Capítulo 9.II
Após momentos de espera enquanto outro quadro do programa era gravado, chegava a hora de Brenda e Marcos entrarem. Eles aguardavam atrás da cortina e em breve seriam chamados.
De mãos dadas, havia o sentimento que era uma mistura de ansiedade e expectativa de estar em um programa de TV. O apresentador falava enquanto o coração do casal batia em sintonia. Isso era o que importava. Eles tinham um ao outro e os minutos de nervosismo atrás da cortina logo se transformariam em descontração. Assim Marcos esperava.
Ela estava ao seu lado direito, ele apertou sua mão com mais força por um segundo para chamar sua atenção. Ela olhou para ele e ficou claro que o aperto foi um pedido de beijo. Ela concedeu, e o apresentador continuou:
— Eles passaram por momentos de sufoco quando destroços da estação de construção da cúpula caíram sobre o hospital bem... na hora... do parto. — Rodrigo falava com leve pausas para dar gravidade às palavras — Esta noite vamos conversar com Marcos e Brenda. — Ele apontou para o local onde os dois apareceriam.
A cortina foi aberta e o casal se dirigiu ao sofá em meio a sorrisos e acenos dirigidos à plateia. A grande quantidade de luzes ofuscou por alguns instantes as vistas deles. Havia diversas câmeras, e uma quantidade de pessoas consideravelmente grande no auditório. Grande o suficiente para fazê-los se lembrarem que não haviam apenas aquelas pessoas. Em breve tudo que falassem estaria sendo transmitido para milhares de espectadores. Após se sentarem, o apresentador começou:
— Brenda, Marcos. Estamos muito felizes por recebê-los aqui. — Ele gesticulava com as mãos apontando para o casal e indicando em seguida o auditório e as câmeras. Após o gesto, Brenda sorriu para a plateia e acenou.
— Nós também, estávamos bastante ansiosos. — Marcos tentava manter a calma.
— Quando Marcos me falou eu nem acreditei, ele adora me pregar peças.
— Realmente, foi uma surpresa para nós dois.
— Muito bem, como vocês devem saber, o acidente teve uma repercussão internacional, vários jornais noticiaram. O que todos queremos saber é como foi a experiência de quem estava lá naquele momento, o que estava acontecendo na sala quando tudo começou?
— Bem, a princípio estava tudo bastante normal, estávamos nos preparando para o nascimento do primeiro bebê, Arthur, e tudo ia bem. Não é, Marcos?
— Exatamente. Eu estava gravando e me lembro bem do parto de Arthur.
— Ah vocês têm as imagens? — Rodrigo perguntou surpreso. — Já pensaram em divulgar?
— É que... na verdade... — Brenda tentava esconder a raiva.
— Meu celular foi confiscado para averiguação pelos agentes. — Marcos falou.
— Perdemos as imagens, seria uma boa recordação ter o vídeo do nascimento de Arthur. E com certeza seria um vídeo um tanto engraçado, porque Marcos desmaiou logo que viu ele nascer.
— Amor, ninguém precisava saber desse detalhe. — Marcos falava meio envergonhado em tom de brincadeira.
Rodrigo ria descaradamente.
— Eu nunca tinha visto tanto sangue, quando acordei já haviam me colocado em outro quarto.
— É uma pena. — Rodrigo cessava os risos e gesticulava unindo as duas mãos. — Acredito que todos gostariam de ver o que aconteceu após aquele momento.
Brenda estava sentada mais próxima de Rodrigo, de forma que após Marcos, havia um lugar vago no elegante sofá azul marinho.
— Agora eu quero anunciar que preparamos uma pequena surpresa para vocês. — O casal se entreolhou com curiosidade — Eu quero chamar para a conversa uma outra pessoa que também estava presente nos acontecimentos da maternidade, e com certeza tem algo a mais para nos falar. Com vocês, o doutor Abner!
A cortina foi aberta novamente e os aplausos coordenados por um assistente de palco deram as boas-vindas ao médico. Logo que entrou, ele cumprimentou Marcos, Brenda e em seguida o apresentador.
