Diego chamou Lino para conversar em particular. Avisou que um agente da Abin chamado Bernardo Théslert vazara informações dizendo que existiria em um futuro próximo a possibilidade de sermos visitados por entidades de outro plano, e que os EUA acreditam que Lino seria essa entidade.

— E eu sou? Você quer dizer, essa é a minha origem? Tudo isso que você me mostrou que eu posso fazer, é por causa disso?

— Sim, nós somos velhos aliados. — Diego começou. — Minha vinda fez parte dos seus planos, eu estou aqui para concretizá-los.

— Eu confio em você, foi você que me devolveu minha liberdade e agora quero me lembrar de tudo. Quero voltar a ser quem eu era antes. — Lino disse.

— Eu posso te mostrar e fazer você sentir como se você estivesse vivendo sua velha realidade, mas não posso devolver a sua realidade de fato. Você está no caminho certo para reconquistá-la.

— Quando eu vi em minha mente as cenas da maternidade, era diferente do que sou agora, como eu sou de verdade? Daquele jeito, ou desse?

— Nesse momento você habita o corpo que escolheu antes de nascer. O que você viu foi sua imagem quando está fora desse corpo, quando está habitando o plano superior, quando não precisa de um corpo para viver.

— Eu sinto que para estar mais perto de ter plenamente minha velha realidade, deveria me parecer como eu era até aquele dia. Dentre as coisas que sou capaz de fazer, você acha que conseguiria fazer isso? Eu consigo transfigurar meu corpo no que eu era antes?

Diego ficou pensativo.

— Não, isso não é possível. — ele mentiu.

— E se eu quisesse ser alguém diferente, poderia assumir outra aparência, mesmo que não fosse a minha verdadeira? Apenas para... me sentir mais entrosado com meu corpo. Eu parecia ser tão poderoso, as balas não me feriam e não podem me ferir. Mas estou preso debaixo dessa pele que não é a minha?

— O fato de não conseguir transfigurar sua aparência não significa que seja menos poderoso, ou que não consiga fazer tudo que eu te mostrei, tudo aquilo que você mesmo já fez nesse corpo. Mas se isso te incomoda, talvez tenha algo que eu possa fazer... Pensando bem. Sim, com certeza existe algo que eu possa fazer.

Lino apresentava, mesmo com as memórias devolvidas por Diego via reator, uma inacessibilidade às memórias que poderiam ajudá-lo futuramente. Ele, por exemplo, não se lembrava como conjurar a clava negra.

— Mas você precisará esperar. — Diego informou. — É um processo complexo que deve ser feito com cautela. Devemos nos preocupar para que ninguém intercepte esse conhecimento e use para fazer o que pretendo lhe oferecer. De qualquer forma, é muito perigoso. Se sentir que estou te colocando em risco, eu abortarei o plano.

— Me diga por que eu vim de Andrômeda até aqui. Me dê a motivação que eu tinha antes. — Lino suplicou. — Me fale qual o propósito que eu devo conquistar na Via Láctea. Sinto que tenho um plano maior pelo qual devo lutar, mas não consigo acessá-lo na minha mente.

Diego levou um tempo para organizar todos os seus pensamentos, fitando Lino. Planejou tudo o que deveria dizer para que fizesse surgir nele a motivação que o levou até ali.

— Você teve que vir à Via Láctea porque caso esperasse ela e Andrômeda se unirem, teria que se submeter às vontades de cada conselho em um diálogo interminável sobre os desejos divergentes de cada conselho superior. — começou Rolderklás

"Os conselhos poderiam escolher por se emancipar do comando da galáxia, e tomarem suas próprias decisões. Os habitantes de cada planeta poderiam ser impedidos de se aventurarem em viagens para novos planetas, porque isso faria com que eventualmente dois ou diversos povos inteligentes se encontrassem. Nós, dessa forma, evitamos uma guerra entre esses habitantes, coisa que os conselhos superiores da Via Láctea não concordavam que deveria ser feito. Para eles, seria normal que quando a Próxima Era das Grandes Navegações se iniciasse, começasse junto a ela uma batalha intergaláctica em busca do poder e da dominação."

"Nós, como bons cavalheiros, decidimos tomar uma atitude antes que nossos povos precisassem ir ao campo de guerra e ceifar suas vidas. Se podemos intervir e dar nossas... eu não chamaria o que tínhamos antes de vida... pelo bem maior, e impedir que uma guerra se instaure entre eles, por que ficaríamos parados observando se destruírem?"

"É isso que Jonas Forth pretendia, ele armou seu povo com tecnologias destrutivas para atacarem uns aos outros. Como se não bastasse isso, deu a eles conhecimento para que pudessem atacar a nós quando estávamos no plano superior. Esse, foi o maior dos seus crimes, permitir que os terráqueos viessem a se tornar uma ameaça ao Comando Superior das duas galáxias."

"Essa é uma diferença essencial entre o povo de Andrômeda e o povo da Via Láctea: entendemos que somos superiores, portanto, devemos zelar pela manutenção da vida no universo, garantir que o Comando Superior terá poder supremo para guiá-los para o caminho correto, e fazê-los submeterem-se a nós."

Grande parte da população apoiou o contra-ataque e a invasão à base dos Afonsos, já que viam Lino como um herói e entendiam que a invasão visando libertá-lo era válida.