Capítulo 12
Que o medo de cair mais uma vez não te impeça de viver mais uma linda história de amor.
A manhã seguinte transcorreu tranquila, porém, quando Alessandro telefonou à tarde para confirmar o jantar, ela voltou a sentir-se tensa e insegura. Era quase como se estivesse dividida ao meio. Parte dela queria desesperadamente experimentar outra vez a alucinante excitação que descobrira ao lado de Alessandro; outra parte, no entanto, tornava-se fria de medo cada vez que pensava em ir para a cama com ele.
E nem sabia porque esse sentimento havia aflorado dentro de si, pois sexo havia feito com Alessandro de modo avassalador.
Já não tinha desculpas para recusar um relacionamento completo e o fato a apavorava. Estevão a deixara com profundas cicatrizes emocionais e conseguira destruir-lhe a autoestima, alegando a incompetência sexual dela como a razão de sua infidelidade. Sempre lhe dizendo o quanto era fria e inexperiente, incapaz de agradar um homem na cama.
Ele não apenas a ridicularizava na privacidade do quarto, como várias vezes a expusera publicamente com comentários e insinuações grosseiras. Della já não sabia o que era ou não verdade e tinha muito receio de não corresponder às expectativas de Alessandro. Porém, ao mesmo tempo, ardia de vontade de experimentar aquelas incríveis sensações outra vez.
No fim da tarde, as crianças partiram com os Mendonça para o acampamento e Della procurou ocupar-se para não lembrar que estava cada vez mais próximo o momento de encarar Alessandro.
Determinada, conseguiu afastar as dúvidas até o momento de vestir-se para o encontro. Havia terminado de aplicar a maquilagem e dava os toques finais no cabelo quando a tensão interna a venceu e ela começou a tremer. Precisou de várias tentativas para fechar o alfinete do broche e seu coração deu um pulo ao ouvir baterem à porta.
Della fechou os olhos e respirou fundo duas vezes antes de ir atender.
Alessandro fitava a rua, com as mãos nos bolsos da calça. Quando a viu, sua expressão foi de evidente surpresa. Entrou na sala sem tirar os olhos dela, examinando-a devagar.
Então, acariciou-lhe o rosto e sorriu com admiração.
— Você está linda demais, Della!
Ela sentia-se atordoada sob o olhar fixo de Alessandro e precisou esforçar-se para esboçar um sorriso hesitante.
— Obrigada.
Alessandro vestia a jaqueta que ela havia reformado, uma camisa branca, gravata preta e calça cinza-escuro. A brancura do colarinho destacava a pele recém bronzeada pelos raios solares e os cabelos escuros estavam bem peteados. O efeito que a aparência de Alessandro exerceu em Della superou as previsões, e ela mal podia ocultar o nervosismo.
Sem imaginar que estivesse tão ansiosa, Alessandro apontou para a jaqueta.
— Obrigado pelo trabalho. Ficou perfeita e bem diferente do que era. É como se ela fosse outra na verdade, ficou algo bem mais significativo para mim.
Della desviou o olhar e apertou as mãos suadas, tentando recompor-se. Por mais que quisesse, porém, não podia controlar o tremor na voz.
— Ainda bem que deu certo.
Só então Alessandro percebeu que havia algo errado. Após um breve silêncio, segurou-a pelos ombros e fez com que ela o encarasse.
— O que foi Della? — Ele esperou por um momento, mas não obteve resposta. — Não faça assim. Eu quero saber o que está acontecendo.
— Eu não sei o que é. Estou muito nervosa. — Ela murmurou.
Alessandro a fitou com ternura e, então, segurou-lhe o rosto e a beijou. Della fechou os olhos e sentiu o contato dos lábios dele. No mesmo instante, o nervosismo deu lugar a uma profunda excitação. Percebendo que ela correspondia à carícia, Alessandro a envolveu num poderoso abraço, apertando-a contra si. Della perdeu toda a noção de tempo e espaço; o calor que invadia seu corpo apagou qualquer pensamento racional.
— Ah, Della, eu esperei por isso o dia todo. Seus beijos me enlouquecem! — Alessandro murmurou; satisfeito ao notar que ela relaxava em seus braços. — Sente-se melhor agora?
— Sim! — Ela respondeu, levantando a cabeça para fitá-lo com um olhar luminoso.
— Você me deixou preocupado.
— Eu também fiquei preocupada.
— Você pensa demais! — Ele riu e a enlaçou de novo. Quando voltou a falar, todo o riso havia sumido de sua voz e o tom era calmo e sincero. — Eu não quero que você fique tensa quanto a esta noite, Della. Não vou obrigá-la a nada que você não queira. O importante é estarmos juntos. — Alessandro voltou a beijá-la com suavidade. — Acima de tudo, gostaria que você confiasse em mim. Quero que você me conheça e eu também desejo conhecê-la.
— Eu confio em você, Alessandro. Só preciso que me abrace mais um pouco.
— Você gosta mesmo de testar meu autocontrole. — Ele murmurou, afagando-lhe os cabelos enquanto a aconchegava junto ao peito.
— Podemos esquecer o jantar.
— Ah, não. Você está tão linda que merece mais do que sanduíches de presunto e cerveja gelada.
