- III -Thompson pressiona Vinícius
O chefe da Abin caminhava pelo corredor da sede em Brasília. Ao seu lado, um agente lhe passava orientações para o encontro em que os líderes das demais agências pertencentes à Ordem se reuniriam.
- Os representantes da CIA estão movendo esforços e gradualmente tentando tornar válido o discurso do Japão, que não deveríamos mais impedir novas tecnologias. - disse o agente Sílvio.
- Não seria surpresa pra mim que essa fosse a vontade de Thompson, e que ele esteja pressionando seus agentes a validarem esse argumento. - disse Vinícius, chefe da Abin.
- Então, seria interessante não rebater esses argumentos e tentar de alguma forma adiar essas discussões. Os que ainda não se aliaram a nós também demonstrariam interesse por novas tecnologias, então poderiam se aliar acreditando que tirariam proveito dos nossos benefícios. Essa ilusão não seria de todo ruim. - articulou o agente Sílvio.
- Não podemos ter mais aliados que, na verdade, são nossos opositores. Não quero mais gente do lado de lá do debate, se for assim prefiro que continuem excluídos da Ordem. - retrucou Vinícius.
- Ouça Thompson. Essa é minha orientação. - o agente Franco sugeriu.
- Isso é o que faço com vocês me cercando, eu ouço o Thompson, e se ele discordar, eu mudo o meu discurso. - Vinícius resmungou.
- Acreditamos que manter essa relação de respeito é melhor para todos. - aconselhou Sílvio.
- Isso não é questão de respeito, isso é se sujeitar a ele. Mas não se preocupe, eu vou representar vocês, e atender a vontade da maioria, se é isso que vocês querem. - disse Vinícius.
Representantes de grupos de países diversos estavam reunidos.
- Nós buscamos a união entre as agências de inteligência, - Começou Thompson -, não digo que somos desunidos, mas precisamos de fato chegar a um meio-termo entre o que os diferentes países querem. Sabemos haver uma divisão de pensamentos e acreditamos que a decisão sobre fazer ou não avanços tecnológicos deve partir de uma medida conjunta, para que, inclusive, os novos possíveis aliados possam participar dela e desfrutar, mesmo que em segredo, do que hoje não possuem permissão.
Thompson direcionou seu olhar para Vinícius, que estava a algumas cadeiras de distância na grande mesa circular.
- O Brasil acredita que todos os povos necessitam de órgãos de inteligência pertencentes à Ordem. Para que assim a mensagem do Comando Superior seja disseminada deles para suas populações. - disse brevemente Vinícius, percebendo que alguns se incomodaram com o teor daquela fala.
- Além dessas declarações que ouvimos até agora, antes de finalizarmos, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) se inscreveu para uma fala. - Começou o chefe da Diretoria de Sinais Australiana (ASD). - Então, eu gostaria de pedir que todos sejam compreensivos e percebam esse comunicado como o início de um diálogo, para que, a partir de agora, possamos avaliar os sinais que recebemos juntamente aos indícios que já possuíamos. Mas, talvez por uma tentativa de desviar o foco, acabamos não considerando.
- Obrigado. - Vinícius iniciou. - Há cerca de trinta anos sofremos uma mudança de diretriz, após o fim dos nossos contatos com o Comando Superior. Suspeitamos que nossos gestores anteriores tenham adulterado, ou, pelo menos, omitido dos registros, uma relação íntima do acidente envolvendo a cúpula com a última carta enviada pelo Líder Jonas Forth. - disse Vinícius.
Um murmurinho cresceu entre os representantes dos países aliados.
Ele continuou:
- O fim dos contatos se deu após a carta em que Jonas solicitava que praticássemos o desapego do poder, o que pode ser interpretado de algumas formas. Uma delas, a nossa interpretação, é que deveríamos abrir a Ordem para a entrada de mais países. E para que convencêssemos os países que demonstram oposição aos nossos ideais de que o pouco que sabemos sobre o Comando Superior é a nossa melhor chance de conseguirmos avançar em conjunto. - Vinícius disse.
