06. Regras de um tsundere, Ferris Bueller e tequila intravenosa
A correria que se instaura pelos corredores da Kyung-Hee só denuncia a movimentação insana que começa naquele horário e vai até mais tarde: as malditas festas do campeonato.
Na época do ensino médio, quando aquela realidade era alternativa e distante, os fins de semana do mês representavam apenas um descanso merecido depois de uma semana exaustiva. No período de provas, um alívio para colocar os estudos em dia, mas na faculdade, durante os meses de jogos, significava bebida gratuita e estranhos levando outros pela mão até os lugares mais escuros do local.
Os garotos do time passavam basicamente os primeiros meses do ano arrecadando doações para as festas do campeonato e isso significava que todos — ou quase — se misturavam no meio daquela música alta, dos copos coloridos pelo chão e dos estranhos trocando saliva naquela onda de calor corporal na pista de dança
Tinha pelo menos 30 ligações não atendidas de Hoseok no meu celular quando checo a barra de notificações, provavelmente ele já estava de pé, lá fora, ao lado das catracas nos esperando, enquanto Trine passava a décima camada de máscara de cílios diante do espelho.
— Tá natural desse jeito? — ela pergunta, virando o rosto para mim, exibindo seus cílios gigantescos.
— Claro, se você for a Pabllo Vittar, tá bem natural. — respondo, e ela revira os olhos. Seu batom vermelho vivo parece transcender naquela luz ruim do mini-banheiro que dividimos.
— Então, o Jungkook vai? — sua pergunta tem um tom de segundas intenções mesmo que ela tente disfarçar a cara sacana que faz ao mencionar Jeon, passando a segunda camada do seu batom bonito nos lábios.
— Bom, ele me disse que iria, mas não sei se o Jungkook é o cara mais festivo do campus, não queria forçá-lo a ir só por minha causa... — Dessa vez Trine me olha, bem de perto.
— Eleanor, você não tá se apegando a esse cara né? — A verdade é que eu não sabia exatamente o que responder, desde a briga com Dong-Yul, um hambúrguer estranho que dividimos em uma lanchonete qualquer sem pretensão alguma e a palavra "namorada" saindo de sua boca com tanta firmeza, alguma coisa tinha se tornado incomoda no meio de toda a situação.
Sustentar um namoro falso era ruim, não falava disso apenas por conta da droga do dinheiro que estava sumindo como o Hoseok durante as aulas da terça-feira, mas porque sentia que aquilo me guiava para um lugar errado. Uma posição onde eu não queria estar. E não deveria, era ingrata e injusta.
Meu apego transcorria livremente no caminho, causando aquela inquietação que só me pedia cautela. Minha intuição dava sinais claros.
Estava me dando bem com Jungkook, apesar de, em determinados momentos do dia, ter um desejo sanguinário de apertar seu pescoço com toda força. Ele estava cumprindo seu papel de não-namorado, embora continuasse omitindo uma série de fatos, principalmente quando se tratava de Jieun.
Estava com medo de perder um amigo também e sabia que Jeon tinha aceitado aquela situação por pura pressão da situação onde eu tinha o enfiado sem permissão, mas a minha autoconsciência gritava que estava fazendo tudo aquilo para no final, correr para os braços do garoto que ele mais odiava no mundo.
— É que sei lá Trine, me sinto culpada às vezes, entende? — digo, sem pretensão de soar tão melodramática quanto pareço.
— Você deu uns beijinhos nele, não é? — Trine pergunta, escolhendo um par de sapatos entre os saltos organizados no armário. Escolhe as botas escuras, quase uma característica dela. — Diz que sim! — Todo aquele assunto que envolve Jungkook e eu, fisicamente, me incomoda, não entendia bem o porquê mas o calafrio que subia pela minha espinha não podia significar um bom pressentimento.
Outra vez o maldito apego.
Negócios e transas casuais não deveriam se misturar.
— Não, Christine! Eu não beijei o Jungkook!
— Você é mesmo uma grande idiota, Eleanor! Ok, eu sei que você gosta do Kim e tudo mais, mas foca nesse cara gostoso que tá aí pronto pra você dar uns beijinhos, acha que é todo dia que alguém leva um soco por você?! — Iria beijar um cara por conta de brigas de rua?
— Então eu tenho que beijar o Jungkook somente porque ele é temperamental e se meteu em uma briga?! É isso?! — Não ia, não mesmo.
— Nãaao! Você deveria beijar o Jungkook porque não tem absolutamente NADA que te impeça de fazer isso, viu que divertido?! — Respiro fundo outra vez e checo a quinta mensagem que Hobi envia avisando que estava prestes a mofar de tanto nos esperar na sala de convivência do prédio.
A verdade é que por mais que tudo entre Jungkook e eu estivesse moderadamente se ajustando, ainda era sobre o Kim. Ainda era sobre seus beijos, nossas mãos dadas e toda aquela merda que eu vinha sonhando nos últimos anos. Queria a minha chance e aquilo era tudo. Aquela festa, a roupa que havia escolhido, o meu não-namorado, tudo girava ao redor de minha última e definitiva chance com Kim Taehyung. Pelo menos uma vez, queria ser corajosa o suficiente para ir até o final com algo que comecei.
Como papai costumava dizer sempre: deveria manter meus olhos fixos no prêmio.
— Tô pronta, podemos ir? — Trine me puxa de volta para a realidade, antes de cruzarmos a porta em direção ao corredor lotado e enfrentar a pequena fila de meninas para o elevador.
Os boatos ganharam força no fórum imbecil de Dong-Yul após a briga de Jungkook, os olhares continuavam fixos em mim, da cabeça aos pés, como se eu tivesse sido culpada pela droga de dente perdido dele. Sabia que qualquer postagem disseminada no Peek-a-Boo se manteria como o assunto mais comentado entre os alunos. Era assim que funcionava.
— Posso ajudar? — Trine rebate, para uma das garotas que cochicha algo sobre mim, aquele olhar apavorado que todas as garotas do dorm sempre lançavam para Christine era quase reconfortante. Trine sabia ser intimidante quando era preciso. Descemos no elevador lotado, com perfumes doces misturados e sorrisos felizes de estudantes que sabem que vão beber muito, e gratuitamente.
Quando as portas se abrem, avisto Hoseok de costas para nós, usando aquela jaqueta que o deixava ainda mais bonito, só a usava em momentos especiais e eu sabia que naquele dia se tratava de Kang Seulgi, havia comentado durante a semana inteira que os dois se encontrariam na festa do campeonato, e é impossível não seguir a trilha subentendida guiada pelos meus sentimentos quando vejo Jungkook, parado em frente a Hoseok, usando uma camisa preta com mangas longas que contorna seus ombros bonitos, as mãos estão enfiadas nos bolsos e ele está usando o par de tênis esportivos de sempre. Tenho certeza que alguém morreria por aquela bundinha bonita que ele tem.
Seguro a respiração por um mísero segundo quando Hobi indica o próprio pulso, nos cobrando as horas perdidas e Jungkook segue o seu olhar, encontrando o meu. Um sorriso se forma involuntariamente nos meus lábios quando o vejo, os danos causados pela briga com Dong-Yul estão quase imperceptíveis no seu rosto agora, o tom arroxeado do seu olho direito tinha ganhado uma coloração amarelada que só podia ser notada se vista de perto, o pequeno corte no lábio havia se tornado uma marquinha charmosa no canto da boca, provavelmente havia algo sobre a genética dos Jeon como uma espécie de capacidade regenerativa que apenas os super-heróis de quadrinho possuíam, automaticamente minha mente vai até aquele pensamento infantil de Jungkook vestido em um uniforme laranja e preto com sua inicial pintada no peito, o Imbatível SUPER-J.
Ok. Toda essa pirotecnia olfativa de perfumes misturas dentro do elevador devem ter me deixado levemente bêbada.
— Ah, Hoseok, para de ser um cuzão! Eu tava terminando de me arrumar. — Aquele é o último comentário de Trine que me arrasta pra fora dali e só então noto que estamos paradas ao lado das catracas frontais e o sorriso de Jungkook já se transformou em uma expressão engraçada de dúvida.
— Tá tudo bem, Leanor? — ele pergunta, enquanto Hobi e Trine caminham falando alto o suficiente para serem facilmente ouvidos a uma curta distância.
— Tá, tá sim! — respiro fundo. — Obrigada por ter vindo, eu realmente fiquei feliz que aceitou o convite. — pareço patética — ou você tá indo pela cerveja grátis? — pergunto e ele sorri novamente.
— Pela cerveja grátis de péssima qualidade, com certeza. — Rimos juntos dessa vez.
— Vocês vão ficar aí se lambendo ou vão andar mais rápido?! — Trine grita. Ela e Hoseok já estão nas escadas frontais que ligam o prédio ao gramado que recobre aquela parte do campus.
— Desculpe por isso, ela não tem aquele filtro, sabe? — digo e Jungkook dá aquele meio sorriso.
— Relaxa.
Quase em câmera lenta observo o rumo que as coisas começam a tomar lentamente, quando a mão de Jungkook envolve a minha sem pedir permissão, seus dedos quentes se entrelaçam aos meus com tanta naturalidade que não quero questioná-lo. Mesmo quando deveria.
Parece que ali é seu lugar, que sabe exatamente o que está fazendo.
O cheiro gostoso do perfume dele dança entre nós à medida que a brisa noturna chacoalha seus cabelos, não posso negar que ele está bonito pra caralho hoje. Algo estranhamente diferente embora dentro do seu normal de aparecer vestido assim.
Aquele impulso de deslizar o nariz contra o tecido de sua camiseta para sentir o cheirinho de roupa limpa que sei que ele tem me retorna com toda força, mas sou obrigada a desviar minha atenção para qualquer outra coisa para não parecer ainda mais ridícula.
Com pensamentos ainda mais estúpidos.
