Capítulo 28
Que o medo de cair mais uma vez não te impeça de viver mais uma linda história de amor.
Mariana riu, lembrando-se da cena.
— Eu fiquei louca de raiva! Tinha vontade de matá-lo! Como deve imaginar, nosso irmãozinho aqui sempre foi o preferido de todos. Também é o caçula da família Montserrat!...
— E você quebrou todos os meus dardos logo em seguida. E eles eram presente de nosso pai!... — Alessandro recordou.
— Qual é a diferença de idade entre vocês? — Della quis saber, interessada nas reminiscências de família.
— Perpétua é um ano e meio mais velha que Mariana e existe a mesma diferença entre ele e Mariana. Além disso, tem dois primos que são dois anos mais velho que Alessandro. Então ele é praticamente o caçula de nossa família. — Catarina explicou.
— A senhora deve ter tido trabalho. — Della comentou.
— Nem me fale. Só Alessandro já me deixou de cabelos brancos. Esse garoto me deu trabalho até pouco tempo.
Della riu e olhou para ele, que continuava parado junto à porta. Alessandro a fitava com uma expressão provocante. Encararam-se por alguns instantes e Della sentiu uma vontade tão grande de tocá-lo que mal conseguiu se controlar.
Ele sustentou o olhar mais um pouco, depois ficou sério, virou-se e foi embora, um pouco pensativo.
O jantar foi, segundo as palavras de Catarina, uma confusão organizada. A sala não era suficientemente grande para comportar todos os convidados, então ela decidiu servir a refeição em esquema de bufê, e levar todos para a varanda onde havia uma mesa enorme de madeira. As crianças levaram seus pratos para a sala de tevê e Della estremeceu só de pensar quantos copos de refrigerantes iriam cair sobre o carpete claro.
No final, acabaram sendo apenas dois; ambos de Miguel. Que simplesmente queria lavar seus talheres dentro do copo de refrigerante.
Della manteve-se ocupada cuidando das crianças e isso a ajudou a disfarçar a tensão. Fixou um sorriso no rosto e evitou passar perto de Alessandro, mas sentia o tempo todo que estava caminhando numa corda bamba. Gostaria de compreender o que se passava na cabeça dele, enquanto a observava ou mesmo olhava seus filhos correndo de um lado para o outro. Num momento, parecia estar tudo bem, no outro já não estava mais. E, com isso, ela era colocada numa situação difícil e embaraçosa.
Quando as crianças terminaram de comer, ela levou os pratos sujos para a cozinha, colocou-os na pia e começou a lavá-los.
— Deixe isso, Della... — Catarina interveio. — Cuidarei da cozinha mais tarde.
— Eu não me incomodo. Posso...
— Não pode nada. — Mariana a segurou pelo braço e a tirou de perto da pia. — Estivemos o dia inteiro nesta cozinha e agora chega. Tire o avental e vamos para a sala conversar.
Della dependurou o avental no encosto de uma cadeira e seguiu Mariana, sentindo-se pouco à vontade.
A sala era grande e espaçosa, com dois longos sofás dispostos em L, duas poltronas e uma cadeira de balanço. Cadu estava esticado na extremidade de um dos sofás e Alessandro se acomodara na outra ponta, com os pés apoiados num banquinho. Os outros dois homens encontravam-se nas poltronas discutindo sobre a política local e Catarina fazia tricô na cadeira de balanço. Ao verem um sofá vazio, Mariana e Perpétua correram para ele, disputando quem iria se deitar como se fosse duas crianças. Della percebeu que não tinha escolha e, hesitante, atravessou a sala em direção a Alessandro. Podia sentir que ele a observava, mas quando o fitou ele virou-se para pegar uma xícara de café na mesinha de canto.
Nádia entrou na sala no momento em que Della se sentava entre Cadu e Alessandro. A menina dirigiu-se a Alessandro e lhe entregou uma lata de blocos de armar.
