Capítulo 8
Que o medo de cair mais uma vez não te impeça de viver mais uma linda história de amor.
Entraram devagar para não acordar a moça e dirigiram-se à cozinha.
— Ela costuma passar a noite aqui?
— Sempre que eu trabalho até tarde. Acho que ela gosta de ter uma desculpa para não ficar em casa. — Della pendurou o casaco e dirigiu-se ao fogão para preparar um café.
— Ela tem uma vida terrível. Mas, pelo que eu sei; a sua não foi muito melhor.
— Quem lhe disse isso? — Della indagou, fitando-o com ar surpreso.
— Sua avó.
— Você conheceu minha avó?
— Conheci. — Ele sentou-se e puxou outra cadeira para apoiar os pés. — Havia várias viúvas na redondeza, sua avó, a Sra. Pontes, a Sra. Valverde e algumas outras. Quando cheguei nesta cidade, todas me acolheram como se eu fosse um neto vindo de uma viagem distante. Foi estranho, mas me ajudou bastante. Nós chamávamos esta área de Jardim das Viúvas. O fato é que há uns dois anos eu comecei a limpar as calçadas, cada vez que havia a geada, com o equipamento da oficina e, assim, acabei conhecendo Doralice muito bem. Sabe, ela era uma mulher e tanto. Às vezes eu a levava ao bar do hotel para tomarmos uma cerveja. Ela me aconselhou demais, foi graças aos seus conselhos que abri a oficina e a construtora. — Ele riu e sacudiu a cabeça. — Isso costumava causar muitos comentários. Mas ela nunca ligou para o que falavam de nós dois. Na verdade, Doralice era como um avô pra mim.
Della sentou-se em frente à Alessandro e apoiou o queixo nas mãos, enquanto fazia o café.
— Vovó devia adorar isso, especialmente... — Ela parou de repente, percebendo que quase falara mais do que pretendia. A verdade era que sua avó certamente ficava entusiasmada por aparecer num bar com um rapaz atraente como Alessandro Montserrat.
— Especialmente o quê? — Ele quis saber, com os estonteantes olhos azuis fixos nela.
Della enrubesceu e mudou de assunto.
— Não sei por que ela nunca me falou de você.
— Não sabe?
Pelo tom de voz dele, Della percebeu que aquela pergunta poderia levar a terrenos perigosos e não tinha a menor intenção de ser indiscreta. Por isso, levantou-se e encerrou a conversa.
— O café está pronto. Quer uma fatia de bolo? Hoje eu fiz bolo de laranja. Vou dar uma olhada nas crianças e volto logo. Pode se servir à vontade.
Della demorou-se por alguns minutos, procurando recuperar o controle sobre suas emoções.
Quando retornou à cozinha, esperava estar em condições de agir de maneira mais adulta.
O relógio da sala bateu as horas e o som cristalino ecoou pela casa.
— Eu sempre admirei esse relógio. — Alessandro comentou. — Tentei convencer sua avó a vendê-lo para mim, mas ela me disse que só havia uma maneira de eu possuí-lo. — Acrescentou, com um sorriso malicioso.
Della era suficientemente esperta para perceber que não seria conveniente alimentar aquela conversa. Ela riu e serviu o bolo, abrindo a lata de biscoitos de polvilho.
— É só continuar vindo aqui. Se um dia eu ficar muito desprevenida, posso resolver vendê-lo.
Ela abriu o armário sobre o fogão e pegou uma cestinha de vime para colocar os biscoitos.
Nisso, uma segunda cesta caiu ao chão e Alessandro adiantou-se para apanhá-la.
Guardou-a no armário e parou diante de Della.
— Você não precisa ter tanto trabalho por minha causa.
— Eu quero! — Ela respondeu sem pensar. Não conseguiria mesmo ser evasiva por muito tempo.
— Por quê?
— Porque gosto de sua companhia; gosto de conversar com você.
Ele a fitou em silêncio por um instante e, então, sorriu.
— Aceito essa resposta. — Alessandro levou a mão aos cabelos dela e, soltando-os, deixou-os cair entre seus dedos. — Sabe que seus cabelos naturais são mais bonitos?
— São um pouco mais claro que estão, então... Bem, eu...
— Não, eles são perfeitos pra mim. Exceto pelos reflexos dourados sob a luz. Nunca vi cabelos tão brilhantes como os seus. Sua avô me mostrou diversas fotos suas quando era criança e uma adolescente.