A ideia de caminhar a pé até à sede do clube de esportes não é das piores, o campus é gigantesco, mas o fluxo de pessoas indo na mesma direção é enorme. Os olhares continuam fixos em nós dois. Jungkook, é claro, parece não dar a mínima enquanto eu tento não prestar tanta atenção nos comentários que escuto à medida que nos aproximamos do clube.
Talvez Trine estivesse certa. Talvez algo dentro de mim estivesse contido e encapsulado, prestes a ser expelido em direções opostas, para todos os lados. Odiava sentir aquela sensação de que não sabia discernir meus próprios sentimentos. Mentir não era uma tarefa tão fácil, principalmente quando envolvia um número relativamente alto de pessoas cujos nomes sequer sabia, mas que pareciam saber todos os detalhes da minha vida.
Precisava urgentemente relaxar. Socar alguma coisa. Fazer yoga. Me masturbar.
Qualquer uma das opções que pudesse me tirar daquela pressão agonizante.
Desvio de uma rota de pensamento cruel por um momento quando chegamos até as portas do clube de esportes, aquele é o único ponto onde Jungkook desentrelaça nossas mãos para colocar o braço ao redor de meus ombros e me puxar para mais perto dele.
Sinto uma sensação estranha correr minha espinha e respiro tão fundo que poderia romper meus pulmões como dois balões de ar.
O olhar de Trine nos encontra por um segundo e um sinal positivo paira no ar junto com aquele grito de "vai lá, garota!", que chama a atenção de Hobi automaticamente.
Sabia que Jungkook havia feito aquilo de propósito e por alguma razão não estava incomodada com sua atitude, era acusatório que meu organismo não reagisse com alguma atitude imediata de afastá-lo, mas a realidade é que não me sentia desconfortável ali, naquele momento.
Isso tudo não faz o menor sentido.
Os garotos do time tinham caprichado naquele ano, a decoração impecável e as luzes bonitas com as cores do time brilhavam pra todos os lados, meus olhos automaticamente buscam uma única pessoa, que sei que provavelmente estaria em destaque ali, brilhando como um deus, uma entidade poderosa, seguindo a função que lhe foi dada de Capitão do time assim que entramos.
Encontro Taehyung no topo das escadas, usando uma camisa preta de botões, alguns deles estão naturalmente abertos mostrando um pouquinho da pele dourada que reluz com aquela luz perfeita. Droga! Aquele copo que ele mordisca de leve me faz pensar em quais são suas intenções naquela festa além de acabar com a sanidade de qualquer criatura viva.
Pela quantidade de olhos voltados para cima, sabia que os boatos correram mais rápido que minha vontade.
— Vou buscar alguma coisa pra gente tomar, o que você quer? — Jungkook pergunta em meio ao som nas alturas, desvio meu olhar por um segundo da figura de Kim brilhando no topo das escadas no segundo andar. — Algo docinho, não tão forte! — respondo e ele assente, invadindo o mar de pessoas dançando ali no meio.
Kim ainda está lá, planejando arruinar uma noite, deslizando a mão por entre os cabelos castanhos. Só me dou conta de que é Sooyoung ao lado dele quando seu sorriso se transforma em uma expressão que se encaixa facilmente em uma linguagem universal, e sua mão aperta de leve o queixo da garota, aproximando-a do seu rosto para um beijo.
Estou vendo aquilo de verdade ou é tudo um efeito pirotécnico do meu organismo por conta dessas luzes? Ah,certo. Aquilo definitivamente é uma língua. Definitivamente é uma língua.
Desvio o olhar dele para o mar de pessoas ao redor, que agora parece muito menos agitado, Jungkook está nos fundos do clube, o reconheço outra vez pelos cabelos, está conversando com algum dos garotos que prepara um drinque enquanto têm os braços apoiados contra o balcão e uma cerveja aberta por cima dele — que Jungkook leva até a boca em um gole longo — e termina em um aceno, quando me avista no meio de um grupo de pessoas.
— O Jaebum tá preparando um drinque com morangos pra você... — sorrio amarelo para o garoto bonitinho que está concentrado na sua tarefa e puxo o shot de tequila servido por cima do balcão, tomando-o de uma vez só. Minha garganta queima feito brasa, uma sensação horrível que parece descer como lava até o meu estômago. Bato o copo contra o balcão e alcanço outro shot antes de Jungkook tentar me parar.
— Ei, devagar! É tequila. — Seus dedos estão por cima dos meus, firmes no copo, sua voz é suave e preocupada demais. Consigo me desvencilhar dele e engulo o segundo shot.
— Coloca tequila nesse troço que tá preparando pra mim, Jaebum. — digo, e o garoto sorri, buscando a garrafa de tequila ao alcance de sua mão.
— O que aconteceu? — Jungkook pergunta, enquanto me observa roubar o copo de Jaebum.
— Estou aproveitando minha juventude, não é isso que dizem? Aproveite enquanto se é jovem e blá, blá, blá. — Me afasto do balcão onde Jungkook está encostado com sua expressão preocupada, ouvindo meu nome pela terceira ou quarta vez ecoando com sua voz.
Kim estava beijando alguma garota por aí e eu estou sorvendo uma bebida rosa e docinha, nada mais justo. Aquele era o santo remédio para os corações partidos: tequila intravenosa.
— Ei, ei, ei! O que tá fazendo? — Jungkook se aproxima novamente, quando de uma vez só entorno o copo do drink cor-de-rosa que Jaebum tinha preparado para mim. — Desse jeito você vai sair daqui arrastada, sabia?
— Tô me divertindo! O Kim tá por aí beijando outra boca. Eu sou uma grande idiota, sabia? — caminho até o balcão onde Jaebum prepara alguns shots de tequila, e aproveito para pegar mais uma dose, sorvendo a bebida com mais facilidade do que antes. Estava seguindo o lema de Ferris Bueller por uma mísera noite, se a vida passa rápido demais e não pararmos para curtir de vez em quando ela se vai e nós nem notamos.
Jungkook parece irritado, posso sentir seus olhos fixos em mim e se fossem raios, provavelmente estariam atravessando o meu crânio naquele momento. Mas só estou ali de novo enquanto Jaebum refaz um drink colorido em meu copo, de um sabor diferente, deduzo que seja Blueberry. O sabor é um pouco mais intenso, menos doce que o anterior e no primeiro gole me atinge em cheio, queimando no fundo da garganta.
Afogaria toda essa vergonha em bebida.
A verdade é que me sentia idiota. Uma completa idiota. Parecia que ir embora era como emplacar uma derrota iminente e permanecer ali — sóbria — era o tipo de opção que eu jamais escolheria. Não tive chance de defesa. Era um pensamento cruel e triste, mas real. E não só era real, como podia me ferir bem ali, feito um chute na virilha ou uma cotovelada certeira no seio. Não sei exatamente qual era o meu plano para aquela noite, talvez fosse parecer irresistível e estranhamente apaixonante como nunca fui, ao ponto de Taehyung desistir de qualquer lance ocasional que pretendia naquela festa e cair aos meus pés com algum flerte cafona. Merda! Parecia que a cada gole ficava ainda mais sóbria e consciente, eu provavelmente me enquadrava naqueles 4% dentro da estatística, os bêbados militantes, bancando os conscientes e sãos. A raça mais chata que existe.
Essa é sua chance, Jungkook. Foge. Beija alguma boca. Corre daqui. Seu pesadelo vai começar em breve. Não diga que não avisei.
Típico. Ele está ali no canto, tomando sua cerveja com cara de poucos amigos, os braços cruzados contra o peito e os olhos passeando por entre as pessoas que passam por ele como se fosse um artefato inútil de decoração, é engraçado porque Jungkook é um cara alto e extremamente atraente, diferente da massa de rapazes daquela faculdade que parecia ser mensurada pelo poder de Taehyung dentro dela; Jungkook era aquele tipo bonito demais, tão bonito que continuava me questionando como nunca tinha o visto nos últimos anos pelo campus.
E só este tipo de pensamento patético me faz perceber que estou, sim, bêbada.
Talvez fossem os boatos. Os malditos boatos sobre ele. Como Hoseok costumava dizer, Jungkook seguia as regras básicas de um tsundere à primeira vista: frieza, indiferença e arrogância, mas bastava avançar um pouco na camada fria que recobria seu coração pra descobrir que ele na verdade era um cara bem amável.
Relativamente amável. Que fique claro.
Não consigo desviar os olhos dele. Droga! Preciso de mais tequila, só mais um pouco. Vai me ajudar a desviar o foco.
Vejo Hoseok se aproximar e não tenho tempo de chamá-lo, ele agarra a garrafa de tequila que Jaebum tem na mão e a toma direto do gargalo, um gole longo e uma respiração profunda em seguida.
— Ela não vem, Nonô. — ele repete. — Ela não gosta mais de mim. — Seus braços envolvem meu corpo e a cabeça se apoia no meu ombro, eu tinha quase certeza que ele estava chorando. Tipo, 200% de chances daquilo estar realmente acontecendo.
Hoseok passava por cinco estágios quando estava bêbado: 1. Felicidade. 2. Animação. 3. Carência. 4. Melancolia e 5. Tristeza.
— Fica calmo, Hobi. Deve ter acontecido alguma coisa... — Ele levanta o rosto outra vez e toma outro gole longo da tequila. — Olha, sei lá, ela pode ter tido um imprevisto, mas fica aqui com a gente, uh? — digo e ele sorri, daquele jeito bonito que só Hoseok sabia.
— Eu te amo, Nonô. Queria que soubesse que eu te amo mesmo.
Foi naquele segundo, naquele milésimo de segundo entre a garrafa roubada, o sorriso de Hoseok e os estágios de sua embriaguez que a noite começou a desandar.