- Foi para isso que cedemos a palavra!? - O russo Viktor, representante do Departamento Central de Inteligência (GRU), falou inconformado. - Quando foi que abrir a Ordem para novos países e cometer o mesmo erro que Jonas Forth ao expor o Comando Superior se tornou passível de debate?
- Vocês concordam com isso? Acham que vamos nos submeter a entidades que supostamente contactavam vocês, e não fazem mais há trinta anos? O papel que vocês estão desempenhando é no mínimo ridículo. - falou Youssef, um representante do Sultanato de Omã, que era contrário à abertura da Ordem a novos membros.
- Querer que nós nos sujeitemos a uma coisa que vocês, ao que tudo indica, inventaram visando escurecer caminhos que não são os que lhes beneficiam, parece realmente uma posição muito confortável. Por que não nos mostram provas de que vocês estão sendo realmente guiados? Não há! - disse Kim Seung, representante da Coreia do Norte.
- Nós não sabemos tudo sobre os planos do Comando Superior, mas tendemos a acreditar que o governo extremista de alguns países faz com que os mensageiros superiores escolham não interferir diretamente na nossa política. Isso não nos foi dito, mas foi uma conclusão comum dos que receberam os contatos. - disse Oliver, da Diretoria de Sinais Australiana.
- Essa fala é essencial para que o movimento em busca de novas alianças seja feito da forma mais natural possível. Se entre nós, existem os que demonstram repulsa ao Comando Superior, nossos guias essenciais, na visão dos Estados Unidos da América, seria natural que os que discordam deles fossem removidos da Ordem e perdessem a autorização de utilizar nossas tecnologias, para que o progresso não seja comprometido pelos que não estão dispostos a cooperar. - disse Thompson.
- É bom saber que vocês pretendem permitir a saída dos que não aceitam o que vocês e seus amigos imaginários impõem, assim talvez vocês deixem de ser a maioria, e se tornem um pequeno grupo com seus próprios ideais. - disse Kim Seung. - Assim ficaria mais fácil para todos nós. Vocês não precisam impor o que acreditam, e nós não precisamos ouvir essa ladainha. Agora, imaginar que vamos devolver ou renunciar a tecnologias que são de todos nós?! - Ele soltou uma risada irônica. - Não espere por isso.
- Esse diálogo sobre trazer novos países à Ordem nem deveria estar em pauta. Não vamos ceder nossas tecnologias nem permitir que eles participem das reuniões. - disse Viktor.
- Então, vamos prosseguir da forma mais democrática possível. Eu gostaria de propor uma votação. - sugeriu Thompson. - Quem é a favor de que se permita novos membros, e deseja continuar cooperando com o prosseguimento dos planos do Comando Superior mesmo com sua ausência. E quem manterá sua posição contrária ao progresso coletivo.
Uma votação se iniciou, três colunas começaram a ser preenchidas em um telão. A da esquerda, com nomes na cor verde, representava os que eram favoráveis à entrada de novos membros. A coluna do meio, na cor laranja, foi colocada para se representar quem era parcialmente favorável à entrada de novos membros, nela estavam Cuba, Egito, Arábia Saudita, Zimbábue, Tailândia e China. Na coluna da direita, em vermelho, estavam Omã, Coreia do Norte e Rússia, que mantiveram sua posição.
Os representantes de cada país saíam pelas bases de teleporte ao redor da sala elíptica. Thompson, que estava a alguns metros de Vinícius, caminhou até ele.
- Vinícius. - Thompson chamou.
O representante australiano levantou-se de uma cadeira entre os dois, reparou na movimentação de Thompson e se retirou sendo discreto.
- Thompson. - Vinícius se aproximou.
- Achei que você me escolheria para intermediar esse diálogo quando tivesse algo a falar, não a Diretoria de Sinais Australiana. Você sabe, não soaria bem se eu levantasse essa suspeita sobre o Brasil, que haviam ocultado algo, embora eu acredite que você entenderia se eu tivesse te convidado para falar pessoalmente sobre isso. - Thompson falou, cauteloso.