— Eu gosto de sanduíches de presunto e cerveja gelada.
— Vou me lembrar disso da próxima vez. — Ele comentou, rindo. — Mas hoje teremos um jantar magnífico e um vinho tinto para comemorarmos. É melhor você pegar sua bolsa e sairmos daqui enquanto podemos.
Della olhou para ele, relutante em interromper o contato físico. Nunca se sentira tão segura como no conforto daqueles braços. Por fim, munida de todo o autodomínio que lhe restava, afastou-se dele e ajeitou o vestido.
— Tem razão. Volto em um minuto.
Dentro do quarto, Della recostou-se à parede e fechou os olhos, tentando controlar as emoções confusas que a agitavam. Depois de alguns segundos, apanhou a bolsa e o encharpe cor dourada feito à mão que encontrara entre os pertences da avó. Verificou se havia pego tudo de que precisaria e recomeçou a tremer ao avistar dentro da bolsa o pacote da farmácia. Tinha as mãos geladas e o coração apressado quando encaminhou-se para a porta. Ela deveria ter já iniciado com os compromidos, mas algo a fazia sempre esquecer.
Alessandro estava sentado no sofá, folheando uma revista. Levantou-se ao vê-la entrar na sala.
— Pensei que ia ter de buscar você lá dentro. Não sabia que gostava tanto de moda e alto costura. — Disse apontando para as diversas revistas sobre a mesinha de centro.
— Não demorei tanto assim. Realmente é algo que gosto muito e a maioria são das clientes que as trazem para eu replicar alguns modelos.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Ele murmurou, sorrindo ao ver Della enrubescer.
— Vamos embora logo antes que eu mude de idéia.
Havia uma atmosfera de elegância discreta por todo o restaurante, localizado num dos hotéis mais sofisticados fora de Alexandria. O porteiro apresentava a medida correta de humor e cordialidade, o saguão ostentava vasos enormes de rosas vermelhas e brancas recém-colhidas, os elevadores tinham revestimento em dourado e vidro translúcido, as taças eram de cristal coloridos, os talheres de prata e, se Della não estivesse tão atordoada, certamente se sentiria um pouco intimidada por tudo aquilo. Nunca estivera num ambiente tão luxuoso. Mas, agora, com Alessandro Montserrat sentado à sua frente, as velas sobre a mesa criavam o clima ideal para uma noite que prometia ser perfeita. Durante o jantar, tiveram chance de conversar e se conhecer melhor. Ambos contaram detalhes e pequenas particularidades de suas vidas. Della jamais se sentira tão valorizada e especial.
— Quer sobremesa? — Alessandro indagou; depois que o garçom retirou os pratos.
— Não, obrigada.
— Café?
— Não. Eu prefiro terminar o vinho.
Ele esticou a mão e afastou um cacho dos cabelos de Della que lhe caía no rosto.
— Estou achando que você vai dormir durante todo o caminho de volta. O vinho infelizmente tem esse efeito em algumas pessoas.
Tudo estaria bem se ele não a houvesse tocado, mas a pequena carícia foi suficiente para perturbá-la e trazer de volta a excitação violenta que experimentara, criando tamanha confusão em sua mente que ela mal conseguia pensar. Della fechou os olhos tentando controlar a onda de desejo que a invadira. Nunca imaginara ser possível querer alguém da maneira como queria Alessandro Montserrat naquele instante. Tinha vontade de sentir o corpo dele sobre o seu, os braços a apertando, o contato da pele quente sem a barreira das roupas. Queria senti-lo movendo-se de encontro a ela...
— Della!
Della abriu os olhos e deparou com o rosto sério de Alessandro, que a fitava intensamente. Era evidente que havia chegado á hora de irem embora.
— Quero falar com o maÎtre por um segundo. — Alessandro avisou. — Volto já.
Della fez um sinal afirmativo com a cabeça e fixou o olhar no copo de vinho. Nunca teria imaginado que um homem pudesse provocar tal efeito nela, ou que ela pudesse sentir uma paixão tão devastadora que lhe nublasse completamente o bom senso. Aquela situação deveria lhe causar medo, mas, por estranho que parecesse, sentia-se alheia até mesmo a esta emoção. Só uma coisa ocupava todos os seus sentidos: o desejo de estar com Alessandro.
Ele não tardou a retornar à mesa. Sentou-se em frente a ela e a encarou por longos momentos, em silêncio. Depois, cruzou os braços sobre a mesa e baixou a cabeça. A atmosfera tornava-se cada vez mais tensa e quando ele, por fim, voltou a fitá-la, seus olhos tinham um brilho enigmático.
Alessandro segurou a mão de Della e a acariciou com o polegar. Então, respirou fundo, enfiou a mão no bolso da jaqueta e retirou um objeto, colocando-o sobre a toalha branca de linho em frente à Della. Sentindo o pulso acelerado, ela baixou os olhos.
Diante dela havia uma chave de quarto do hotel.
Della logo percebeu o que ele estava fazendo: dava-lhe o direito de escolha. A decisão cabia apenas a ela. Por vários segundos, continuou fitando o objeto de metal. Por fim, tomou-o nas mãos e encarou Alessandro. A decisão estava tomada.
1625 Palavras
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