Capítulo 1
07/2070 – Dia do acidente.
A caminhada acabava de começar.
As ruas cercavam o valão que possuía cerca de oitocentos metros de comprimento. Era a primeira e não tão bela paisagem no caminho que Diego percorria diariamente.
Atravessando a movimentada rua, sempre no sinal, seguindo para a deserta passagem pelo portão gradeado que dava acesso ao condomínio que ele iria percorrer.
Quatro praças estavam no trajeto, a primeira possuía uma quadra de areia, subindo as escadas que cruzavam esta praça inclinada ele chegava à rua de cima. Caminhando por mais algumas ruas. A segunda praça possuía também uma quadra, mas esta era cimentada e havia ali uma varanda coberta e cercada, com uma churrasqueira e uma longa mesa de concreto junto à parede. Era um local para fazer pequenas festas ou comemorações.
Dando meia volta no local, ele estava passando pelo ponto mais misterioso. Sempre que passava por ali, sentia uma presença estranha, havia algo diferente na atmosfera que cercava a extremidade daquela praça. Ali havia um grande amontoado de árvores em uma colina de uns vinte metros de altura e, no topo, havia um pequeno mirante com mesas e bancos para observar a paisagem de todo o condomínio.
Conforme as árvores ficavam para trás, ficava também a oportunidade de vasculhar em meio a elas à procura de algo desconhecido, mas o que permanecia era a grande curiosidade por aquele simples lugar.
Uma curva à esquerda, uma longa reta, ele estava na terceira praça. Esta era simples. Como de praxe, possuía uma quadra, dessa vez de areia, tinha equipamentos para fazer exercícios. Correndo, Diego seguia para a quarta e última praça.
Essa era a maior de todas, possuía em seu quarteirão uma escola. O centro era um gramado onde havia um parquinho com brinquedos cercados por um gradeado de formato circular com duas passagens que permitiam a entrada das crianças que ali brincavam.
O local de saída do condomínio era diferente daquele por onde ele entrava. Ele se esgueirou entre as grades do estreito portão que fora travado para impedir que motos passassem por ali. Diego sabia bem que se fosse pela esquerda e caminhasse pela longa estrada chegaria em um cemitério. Ele seguiu pela direita na direção que o levaria até sua casa.
Diego não sabia, mas era possível sentir dentro de sua própria casa a presença estranha de um forte campo que permeava o ambiente. Quando acordava durante a noite em seu quarto, as causas que lhe provocavam aquela sensação de algo leve pressionando seu crânio, como se o ar tivesse se adensado espontaneamente e lhe submergindo em um oceano profundo, acompanhada de um zumbido agudo, era de mesma natureza daquela que ele sentia com mais frequência na típica e inexplorada praça número dois.
Chegávamos novamente ao extenso valão coberto por árvores, bastava uma reta até chegar em sua casa, onde iria almoçar e preparar-se para ir à escola enquanto assistia ao noticiário.
— Foi muito alto, parecia que tudo ia desabar, um grande estrondo. — falava a testemunha.
— E onde você estava quando aconteceu?
— Bem ali, do outro lado da rua, não deu tempo sequer de ver de onde a coisa veio, os pedaços da parede se desprenderam e caíram em cima de quem passava. — A testemunha apontava assustada para a fachada do hospital parcialmente destruída.
— Obrigada. Como podemos ver, toda a área foi isolada, a informação que temos é que os procedimentos no hospital foram interrompidos, havia um parto sendo feito no exato momento da queda do objeto ainda não identificado. Podemos ver destroços da fachada em cima de carros, olhem ali, naquele vermelho, o para-brisa foi completamente destruído.
A repórter interrompeu sua fala e passou o comando para o apresentador do jornal que demonstrava ter algo a falar.
— Obrigado, Suzana. Nós acabamos de receber um laudo da pré-avaliação feita no prédio, e junto às informações divulgadas pela AEB, a Agência Espacial Brasileira, podemos afirmar que o material de metal retorcido encontrado no topo do edifício foi sim desprendido da estação de construção espacial. Os assessores de imprensa lamentaram o ocorrido e ficaram surpresos com as imagens recebidas do material que inegavelmente fazia parte da cúpula. Eles afirmaram também que a possibilidade de um acidente como esse acontecer é extremamente remota, pois além da intensa manutenção nos pontos de construção da cúpula, a própria atmosfera se encarrega de proteger a terra de possíveis corpos que venham em nossa direção, geralmente o lixo espacial cai nos oceanos. Acontece que o material encontrado era realmente denso e resistente. Apesar das avarias, a peça fazia parte da região externa da carenagem e não apresentou riscos para os astronautas. Uma missão de reparo já está sendo planejada. O módulo afetado foi isolado e os astronautas irão evitar o acesso àquela parte da estação de construção. Os pacientes da maternidade serão transferidos para um hospital próximo.
"Veja a seguir: Presidente da república move esforços para instaurar portaria que define medidas especiais de proteção ao conhecimento sensível."
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