Vinícius achava que o olhar que Thompson deu a ele na frente de todos ao final de sua fala já era um sinal satisfatoriamente claro que ele desejava ouvir o que Vinícius tinha a falar.
- Eu entenderia.
- Eu queria te avisar que planejo trazer novamente esse assunto à mesa, se você não se importar, porque acho que esses últimos contatos foram fundamentais. Com eles poderíamos entender o que Jonas pretendia, de que forma ele poderia ter colocado o Comando Superior em risco, como Hâmsala nos comunicou. - Thompson disse.
- Tento entender isso todos os dias. - Vinícius desabafou.
- Eu não queria me intrometer dessa forma em um diálogo que deveria ser uma questão de vocês, mas nesse caso, como você mesmo já quis trazer essa questão a todos, eu penso que seria interessante ir atrás das fontes, conversar diretamente com elas. Você não acha estranho que Bernardo tenha desaparecido em um período em que ele conduzia um enfrentamento tão forte às ações da líder da Abin naquela época, Teresa? - Thompson questionou.
- Pode afirmar o que está tentando dizer. - Vinícius falou, duvidando que Thompson verbalizaria categoricamente o que ele queria ouvir.
- Os apoiadores de Teresa podem ter dado um jeito de silenciá-lo. - Thompson sugeriu.
Vinícius franziu as sobrancelhas.
- Os apoiadores?
- E por que não... ela mesma? - Thompson foi mais longe em sua acusação.
Vinícius chegou mais perto.
- Sabe que isso é grave? O que você está dizendo. E caso você não saiba, o próprio braço direito de Teresa naquela época, Edson, também desapareceu no mandato de Teresa pouco antes de Bernardo ser enviado em uma operação na China. Hamilton, que tinha vínculos importantes na Agência Espacial Brasileira (AEB) e no meio militar, desapareceu na mesma operação.
Thompson falhou em esconder sua surpresa.
- Vários agentes desapareceram. Se fosse só Bernardo, eu já acharia audacioso da sua parte levantar essa suspeita sobre uma ex-líder da Abin, mas acho que agora você já foi convencido.
- De fato, você parece ter razão. Não há explicação aparente para o desaparecimento de Edson e dos demais agentes, isso só se explicaria se todos fossem apoiadores de Bernardo.
- E para você, seria razoável imaginar que Teresa desapareceria com uma dúzia de agentes com seu líder rebelde por receber críticas à sua gestão? - Vinícius perguntou.
- Parece mesmo uma coisa horrível de se imaginar. Novamente, eu só quero desvendar esses acontecimentos, meu meio de chegar a essas respostas é você. Então, embora pareça ilógico que Teresa faria algo tão brutal, eu acharia interessante que você a convidasse para uma conversa. Sabe? Sentir como ela reage quando você perguntar a versão dela sobre o que esses acontecimentos representam, como a carta de Jonas pode ter alguma influência nisso, ou se para ela é tudo fruto da minha imaginação. - Thompson sugeriu.
- Quer mesmo que eu cite seu nome?
- Não, não. Por favor. Isso seria... deselegante. Mas, se ela perguntar, bem, não vejo o que uma velha aposentada poderia fazer contra mim, tudo que eu represento, as pessoas que tenho ao meu lado. Haha! - ele debochou - Diga. Diga que fui eu. Depois me conte qual foi a cara dela.
Vinícius ficou perplexo com tamanha intromissão. Virou-se e caminhou deixando o local pela base de teleporte.
Embora a princípio ele tenha achado a proposição de Thompson absurda, de fato, ele foi convencido de que seria cômodo, para quem apoiava Teresa, dar um sumiço em Bernardo.
Durante os dias que se seguiram ele pensou, só, se não seria aquela uma tentativa de desestabilizar sua relação e criar suspeitas com as pessoas ao seu redor.
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