Capítulo 23
Que o medo de cair mais uma vez não te impeça de viver mais uma linda história de amor.
Sentindo-se ainda atordoada, Della levantou-se e levou para a mesa uma travessa de carne assada e um prato de salada. Alessandro estava lendo o folheto sobre o aquecedor enquanto ela lhe trocava o prato. Della voltou a se sentar, aliviada por ele estar com a atenção momentaneamente dirigida para o papel.
Talvez estivesse dando importância demais àquele convite. Era possível que ele houvesse sugerido que fossem juntos apenas por considerá-la uma companhia agradável.
Talvez estivesse fazendo isso somente pelas crianças... Porém, por qualquer ângulo que analisasse o fato, sua intuição continuava a lhe dizer que aquilo não era típico dele.
— Eles não são um bando de monstros. é bem mais provável, que os meus sobrinhos sejam. Mas seus filhos sabem como se comportar. — A voz um pouco zangada de Alessandro a despertou das divagações.
Della levantou a cabeça e, pega de surpresa, não soube bem o que responder.
— Não é isso...
— O que é então?
— Não sei. Eu só fiquei... Nervosa.
Alessandro a fitou por um instante e então, sorrindo, estendeu o braço e segurou-lhe as mãos. Em seguida, levantou-se e a puxou em sua direção.
— Venha aqui, Della. — Com o rosto sério, ele a abraçou e afastou-lhe os cabelos para trás. — Qual é o problema?
Della abraçou Alessandro pela cintura e apenas sacudiu a cabeça. Ele acariciou-lhe as costas por alguns momentos e depois a conduziu até a sala. Acomodou-se no sofá, puxou-a para seu lado e tornou a enlaçá-la, na tentativa de fazer com que se sentisse segura.
— E então, Della? Conte-me o que está se passando nessa sua cabecinha imaginativa.
— É que... Isso me assusta um pouco. Não acho que você seja o tipo de homem que costuma levar mulheres para conhecer seus pais, principalmente uma com três filhos.
— Está absolutamente certa. Na verdade, você é a primeira.
— Você não precisava me contar isso, Alesandro. Espera você teve um relacionamento anteriromente. Como você não a levou para conhecer os seus pais? — Ela murmurou, com um sorriso tenso.
— Na época eu era muito jovem e fui morar com minha noiva em outra cidade. Não ouvi os conselhos dos meus pais na época. Se os tivesse ouvido, teria me poupado de muita coisa... Disse suspirando com desgosto. — Olha não seja covarde. Eles não vão comê-la viva.
— Mas vão ficar me observando e comentando discretamente á meu respeito. Isso me faz sentir...
— Pouco à vontade.
— Sim, pouco à vontade.
— Por quê?
— Porque não precisamos de mais pressão sobre nós neste momento.
— É apenas esse o motivo?
— Não!... — Ela admitiu, baixando os olhos.
— O que é então?
Ela respirou fundo e voltou a encará-lo.
— Tenho medo de que eles me desaprovem. Podem achar que uma mulher com três filhos não é adequada para você. Podem pensar que eu esteja querendo lhe dar algum tipo de golpe ou...
Para sua surpresa, Alessandro inclinou a cabeça para trás e começou a rir com gosto.
— Ah, Della, você é inacreditável. — Percebendo que ela o fitava com uma expressão um pouco ofendida, Alessandro controlou o riso e beijou-lhe a ponta do nariz. — Em primeiro lugar, não é da conta deles se você é ou não adequada para mim. Em segundo lugar, espere até conhecer minha mãe antes de fazer afirmações ridículas como essa. E em terceiro, a única pessoa que tem de decidir se você é adequada ou não sou eu. — Ele passou a mão pelo braço de Della e baixou o rosto para dar-lhe um beijo rápido. — Além disso, sou um homem adulto de quase quarenta anos, acredito que possa escolher com quem dividir a minha vida. E, acredite em mim, você é ótima. — Alessandro enfiou os dedos entre os cabelos dela e roçou-lhe os lábios com uma torturante suavidade. Então, cobriu-lhe a boca com um beijo profundo e apaixonado que a deixou quase sem ar. Ficaram abraçados por vários segundos até a respiração dele se normalizar, permitindo que ele tornasse a falar. — Você vai comigo, não é?
— Vou, mas não ouse me abandonar com as mulheres e as crianças.
Não havia nenhum sinal de riso no rosto dele quando lhe respondeu em voz baixa.
— Não abandonarei você. Nunca. Nem aos seus filhos!
Um frio súbito acordou Della e ela abriu os olhos. Viu Alessandro levantando-se cuidadosamente do sofá e o ouviu resmungar ao perceber que ela despertara.
— Droga... — Ele murmurou, enquanto vestia a camisa. — Eu não queria te acordar.
— Você vai embora?
— Tenho de ir. Os homens precisam do caminhão antes do meio-dia e eu ainda vou passar em casa e na oficina. Temos ainda muito trabalh pela frente. A distribuidora ficou sem alguns materiais.
Della apertou os olhos, tentando vencer os efeitos narcotizantes do sono profundo.
— Que horas são?
— Três e meia.
Ela passou a mão nos cabelos e fez menção de sentar, mas Alessandro a deteve.
— Não se levante Della. Não há necessidade.
Della sentou-se mesmo diante da resistência dele e o abraçou.
— Não quero que você parta assim. Vou preparar um café.
— Eu posso comer qualquer coisa na estrada.
Ela soltou-se dos braços dele e saiu do sofá.
— Não seja teimoso, Alessandro.
— Eu é que sou teimoso? — Ele se levantou também e se aproximou dela com um sorriso. — Só um café, então. É muito cedo para comer.
