- IX -Fazendo novos inimigos
Lino acordou na sala de estudos, assustou-se ao erguer a cabeça e se deparar com a luz azul do poste que iluminava o exterior da faculdade e atravessava a janela. Sonolento, não sabia o que fez ele dormir até aquele horário. Levantou pegando a mochila, percebeu que ali havia apenas mais uma pessoa além dele, um rapaz que se levantou assim que Lino cruzou a porta.
Imaginou que o estranho deveria ser um aluno do turno da noite, mas o fato dele ter decidido ir embora repentinamente fez surgir uma desconfiança. Talvez ele só não queria continuar lá sozinho. Talvez ele estivesse esperando Lino acordar. No caminho para a saída mais próxima, uma mudança nos planos poderia responder à pergunta, então Lino virou à direita decidindo ir para a saída mais distante, em vez de ir para a esquerda. Assim que o rapaz apareceu no corredor, não deu outra: seguiu Lino mais uma vez.
Sem ter como mudar o caminho novamente, o jeito foi seguir para a saída distante, onde geralmente encontraria pessoas de outros cursos.
Uma longa reta permitia que o rapaz seguisse Lino sem precisar estar no seu encalço. Quando finalmente saiu da faculdade, percebeu que o ponto de ônibus estava deserto. Árvores projetavam sombras no asfalto. Atravessou a rua esperando que o rapaz fosse esperar um ônibus no sentido oposto.
Quando estava no meio da travessia da avenida, três faróis surgiram à sua direita, ele esperou que fossem ônibus que o servissem. Os ônibus aproximavam-se rapidamente, então deu o primeiro passo do que seria uma corrida curta em direção ao ponto vazio. Quando iniciou sua corrida, algo o golpeou com força pelas costas e ele foi jogado no chão.
Levantou a barriga do asfalto apoiando as palmas das mãos no chão, olhou para trás e percebeu que o rapaz estava com a mão estendida em sua direção. Confuso e com medo, pensou em correr para o ônibus e embarcar independente de qual fosse. Ainda no chão, voltou sua cabeça para onde havia visto os faróis se aproximando e percebeu que não eram ônibus ou qualquer veículo.
Três feixes de luz eram emitidos pelos pingentes nos colares de três figuras que se aproximavam de forma maníaca trajando sobretudo vinho, fechados com botões. O capuz preto fazia parte de uma capa externa. Da forma com que estava caído, escondendo os rostos, provocou em Lino uma onda repentina de tremor que nessa vida, e apenas nessa, nunca lhe ocorreu.
Colocou o braço em frente ao rosto para bloquear as luzes emitidas pelos colares.
O homem do meio mexeu a boca e pronunciou o que parecia ser um palavrão em outro idioma, então entendeu ser uma ordem que fez os dois homens que o acompanhavam levantarem as mãos direitas em direção a Lino. O aluno, cujo golpe a distância fez Lino cair, parou a alguns metros ainda no meio da rua, cruzou os braços para ver o que aconteceria a seguir.
As duas mãos coloriram-se em uma mistura de roxo e ciano que pulsava como um polvo em um ritual de acasalamento. Um guarda-chuva surgiu no ar, quatro metros atrás de Lino, os dois homens assumiram uma postura de combate.
— Eu já faço parte? — perguntou o rapaz cujo Lino, àquela altura, desconfiava não ser um aluno.
— Ouça o seu mestre como ele lhe orientou. — disse o líder do trio de vinho. — Apenas conjure o cetro, mate Drak Nazar e destrua o cetro. Faça sua tarefa e poderá fazer parte da coligação.
— Me diga agora! De onde vocês vieram? Ou eu não ajudarei!
Os dois homens viraram seus rostos cobertos olhando para o líder entre eles, mas logo em seguida algo chamou a atenção dos quatro e de Lino.
O guarda-chuva se abriu, flutuando, até que uma mão surgiu segurando a extremidade curva do cabo. Um antebraço vestindo uma manga branca foi sendo revelado seguido pelo resto do corpo. Rapidamente, Lino identificou ser uma mulher. O que ele não sabia era que a mulher de branco era Teresa, antiga chefe da Abin.
Ela passou o guarda-chuva preto para a mão esquerda, ergueu a mão direita, enquanto outro guarda-chuva preto surgiu alguns metros atrás dela, sem que ela pudesse notar.
Os dois homens pararam de mirar Lino e passaram a mirar Teresa. O roxo fluía pelo antebraço deles, e quando chegava nas palmas das mãos, um ciano intenso fazia o mesmo movimento percorrendo do cotovelo até as mãos.
Eles dispararam feixes brancos. As cores em seus braços alternavam-se frenéticas como um giroflex. Teresa brandiu diante de si o braço direito. Em sua mão: O cetro Dimfloat.
O clarão amarelo piscou na rua semi-iluminada por postes muito espaçados. Os homens de sobretudo vinho dispararam novos feixes em direção a Teresa.
Lino, em meio ao duelo, tentava não ser acertado, rastejando com as costas no chão para a calçada do ponto. O cetro Dimfloat era brandido de um lado para o outro enquanto inúmeros disparos tentavam acertar Teresa.
A figura do meio cuspiu outro palavrão, ordenando ao rapaz, que também havia se afastado para a calçada oposta à do ponto onde estava Lino, que erguesse sua mão direita na direção de Teresa.
— Digam quem são vocês! De onde são?! — o rapaz perguntou dando um ultimato.
Teresa logo colocou o cetro na direção dele para se proteger do disparo que ela imaginou estar prestes a partir do jovem. Então, o Líder deles falou com um sotaque que para Lino lembrava alemão:
— Viemos de fora da Via Láctea. Faça!
O rapaz fechou os olhos com a mão aberta na direção dela.
Teresa colocou o cetro entre ela e o rapaz na intenção de se defender.
Mas o que ocorreu a surpreendeu. Ela não foi golpeada, em vez disso, o cetro foi roubado partindo disparado de sua mão.
Ela rapidamente colocou o guarda-chuva adiante para se proteger dos disparos que continuavam partindo dos dois homens, enquanto o do meio permanecia entre eles apenas dando breves comandos em seu idioma alienígena.
Lino, no chão, se debatia tentando chegar no canto da rua, mas mal conseguia prosseguir dada a desorientação dos feixes que eram desferidos. O guarda-chuva tecnológico, delicado e pouco resistente, ficou com alguns buracos.
Teresa tomou com muita facilidade o cetro de volta para si.
Os dois encapuzados, em um último ato de determinação, dispararam feixes em direção a Lino, mas Teresa usou o cetro para criar uma barreira adiante que protegia Lino dos feitiços.
Teresa mirou nos três homens pretendendo exterminá-los, mas seu braço foi puxado para trás pelo próprio cetro Dimfloat, que voou disparado para a mão do homem que segurava o guarda-chuva logo atrás dela, sem que ela tivesse a chance de notar a aparição dele.
O homem vestia um sobretudo idêntico ao dos três homens, e usava o mesmo capuz que fez Lino estremecer.
Teresa olhava incrédula para o ser que acabara de retirar a arma de sua mão, cujas vestes sugeriam ser mais um do grupo. O homem empunhando o cetro não despiu o capuz, era possível ver poucos traços, como o cabelo e barba de um prateado moderno.
A atenção de todos os presentes se voltou ao homem misterioso, que apesar de usar vestes semelhantes aos outros, não deixava nenhuma suspeita que o denunciasse como um terráqueo, então um calafrio espinhal fez Teresa concluir que a lealdade do cetro havia sido transferida para os seres de fora da Via Láctea, o que a deixou em pânico.
— Eu permito que fujam. — disse o homem grisalho.
O rapaz esticou o braço, tentando puxar o cetro para si, sem obter sucesso, já que o homem o segurava quase sem fazer nenhum esforço.
— Nããão! — Teresa gritou. Em seguida, esticou o braço em direção ao homem. Com toda sua determinação, o cetro disparou para a mão dela.
Teresa virou-se e mirou os três homens, o líder colocou a mão para trás e a trouxe de volta segurando o objeto místico que o ex-líder de Andrômeda costumava usar para capturar seus inimigos, ou proteger seus aliados, — a Clava Negra cravejada com diamantes. Ele mirou o rapaz, que teve sua alma tragada para dentro do objeto místico.
A joia amarela brilhou forte no topo do cetro Dimfloat quando Teresa mirou os três extraterrestres, mas três impactos ruidosos de sucção se seguiram. O cetro Dimfloat voou para a mão do homem de sobretudo vinho atrás dela enquanto os homens desapareceram.
Lino estava caído no chão, inconformado pelo homem grisalho não ter permitido que Teresa fizesse o que queria com os que o atacaram. Esperava que ele tivesse uma boa explicação.
Teresa voltou-se para ele.
— Quem é você? Como conseguiu conjurar o cetro? Onde conseguiu esse guarda-chuva?
— Saia da minha frente! Não tenho tempo para você. — O homem disparou enquanto passava por Teresa.
Parou diante de Lino, ainda segurando seu guarda-chuva, e apontou o cetro Dimfloat para ele.
— PAAARE!!! — Teresa se desesperou.
— O que você vai fazer?! — Lino gritou assustado, sua voz vacilou e o grito que ele instintivamente tentou soltar falhou.
Lino era o motivo que havia levado Teresa até ali. Sem ele, boa parte de suas motivações não faziam sentido. Sem ele, sua busca pelo poder não poderia se concretizar.
Lino assumiu um semblante do mais puro pânico, embora não soubesse ao certo o que o homem pretendia fazer.
A luz amarela brilhou. Lino caiu desacordado. O homem olhou para Teresa.
— Suma daqui, ou garantirei que não esteja viva quando ele acordar.
— Seu nome? — Teresa quis saber.
— Agente Théslert.
O homem foi engolido pelo guarda-chuva, que flutuou no ar, em seguida se fechou e desapareceu.
Teresa, que havia notado traços familiares no rosto do homem grisalho, acreditava ser ela a única pessoa além de Vinícius que conseguia monitorar Lino, mas acabou descobrindo que além de não ser a única com esse poder, o desgraçado que deixou os aliens de Andrômeda fugirem ainda sabia usar o cetro, e podia desarmá-la, coisa que o jovem aluno, embora tenha tentado, não foi capaz de fazer com perfeição.
Aquele estava sendo um dia difícil para ela, após ter falhado na tentativa de comprar Lino enviando seus contatos da Abin. Ainda tenho que lidar com esse desgraçado "Théslert", que deve ser um vingador da família do Bernardo que apareceu para me atormentar.
Teresa estava percebendo que o poder cedido aos terráqueos por Olória Law e Jonas Forth se espalhava e era conhecido inclusive por um capanga universitário mixuruca que mal conseguia utilizá-lo com uma maestria digna ao cetro Dimfloat.
Além de ter que aturar as ameaças de Thompson e do banana do Vinícius, ainda tinha que lidar com a novidade: o cetro Dimfloat, que só atendia aos nascidos na Via Láctea, acabara de ser conjurado por um sujeito com vestes idênticas às dos homens de fora da galáxia. A dúvida que martelava a mente de Teresa era porque o homem deixou Lino vivo mesmo tendo a chance de exterminá-lo.
Sem saber o quão sério o homem grisalho havia falado quando a ameaçou, ela decidiu, frustrada, que entraria no seu guarda-chuva e tentaria resolver seus próprios problemas antes de fazer novos inimigos.
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