Prólogo
Lino e sua mãe caminhavam por uma rua em direção à escola. Ele não sabia por que precisavam voltar lá, sua formatura havia sido há um mês e ele cursaria o ensino médio em uma nova escola.
— É por isso que eu falo que a gente deve sempre agradecer. — Cassia rompeu o silêncio que já durava um longo tempo.
— Você não vai me falar o que aconteceu? — Lino perguntou.
Eles continuaram caminhando, ela não respondeu.
— Deu algum problema e eu fui reprovado, né? — Lino falou preocupado.
— Não posso... falar. — Cassia disse, demonstrando comprometimento e um certo medo em não contar nada para Lino.
Eles caminharam até chegar na rua da escola. Entraram. Cássia se dirigiu a uma pequena janela com grades por onde falava com um funcionário. Lino ficou alguns passos atrás, de forma que não conseguia ouvir. Após esperarem alguns instantes, a diretora da escola apareceu sorridente.
— Podem entrar. — ela falou aos dois.
Eles entraram na sala da diretoria e ficaram de pé. A diretora entrou após eles.
— Bom dia! — ela disse, indo até sua cadeira na extremidade da mesa.
— Bom dia. — Cássia respondeu.
— Podem sentar, podem sentar! — ela falou cheia de ânimo. — Querem uma água?
— Não, obrigada. — Cássia respondeu enquanto se sentava.
Ao não receber novamente uma resposta do menino, a diretora se voltou para Lino.
— Você quer uma água?
A mãe de Lino o olhou esperando que ele dissesse que não.
— Não, obrigado.
— Ah, ele fala! — a diretora disse, depois tombou a cabeça para trás em meio a uma longa risada.
— Eu sou Míriam, a...
— Diretora. — Lino completou.
— Ah, você sabe. — ela sorriu. — Sua mãe sabe?
— Sabe. Não sabe, mãe? — Lino olhou para sua mãe.
Ficou sem saber o que deveria ou não dizer.
— É claro que sabe. — Míriam mesma respondeu. — Sua mãe disse que você viria aqui?
— Disse. — Lino respondeu.
— Disse?? — indagou séria, com desconfiança.
Cássia baixou a cabeça.
— Disse antes de sairmos de casa. — Lino explicou.
— E ela disse o porquê?
— Não, ela não quis me falar.
Míriam emitiu um longo "Hmmm".
— E você quer saber? — ela o instigou.
Lino respondeu baixinho.
— Quer? Então, fala pra eu ouvir.
— Quero! — ele gritou com um misto de curiosidade e ansiedade.
— Então, agora que você me convenceu que quer mesmo, vou te contar. — ela falou comedida.
— Você sabia que quando crescer, você terá que fazer uma prova? — ela perguntou, deixando-o pensar. — Na verdade, serão algumas. Você sabia?
— Não sabia. — respondeu.
— Ah, então isso, sua mãe não te contou, né?
Lino olhou para sua mãe se perguntando por que ela não contaria isso a ele. Cássia sorriu para Míriam.
— Não, não contou. — falou rancoroso. — Eu posso saber como serão essas provas?
— Ah, é agora que vem a parte boa. Qualquer rapazinho da sua idade adoraria saber o que eu vou te falar, mas antes, você precisa fazer um juramento. Você jura diante de sua mãe que o que eu falar aqui não vai sair dessa sala?
— De que adianta eu jurar? Se contar, vou ser preso? Minha mãe vai?
— Que bom que você perguntou! — Míriam respondeu animada. — Não, é claro que sua mãe não vai ser presa. Haha! Imagina... é só para fazermos um acordo aqui entre nós.
— Está bem, eu juro. Você também vai jurar, mãe? — Lino disse olhando para ela, com medo de que caso sua mãe contasse, o que quer que fosse, para alguém, ela sofresse alguma punição como as que ele costumava receber ali naquela escola.
— Não precisa. Eu e sua mãe já estamos acertadas. — Míriam informou. — Agora que você já jurou, eu vou te contar sobre suas provas.
— Você vai ser aprovado em todas! — ela disse sorrindo.
Lino ficou feliz e olhou para sua mãe, que estava muitíssima feliz.
— Com quantos anos você descobriu que era vidente? Você ainda se lembra como foi? Quero dizer, não estou chamando a senhora de velha.
— Desculpe, seu raciocínio é muito rápido. — falou confusa.
— É que você disse que eu vou ser aprovado em todas as provas que eu fizer. Então, você previu o futuro, não foi? As pessoas que veem o futuro são videntes, como você. Eu queria saber como você descobriu. Você era pequena?
— Hahahaha!! — Míriam soltou uma risada genuína. — Muito bom! Ele é uma criança incrível, não é?
Cássia concordou contente, orgulhosa de seu filho.
— Eu não vou ser a pessoa que fará você se desiludir. Mas você ainda precisa merecer. Lembre-se que onde você chegar, para onde você for, você estará nos representando. No seu histórico estará o meu nome como a que te recomendou, então espero que eu possa confiar em você, e que eu não venha a me decepcionar. — ela falou, impondo a ele uma responsabilidade e um peso que ele sentiu como se tivesse o Monte Everest sobre si.
Ela fez uma pausa.
— Estamos acertados?
— Sim, senhora. Pode confiar em mim que farei você se orgulhar de ter me escolhido. — Lino falou e foi se levantando para perto de Míriam na intenção de abraçá-la.
— Ah, que bonitinho! — disse se distanciando de Lino, andando para o lado oposto da mesa atrás de seu celular. — Mas ainda falta uma coisa, eu já ia me esquecendo. Algo muito importante, me desculpe. Preciso fazer uma ligação.
Lino ficou parado no meio do caminho com cara de tacho, sentindo-se rejeitado. Mas rapidamente voltou a depositar sua confiança na diretora, já que ela havia o escolhido para representá-la onde quer que fosse.
— Sérgio? Olá, querido. Comigo, está tudo bem, e com você? — ela perguntou. — Que ótimo. estou com o nosso amigo aqui na minha frente. Ele concorda com tudo. Sim, está tudo acertado. Ele precisa assinar? Ah, ele precisa assinar. — se dirigiu, séria, à Cássia. — Tudo bem, eu vou falar com ele.
Míriam imprimiu um documento e entregou para que o pequeno Lino assinasse.
Lino sentiu como se estivesse assinando um contrato que lhe garantiria um sucesso interminável no que quer que fizesse. Um sentimento como um júbilo messiânico. Quando riscou o último traço no papel, era como se sua alma e a de sua mãe estivessem salvas e o paraíso estivesse garantido a ele aqui mesmo na Terra.
Lembrou-se dela conversando ao telefone, empolgada. Contava a uma amiga sobre o que havia acontecido, e as oportunidades que seu filho acabara de conquistar.
Ele voltou à sala de interrogatórios da Abin no Rio e teve a sensação de que todos ali haviam presenciado aquelas memórias junto a ele.
— Naquele dia, minha mãe, Cássia, desapareceu. — ele finalmente sabia o motivo de sua mãe ter desaparecido.
Os agentes pegaram uma folha onde havia um lugar para assinatura. Disseram que tudo que ele assistiu naquela memória estava guardado com eles, que eles poderiam usar a qualquer momento caso uma oportunidade fosse a ele negada. Seria um passe livre para adentrar em qualquer instituição, empresa, país, ou para que ele chegasse à cadeira mais alta do governo mundial, coisa que eles almejavam implantar.
Lino sentiu a mesma sensação de júbilo messiânico, uma salvação divina a ele ofertada, mas o tempo fez com que ele se questionasse se aceitar aquela proposta era o certo a se fazer.
Ele desafiou aos agentes e a si mesmo, ao questionar em sua mente se com o conhecimento que possuía, sozinho, não poderia conquistar tudo aquilo que estava sendo prometido a ele. Sentiu uma onda de adrenalina se espalhar, provocando uma sensação de calor sob sua pele, como se a vontade de se rebelar contra tudo aquilo fluísse por suas veias e infectasse todo o seu corpo, o fazendo transpirar.
— Eu tenho a opção de não assinar?
— Eu acho melhor que você assine. — Eduardo o aconselhou de forma sincera e amigável.
— Você tem todo o direito de não assinar, — o segundo agente disse —, caso escolha isso, sairá daqui para um centro de detenção onde ficará para que não ofereça riscos à sociedade, até que seja julgado por crime contra a segurança nacional.
Lino assinou o documento contentando-se em receber tudo que lhe foi ofertado, aceitando manter o segredo.
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