Primeiro, o estágio da felicidade já começou chutando o balde com Hoseok dançando no meio dos alunos da Kyung-Hee, entre os jogadores de baseball e as meninas do curso de Artes Cênicas, rebolando até o chão ao som de uma música pop genérica. É inútil tentar pará-lo quando ele está no ápice de seu momento mais feliz, gritando tão alto que mesmo com a música estourando os tímpanos, é possível identificá-lo no meio das pessoas.
— Ei, que tal se a gente sair daqui um pouco, uh? Tomar um ar... Não sei! — digo para ele, como quem, inútilmente, tenta convencer uma criança a parar de chorar.
— Eu quero dançar, Nonô. E eu quero outro drinque com sombrinha...
— Chega de drinques, né? Não sei quantos você tomou antes de virar meia garrafa de álcool para dentro igual um carro velho.
— Eu tô bem, Nonô! Tá vendo... — Hoseok se contorce, tentando se equilibrar formando o número quatro com as pernas. — Viu? Eu consigo, agora vamos buscar outro drinque colorido, uh?
Era o início de um desastre anunciado, assim como as consequências dele.
Quando Hoseok volta animado até o balcão onde Jaebum continua na sua função de preparar drinques, avisto Jungkook outra vez, no mesmo lugar, rindo de alguma coisa estúpida que Seokjin diz, olhando para alguma garota que passa ao seu lado. Jungkook parece um vilão clichê daqueles filmes dos anos 90, aquele cabelo repartido ao meio, cobrindo um pouco dos olhos, enquanto ele vira a cerveja em um gole só, escolhendo pacientemente sua próxima vítima, deixa claro e evidente o aviso de mantenha distância preso ao redor do seu pescoço como insígnia, ele parecia encrenca. Do pior tipo.
Talvez eu devesse avisá-lo sobre Hoseok, porque sabia que no fim daquela noite, eu seria responsável por levá-lo embora com seu coração partido de volta para o dormitório, mas não quero incomodá-lo, não me sentia no direito. Havia persuadido Jungkook para me acompanhar naquela festa, assistido o meu declínio com a crush inesperada e a língua exploratória de Kim Taehyung e teria que cuidar de Hoseok pelas próximas horas, tudo que ele ingeria já me fazia pensar em vômito. Ressaca.
Tudo que se revirava lá dentro e queria sair.
— Pega leve, Hobi. — digo, enquanto ele está ali mastigando os morangos cortados em cubos que Jaebum colocou no seu drinque como vitamina de frutas. A maneira como os malditos morangos iriam sair me causaram um rebuliço interno. Não podia garantir que estava completamente sóbria, porque tinha quase certeza de que não tinha dois copos em cima daquele balcão, me sentia levemente tonta e com uma leve dormência pelo corpo. Aquele era o primeiro sinal de que as coisas estavam chegando ao seu limite: aos poucos o álcool me deixava com um torpor sutil nos braços, pescoço e lábios. Bastava parar de senti-los para ter certeza de que estava completamente bêbada. Ou que podia voar.
Me curvo um pouco sobre o balcão com as mãos apoiadas sob o rosto, pensando em como toda aquela merda se encaminhará para o fim da noite. A culpa não era dos drinques em excesso que Hoseok sorvia, não se tratava de Jungkook sendo bonito pra caralho do outro lado da sala, mas ainda era sobre Taehyung e sobre como aqueles jogos ridículos e infantis que eu continuava seguindo me prendiam naquele maldito vai-e-vem.
Putaquepariu!
— Ei, o que aconteceu? — Jungkook se aproxima abruptamente e tento não parecer tão estupidamente balançada quando sua mão toca de leve minha cintura para chamar minha atenção. Droga! Além de uma bêbada consciente, eu iria bancar a interessada no namorado falso?
A verdade é que de alguma forma seu toque, especificamente ali, como algo completamente novo, me causa um sentimento estranho. Não tínhamos intimidade suficiente para aquilo, mas não o evito, estranhamente os seus dedos bem ali tocando na altura de minha costela me parecem familiares.
— Ele tá bêbado, a Seulgi não apareceu. — Naquele meio tempo que levo para encontrar os olhos de Jungkook outra vez, percebo que os dele não fugiram dos meus nem sequer uma vez.
Há algo diferente ali, exposto bem no rosto dele, na sua fisionomia preocupada e na sua proximidade inabitual, com aquela maldita mão ainda apoiada em minha cintura.
— Você quer ir embora? — ele pergunta e pela primeira vez sinto o cheiro forte do álcool no seu hálito. Como se estivesse presa em um circuito amaldiçoado de pensamentos intrusivos, a boca de Jungkook parece o alvo certo para silenciar aquilo. Estou com os olhos fixos nela no meio daquele barulho e da música alta e não consigo compreender uma única palavra sequer do que ele diz a seguir.
— Não consigo te ouvir. — digo, e ele automaticamente aproxima a boca de minha orelha.
— Quer levar o Hoseok pro dorm? Eu ajudo você! — O calafrio que percorre meu corpo parece acusatório demais para uma sanidade aguçada pela álcool. Mas não quero focar naquela maldita boca bonita quando ele comprime os lábios e tenho medo de me mover mais do que o limite de inspirar e respirar.
— Você quer? — ele insiste. — Preciso ir também, tô meio tonto, tomei alguns shots de tequila e sempre bate rápido demais. — Pelo amor de Deus, Eleanor. Diga algo.
— Não sei se vamos conseguir convencer o Hobi a ir embora.
— Bom, o corpo dele uma hora vai convencê-lo disso, acredite! — Jungkook responde, sorrindo abertamente. Nunca tinha o visto tão desinibido e íntimo daquela maneira. Mesmo no início da noite quando sua tentativa de me envolver em um abraço pareceu natural não pareceu incômoda, daquela vez sabia que não eram pelos olhos que nos viam, na realidade, aquela parecia sua última preocupação no fim das contas.
Dito e feito. Lentamente Hoseok foi atravessando os seus estágios de embriaguez naturalmente, estacionado naquele último onde Jungkook tinha o braço ao redor de suas costas o sustentando para fora do Clube Esportivo, das luzes azuis e do mar de saliva trocada ali no meio. Hobi não sustentava as próprias pernas, tropeçando a cada palmo e, em boa parte do caminho, sendo realmente carregado por Jungkook.
— Eu amo você, Kang... — Um soluço estranho entrecorta as palavras. — ... Seulgi. Eu amo você!
— A gente sabe, amigão! — Jungkook responde pacientemente, enquanto eu tentava carregar celulares e jaquetas logo atrás.
Foi aquele momento crucial, aquele meio segundo quando Hoseok pediu para parar no gramado, que o tênis esportivo de Jungkook ganhou uma coloração rosada e com pequenos pedaços de morango, um DIY especial feito por Hobi.
— Porra! — A palavra saiu desesperançosa, em tom de sussurro, da boca de Jungkook, pegando Hoseok novamente pelo braço e o levando em direção a escadaria do prédio principal do dormitório.
Minha expressão continuava presa na mesma de minutos atrás, quando Hoseok se curvou sobre o tênis favorito de Jeon e colocou toda a mágoa para fora. Literalmente vomitou seu coração partido, sabor morango e tequila.
— Leanor, pega o cartão de liberação aqui. — Jungkook pediu. — Tá no bolso de trás da minha calça.
Por que não na jaqueta, Jungkook? Todos tem jaquetas com bolsos e enfiam os malditos cartões nela. Por que logo ali? Só me diga. Por que?
O dilema do bumbum atraente outra vez.
Deslizei minha mão para dentro do seu bolso com tanto cuidado que tive a impressão de que meus dedos estavam suspensos quando toquei o cartão, malditos pensamentos intrusivos já estavam fazendo festa na minha cabeça.
— Calma, deixa eu passar na bunda... — PORRA! — Digo, na catraca. — Jungkook está levemente bêbado, mas daquilo abertamente.
— Estava pensando na minha bunda?!
— Ha! Ha! Ha! Cala a boca. — Estava tonta demais para pensar em respostas claras e bons argumentos. Hoseok estava pendurado com os braços ao redor do pescoço de Jungkook balbuciando palavras sem sentido, já dentro do elevador.
— Tsunderezão tá cheiroso... — Ele começou, rindo de sua própria voz. — Sabe o que a Trine fala sobre você para a Nonô? — Hoseok começa, e o olhar de Jungkook para no meu, que inegavelmente, estava tentando parar Hobi a todo custo. — Que ela deveria fazer... ai, por que tá tudo girando tanto? — Claro, era uma obra divina, algum bom espírito havia calado a boca de Hoseok antes que ele contasse o que não deveria. Jungkook daria um jeito de se lembrar daquele comentário de Trine se ele o descobrisse. Seria outra piada pronta que ele adoraria comprar.
Quando as portas se abrem no andar de Hoseok, caminhamos lentamente pelo corredor até a porta do seu quarto.
— Eu acho que o roommate dele não está, mas de qualquer maneira, vou abrir pra vocês entrarem primeiro. — As luzes estão desligadas quando digito a senha no pequeno dispositivo ao lado da porta de madeira, o colega de quarto de Hobi por sorte não está lá, e assim que conseguimos passá-lo pela porta, tranco-a novamente.
— Leva o Hoseok pro banheiro, ele precisa de um banho urgentemente. — digo e Jungkook assente, depois de tirar os sapatos sujos do vômito de Hobi e levá-lo até o pequeno cubículo.
— Ei, tsunderezão, eu te amo tá? — Hoseok diz, provavelmente não se lembraria daquelas palavras amanhã, por sorte.
— Tá certo! Olha, vou tirar sua roupa agora, tá? Não se preocupe, só vou te colocar no chuveiro! — Jungkook diz e Hoseok olha ao redor, antes de olhar para ele novamente.
— Me dá um beijo primeiro, Seulgi! Só um beijinho... — Ok, Hoseok estava mais bêbado do que pensava.
— É o seu amigo Jungkook, certo? — Jeon diz, antes de retirar a camiseta que Hoseok usa e é naquele instante que vejo Hobi segurando a cabeça de Jungkook com firmeza e prendendo os lábios no seu pescoço. — Ei! Ei! O que você tá fazendo? — As mãos de Jeon o afastam para longe com cuidado.