Era difícil resistir ao sorriso dele, mas Della respirou fundo e foi para a cozinha.
Colocou na pia os pratos do jantar e pôs água para ferver. Alessandro calçou suas botas de serviço e dirigiu-se ao caminhão para pegar sua sacola. Enquanto ele se barbeava no banheiro, Della preparou alguns sanduíches e uma fatia gnerosa de bolo de laranja para ele levar na viagem. Minutos depois, Alessandro apareceu na cozinha.
— O café estará pronto num minuto. Sente-se.
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça e arregaçou as mangas da camisa. Com cuidado para não fazer barulho, Della entrou no quarto, pegou roupas limpas, cobriu Nádia e fechou a porta devagar ao sair.
Quando passou pela cozinha a caminho do banheiro, Alessandro estava sentado folheando uma revista velha e nem mesmo levantou os olhos para dar-lhe um sorriso.
Della despiu-se e abriu a torneira do chuveiro. Era evidente que o aquecedor quase não funcionava mais, pois a água apenas amornara um pouco. Convencendo-se de que banho frio era saudável, entrou decidida embaixo da ducha.
Ao retornar à cozinha, encontrou Alessandro de pé junto a pia, com uma xícara de café numa das mãos e o caderno onde ela anotava o orçamento doméstico na outra. Tinha uma expressão séria e compenetrada e Della sentiu um frio no estômago.
Ele jogou o caderno sobre a mesa, cruzou os braços e a encarou.
— Você se importaria em me contar como tem vivido com essa miséria que ganha?
— Isso não é da sua conta, Alessandro. — Ela murmurou, servindo-se de café, as mãos ligeiramente trêmulas.
— Não é de se espantar que você ande tão nervosa. — Alessandra a fitou por mais alguns instantes e depois desviou o olhar e levou a xícara aos lábios. Houve um momento de silêncio antes que ele voltasse a falar. — Só por curiosidade, como você planeja substituir o aquecedor de água e o restante dos materiais que tanto precisa?
Della teve vontade de responder que vivera sem água quente por cinco anos, mas achou melhor ficar quieta, sabendo que aquele detalhe apenas pioraria a situação. Pois se ele descobrisse que ela e as crianças precisaram viver com o minimo, com certeza Alessandro iria surtar de raiva.
Mantendo os olhos baixos, ela caminhou até uma cadeira e sentou-se.
Ele deixou a xícara sobre a pia e se aproximou dela com um jeito quase ameaçador.
— Como acha que eu me sinto bem sabendo que você mal consegue suprir as necessidades de sua casa? Eu pensei que havia algo especial entre nós, no entanto você preferiria morrer de fome antes de me pedir ajuda. Estamos juntos e você não se abre comigo. Você não confia em mim nem para falar de suas dificuldades.
Della apertou a xícara com as duas mãos, sentindo um nó na garganta. Teve de engolir em seco antes de responder.
— E o que você pensaria de mim, se eu tivesse pedido ajuda?
Alessandro sacudiu a cabeça, puxou uma cadeira e sentou-se. Manteve os olhos fixos nas mãos fechadas durante algum tempo antes de voltar a fitá-la.
— Onde está querendo chegar? E se fosse ao contrário? E se fosse eu que lhe pedisse ajuda?
— Seria completamente diferente. Não quero caridade, Alessandro. Já tive de suportar isso por muito tempo e foi humilhante. Eu me preocupo demais em encontrar um meio de sustentar meus filhos, mas preciso fazer isso sozinha ou nunca conseguirei recuperar minha autoestima.
— E eu devo ficar de fora e ver você lutar sozinha?
Della quis dizer que só precisava que ele a amasse de verdade, mas apenas o fitou em silêncio, torcendo para que ele a compreendesse sem necessidade das palavras. Mas Alessandro permaneceu impassível diante do apelo e ela acabou desviando o olhar.
Pensamentos desconexos cruzavam sua mente, mas um predominava: devia ser sincera com Alessandro.
— Eu fiquei com Estevão porque tinha medo de ir embora. — Ela começou, encarando-o com firmeza. — E estou com medo agora também. Preciso aprender a superar isto, a enfrentar meus receios. A única maneira será aprender a caminhar com meus próprios pés. Não posso mais recuar e nem correr para você toda vez que surgir um problema.
Ele empurrou a cadeira e levantou-se. Seus olhos pareciam duas pedras de gelo.
— Ótimo. Faça isso. — Alessandro pegou a sacola e dirigiu-se a sala.
Na pressa de sair da mesa, Della derrubou café quente na mão, mas nem sentiu a dor da queimadura. Correu atrás dele e segurou-o pelo braço.
— Não vá embora assim, Alessandro. Por favor, tente compreender.
— E como você quer que eu aja? Quer que fique maluco por causa desses seus malditos jogos sexuais? — Ele virou-se e pegou o casaco. — Não, obrigado. Posso passar sem isso. Não vou cair nesse tipo de relacionamento outra vez. No passado eu fiz de tudo por uma mulher, a deixei correr atrás de seus sonhos e desejos, eu só recebi ingratidão depois.
Della permaneceu imóvel e pálida, ouvindo a porta se fechar e o relógio bater quatro horas.
Completamente atordoada pela reação dele, retornou à cozinha e sentou-se.
Apoiou os cotovelos sobre a mesa, fechou os olhos e pousou a cabeça nas mãos fechadas, desejando poder chorar. Mas as lágrimas pareciam bloqueadas pelo estado de choque. Talvez fosse melhor assim. Se começasse, provavelmente não conseguiria parar mais.
1773 Palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro