Capítulo 13
03/2071 – Nove meses após o acidente.
Aquele era o primeiro dia de Marcos apresentando seu próprio programa. Nem tudo estava transcorrendo como o planejado, vez ou outra o diretor não gostava de algo e pedia para regravar. Brenda assistia da plateia torcendo para que ele se saísse bem.
Marcos exigiu que gravassem um piloto, para que ele se habituasse ao ambiente antes de iniciar o programa ao vivo.
No caminho para casa, Marcos dirigia enquanto Brenda tecia elogios sobre sua performance, ela percebia que as sucessivas intervenções feitas pelo diretor haviam o desconfortado.
Brenda recebia em suas redes sociais perguntas sobre os acontecimentos do hospital. Percebendo que as pessoas tinham interesse e solidarizavam-se com os fatos envolvendo a vida da família, decidiu criar uma página para publicar sobre o acidente na maternidade e a rotina com os bebês.
Naquela noite, após o jantar feliz repleto de conversas animadas, o casal preparava-se para deitar quando Ruth apareceu na porta.
— Oi, querida, pode entrar. — Brenda falou ao notá-la.
Marcos arrumava seus sapatos no guarda-roupa, de modo que estava de costas para a entrada do quarto.
— É coisa rápida — Ruth falou sem jeito. — Então, eu fico meio encabulada de falar, mas como Marcos agora vai estar na televisão, né? Apresentando programa em canal grande... eu pensei se eu não podia receber um aumento.
— Eu acho que... — Brenda começou.
— Sem problemas.
Marcos virou-se e ao perceber que Brenda discordava.
— Acho que é muito cedo... para um aumento. — Brenda completou.
— Sim, cedo... — Marcos concordou, indeciso entre qual das duas desapontar. — Mas podemos ver, mais pra frente.
— Ah... então tá certo. Desculpa incomodar. — ela falou envergonhada.
— Não tem problema. — Brenda falou em tom amigável.
Ruth se retirou fechando a porta.
— Amor, um aumento agora não seria problema.
— Marcos, ela está aqui a muito pouco tempo para já ganhar um aumento. — Brenda falava baixo para que apenas ele ouvisse.
— Ela ficou desconcertada. — ele constatou.
Marcos deitou-se ao lado de Brenda.
— Deveria ter cogitado receber um não. — ela falou. — Amanhã conversamos.
— Hoje o dia foi tão gratificante, não vamos deixar que isso estrague. — Marcos se reconciliava.
— Não mesmo. — Ela o puxou para um beijo.
Os gêmeos tranquilos em seu quarto contribuíam para o silêncio em casa. Ruth caminhou pensativa da sala para o corredor, havia passado o dia sozinha com as crianças, nutria em sua mente insultos dirigidos a Brenda. Os pensamentos negativos se adensaram, seus nervos urgiam vingança.
Hope brincava contente com um inseto que havia entrado pela fresta da porta da cozinha, que dava para o terreno nos fundos.
Toby, de pupilas dilatadas, estava estirado no quarto dos gêmeos, seu pelo branco e macio, manchado com o sangue que escorria pelo seu nariz, pela boca, sujando o piso branco do quarto.
Brenda e Marcos estavam aninhados na cama após terem acordado pela manhã. Eles ficaram ali por bons momentos conversando até que decidiram levantar para o café.
Marcos seguiu para a cozinha, Brenda abriu a porta do quarto dos gêmeos e deparou-se com a cena. O sangue já frio escorria até a porta do quarto, que ao abrir o espalhou pelo piso. Brenda não foi capaz dar nem um passo na direção de Toby, nem conseguiu afastar-se do local. Ela gritou por Marcos, sua voz desafinou como um sinal do pânico que ela sentia.
— Meu Deus! — ele se assustou com o grito. — O que houve? — falou aproximando-se pelo corredor.
Brenda ainda estava parada na porta com o pescoço torcido para o lado tentando não olhar para o gato.
Marcos, vendo o estado de choque de Brenda, a guiou para longe da porta. Ela encostou-se na parede do corredor em um ponto onde não era possível ver o interior do quarto.
— Eu já volto. — ele disse a Brenda.
