habilidades da Widowmaker, cara! — É a voz de River dessa vez, e sei que o som vem do quarto ao lado. — Oh, puta merda! — Ele continua.

River quase nunca xingava. Apenas quando estava animado ou extremamente irritado e avaliando o tom daquela conversa, sabia que era euforia envolvendo seus estúpidos jogos.

Levo alguns segundos para acordar de verdade, mas mamãe aparece na porta carregando um bonsai e avisando que Shizuki, sua cabeleireira favorita, já estava lá embaixo esperando para começar a me aprontar. Às 9h da manhã? Provavelmente sairia maquiada exatamente como o Coringa.

Caminho para fora do quarto e com a porta do quarto de River entreaberta observo Jungkook sentado na mesa de estudos do meu irmão, no meio de uma partida de Overwatch enquanto Hobi e Rio assistem. Não, não era um delírio.

Desde quando River ficava amigo dos garotos que eu gostava? Enfiá-los o seu quarto e deixá-los jogar partidas de vídeo-game? Ok, era demais até pra mim.

Agradeço por ninguém notar minha presença ali e avanço até as escadas para tomar café, aos menos teria um tempo sozinha comigo mesma.

— Ei, Rouxinol, só acordou agora? — Papai pergunta, assim que cruzo a cozinha e o observo trazendo os engradados de cerveja para colocá-los no freezer. Provavelmente essa cara ficaria cheia mais tarde.

— Poderia não ter acordado mas infelizmente... — Ele caminha até mim, dando um beijinho de leve na sua testa.

— Você tá sabendo sobre o Jimin, não é? — Ele começa. — Sua mãe disse que tinha avisado.

O quê, necessariamente, sobre o Jimin? Pensei que aquele era um assunto morto naquela casa.

— Sua mãe convidou a família Park pra festa do River hoje. — É alguma força mística que está sustentando aquela caixa de leite entre meus dedos, algum tipo de força antigravitacional, mas definitivamente não era eu.

— O que? Por quê? — pergunto e ele respira fundo — Rainbow, vem aqui! — ele grita e mamãe surge pela porta do quintal, carregando uma cascata de luzes que geralmente usávamos apenas durante o Natal.

— Você disse que tinha avisado a Eleanor sobre ter convidado a família Park... — Papai comenta, antes de sair em direção à sala, porque provavelmente aquele assunto não seria resolvido com ele.

— Eleanor, não seja tola! São nossos vizinhos... viram seu irmão e você crescer, não podia deixá-los de fora. — ela começa — Além de que você sempre se deu tão bem com o Jiminnie. — Ah, não! A droga daquele apelido.

— Mãe, foi em uma outra realidade, o Jimin e eu nem nos falamos mais e a senhora sabe... — ela sorri e apoia as luzes por cima da bancada de mármore da cozinha. — Pelo menos você vai mostrar seu namorado bonitão pra todo mundo ver, sua boba! — Ok, seria obrigada a apresentar Jungkook a todos que conhecíamos? É lógico, Eleanor. Você acha que seria assim tão fácil? A vida é uma piada, e a sua é quase um stand-up.

Tomo um gole do leite frio e tento pensar com clareza no que faria em seguida, Jimin era amigo de Taehyung e embora provavelmente ninguém na faculdade soubesse sobre o nosso surto psicótico disfarçado de namoro, sabia que ele ficaria de olho em tudo que eu faria justamente por Jungkook estar aqui. Estava lentamente pagando o preço com karma instantâneo pela noite intensa com Jeon na festa de Halloween. Ótimo, ótimo, ótimo.

— Ei, Nonô. Tsunderezão é muito bom no Overwatch, sabia disso? — Hoseok chega, dando um beijo na mesma testa e puxando os cereais coloridos na caixa e enfiando na boca.

Jungkook também se aproxima, puxando uma cadeira e sentando ao meu lado.

— Você tá com bigode de leite. — Ele diz, antes de deslizar o polegar por cima do meu lábio e levar até a boca — Aconteceu algo? — Provavelmente a minha cara de indignação só conseguia deixar as coisas ainda mais óbvias.

— O Jimin vem pra festa do River. — A cara de Hoseok é quase impagável, e um por segundo quase esqueço o problema daquilo tudo.

— Oh, graças à Deus por estar vivo hoje, não acredito que vou presenciar esse encontro épico. — Hobi comenta, batucando as mãos contra o mármore.

— Mas, o Jimin sabe sobre nosso namoro, não é? — Jungkook pergunta e a verdade é que todos na faculdade sabiam. Todos. Essa não era minha preocupação. O ponto era ter que aturá-lo por aqui, hoje.

— Nonô, Nonô! o Jungkook sabe que o Jimin fez você prometer que nunca contaria que ele tem um... — ele sorri antes de terminar a frase. Nada poderia ser mais óbvio

Porra, Hoseok!