— Você abre a tampa para mim?
Ele deixou a xícara sobre a mesa e virou a tampa de metal.
— Está se divertindo, minha princesa?
— Estou, mas os meninos fazem muito barulho. Eles agora estão brincando de piratas.
Era evidente que Nádia estava ficando cansada e Alessandro abriu-lhe um espaço no sofá para que ela se sentasse do seu lado.
— Sente-se aqui ao meu lado e brinque com os blocos no braço do sofá.
Nádia aceitou o convite de imediato e acomodou-se no cantinho aconchegante que Alessandro preparara para ela. Della os observava com o rosto sério. Nádia aproximara-se dele como se fosse à coisa mais natural do mundo e Alessandro respondera da mesma maneira. Com uma súbita angústia, rezou para que nada viesse a estragar aquilo.
Pessoalmente, não se sentia muito segura vendo-o ser tão amoroso e cuidadoso com sua filha diante de sua família.
Levantou os olhos e estremeceu ao notar que Perpétua também os observava com uma expressão preocupada. Era como se estivesse pensando exatamente a mesma coisa.
— Sabe, Mariana, talvez um desses dias a gente possa ver nosso irmão engolindo as próprias palavras. — Perpétua brincou, mas seus olhos queriam dizer outra coisa.
— Como assim? — Alessandro quis saber.
— Não era você quem jurara que nunca, jamais, iria ter filhos? Parece que era alguma coisa sobre assumir responsabilidades... Ou tudo não passou de comentários da boca pra fora, por causa do que Lindsey lhe fez?
Inquieta com aquele comentário inconveniente, Della fitou Alessandro e notou um brilho zangado em seu olhar. Achou melhor interceder depressa antes que uma brincadeira inocente se tornasse algo mais sério.
— É melhor você continuar com seus revólveres de dardos, Alessandro. — Della disse, forçando um sorriso. — Ficaria ridículo esperando nenê.
Todos riram e Della percebeu um traço de bom humor nos olhos dele, mas havia outra coisa que a deixou ainda mais apreensiva. Algo como raiva por sua irmã estar tocando em feridas que só pertenciam a ele.
— Você terá de educá-lo, Della! — Perpétua prosseguiu. — Ele tem algumas idéias preconceituosas sobre mulheres. Como deve saber o meu irmão ficou assim por causa da Lindsey e...
Percebendo que continuava pisando em campo perigoso, Della tentou mudar o curso da conversa.
— Minha avó afirmava que tentar domesticar um tigre era pura perda de tempo. Dizia que, se queríamos um gatinho, era melhor já começar com um deles.
Cadu Montserrat gostou da observação e riu com gosto. Mas em seguida lançou um olhar de recriminação a filha mais velha.
— Aí está uma mulher que devia falar por experiência. E você, Della? O que acha? Continuou Perpétua.
— Eu nunca gostei muito de gatinhos, prefiro os tigres mesmo. — Ela respondeu, corando.
Cadu riu outra vez e Della notou um sinal de riso nos lábios de Alessandro quando ele levantou a xícara de café e enfrentou o olhar de sua irmã.
— Estou achando que nós é que vamos ter de educar Della para que ela possa lidar com o nosso irmão. — Perpétua concluiu, sacudindo a cabeça.
— Por onde devemos começar? — Mariana indagou apreciando a brincadeira. Mas sendo cuidadosa com as palavras, pois sentia que sua irmã estava pisando em um terreno perigoso.
— Devemos lhe contar que Alessandro acha que nós recebemos tudo na mão? Que ele pensa que a maior parte das mulheres se casa para ter refeições grátis? Ou que somos incapazes de nos virar sozinhas? Não é isso que você disse depois que se separou da Lindsey?
Della sentiu um arrepio lhe percorrer o corpo e esforçou-se para manter o sorriso.
Sabia que tudo não passava de encenação: duas irmãs provocando o irmão, mas não pôde evitar que aquilo a afetasse.