Marcos contou a Ruth ao passar pela cozinha, ela demonstrou surpresa levando a mão à boca.
Ele pretendia pegar panos para levar Toby ao exterior da casa e algo para limpar o piso, mas, ao chegar no armário sob o telhado nos fundos da casa, percebeu que havia sangue na vassoura que estava encostada na parede. Ele chegou mais perto e ao levantar o objeto viu que o sangue havia escorrido pelo chão, indicando que já estava ali há algum tempo.
Ele voltou para dentro com os panos, ao aproximar-se de Brenda, ergueu a parte de baixo da vassoura, demonstrando estranhamento, Brenda franziu as sobrancelhas.
Marcos pegou Toby e o levou enrolado no pano para fora da casa.
— Ruth? — Brenda chamou a atenção da empregada enquanto Marcos levava o gato. — Por que tinha sangue naquela vassoura?
— Co-como assim? — ela falava surpresa. — Tinha sangue? Eu não...
Marcos voltou e cruzou os braços encarando Ruth.
— Você não mexeu naquela vassoura? — Brenda perguntou.
— Eu... talvez te-tenha mexido, mas... não tinha sangue.
Brenda lembrava em sua mente de Ruth pedindo aumento no dia anterior, depois de ter negado o pedido. Ela conseguia visualizar Ruth trancando a porta do quarto durante a noite, e espancando a cabeça de Toby com a vassoura.
— Você não se deu ao trabalho de sequer lavar a vassoura para esconder o sangue, não é mesmo? — Brenda vociferou.
— Querida... — Marcos interveio.
— Ah, eu já sei. — Brenda continuou. — Você queria ter certeza de que eu veria, não é mesmo? Queria que eu soubesse que foi você mesma que fez. Queria se vingar!
— Senhora Brenda, eu não...
— Sua cínica! — Brenda precipitou-se para cima de Ruth.
Marcos colocou-se entre as duas.
Brenda recuou, se dando conta de que estava prestes a perder a razão.
Naquele dia, sabendo que o clima na casa tornaria difícil a convivência, Marcos dispensou Ruth dos serviços. "Eu peço para você retornar quando Brenda estiver mais tranquila".
Ele estava preocupado com as acusações feitas por sua mulher. Ao mesmo tempo que entendia os motivos que a levaram a crer que Ruth havia matado Toby, ele tentava acreditar em sua inocência, não imaginava que ela fosse capaz de uma vingança tão baixa.
— Brenda gostava muito daquele gato, ela ama a todos. — ele falava para Ruth, do lado de fora da casa, tentando justificar as atitudes temperamentais que ele sabia não ser o estado normal de Brenda. — Eu nunca a vi desse jeito, desestabilizada. Vou cuidar dela, tentar entender o que pode fazê-la se sentir melhor. Sei que não foi agradável para você, peço desculpas. Acho que essa pausa é o melhor pra gente agora.
Brenda olhava pela janela da sala os dois conversando na calçada.
— Seu Marcos, eu lamento que isso tenha acontecido. Não era pra ser isso tudo, quero dizer — ela se enrolava —, quero dizer, eu não matei o gato, juro. A vassoura... eu tenho que confessar, eu vi Toby lá no quarto, morto já. Eu pensei em tirar ele e limpar o chão, mas... achei que Dona Brenda deveria ver, se não ia achar que fui eu que fiz algo com ele para me vingar, eu pensei que isso poderia acontecer, mas não sabia o que fazer, a culpa é minha.
Brenda, inconformada pela longa conversa que Marcos estava tendo com Ruth, começou a gravar um vídeo, filmou os dois lá fora conversando, embora não pudesse ouvi-los.
— Olha lá, aquela era minha empregada, matou meu gato. Sabem por quê? Porque não quis dar um aumento pra ela. A interesseira viu meu marido melhorar de vida e achou que podia se aproveitar, acabou de chegar aqui em casa. Acordei com a vassoura cheia de sangue e o gato morto no quarto, ele teve a cara de pau de falar que não sabia. Se ela inventar de aparecer de novo aqui eu MATO ELA! Arranco a cabeça dessa desgraçada!
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