— Seulgi, você é cheirosa! — É inevitável. Estou rindo sem parar, meu estômago dói e preciso me amparar no mármore da pia.
— Porra, Hoseok! Vai ficar marcado! — Jungkook esbraveja, mas Hobi está em outra dimensão. Para variar.
— Isso vai te render uma marca de uma semana inteira, sabia? — indago e Jungkook revira os olhos, posicionando Hoseok embaixo do chuveiro antes de ligá-lo.
— Se perguntarem, a minha namorada ainda é você, lembra? — Definitivamente o álcool estava fazendo o seu trabalho de desacelerar o meu pensamento, não tinha pensado por esse lado, assim como nunca teria associado a nós dois, mas era óbvio que uma marca ali, bem no seu pescoço, seria creditada à mim como responsável. Automaticamente o meu sorriso se desmancha e Jungkook se concentra em manter Hoseok debaixo da água por alguns minutos.
Eu não imaginava, mas ali seria o início dos meus maiores problemas.
♆
São quase 2h da manhã e o banho havia ajudado a curar a maldita bebedeira de Hoseok, que já estava vestido em seu pijama brega de seda e enrolado nas cobertas, enquanto Jungkook tentava retirar os vestígios daquela noite do seu par de tênis.
— O cheiro disso tá muito forte, acho que vou ficar bêbado só sentindo esse cheiro de álcool. — ele comenta, esfregando aquela toalha com toda força contra o próprio tênis.
Estou recostada na porta do banheiro observando-o de costas para mim, as mangas da camisa puxadas para cima, e os olhos concentrados na sua tarefa de remover o vômito de Hoseok dali.
Não quero olhá-lo muito. Suas malditas costas bonitas parecem ainda mais marcadas pela camisa escura, é uma visão errada ao mesmo tempo que parece incrivelmente satisfatória.
Não devia olhar para Jungkook daquele jeito, não quando sabia que o motivo daquela sensação estranha sobre ele ainda se fazia presente por conta do Kim.
É, Jungkook nem sempre era detestável, mas aquele outro sentimento dando as caras ali me deixava tensa, não era apenas um jogo de gato-e-rato, era uma brincadeira perigosa demais.
— Eu sei quando começo a ficar meio bêbada porque perco a sensibilidade... — digo e ele se vira, os cabelos cobrindo um pouco dos olhos. Puta que pariu!
— Sério? — Ele questiona, largando a toalha e os sapatos e lavando as mãos em seguida, dando uma última olhada no espelho.
— Bom, sim. Geralmente perco a sensibilidade dos braços e dedos, então do pescoço e da boca, talvez comece a babar compulsivamente aqui, pode esperar. — Ele sorri e caminha até onde estou, desligando a luz do banheiro.
— Posso testar? — Ele pergunta, com aquele maldito sorriso bonito preso nos lábios, deixando suas covinhas visíveis demais. Havia me dado conta delas na semana passada, quando passamos um tempo juntos na área comum do dormitório, assistindo programas de culinária e deixando que outras pessoas nos vissem, em algum momento notei que elas estavam ali quando recostei a cabeça contra o seu ombro e o olhei daquele ângulo absurdo e estranho. Nem mesmo ali Jungkook conseguia ser algo menos bonito.
Era visível que ele ainda estava sob o efeito do álcool. Seu rosto havia ganhado um coloração avermelhada, os lábios pareciam pintados de rosa, estava um pouco suado também, bem ali nas têmporas e no pescoço, mesmo que não estivesse assim tão quente naquele ambiente, lembro que havia comentado comigo em algum momento que o álcool lhe dava um calor excessivo, mas se tratava de Jeon, e eu sabia que quase tudo sobre ele era, no mínimo, quente.
— Ok, essa eu quero ver! — Respondo naquele meio tempo que ele tira as mãos dos bolsos da calça e puxa minha mão para perto de sua boca, pressionando os dentes ao redor do meu dedo indicador, de leve. — Sente algo?
— Um pouco, na verdade. — Respondo, e ele avança até o meu braço, afastando o tecido de minha blusa, mordendo outra vez. — E assim?
— Ainda não sinto nada! — Estava rindo de seu comprometimento naquela tarefa estúpida de testar minha sensibilidade, mas ele persiste, avançando até o meu ombro, e lentamente, me morde outra vez.
— E aqui? Sente?
— Quase nada. — respondo outra vez, mas a verdade é que sentia tudo, perfeitamente. Queria ver até onde sua brincadeira ridícula iria, poderia colocar a culpa na bebida na manhã seguinte. Quem iria discordar daquilo, afinal? Uma brincadeira inofensiva e duas pessoas bêbadas demais para se recordarem daquilo nas próximas 24 horas.
Seus dedos deslizam até o meu pescoço tão delicadamente que consigo sentir suas digitais raspando contra a pele, invadindo os meus fios de cabelo e afastando-os para o lado oposto. Sua fisionomia muda, por alguma razão, o sorriso bobo de alguns minutos atrás também desaparece.
— Posso? — ele pergunta, se aproximando um pouco mais de meu rosto, mais um passo e nossas bochechas provavelmente se tocariam. A verdade é que não sou capaz de verbalizar aquilo, nem de pensar em uma frase que faça sentido e interrompa de vez sua ação, eu só tenho a sensação de que sinto exatamente a sensação que ele sente.
— Sim... — Jungkook se aproxima tão devagar que é quase um martírio, me sinto uma presa encurralada e pronta para ser devorada a qualquer momento. O sentimento que havia evitado durante toda a noite retorna e não quero que ele vá embora, deixo que ele tome força no centro do meu corpo à medida que Jungkook avança até meu pescoço. E é sua respiração que me toca primeiro, tão morna e gostosa que me pergunto se o maldito pensamento que estou cogitando naquele momento não é errado demais.
Uma de suas mãos está ao redor da minha nuca, seu braço está tão próximo que sinto o seu cheiro gostoso de banho e colônia masculina tão perto outra vez, dançando ao meu redor como um lembrete de minhas punições por mentir tão mal. Sua outra mão está apoiada contra a parede ao meu lado, um suporte seguro caso eu desconfiasse que não aguentaria muito mais daquilo.
Primeiro seus lábios tocam minha pele, tão quentes que penso na possibilidade de acabar queimada por eles, então seus dentes deslizam contra ela e fecham ao seu redor com uma pressão um pouco mais forte, segurando um pouco de minha pele entre eles. Não posso evitar o sentimento que me atravessa como se pudesse me partir ao meio.
Puta merda, por que isso é fodidamente gostoso?
Um gemido escapa de minha boca quando Jungkook roça os lábios em um ponto intocado dessa vez e me sinto errada; os pensamentos que evitei durante as últimas horas já não parecem tão assustadores e improváveis.
— E aqui? Você sente? — ele pergunta, sua voz sai quase como um suspiro, quando ele se afasta milimetricamente de mim.
— Não, eu não sinto. — É uma mentira barata e fajuta e ele sabe disso. — Posso tentar de novo, então? — questiona, seu hálito agora toca meu rosto outra vez e a verdade é que sou incapaz de lhe dizer não quando quero tanto.
— Jungkook... — sussurro, olhando-o tão de perto que mal consigo pensar com clareza, seus olhos são escuros demais, parecem não temer nada, nem mesmo o perigo que corríamos ali
— Isso é contra as regras do acordo, não é? — Maldita hora pra bancar a pseudo-bêbada consciente.
— Não, não é. É só um teste... — ele diz, deixando um beijo de leve no lugar onde seus dentes estavam fincados minutos atrás. — Lembra?
— Lembro. — Sou uma péssima mentirosa. Nós dois somos. Mas a verdade é que não quero parar. Não quero que ele pare. Não quero sair dali se aquela for uma opção.
Jungkook volta à posição inicial, mordiscando meu pescoço tão devagar que estou quase implorando para que ele apenas faça o que tem que fazer. Sinto sua língua deslizar contra a minha pele e a pequena peça de metal na ponta dela me causa um arrepio. Porra! Porra! Porra! Tinha sorte o suficiente de saber que Jungkook jamais descobriria o quanto aquilo estava me deixando absurdamente molhada, mesmo que o ritmo frenético em que eu, lentamente, tocava minhas coxas uma na outra aos poucos denunciassem o que ele estava causando ali também.
— Sente?! — ele pergunta, deslizando a língua outra vez em minha pele, tão lento e preciso que é necessário morder meus próprios lábios para que nenhum som escape dali.
— Só continua, por favor! — Talvez tenha sido naquele momento em que as coisas tenham fugido do meu controle, quando a língua de Jungkook faz o caminho tortuoso e lento de novo e de novo. Entrelaço minha mão no seu cabelo quando suas mordidas se intensificam, puxando tão firme que não tenho certeza se isso vai machucá-lo, mas ainda faz de mim a guia daquela tarefa que ele parece dominar tão bem.
Ele se aproxima um pouco mais e nossos quadris se chocam, sabemos a que caminho aquilo vai nos levar, erroneamente iniciando algo que sabemos exatamente como vai acabar.
— Essa brincadeira é perigosa. — ele sussurra contra minha pele quando toco de leve suas costas por baixo do tecido de sua camisa, brincando com a barra dela, puxando seu corpo para mais perto do meu, em um movimento tão gostoso e sutil que me odeio por isso.
— É só um teste. Só isso. — respondo, como se aquela fosse ao menos uma justificativa plausível para a quantidade insana de regras quebradas em uma única noite. Quero prová-lo; aquele é o pensamento cretino que me faz desejar saber que gosto o suor dele tem, se sua pele é tão macia e suave quanto parece e não peço permissão para fazê-lo. Avanço contra o seu pescoço, mordiscando de leve a pele quente e bonita, afundando o nariz na fonte de todo cheiro que escapa dele, avançando pela linha do maxilar como se fosse meu território inexplorado.
Sua mão aperta forte minha cintura e seus suspiros só me deixam ainda mais excitada. Guio seu quadril contra aquele ponto, bem ali, entre as minhas pernas, deixando que as palavras morram no fundo da garganta.
— Quer sair daqui? — sua voz soa como um sussurro clamado. Jungkook morde meu queixo e meus lábios queimam outra vez. Estão fervendo. Em carne viva. Sei que é exatamente aquilo que virá logo em seguida e talvez eu tenha repetido aquela cena tantas vezes na minha cabeça, que eu só quero que ela aconteça. Só quero que Jungkook me beije devagar e quente.
— Porra...— ele começa, quando sua mão desliza até o meu seio, por cima do tecido fino daquela blusa — É que eu tô muito duro.
Tudo leva meio segundo, quando abro os olhos para assistir sua ação de deslizar os dedos por dentro de minha blusa.
— Nonô? Tá aí? — PUTA MERDA! Como havíamos esquecido de Hoseok ali, deitado na cama, bem atrás de nós. O susto é tão grande que nos desprendemos como duas forças que se repelem, bato a cabeça contra a porta do banheiro com tanta força que o som ecoa pelo quarto, estou hiperventilando e demoro alguns segundos para recuperar o fôlego outra vez, naquela tentativa estranha de formular uma frase que faça sentido.
— Oi, Hobi! Tô aqui... Tava... hmmm, tava ajudando o Jungkook a... é, a limpar o tênis dele.
Sim, esfregando as suas coxas na ereção do garoto. Boa, Eleanor.
Jungkook está encostado do outro lado da parede, respirando fundo, os olhos fixos no teto, a testa está franzida e ele parece preocupado demais. Tem um pouco da minha saliva no seu queixo e sua mão desliza contra aquele ponto na tentativa de limpar o excesso, amenizar os vestígios do que havíamos feito — Acho que vou dormir agora, tá? — Hobi responde e fecho os olhos por um instante, respirando tão fundo que posso romper meus pulmões com a quantidade absurda de ar que inspiro.
— Tá bom, dorme bem ok?
Tínhamos feito merda. Era óbvio. Ultrapassado uma linha vermelha de risco, mandamos o nosso acordo para a puta que pariu. Era aquele o momento crucial que meu exército bateria em retirada para fora daquela batalha ridiculamente perdida pela minha incapacidade evitar as coisas, o velho costume de pagar para ver até onde os malditos sentimentos iriam.
Hoseok não me responde mais e não posso evitar o olhar de Jungkook fixo em mim, quando ele está ali, recostado do outro lado da parede, com as luzes dos postes laterais do campus invadindo o quarto de Hoseok pelas frestas da persiana. Como se fosse a presa do guerreiro, evito qualquer movimento brusco, não quero ser capturada quando sei que estarei completamente rendida.
— Vamo embora? — As palavras saem de minha boca antes que eu consiga pensar com clareza no que elas significam e Jungkook assente, sem formular uma única frase, caminhando para buscar seu par de tênis esquecidos no banheiro e puxando a camiseta para baixo.
Estou cambaleando em meus próprios pés e já não tenho certeza se é por conta da bebida, nos últimos minutos havia sentido tudo, poderia até jurar que sensibilidade era o meu sobrenome. Estava desnorteada no meio daquela mistura de sensações, e que caralho tínhamos feito? O que tinha sido aquilo? De onde veio?
Cruzamos a porta do quarto de Hoseok e somos engolidos pelo escuro do corredor principal, o bip da tranca é tudo que pode se ouvir além de nossas pegadas pesadas contra o porcelanato, não tinha certeza se estava indo na direção dos elevadores ou se estava seguindo os meus próprios pés em direção alguma.
— Você ainda quer ir a algum lugar? Sei lá, se quiser ir lá no dorm comigo... — A voz de Jungkook soa esperançosa e estranha, ele se aproxima outra vez e consigo senti-lo no escuro, sua boca muito perto de minha orelha.
— Acho melhor cada um ir para o seu quarto, tá tarde e... — ele respira fundo, fazendo meu cabelo se movimentar levemente quando desliza o nariz contra minha bochecha — E isso é errado, você sabe. — finalizo. Incerta e mentirosa.
— Posso ir te deixar no seu quarto, então?
Não! Você sabe o que vai acontecer se ele te acompanhar. Vai acontecer aquilo que seu corpo quer nesse momento, mas que você definitivamente você não precisa.
— É melhor não, você vai precisar voltar, andar esse caminho todo de novo. — Meu peito sobe e desce, sinto Jungkook cada vez mais perto, o rosto quase tocando o meu outra vez. O magnetismo que sinto quando ele está perto faz algumas partes do meu corpo piscarem sozinhas.
— Não me importo. — Seus dedos entrelaçam os meus como uma ordem e caminhamos em direção aos elevadores, o silêncio se instaura enquanto aguardamos o elevador descer. Não quero encarar meu próprio reflexo no espelho bonito perto das portas de metal, sei que o meu olhar acusatório só me condenará pelo que estava sentindo minutos atrás. Evito qualquer contato visual com Jungkook porque ainda não me sinto segura, sabia que com aqueles minutos, as coisas esfriariam lentamente e não seria guiada pela puta vontade que tenho de simplesmente beijá-lo ali mesmo.
Uma de suas mãos está enfiada no bolso e a outra, puxa uma mecha de seu próprio cabelo para trás da orelha, está cantarolando uma música que ecoa ao longe, provavelmente do clube de esportes.
Body do Mino.
Não há ninguém ali. Não há ninguém em lugar algum. Se trata apenas de Jungkook e eu no maldito elevador. Como se o mundo tivesse se esvaziado e deixado apenas nós dois e a porra do sentimento que só ganhava força de novo, de novo e de novo.
— Você na frente... — ele diz. O ar parece denso entre nós naquele cubículo, tão pesado que a qualquer momento, podemos despencar. Permaneço com os olhos fixos em meus próprios pés e Jungkook está com as costas apoiadas contra a parede lateral, ridiculamente bonito. Os nós do meu tênis ainda estavam desatados, não fazia ideia de como havia andando todo o caminho até aqui sem tropeçar, os pensamentos desconexos continuam passeando como se pudessem me controlar dessa vez, e mantenho minhas mãos perto demais porque não sei se tenho autocontrole o suficiente para não tocá-lo exatamente como estava fazendo antes.
Só quero que isso acabe. Só quero deitar na minha cama e acordar pela manhã fingindo que essa noite não passou de um delírio. Só isso. Um delírio.
As portas do elevador se abrem outra vez e então caminhamos para fora, eu deveria ter dito não, deveria ter sido mais incisiva, Jungkook terá que percorrer esse caminho duas vezes apenas para me ver abrindo e fechando a porta do dorm e lhe dando um boa noite quando na verdade eu só queria me livrar daquela camisa larga e cheirosa que ele usa e marcá-lo inteiro. Nada parecia justo.
— É sério, você não deveria ter vindo, amanhã temos aula. — insisto, porque na verdade estou morrendo de medo de não ter o autocontrole que deveria.
— Tudo bem, já te disse que não tem problema.
Subimos lentamente as escadas até a porta dos elevadores do prédio feminino e dessa vez, Jungkook parece mais relaxado. Tento não parecer tão tensa e mecânica, mas não existe absolutamente nada mais desastroso do que bancar a indiferente quando aquilo, de fato, não está acontecendo.
— Tá tudo bem? — ele pergunta, pela primeira vez desde que saímos do dormitório masculino.
— Claro, tá tudo ótimo. — Não, não está e você sabe disso.
Quando as portas do elevador se abrem no meu andar e caminho lentamente pelo corredor com Jungkook ao meu lado, permaneço contando as portas como um mantra para me manter calma: 402, 403, 404. Deslizo o cartão no dispositivo e noto que Trine ainda não voltou. Pelo visto não voltaria tão cedo.
— Então, é isso... — começo. — Boa noite. — Jungkook está com o ombro encostado na parede ao lado da porta, os lábios pressionados um contra o outro e não quero manter os meus olhos ali, não quando sei que estamos outra vez sozinhos e relativamente perto de uma cama.
— Boa noite. — ele responde, mas não move um músculo sequer. Sei o que está esperando, porque estou esperando o mesmo, mas não sei se tenho coragem o suficiente para dar um passo adiante.
— Quer entrar um pouco? Posso te mostrar os meus discos, tenho alguns aqui...
Não faça isso, Eleanor. Não faça.
— Tá bom. — Afasto a porta para que ele entre e o ar entre nós outra vez muda, enquanto retiro os sapatos e acendo as luzes, caminhando para dentro.
— Água? — Ofereço, esticando a garrafa para ele, depois de beber um gole, mas ele recusa. — Estão aqui, tá vendo? — Caminho até onde os meus discos estão enfileirados, na estante de madeira, perto dos meus livros. Havia comprado aqueles em Seoul nos últimos anos, mas a maioria da coleção estava em Busan.
— Não tenho muitos aqui comigo, a maioria eu deixei em casa... — Estou de costas para Jungkook porque não quero encará-lo outra vez, não quando estamos aqui, sozinhos, desprotegidos e sem culpa. Mas sinto sua aproximação, o seu calor nas minhas costas e suas mãos apoiadas em meu quadril, apertando-o tão firmemente que cortam minhas palavras. Seu nariz desliza em meu pescoço e mordo o meu próprio lábio, definitivamente todo o calor que estava sentindo antes está aqui também, na mesma intensidade.
— Desculpa, eu não consigo me concentrar... — ele sussurra contra minha orelha e seguro suas mãos por baixo das minhas, apertando seus dedos ali.
— Tudo bem, é só bobagem. — Rodopio em meus próprios pés, tropeçando nos dele, ainda calçado naquelas meias pretas monocromáticas.