É quase uma da manhã quando Hoseok surge no meio da sala de estar, descalço, dançando ao som de uma música latina depois de mamãe ter feito dois drinques com água de rosas para ele, eu já tinha me livrado dos saltos desde que havíamos chegado em casa, e Jungkook já havia puxado as mangas da sua camisa social até os cotovelos, depois de soltar o blazer do seu terno em algum lugar.

Os amigos de River estavam cantando no karaokê improvisado enquanto terminavam o primeiro engradado de cerveja.

O condecoração havia sido longa, bonita e entediante, mamãe havia tirado a medalha de Rio logo quando chegamos em casa porque já imaginava o que aqueles shots de tequila fariam com ele, e estava certa. — Seu irmão parece tão feliz — Jungkook comenta, quando nos sentamos nas escadas observando a movimentação lá embaixo e Hoseok descendo até o chão, assustando os pais de Jimin.

— Gosto de vê-lo assim, sempre foi o sonho dele... — digo. — Embora ele não esteja tão sóbrio agora. — Jungkook sorri e assistimos Jimin, completamente fora de contexto, subindo os degraus até nos alcançar nas escadas. — Puta que pariu, era só o que faltava. 

— Olha só se não é o casalzinho da Kyung-Hee... — ele começa, encostando o quadril contra o corrimão de metal. — O que você quer, Jimin? — pergunto, sem rodeios, porque ele sempre parecia assim quando queria alguma coisa.  Jimin toma um gole da sua cerveja e fica com aquele sorriso cretino nos lábios enquanto nos observa.

— Vocês dois são um casal bem exótico, sabia? — diz — Fico aqui me perguntando, como foi que esse "amor todo" começou. — Jimin não tinha nada melhor para fazer? São quase duas da manhã e ele está questionando aquelas coisas depois que tomei alguns shots de tequila e um drinque de água de rosas, estava mesmo pedindo para que eu o empurrasse dali para baixo.

— Alguém te perguntou alguma coisa? — digo, e ele sorri. Cuspindo um pouco da cerveja para fora, involuntariamente.

— Só é... meio estranho, não acha? — ele diz. Outra vez. Como naquele dia, no refeitório.

— Jimin, você  tem outros pequenos problemas pra resolver, não? — Jungkook pergunta e o sorriso no rosto de Park some, provavelmente porque estou letárgica demais para fingir que aquilo não foi engraçado e gargalho abertamente. 

— Eleanor,  você... você jurou! — Jimin fala, mudando a postura completamente dessa vez.

— Mas eu não falei nada, ué? — rebato e ele desce as escadas pisando fundo, enquanto Jungkook está gargalhando do meu lado por conta do comentário feito.

Ok, Isso foi errado, mas ele mereceu.

— Pelo menos ele foi embora! — digo, e isso me leva a outro pensamento.  Ainda não tinha mostrado o terraço a Jungkook, tem todos os tipos de plantas que mamãe mantinha lá, era o lugar mais lindo da casa e nos deixava ver as estrelas.

— Quer ver um lugar legal? —pergunto, e ele assente, um pouco tonto depois tropeçando nos próprios pés quando levanta.  — Mas deixa eu pegar uma coisa antes... — Caminho até o quarto de papai e busco na sua caixinha secreta um dos seus cigarros mágicos,  ele sempre dizia que tudo naquela casa era permitido, em momentos apropriados e eu concordava que aquele era o momento mais apropriado para aquilo. Jungkook está me esperando e sua expressão é engraçada quando volto trazendo o isqueiro de duende que papai adora e um cigarro.

— É sério isso, Leanor? Um beck? — Ele balança a cabeça, deslizando as mãos pelo cabelo.

— Você não...? — pergunto. Jungkook parecia ser do tipo que era experiente sobre tantos assuntos que não me surpreenderia se também fosse um adepto da cannabis. Estou bêbada demais. Cannabis é uma palavra muito sofisticada pra bagulho. 

— Lógico que sim... — ele comenta. — É que... estou surpreso por você. — Ok, meus pais são hippies, minha mãe faz bebidas fortes demais utilizando rosas orgânicas e ele imaginou que nunca tivesse experimentado maconha

— É quase uma terapia familiar. Acredite. — digo isso e ele sorri abertamente.

— Sua família não existe... — Quando subimos as escadas para o terraço, Jungkook parece maravilhado com a vista para a cidade, dava pra ver o mar daquela distância, a linha infinita entre o oceano e o horizonte, como se o mar e o céu fossem uma coisa só.

— Eu te disse, é lindo aqui. — Sua reação é impagável, enquanto caminho até o balanço de jardim improvisado por papai com madeiras antigas, não podia prometer que era seguro, mas utilizávamos quase sempre.