Com o coração aos pulos, Della fechou os olhos e tentou conter a intensa excitação que lhe incendiava o corpo. Alessandro a segurou pelo queixo e fez com que o encarasse.
— Eu a assusto, Della? — Murmurou.
— Não. Mas você me perturba um pouco.
— Então está tudo bem. — Ele declarou, com ar bem-humorado. Segurou-lhe o rosto e beijou-lhe de leve a testa.
Della não sabia mais o que fazer para controlar a situação. Respirando fundo, levantou o rosto e tentou sorrir.
— Vamos tomar mais café?
Ele sorriu também. Seus olhos tinham um brilho irresistível de intimidade e desejo.
— Parece uma alternativa segura por enquanto. — Acariciou o rosto dela e afastou-se.
Com as mãos trêmulas, ela encheu duas xícaras. Não podiam ignorar a súbita tensão que se instalara entre ambos. Ele pegou a xícara sem dizer nada e evitando encará-la.
— Já é hora de levantar, mamãe?
Os dois viraram-se na direção da voz e viram Régis parado à porta da cozinha com uma velha coruja de pelúcia nos braços. Ele esfregou os olhos sonolentos, caminhou até a mãe e a abraçou.
Della afagou-lhe os cabelos com um sorriso.
— Não querido. Ainda é noite. Volte para a cama e eu vou arrumar o cobertor para você.
— Nós não temos de voltar para a fazenda, não é, mamãe? — Ele indagou, fitando-a com uma expressão ansiosa no rosto pálido.
Havia uma nota de silêncio na voz do menino e Della percebeu que ele estava a ponto de chorar. Ela se agachou ao lado do filho e o acolheu em seus braços.
— Não, Régis. Nós vamos viver aqui na casa da vovó até vocês todos crescerem. — Beijou-lhe o rosto, procurando transmitir segurança. — Você teve um sonho ruim?
— Tive.
— Quer me contar?
— Não. Posso tomar um copo de leite morno?
— Claro. Quer comer uns biscoitos?
— Quero. — Ele sentou numa cadeira e alcançou a lata. — Oi, Sr. Montserrat. A mamãe ofereceu biscoitos e leite morno para você também? Experimente os feitos com castanhas e gotas de chocolate são os melhores. Estes aqui não estão queimados por baixo.
— Ah, é? — Alessandro riu e esticou a mão até a lata. — Se não estão queimados, então eu vou querer.
Della sorriu da conversa dos dois enquanto entregava o copo de leite a Régis. O menino levantou os olhos para ela.
— Mamãe, você ainda não limpou o escritório do Sr. Montserrat. — Havia um ligeiro tom de acusação em sua voz.
— O que é isso, Régis? Está me repreendendo? — Della reagiu, colocando as mãos na cintura.
— Bem, você sempre diz que...
— Não se preocupe, eu vou limpar o escritório de manhã. Boa noite, Régis.
O menino acabou de tomar o leite, sorriu com ar vitorioso para a mãe e escorregou da cadeira.
— Boa noite, Sr. Montserrat. Até amanhã.
— Boa noite, Régis. — Alessandro observou o menino entrar no quarto e esvaziou sua xícara de café. — É melhor eu ir também. Não precisa se incomodar com o escritório. —
Ele levantou e colocou a xícara sobre a pia, sem olhar diretamente para Della.
— Não há problema. Com Generosa dormindo aqui, posso fazer a limpeza antes que as crianças saiam para a escola.
Alessandro vestiu o casaco e a fitou rapidamente.
— Obrigado pelo café e pelos biscoitos.
— Venha quando quiser. — Ela o acompanhou até a porta dos fundos, sentindo-se estranhamente vazia. Alessandro se distanciara e ela não imaginava por quê.
— Vejo você por aí. — Ele disse antes de sair.
— Claro.
Alessandro lançou-lhe um olhar rápido e, então, desapareceu na noite escura. Della ficou imóvel, fitando o pátio vazio. A proximidade de Alessandro, sua masculinidade, sua ternura ao tocá-la haviam despertado uma necessidade física que ela julgara não ser mais capaz de sentir. Mas estava ali, pulsando e real. Della fechou os olhos e apoiou a cabeça no batente da porta. Como desejara que ele ficasse!
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