Meu quadril toca o armário de madeira, e em seguida, o corpo de Jungkook.
Seu polegar desliza contra os meus lábios e suas mãos me puxam para mais perto. Não luto contra isso. A verdade é que eu quero tanto que ele me beije que mal consigo pensar.
— Vamos quebrar todas as regras do acordo, você sabe disso não é? — sussurro contra a sua boca, próxima demais.
— Regras só são quebradas se puderem provar que isso aconteceu... — ele sorri, aquele maldito sorriso cretino que eu odeio. — Você vai contar?
Odeio porque ele está certo e me odeio ainda mais porque não quero lutar contra. Meu fluxo de pensamento só segue a correnteza, estou completamente concentrada em sua boca bonita e no sorriso que morre nos seus lábios.
Parte de mim quer acabar com aquele jogo e a outra parte quer mandá-lo diretamente para o inferno, mas a parte maior entre elas quer beijá-lo até que eu esqueça meu próprio nome.
Seus dedos se enroscam no meio do meu cabelo, que se tornam um emaranhado nas mãos dele, parecem prendê-lo ainda mais perto de mim, sua boca toca a minha e meus olhos automaticamente se fecham. Jungkook tem gosto de cerveja, e quando sua língua lentamente toca a minha, com aquele maldito piercing, não tento me segurar a mais nada naquela realidade além dele.
Deslizo os dedos pela sua nuca, puxando-o de leve para mais perto de mim, e o sinto inteiro no meu corpo, no meio daquele jeans que quero me livrar agora.
Meus pés, automaticamente, nos direcionam até a mesa de estudos e só nos soltamos por meio segundo, quando empurro meus livros e apostilas para o chão, puxando Jungkook pela camisa para encontrar sua boca novamente.
Ele é viciante, doce, quente e definitivamente melhor do que havia imaginado.
— Isso é errado em tantos níveis...— ele comenta, antes de se encaixar entre minhas coxas, se inclinando sobre meu corpo e roçando sua ereção no lugar certo, deslizando a língua contra o meu lábio. Meu gemido não foge de sua boca. Enfio as mãos na sua camisa e já tenho uma prévia de como quero me livrar dela, mas prefiro marcá-lo bem ali, na linha visível de sua clavícula, adorando todos os segundo daquela expressão bagunçada dele: os cabelos desalinhados, os lábios úmidos e os olhos fechados. Uma cena que manteria a salvo comigo.
— É, eu sei. — Deslizo a língua em seu lábio inferior, puxando para mim e Jungkook me aperta com ainda mais força, antes de tirar a própria camisa para fora do corpo com uma facilidade assustadora, a calça larga demais, posicionada na linha de seu quadril, me permite ver a ponta de sua tatuagem e deixo meus dedos tocarem de leve, contornando o final do desenho bonito.
— Morde mais o meu lábio... — ele começa. — ...eu gosto. — Repito a ação e ele deixa escapar um gemido baixinho.
— Doeu muito? — pergunto, no meio segundo que ele leva para observar o caminho que traço em sua tatuagem. Ele faz que não com a cabeça antes de deslizar as mãos para o zíper de minha calça.
— Não dói nada.
— Posso? — ele pergunta — Só vou te tocar...
Ergo os quadris para facilitar o seu trabalho, vendo-o abrir o botão e descer o zíper com alguma prática. Estou levemente tonta e não sei se é culpa do tesão ou do álcool.
Sua boca toca a minha outra vez enquanto seus dedos correm para dentro do jeans, por cima da calcinha.
— Você tá escorrendo... — ele sussurra e a sensação gostosa me atinge em cheio. Ele assiste a própria ação, movimentando a mão em uma simulação excitante e meu corpo inteiro reage. Quero tocá-lo também. Quero que sinta exatamente o que estou sentindo. E é naquele instante de pura autoconsciência que me dou conta do quanto estamos indo longe demais, tão longe que daquele ponto não sei se daria para voltar.
— Jungkook, para! — digo e ele demora alguns segundos para assimilar o pedido, se afastando de minha boca aos poucos, a mão erguida diante dos meus olhos.
— Te machuquei? — Seus olhos estão fixos no meu, com aquele brilho que costumava ter na maioria das vezes que me pegava presa neles.
— Não, você não fez nada de errado, é só que... não sei, isso não me parece certo. — Me desvencilho dele com tanta dificuldade que minha cabeça parece não encontrar um eixo, um ponto fixo para se manter, tudo permanece girando e girando.
— O que foi? Você não quer? — ele pergunta, de um jeito tão doce que preciso me afastar mais, a vontade que sinto é de derreter bem ali e sei que não deveria.
— Nós bebemos muito, e você sabe que isso é só... — Não finalizo o que pretendo dizer porque nem eu mesma sei o que é aquilo, nem de onde todo aquele desejo estranho veio, não sei defini-lo, nem me arrisco em tentar.
Jungkook está de costas para mim, puxando os cabelos para trás para afastá-los do rosto.
— Acho melhor eu ir embora, então. — ele diz, buscando a camisa que já tinha virado um amontado de tecido no chão e quase imploro para que ele fique, mas sabia que Trine estava certa, eu não deveria me envolver daquela forma se meu plano era ficar com outra pessoa.
— Boa noite, gatinha. — ele diz, segurando meu queixo entre os dedos, deixando um beijo demorado em minha bochecha e estremeço. Seu cheiro parece preso em mim. Na minha roupa. No meu cabelo. Na minha pele. Não posso me livrar daquilo.
Ouço o bip da tranca automática e só então respiro fundo outra vez.
Puta que pariu.
♆
Trine é meu despertador natural. Quando abro os olhos, com meus miolos fritando pela manhã, ela já está com a perna esticada contra a parede em alguma posição estranha de yoga, iniciando seu dia como se não tivesse enchido a cara na noite passada.
— Bom dia, flor da manhã. — ela diz, assim que nota minha movimentação tentando protelar um pouco mais na cama.
— Ai, não fala comigo! Minha cabeça parece que vai explodir. — Queria afundar naqueles lençóis e só acordar na minha formatura, sem precisar enfrentar aquele dia e aquela ressaca cretina.
— Você foi embora cedo da festa ontem? Te vi conversando com o Hobi e depois o Jaebum me avisou que você tinha ido embora. — Droga! No momento que escuto a palavra "festa", meu estômago dá um nó, todas as lembranças da noite passada voltam com uma velocidade impressionante: Taehyung lambendo a Sooyoung, Hoseok bêbado, Jungkook me ajudando a levá-lo ao dormitório. Jungkook e eu no quarto de Hobi. Jungkook e eu aqui, neste quarto. Jungkook. Jungkook. Jungkook.
Minha cabeça lateja outra vez.
— Puta merda! — Eu tava tão ferrada. O que eu tinha feito?
— O que foi dessa vez? — Trine pergunta, como se não me conhecesse como a palma de sua própria mão. — Você tá com cara de quem transou escondido!
— Existe cara pra isso, Trine? — rebato, porque é a verdade. Ela jamais saberia se eu fosse uma boa mentirosa.
— Existe sim! Essa cara de sonsa aí que você tá fazendo, vai, me fala o que aconteceu!— O problema sobre tentar esconder algo de Trine era que eu simplesmente não era boa com mentiras, não era boa com nada que exigisse omissões, era ridículo me ver tentar.
— Eu e o Jungkook... nós estávamos só brincando e as coisas começaram a ficar bem, você sabe, intensas demais.
— Oh! E vocês... — ela gesticula da maneira mais feia possível e quero morrer por isso.
— Não, nós não transamos. Mas nos beijamos. Algumas vezes. — E ele estava quase tirando a própria roupa e com as mãos dentro das minhas roupas.
— Nô, você não tá se apegando ao Jungkook, né?
— Não, eu não tô! — começo. — Só fiquei, não sei, eu só tive vontade... tava meio bêbada ontem, nem lembro direito o que aconteceu.
— Esse filho da puta não fez nada contra sua vontade, né? — Trine parece uma leoa, sempre pronta para me defender e eu gosto disso, mas tudo que Jungkook havia feito na noite passada havia sido porque eu quis fazer.
— Não, Trine. Nós paramos nos beijos, não foi nada além disso.— digo e sua cara brava desmorona.
— E foi gostoso? Ele beija bem? Tem pegada?
Jungkook definitivamente ressignificou a definição.
— Ah, é, foi normal. Tipo, comum! — digo, antes de tatear pela garrafa d'água largada por cima da mesa de cabeceira e tomá-la de uma vez só.
Busco meu celular esquecido no bolso do jeans que estava usando ontem, 23 chamadas perdidas e duas mensagens de mamãe. O que ela queria? Provavelmente sabia que estava me preparando para a aula a essa hora, e é no meio tempo que tenho esse pensamento que o celular vibra outra vez, incansavelmente, na minha mão. É ela de novo.
— Alô? Oi, mãe.
— Eleanor Rose Greene, estou ligando pra você há mais de meia hora.
— Eu tô bem, mãe. E a senhora? Como está? — Mamãe me chamando pelo meu nome completo, algo estava errado. Muito errado.
— Encontrei a mãe do Park ontem e ela me contou que você está namorando. Como você pôde me esconder isso, sua desnaturada?
PUTA.
QUE.
PARIU.
Como a Senhora Park sabia sobre Jungkook?
Ah, é claro! Como não tinha pensado naquilo antes? Jimin deve ter contado como uma pequena vingança pessoal sabendo que mamãe também ficaria sabendo. Ah, de todas as malditas casas daquele bairro, por que fomos ser vizinhos justo da Família Park?
— Calma, mãe! Eu posso explicar!
— Ah, você vai explicar sim! Seu pai embarca hoje para a Austrália e vamos almoçar todos juntos como uma família, pode convidar o seu namorado. Seu pai e eu estamos ansiosos para conhecê-lo. — Aquilo não estava acontecendo. Por Deus, aquilo não estava acontecendo comigo. Não. Não. Não. Ainda estou dormindo e aquilo não passa de um pesadelo horrível, certo?