— Senta aqui comigo! — digo e ele caminha até mim, girando no próprio eixo enquanto olha a quantidade de flores e plantas ao nosso redor.

É fantástico! — Ele comenta, sentando ao meu lado. Enquanto acendo o beck, puxando antes de entregá-lo a Jungkook.

— Não acredito que tô fazendo isso na sua casa... — Ele diz, antes de prender a fumaça e soltá-la em formatos de anéis no ar. Sorrio.

— Bem-vindo à família Greene. — Estou com os olhos fixos no Céu, enquanto Jungkook passa o braço por trás da própria cabeça, olhando na mesma direção que eu por um segundo. 

— Jungkook... — começo, puxando sua atenção para mim. — Como é ser amado? 

A pergunta paira no silêncio, no espaço entre nós dois. 

— Digo, ser amado por alguém romanticamente... — continuo, porque não tenho certeza se ele entendeu o que quis dizer, talvez não tenha sido claro.  Ele suspira, colocando outra vez o cigarro na boca e puxando, dessa vez com um pouco mais de intensidade, soltando a fumaça ao meu redor.

— É bom... Você se sente meio invencível, sabe? — Ele responde,  e direciono meus olhos pra ele.

— Mas, e o Jimin? Vocês não eram tipo, namorados? — Ele pergunta, observando minha movimentação.

— O Jimin é um sem-noção! No começo era só curiosidade, sabe? Olhando agora, não acho que tenha sido amor... — Começo. — Pra falar verdade, não sei se sou uma pessoa fácil de ser amada. — A verdade era que nunca tinha experimentado de fato aquela sensação, nutria um amor platônico por Taehyung, Jimin havia sido meu único namorado sério e nada além daquilo. Nenhuma outra experiência.

— Isso é bobagem, você sabe... — Jungkook começa. — Eu diria que se apaixonar por você poderia ser considerado sorte... — Seus olhos desviam para o Céu novamente. Estão apertadinhos agora, ainda menores.

— Acho que ninguém liga quando me apaixono... — digo, sorrindo feito uma idiota, provavelmente porque aquela sensação começava a fazer efeito.

— Só um idiota não iria querer ser amado por você, Leanor. — Ele começa. — Um idiota não. Um digníssimo pau no cú. — Ele diz e sorri como se aquilo fosse infinitamente mais engraçado na sua cabeça. Mas suas palavras me atingem. Em cheio. 

— Você só tá me dizendo isso porque tá chapado... —  falei, esperando que ele ria e diga outra vez que é só brincadeira. 

— Eu falo sério... — Ele começa, outra vez. — Queria eu ter essa sorte... — É seu olhar bonito, mesmo naquela curta distância, que me faz segurar a respiração por um segundo, como se pudesse acabar com aquele momento sem me dar conta. Como um sonho.

—Jeon... — Sussurro contra sua boca,  enquanto seus olhos se demoram em abrir e fechar e não penso duas vezes antes de beijá-lo. Segurando seu cabelo entre meus dedos, enquanto ele demora alguns segundos para me envolver nos seus braços, um pouco mais lento dessa vez.  Sua boca tem gosto de erva e drinque de rosas, mas é outro impulso além de físico me faz ter vontade de beijá-lo daquele jeito. Aquele sentimento estranho que faz meu coração pulsar forte demais. 

— O que... foi? — Ele sussurra, contra minha boca, os olhos piscando lentamente. — Fiz algo que não devia ... — Seu sorriso encosta contra meu lábio.

Pelo contrário, Jungkook. — Começo.  — Ei, tá ouvindo essa música? Eu adoro! Vem, dança comigo.

— O que? Não, não sei dançar...

— É só ficar quietinho e me acompanhar assim. — Envolvo os braços ao redor de sua cintura, puxando seu corpo para perto. — É só acompanhar meus pés, tá vendo... Um, dois, tam, tam. — digo e ele sorri, apoiando o queixo contra minha cabeça. 

— Só você pra me fazer dançar chapado, Leanor. 

Não sei exatamente o que estou sentindo naquele momento, mas não quero pensar tanto sobre isso. Nem sobre o que deveria me importar de verdade.  

Pela primeira vez só quero ficar ali, com Jungkook. 











*Kyosanim - Professor de Taekwondo.

*Kāti noa te utiuti, e hoa! - "Não seja irritante, amigo", em maori.

(Fonte: maoridictionary.co.nz)








N/A: Yaaay! 

Obrigada a todos que estão acompanhando CCEG, não deixem de me seguir no Twitter @etthereal_ para ficar por dentro de todas as informações sobre essa e outras histórias.

Peço desculpas por qualquer errinho, foi um capítulo BEEEEM extenso e às vezes algumas coisas passam despercebido para um olhar cansado, ok?  

Boas festas para vocês e até o ano que vem! <3 

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