— Muito bem-vindo! Pode se sentar. — Outro gesto para indicar o sofá. — Como foi a experiência naquele momento ao ver Arthur, o primeiro bebê? Foi tudo bem com o parto dele e também do segundo bebê, que se chama...?
— Lino. — Brenda parecia feliz em ver Abner, havia certamente um sentimento de carinho por ter sido ele quem realizou o parto.
— Como era o estado de Arthur e Lino no momento em que nasceram? — Rodrigo perguntou.
— Primeiramente boa noite a todos, obrigado pelo convite. — Abner falava lentamente como quem pensava nas palavras que ia usar. — Arthur nasceu em ótimo estado, seus sinais vitais eram bons, falando de modo mais técnico eu poderia dizer que sua temperatura era um tanto baixa, logo o passei para que a enfermeira Rita fizesse os primeiros procedimentos com ele e monitorasse sua temperatura, ele parecia um tanto... debilitado, mas no geral foi tudo bem com ele.
— Além disso, houve algum problema na sala do parto no momento que o acidente aconteceu? — Ele falava olhando para Brenda.
— Bem, Lino não tem um dos dedos... da mão esquerda. — Ela falava cautelosamente, pois com Abner presente, havia a preocupação em não parecer que estava responsabilizando o médico. Rodrigo a interrompeu.
— E isso foi uma decorrência de uma má formação ou foi causado na hora do parto? – Agora ele olhava para Abner.
— É complicado dizer, no momento do nascimento de Lino o ambiente... minhas memórias são um tanto conturbadas, mas com certeza ele não perdeu o dedo na hora do parto. — Abner falou.
— Mas o que foi escrito no relatório da cirurgia?
— Não houve... um relatório. — Abner olhava para baixo ao terminar sua fala. Todos continuaram olhando para ele esperando que concluísse. — Não me recordo de ter feito o parto da segunda criança. Após eu acordar em outra sala e ver o estado do hospital, realmente eu acreditava que Lino não teria sobrevivido.
— Então, você também desmaiou? — Rodrigo parecia incrédulo que o próprio médico havia desmaiado.
— Todos na sala desmaiaram, ou pelo menos, após o momento do acidente, todos na sala haviam sido sedados. A enfermeira chefe do departamento foi responsável por passar as informações aos policiais, as imagens das câmeras de segurança, assim como a do celular de Marcos, também foram apreendidas.
— Então, dos que estavam na sala, ninguém se recorda do que aconteceu no momento do acidente? — As perguntas agora estavam sendo feitas diretamente ao médico, começava se tornar um interrogatório.
— Não, havia uma enfermeira, a Rita. — Abner falou contendo a emoção. — Ela parecia se lembrar quando eu visitei o quarto em que ela estava, mas seu estado não era bom, ela estava muito alterada e falava coisas sem sentido.
— E você não teve contato com ela após o dia do acidente?
— Rita... faleceu no dia do acidente. – Abner falou pesaroso.
— Então, temos uma informação nova, até agora não havia sido noticiado que havia vítimas fatais. — Rodrigo parecia satisfeito por ter conseguido uma informação relevante, certamente aquilo seria noticiado no dia seguinte. Ele estava determinado a extrair do médico algo mais que pudesse render uma manchete.
— Não se sabe ao certo a causa da morte, eu acredito que tenha sido um infarto, mas não posso afirmar.
— E você não procurou saber informações nos dias seguintes ao acidente?
— Eu... não...
— Se você é o responsável pela sala de cirurgia em que estava, como pode não se lembrar do que aconteceu? Como pode afirmar que o dedo do segundo gêmeo já estava assim e não foi arrancado? Não se sente de certa forma culpado por ter debilitado o bebê?
— Desculpem, não estou bem, preciso... eu... com licença... — Abner se levantou e foi rapidamente em direção à saída do estúdio. Houve uma longa pausa enquanto todos observavam a cena. Rodrigo buscava um meio de dar prosseguimento à entrevista.
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