Mariana recomeçou de onde a irmã havia parado diante dos olhares de sua família.
— Talvez devêssemos contar a ela como Alessandro...
— Acho que já contaram o suficiente... O que tiver de ser revelado agora por diante fica por minha conta! — Alessandro interrompeu, com uma voz tão seca que surpreendeu a todos. — Lindsey era a sua melhor amiga, mas não agiu corretamente comigo. E isso, não deveria estar sendo discutido agora. Vim para Della conhecer a minha família, mas vejo que talvez a minha ideia não tenha sido tão boa assim. Talvez eu devesse ter agido de outra maneira, não é mesmo?
Della o fitou com espanto e sua apreensão aumentou ao ver-lhe o rosto zangado.
Querendo a todo custo evitar uma discussão, tentou sorrir e manter a voz calma.
— Ela só está querendo se vingar porque você afundou os patinhos da sua irmã na banheira, Alessandro. Irmãs são assim mesmo.
Sentiu a tensão aliviar-se um pouco, quando Alessandro dirigiu um sorriso à irmã.
— É; eu sei. Mas irmãs também deveria estar do lado de seu irmão e não de uma mulher medíocre que enganou a todos da nossa família. Perpétua prefere acreditar que o errado da história, sou eu, não e mesmo?
A julgar pelas aparências, ninguém havia sido afetado pelo incidente, mas Della sabia que essa não era bem a verdade. Ela, pelo menos, sentia-se totalmente perturbada, e precisou de muito autocontrole para não demonstrar o que sentia. Alessandro também estava irritado e os pais dele, envergonhados.
Por fim, o próprio marido de Perpétua a chamou de lado e deu pra perceber que o mesmo também estava irritado.
A viagem de volta transcorreu quase em silêncio e, ao estacionarem diante da casa de Della, Nádia e Régis haviam adormecido. Alessandro pegou Nádia dos braços da mãe e carregou-a para dentro, enquanto Della cuidava dos meninos.
ambos estavam extremamente cansados, pois no final do passeio, seu Cadu e os demais inventaram de ensinar aos meninos como andar de cavalo pela propriedade.
As crianças estavam tão cansadas que foram direto para a cama, pareciam zumbis de tão felizes. Della tirou o casaco e foi acomodar Nádia direito. Encontrou Alessandro arrumando os cobertores para que ela se deitasse e a menina, sonolenta, tentou acomodar-se de imediato. Della a segurou e a pôs sentada.
— Espere um minuto, querida. Deixe-me tirar seus sapatos e o vestido. Vamos colocar o pijama, assim vai dormir mais confortável.
Nádia concordou, sem forças para protestar, mas resmungou quando Della lhe puxou o vestido pela cabeça.
— Você prendeu meu cabelo nos botões!
— Desculpe-me meu amor. — Ela soltou os fios que haviam se enrolado num botão e pegou o pijama sobre a cama. — Agora levante o braço outra vez, Nádia.
A menina obedeceu e, então, olhou para Alessandro.
— Foi você que me carregou?
— Sim, fui eu... Eu sou o seu valente protetor... — Ele respondeu, sorrindo.
— Que bom... Meu pai odiava fazer isso!... — Nádia murmurou, rolando de bruços na cama enquanto Della a cobria.
— Pois eu amo lhe carregar e proteger, minha pequena princesa! Afirmou Alessandro acariciando sua face com carinho, Nádia sorriu quase fechando seus olhos.
— Boa noite, querida. — Della inclinou-se e beijou-lhe o rosto.
— Boa noite, mamãe. Boa noite, Alessandro.
Ambos saíram do quarto sem fazer barulho. Alessandro parou na sala, enfiou as mãos nos bolsos e a encarou.
— Acho que é melhor conversarmos, Della.
Ela levantou os olhos, inquietando-se ao notar a expressão séria dele.
1810 Palavras
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