- III -Lobotomia
Thompson falava na reunião junto do presidente dos Estados Unidos e diversos agentes, inclusive alguns que foram confiados a irem ao sequestro de Vinícius. A sala possuía paredes de madeira, não tinha nenhuma janela, o teto revestido com uma camurça vinho.
— Temos indícios suficientes para tomar uma atitude, acredito que todos concordamos que isso deve ser feito. Eles esconderam tudo de nós, eles queriam tomar todo o poder para eles, e agora libertaremos Lino, pois já temos todas as provas de que ele é Jonas Forth, Líder superior que desceu para agir entre nós.
— Por qual motivo Lino, que já possuía a confiança deles, tentaria matar o próprio irmão de uma forma tão brutal? — Andrew, presidente dos EUA, perguntou.
— Nós, infelizmente, não temos essa informação. — Thompson respondeu.
— O que faria um piloto brasileiro realizar um ataque dessas proporções a nós? — Andrew indagou para ninguém em específico. — O ataque que eles sofreram no reator do Rio não estaria relacionado com o ataque ao One World Trade Center?
Thompson olhou para seus oficiais, que permaneceram imóveis e inabalados olhando para ele sem a resposta daquela pergunta.
— Lino, ou Jonas Forth, realizou um ataque à estação de construção da cúpula no ano de 2070. Não teria esse ataque, conforme me foi passado, alguma relação com os ataques que estamos sofrendo atualmente? Jonas não era contrário à construção da cúpula? — Andrew prosseguia fazendo uma série de indagações.
— Acreditamos que Jonas Forth concordou com a construção da cúpula, à medida que enviou instruções para que a Ordem implementasse novos mecanismos, que até hoje, não sabemos ao certo a utilidade. — Thompson respondeu.
Ao final da discussão, eles chegaram à conclusão de que poderia não ter se tratado de um ataque ordenado, poderia ser que a força aérea brasileira não tivesse nenhuma relação com o ataque que os EUA sofreram.
— De qualquer forma, para todos os efeitos, sofremos um ataque ordenado e resgataremos Lino, Líder da Via Láctea, para que ele exerça ao nosso lado, os planos que foi impedido de prosseguir pelo governo brasileiro. — ensaiou Thompson com o presidente e os oficiais da CIA.
— Todos de acordo? — Andrew perguntou com a voz forte.
— De acordo, prezado senhor presidente! — os agentes responderam em uníssono.
Thompson tentava angariar apoiadores na discussão das agências de inteligência. Ele falava sereno, sendo falsamente pragmático, dando justificativas inventadas para o ataque ao Brasil realizado pelo governo, e como Teresa via os EUA como um detentor de conhecimentos sensíveis à consecução dos seus planos. Dizia que Teresa havia coordenado o ataque para que Thompson se sentisse ameaçado e fosse forçado a recuar.
Representantes contra Teresa que apoiavam Lino começaram a debater, o representante da Austrália disse, sendo cerimonioso, que ali não é o lugar mais apropriado para esse debate.
— Então, os senhores estão convidados para uma reunião em território americano.
Os representantes dos diversos países que tentavam patentear a tecnologia de clonagem e do teleporte viram uma chance de fazer isso sem ter que passar pela burocracia que estava sendo feita. Muitos não gostaram de ter que aceitar membros do Estado brasileiro transitando livremente em seu território com a justificativa de que estavam exercendo funções essenciais para a implantação das tecnologias mais recentes.
Thompson convidou os membros da Ordem para a reunião, mas não só eles. Países que não eram adeptos ao Comando Superior estavam sendo convencidos que Teresa era capaz de atitudes cruéis para permanecer na chefia da Abin. Dizia que uma completa anarquia estava irrompendo no território brasileiro por causa dela.
Ele iniciou uma votação após seu acalorado discurso. Queria saber quem era favorável a realizar o resgate de Lino. Após alguns momentos, Thompson anunciou, orgulhoso do resultado:
— O Brasil está oficialmente DESLIGADO!
Os pronunciamentos conflitantes, que representavam os diferentes interesses, traduzidos para todos os idiomas, inflamava a população. O discurso em busca do poder em detrimento das vidas que entrariam na guerra soava bizarro, completamente desumanizado.
O esquadrão foi teleportado de avião por avião direto dos centros de teleporte dos países que concordaram em cooperar para o resgate de Lino. Eles chegavam ao Brasil através do mesmo teleportador no oceano pelo qual o piloto passou quando fez o ataque ao One World Trade Center.
Banhistas na praia de Copacabana viram seis grandes aviões vindo em direção à praia. Canhões modernos, que substituíram os antigos no forte de Copacabana, moveram-se mirando e acertaram dois dos quatro que estavam mais próximos do forte. Dois aviões caíram levantando a água do mar. As pessoas viram duas grandes explosões. Os quatro restantes seguiram para o Aeroporto Internacional Tom Jobim.
Aviões com bombas acopladas passavam sobre comunidades. Crianças surpresas com o barulho saiam de casa para ver, diziam umas para as outras e apontavam para o céu. — Caramba, o barulho desses aviões é assustador!
O avião de grande porte estava prestes a pousar quando perfuradores surgiram a alguns metros na cabeceira da pista, o piloto rapidamente deu potência nos motores. O pesado avião continuou descendo por alguns segundos. Seria difícil vencer a inércia do movimento. Os pneus do trem de pouso baixado continuaram indo em direção aos perfuradores no caminho. Lentamente, o movimento se alterou. O avião parava de descer, até que chegou aos perfuradores e passou voando sem tocá-los.
Quando cruzavam a cidade, sobre o Batalhão de Infantaria da Aeronáutica Especial dos Afonsos, observaram que haviam caças sendo posicionados próximos à pista de decolagem. Perceberam que ali era um péssimo lugar para tentar fazer um pouso, o avião fez a curva para o Aeroporto de Jacarepaguá, teria que cruzar uma parte do Rio. Esse era o plano C de aterrissagem, já que o plano B, na base militar, era uma missão suicida.
Os militares estrangeiros chegaram ao presídio de segurança máxima. Fizeram reféns e invadiram o local, ordenaram que o acesso fosse autorizado dizendo que só queriam uma pessoa.
Os invasores aliados de Thompson olharam para os lados ao virarem no corredor onde Lino estava. Ordenaram que o carcereiro liberasse a passagem, adentraram as celas e chegaram aonde Lino deveria estar, mas não o encontraram.
Ouviu-se a voz de Diego pelo sistema sonoro do presídio.
— Lino dos Santos está aprisionado na base militar dos Afonsos prestes a sofrer uma lobotomia.
Os homens da inteligência estadunidense se aproximavam da entrada da base militar dos Afonsos. O pelotão de carros seguia em alta velocidade por uma rua de duas mãos cercada por muros altos. A mata densa fazia uma cobertura na estrada. Ao longe, o portão aproximava-se, mas não era possível ver o que ele escondia.
Um carro-forte de cor bege tomou a dianteira, sendo o primeiro a chegar no portão, provocando um estrondo ao derrubá-lo para os lados.
Um perfurador de pneus havia sido posicionado atrás do portão, o carro-forte parou alguns metros à frente com os quatro pneus furados. O próximo carro que vinha atrás percebeu o perfurador e desacelerou. O militar que desceu do carro-forte correu até o objeto para abrir passagem aos outros. Quando ele se abaixou e começou a puxar a corrente presa ao artefato, um projétil acertou o muro.
O carro do qual ele desceu estava a dez metros de distância, de forma que não o oferecia proteção. Ele teve que escolher entre retornar em segurança para o carro ou se arriscar retirando o perfurador de pneus e permitir que seus companheiros continuassem com a missão.
Rapidamente, ele prosseguiu, ignorando o segundo disparo a acertar o muro. O carro aproximou-se mesmo com os pneus furados para servir de barreira. Ele, então, puxou o objeto até que estivesse finalmente fora do caminho.
O pelotão de carros pretos adentrou, seguido por um segundo carro-forte. Disparos acertavam os carros blindados sem provocar danos.
Ouviu-se um ronco que fez tudo trepidar. Subitamente, os três primeiros carros do pelotão explodiram. Dois caças passaram sobre eles e fizeram a curva à direita, prontos para uma segunda investida.