Errado.
Estava lúcida, acordada o suficiente para me dar conta de que aquilo estava realmente acontecendo, de que em breve teria que olhar para Jungkook de novo, quando meu plano era simplesmente fingir que ele não existia depois do que fizemos ontem.
As cenas se repetem na minha cabeça como um loop infinito: as mãos de Jungkook em mim, seu cabelo despenteado e suado preso entre meus dedos e seus dentes maltratando meus lábios sem pudor algum. Preciso respirar fundo mais de uma vez antes de pensar no que faria, seria obrigada a encará-lo uma hora ou outra, querendo ou não, mas ainda não estava pronta para que aquele momento fosse exatamente na manhã seguinte, encontrando vestígios do que eu havia feito nele.
Isto tudo não passa de um delírio.
— Amiga, não queria dizer nada não, mas seu pescoço tá um pouquinho marcado. — Trine comenta, enquanto veste seu jeans tão justo que é preciso se esticar na cama para fechá-lo.
Deslizo a mão pelo pescoço desesperada, esquecendo que minha cabeça era como um campo minado e qualquer movimento brusco me causaria aquela dor infernal. Talvez eu só devesse ficar aqui hoje, fingir que morri e pedir um atestado na enfermaria mais tarde por fazer merda demais e ser incapaz de frequentar as aulas de Redação Jornalística ou encarar meus pais.
Não há nenhuma mensagem dele. Nenhuma chance de que ele tenha subitamente esquecido de todas as más escolhas que fizemos. Nenhum: "Ei, eu tava muito bêbado ontem, o que rolou?"
Ainda sentia o gosto dele em minha boca. Seu maldito sabor bom demais para ser esquecido facilmente.
Como enfrentaria Jungkook naquela manhã? Como pediria que me acompanhasse no almoço de família e ouvisse todas as perguntas sacanas que provavelmente mamãe faria sobre ele, sua vida e nós dois?
Me odeio por ter começado isso! Não se beija um não-namorado, essa deveria ser a regra número 1 de um não-casal. Na semana passada estava surpresa por Jungkook ter levado um soco por minha causa e havia jurado para mim mesma que não deixaria tudo se tornar tão intenso, mas ontem estava tão presa aos lábios dele que não pensei nas consequências, mandei as estribeiras para a casa do caralho e agi como se o fantasma daquela noite não fosse me assombrar depois.
Ótimo! Sou uma bêbada e uma não-bêbada ciente das bostas que faz.
Tomo uma dose de coragem junto com outro gole da água que Trine traz para mim e disco o número de Jungkook tão rápido que antes que tome consciência, já está chamando.
— Alô? — A voz de Jungkook do outro lado da linha é tão profunda que, por um segundo, estremeço.
— Te acordei? — pergunto, antes de me sentir pior do que aquilo. Fora do meu lugar, completamente sem encaixe.
— Não, acabei de sair do banho, estava me vestindo. — Faço uma nota mental para não imaginá-lo de novo sem a camisa, como ontem, com aquela calça tão baixa na linha de seu quadril que conseguia ver a ponta de sua tatuagem tomando forma bem ali.
— Ah, Ok. É, eu queria falar com você hoje, precisamente agora pela manhã... — Respiro fundo outra vez. — Você pode?
— Me encontra em meia hora na lavanderia?! Pode ser? — ele diz e ouço o som das portas do seu armário sendo fechadas ao fundo.
— Claro, até daqui a pouco. — respondo e desligo imediatamente. Sentia que Jungkook tomaria uma brecha para falar sobre o assunto de ontem e não estava pronta, mesmo que tivesse que encará-lo depois daquilo.
Tomo um banho rápido e visto a primeira roupa que encontro, meu estômago parece que vai dar um nó e estou certa de que vou perder a primeira aula do dia, mas não podia fugir daquela conversa. Não dessa vez.
Quando cruzo o corredor em direção aos elevadores, avisto Sooyoung usando um vestidinho de verão estrategicamente planejado para me lembrar que era ela que Taehyung estava beijando ontem, está usando um par de óculos escuros e parece que acabou de fugir de algum tutorial de como parecer bonita e impecável depois de uma noite de ressaca.
Minha autoestima já tinha atingido o magma terrestre, mas por alguma razão continuava voltando às lembranças de ontem, mamãe desesperada no celular e a minha vontade de socar Park Jimin por ser um babaca fofoqueiro.
Como eu não havia pensado naquela possibilidade? Mamãe descobria em algum momento, ela sempre descobre tudo, era quase um instinto, um dom paranormal.
As portas do elevador se abrem e desvio da rota habitual para as escadas laterais de acesso a lavanderia, meu coração tamborila com tanta força no peito que tenho medo que mais alguém esteja ouvindo aquele som além de mim.
Assim que empurro a porta vai-e-vem, vejo Jungkook, que está de costas para a porta, as mãos apoiadas contra a secadora e a cabeça baixa, concentrado na leitura de uma embalagem de amaciante. Sou tombada por aquele pensamento de que Jungkook definitivamente é bonito de todos os ângulos. Ele esfrega a nuca de leve com sua mão bonita e um arrepio corre meu corpo, eram meus dedos ali noite passada, puxando-o com tanta força para perto que ainda não tenho certeza se o machuquei.
E é o som estridente que o solado do meu tênis causa no piso que desvia sua atenção para mim, sua expressão é apenas curiosa e não imputada e mecânica como a minha naquele meio tempo.
— Ei, nem tinha visto você aí... — ele diz, sugando os próprios lábios. Está tão bonito naquela camisa cinza, ainda não entendia os gostos de Jungkook, mas sabia que as camisas e calças largas, meio esportivas, pareciam ser seus itens favoritos no armário.
— Acabei de chegar. — digo, tão nervosa que meu tom de voz sai alterado. Droga! Seu pescoço ainda tá marcado pelo chupão de Hoseok, agora parece ainda pior, mas ali perto da linha do maxilar, sabia que que o responsável por aquilo não era ninguém além de mim.
As memórias voltam com toda força, sua boca no meu pescoço e minhas mãos apertando firme seus ombros, e imaginava se minhas unhas tinham marcado a pele de suas costas também, deixando um ardor dificultoso para vestir qualquer peça.
— Então, você queria falar comigo sobre o quê? — ele apoia o próprio peso contra a secadora e se senta sobre ela, com os olhos fixos em mim.
— Bem, meus pais querem almoçar comigo hoje... — começo, preciso ser direta antes que desmaie bem aqui. — E eles meio que sabem sobre você.
Pela primeira vez sua expressão muda.
— Você contou aos seus pais sobre mim?
— Não! Mas é uma longa história. Acontece que eles querem te conhecer...— Respiro tão fundo que talvez tire todo o ar dele também. — E eu queria saber se você pode me acompanhar hoje.
A expressão de Jungkook é um não automático, seus olhos desviam para outro ponto da lavanderia e sua mão ampara a própria testa.
— Nós dois e alguns boatos na faculdade, tudo bem, mas envolver nossos pais nisso? Ah, eu não sei. — Ele diz.
— Não era minha intenção, Jungkook! Mas o que posso fazer, uh?
Mataria Park Jimin na primeira oportunidade.
— Mentir para os seus pais não me parece certo, Leanor. — Estou quase implorando, estava pronta para pedir de joelhos, sabia que mamãe seria capaz de aparecer aqui no campus para conhecê-lo se fosse possível, não me deixaria escapar dessa, nem ele.
— Não é certo, mas já estou atolada nisso até o pescoço, você acha que dá pra voltar atrás?! Desmentir os boatos depois de tudo?! — Estava pronta para ouvir um sermão, aceitar que aquele era um problema meu, eu que havia enfiado Jungkook naquela ideia estúpida e pagaria caro (literalmente) por aquilo caso fosse descoberta.
Ele curva a cabeça para trás, de olhos fechados e novamente os pensamentos sobre a noite passada voltam. Ainda podia sentir o sabor da pele dele se me concentrasse um pouco, o cheiro gostoso e doce daquele ponto bonito de seu pescoço ainda tão preso em mim, o maldito perfume entranhado no meu corpo.
Merda! Merda! Merda!
Um pedido se forma no fundo de minha garganta, travo uma batalha interna entre Jungkook e o meu orgulho mas me dou por vencida no segundo seguinte, quando me imagino chegando para aquele almoço sem ele comigo e o que mamãe seria capaz de fazer até descobri-lo no campus.
— Jungkook, por favor! — digo. — Eu juro que não te peço mais nada...
— Você não pode me pedir isso, Leanor. Isso não. — Se estivéssemos em outra situação, admiraria a atitude dele por se recusar a mentir para os meus pais, mas ali, meu desespero gritava mais alto. Assim como os meus valores morais já tinham caído por terra. E é sem pensar duas vezes que me aproximo dele, com as mãos apoiadas em suas coxas e os olhos fixos nos seus.
— Jungkook, por favor... — Repito firme. — Por mim!
Seus olhos são escuros demais, seu olhar queima e me atravessa feito um raio, por um segundo parece cruel: ele me olhando do alto, sentado naquela posição cretina de imposição. Por puro impulso.
— Eu vou... — ele começa. — Mas você tá me devendo uma.
Um sorriso instantâneo se forma nos meus lábios que ele não retribui de imediato, um grupo de rapazes entra na lavanderia e nos afastamos, apesar disso não diminuir os risinhos e comentários estúpidos dos rapazes.
— Vejo você no almoço? — Pergunto.
— Claro, gatinha.
Maldito apelido ridículo.
♆
A música em meus fones está tão alta que isola todo e qualquer ruído externo, mas silencia meus pensamentos e não me deixa pensar naquilo que não quero reviver agora. Hoseok havia perdido todas as aulas da manhã, tinha enviado uma mensagem de texto avisando que estava bem e que não lembrava de quase nada da noite anterior, o que não invalidava a minha suspeita de que ele tinha visto Jungkook e eu no canto do quarto fazendo todo tipo de coisa que não se deve.