Eles seguiram por uma rua beirando um enorme hangar e viraram à direita, chegando a um caminho extenso que beirava toda a pista do aeroporto. Inúmeros aviões estavam estacionados à esquerda do pelotão. À direita, estavam os hangares com mais aviões.
Os carros seguiam a toda velocidade em direção ao centro médico, que ficava depois dos hangares. Eles sabiam que precisavam chegar antes que fosse tarde demais e a lobotomia fosse concluída, colocando fim aos poderes de Lino.
Um ronco irrompeu novamente, ouviram-se explosões enquanto carros ficavam pelo caminho.
Reforços chegavam para resgatar Lino. Um novo pelotão invadiu a base militar, recebido por tiros pelos dois lados da rua que levava até os aviões. Os caças passavam e o ronco assustava os invasores.
O pelotão recém-chegado passava entre o hangar e as aeronaves estacionadas ao lado da pista quando viram os dois caças serem abatidos e caírem na mata.
A figura de Drak Nazar, com longas vestes pretas, porém com cabelos claros e aparência jovial, surgiu dando a volta em um enorme tanque de guerra, acompanhado por Diego e Thompson. Logo atrás deles surgiram homens do exército americano que os escoltavam em direção à comitiva estacionada na saída da base militar.
Lino caminhava implacável. Sua prioridade era deixar aquele lugar. Lúcia chegou correndo por trás dele e gritou seu nome.
Lino parou e virou-se, se emocionou ao ver que ela corria até ele, deu o primeiro passo também em direção a ela, mas Diego o impediu, colocando o braço na frente do seu peito quando Lúcia estava prestes a alcançá-lo. Lino olhou para Diego, que disse:
— Temos que conversar sobre ela.
Lúcia finalmente alcançou Lino, que olhou para ela com receio do que Diego pretendia falar. Ele sabia que Lúcia havia sido uma companheira essencial para que conseguisse espaço para desenvolver o projeto do reator e para que a ideia fosse aceita pelo Instituto de Engenharia Nuclear.
— Você tem algo para me falar?
— Se eu pudesse fazer um pedido agora, seria que mesmo com as coisas que você vai ouvir — ela apontou Diego com a cabeça —, que ele vai te falar. Queria que você se lembrasse do que vivemos.
— Por que você mesma não me conta o que eu já vou descobrir?
Ela pensou por um instante em como dizer aquilo. Sentiu que ter a chance de falar seria uma oportunidade de amenizar o choque que Lino teria quando cedo ou tarde chegasse aos ouvidos dele os atrativos que Lúcia via nele.
— Eu estava na dúvida se o que aconteceu naquele dia, quando os alunos e sua professora ouviram você xingá-la, foi de fato uma manifestação dos seus poderes, ou se você acessou nossos reatores para se comunicar com os demais na sala que ouviram sua voz. Caso fosse a primeira opção, você mesmo me explicaria como isso poderia ter acontecido. Eu só estava trabalhando para gerar conhecimento para a nossa comunidade. — Lúcia explicou.
— É claro que você só queria passar as informações pra Abin. É pra isso que você foi chamada. Foi por isso que você se aproximou de Drak.
O Lino que habitava aquele corpo olhou brevemente para Diego ao ser chamado de Drak, lembrou-se do homem no aeroporto em Paris ter lhe chamado dessa forma. Rapidamente absorveu aquilo, trazendo para dentro de si o valor que ser chamado por esse nome, após tudo que ele fez e testemunhou, passou a representar para ele.
— Lino, todas as anotações que você fazia estavam sendo passadas para membros da Abin infiltrados na sua faculdade, eles monitoravam os conhecimentos que você possuía para você desenvolver novas tecnologias.
Lino ouviu o que Diego dizia, sentindo-se usado. Ficou feliz em tê-lo ali para garantir que ele saberia daquilo.
— Eu estava errado. Hoje posso ver que não nasci te amando, eu aprendi a te amar. E agora com isso tudo, só tenho motivos para aprender a esquecer esse sentimento. — Lino falou dolorosamente cada palavra.
Em seguida deu as costas para Lúcia e seguiu Diego, caminhando para trilhar seu novo caminho.
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