E falando no diabo.
Estou sentada no banco de madeira perto do gramado central quando avisto Jungkook saindo do prédio do dormitório masculino, estava usando um cardigã cor-de-mel e calças pretas, roupas feitas para o seu tamanho, sem o estilo esportivo e largado de sempre.
Ele é tão alto e charmoso que é impossível não notá-lo no meio das outras pessoas, é engraçado porque até mesmo o jeito que ele caminha tem atitude, além daquele perfil bonito que ele possui, e um nariz que eu poderia jurar que tinha personalidade própria.
Talvez Trine estivesse certa sobre a teoria do tesão contido, talvez todo aquele sentimento estranho que Jungkook vinha me causando nos últimos dias fosse culpa do meu organismo e dos meus hormônios à flor da pele. Não quero ficar presa nisso e arruinar minha cabeça com pensamentos desnecessários, mas não consigo parar de voltar ao que senti, é como um ciclo vicioso e sacana.
Estava lentamente perdendo a cabeça, me encaminhando para uma rota com um precipício no final e continuava dando passos e mais passos adiante.
— O que acha da roupa? — ele pergunta, dando uma voltinha na minha frente.
— Está ótimo.
— Era a única roupa de mauricinho que eu tinha no meu armário, imaginei que seria legal causar uma boa impressão nos seus pais, sei lá. — Ele diz e eu sorrio, como a única coisa que sou capaz de fazer naquele momento.
— Eu gosto das suas roupas largas, mas você está muito bem assim. — Meu tom de voz altera, não quero parecer ridícula elogiando-o.
— Bom, podemos ir? — digo e ele assente, com as mãos nos bolsos. Ainda continuávamos chamando atenção no campus, mesmo depois dos boatos aos poucos terem perdido força, mas os olhares nunca nos abandonavam, principalmente os femininos que se demoravam em Jungkook quase sempre.
— Leanor... — Quando meu nome ganha forma na voz dele, estremeço. — Ontem eu... te machuquei? Ou não sei, fiz algo que você não queria? — A pergunta soa como um soco, principalmente porque não imaginei que tocaríamos naquele assunto justo agora.
— Não, você não fez. — respondo e ele me olha.
— Nós tínhamos bebido, você sabe, as coisas ficaram meio...
— É... eu sei, ficaram fora de controle, mas você não fez nada contra a minha vontade, eu quis beijar você também.
A frase ecoa mais alto do que pretendo, mais assertiva e direta do que imaginei na minha cabeça, tanto que ele não consegue esconder aquele pequeno sorriso no canto do lábio quando escuta a frase, e outra vez, a sensação estranha que senti dias atrás percorre minha espinha, atravessando meu corpo inteiro como eletricidade.
— Hum, então, onde vamos encontrar seus pais? — ele pergunta, mudando de assunto depois daquele meio tempo de silêncio constrangedor.
— Em um restaurante aqui perto, meus pais amam comida coreana.
— Faz tempo que você vive aqui na Coreia? — ele questiona, puxando o cabelo bonito para trás da orelha.
— Estou aqui desde os dez. — Começo. — Meu pai é do serviço militar, então você sabe, a base dele foi alterada e ele foi transferido pra cá. Primeiro Gwangju, depois Daegu e então Busan, e eu cresci aqui.
— Não acha estranho que não tenhamos nos conhecido até agora? Digo, você vivia em Busan também e então viemos pra Seul para estudarmos na mesma Universidade e só nos conhecemos agora, é maluco! — ele comenta, com toda sua atenção voltada para mim.
— Acho que as coisas acontecem quando tem que acontecer, talvez seja assim que o destino queira... — começo. — Ok, isso soou brega demais, mas sei lá, acredito em destino. — ele sorri, e me odeio por não conseguir parar de olhá-lo.
— Não sei no que acredito, mas isso não soou brega, não se preocupe. — Claro! Você é tão cafona que perdeu o senso, Jungkook.
Atravessamos a rua e então confirmo o endereço que mamãe havia enviado, era aquele restaurante com um anúncio de soju colado às portas de vidro que vivia cheio de universitários nos horários noturnos.
Jungkook respira fundo outra vez e então caminhamos para dentro.
— Você tá pronto?
E lá estão eles. Mamãe usando um kimono com franjas nas mangas e estampas de rosas vermelhas no tecido, tinha pintado algumas mechas azuis cabelo e papai estava usando o uniforme militar, tenho quase certeza que queria causar algum impacto em Jungkook.
— Aí está a minha menininha! — Mamãe fala tão alto que metade do restaurante pode nos ouvir.
— Mãe, por favor, aqui não! — digo, antes de envolvê-la em um abraço caloroso.
— Oh, esse rapaz tão bonito deve ser o Jungkook! — Mamãe gosta de beijos e abraços, algo pouco ou nada coreano, mas que havia aprendido no tempo em que viveu na comunidade hippie em Rhiannon, com meus avós loucos de LSD.
Jungkook se curva educadamente para os dois, era tão educado e polido que até me surpreendo, diferente do garoto irritante e abusado que havia conhecido há algumas semanas. Meu pai aperta a mão de Jungkook com tanta força que me pergunto se ele está pronto para arrancá-la fora, bancando o Alfa. Deus, definitivamente família não se escolhe.
— Então, Jungkook, o que você estuda? — Papai pergunta, enquanto toma um gole do seu soju.
— Estudo Artes Visuais, pretendo trabalhar com produções cinematográficas, é uma área que gosto muito.
— Ah, e as forças especiais? Nunca pensou nisso? Você parece um rapaz forte. — Por favor, alguém me dá um soco. Eu não quero aguentar essa conversa chata. Ficava imaginando o que papai e mamãe diriam quando for Taehyung ali. Ah, Kim, não vejo a hora de te apresentar minha família.
— Ah, nunca pensei, senhor. Não é o bem o tipo de crença que eu tenho. — ele toma um gole da água disposta no copo diante de nós. — Fere o que eu acredito, a minha ascendência.
— Sua ascendência? — Mamãe pergunta, voltando sua atenção para ele.
— Bom, eu tenho ascendência maori. Na verdade, meu avô paterno nasceu em Aotearoa, é um maori, então fui criado de acordo com os ensinamentos da minha família maori, mas minha avó é coreana. — Eu sabia! Isso explicava a tatuagem, eu sabia que tinha visto aquilo em algum lugar.
— Você é um maori? Uau! — Papai pergunta e aquela cara de encanto só me faz pensar que tudo está perdido. Droga! Papai gostava dele. Gostava muito dele. Instantaneamente.
— Bom, um maori-coreano.
— Kia ora! — Papai disse, em uma língua estrangeira, que não se parecia em nada com coreano.
— Tēnā koe! — Jungkook sorri, animado.
— E qual o seu nome maori, você tem um? — Papai pergunta. Os olhos já estão brilhando.
— Sim, é Tamanui Teerã, mas em casa todos me chamam de Tama.
— Oh! A personificação do Sol. É muito poético, Jungkook. — Espero que aquelas malditas batidinhas no ombro de Jeon não signifiquem "gostei de voce".
Por favor, não se apegue a ele. Por favor!
Os dois estão rindo um para o outro como velhos conhecidos e papai se oferece para pagar uma cerveja para Jeon. É um pesadelo. Só pode.
Quando papai se levanta, tento comer um pedaço de frango frito que mamãe havia pedido, mesmo que esteja extremamente apimentado.
— Então, aproveitando que o seu pai saiu, me falem de vocês... — Mamãe começa, apoiando o queixo contra a palma da própria mão. — Vocês têm se protegido, certo? Não quero ser vovó ainda. — Tinha certeza que tinha um pedaço de frango preso na minha traqueia e penso na possibilidade de nunca mais tirá-lo de lá, Jungkook me entrega um pouco da sua bebida e por um segundo, me pergunto se um raio não poderia cair na minha cabeça naquele momento.
— Mãe! Que tipo de pergunta é essa? — digo, ainda sentindo o pedaço de frango descer pela minha garganta.
— Eu só estava preocupada, Eleanor Rose, eu sou sua mãe.
Papai retorna entusiasmado com duas cervejas na mão e o assunto continua, curioso e alegre, e só quero que aquele almoço termine, que aquela tarde acabe e que toda a humilhação que parecia ter se arrastado da noite anterior até agora finalmente chegue ao fim.
— Ah, Eleanor, por que você não convida o Jungkook para a condecoração do seu irmão?
Não! Não! Não!
— Ah, mãe, o Jungkook não gosta dessas coisas! — rebato imediatamente, o que poderia ser pior do que aquilo? Jungkook conhecendo meu irmão mais velho, definitivamente um gostinho de como seria o inferno.
— Não, o River precisa conhecer esse rapaz incrível! — Papai diz, eufórico como um adolescente. — Venha, Jungkook. Você é nosso convidado de honra!
De honra? Ok. Melodramático demais.
— Bom, eu acho que seria ótimo! — Jungkook responde e quase o chuto por debaixo da mesa, se aquilo não deixasse as coisas ainda mais óbvias do que já pareciam. Ele não estava na posição de achar nada e ainda assim, havia aceitado o maldito convite. Eram coisas demais para assimilar de uma vez só. Informações malucas demais. E só quero desaparecer.
— Mas então, Jungkook, quais são suas intenções com a nossa Eleanor?
*Maori - é o nome dado aos nativos da Nova Zelândia. O termo na língua maori significa "natural" ou "normal". Acredita-se que os maoris tenham vindo de ilhas remotas da Polinésia e chegado à Nova Zelândia por volta do século X.
*Kim Ora! - "Olá", na língua maori.
*Tēnā koe! - "Saudações " , na língua maori
(Fonte: maoridictionary.co.nz)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro