Capítulo 6 e LANÇAMENTO AMAZON
OLÁ, AMORES!!!
OLHA QUE NOTÍCIA BOA....
COM VOCÊ JÁ ESTÁ COMPLETO LÁ NA AMAZON!!! UHUUUUU
Estou louca pra saber a opinião de vocês sobre esse livro... ele tá lindãooooo!!!! <3 E, segura o coração... No final, lembrem-se que sou uma autora legal, viu! hahahahhaa
ESPERO QUE AMEM O LIVRO, ASSIM COMO EU AMEI ESCREVÊ-LO.
APROVEITEM O FERIADÃO PARA MERGULHAREM NO MUNDO DE LETÍCIA E CONRADO.
OBS: O PREÇO ESTÁ POR APENAS R$ 9,99. A AMAZON AGORA ACEITA CARTÃO DE DÉBITO TBM, VIU. CRÉDITO E DÉBITO! <3
OBRIGADA POR ME INCENTIVAREM POR AQUI.
JULIANA PARRINI
<3 <3 <3
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And I told you to be patient
And I told you to be fine
And I told you to be balanced
And I told you to be kind
Skinny Love Birdy
"Você foi a única que não desistiu de mim."
Seus olhos me encarando enquanto proferia cuidadosamente essa frase não saía da minha cabeça. Fui dormir pensando em cada detalhe da noite, mas acordei com a mesma sensação de derrota.
Há horas estou encarando a tela do meu MacBook com o arquivo aberto para poder dar continuidade ao meu terceiro livro, mas a inspiração resolveu dar uma volta e deixar Conrado em seu lugar.
Fecho o arquivo, com a certeza de que não produziria nada hoje. A manhã estava perdida e logo eu teria que ir atender meus pacientes.
Onde já se viu! Paciente desafiar a psicóloga?
Eu estava em uma linha delicada. Perder a esposa era algo terrível, porém ele não tinha o direito de me colocar como a única solução dos seus problemas, mesmo duvidando veementemente da minha capacidade. Com os outros profissionais, pelo jeito, ele nem cogitava essa possibilidade.
Inquieta, abro os meus e-mails. Começo a respondê-los por ordem de chegada para poder me distrair e resolvo ligar para o Fernando. Felizmente ele atende rápido.
— E aí, como foi ontem? — pergunta animado.
— Você é um bundão. Por que não foi?
— Eu me estresso demais com o seu jogadorzinho. E, como estava com mau humor, resolvi não arriscar a noite de ninguém.
Eu rio, baixinho, porque concordava com meu amigo.
— Pelo jeito o mau humor foi embora, não é?
— Foi sim.
— Posso saber o motivo da alegria?
— Apenas que eu vi um passarinho verde. Azul, amarelo...
— Hum... quero detalhes, gostosão. Eu o desculpo se almoçarmos juntos hoje. O que acha?
Ouço um ciciar ao seu lado.
— Hum... a gata está com você? — pergunto.
Ele ri alto.
— Acho que vamos ter que deixar esse almoço para outro dia, Lê. Posso te ligar depois?
— Claro! Depois nos falamos. Divirta-se.
— Sempre.
Desligo o celular feliz pelo meu amigo. Fernando comeu o pão que o diabo amassou com o fim do casamento, merecia encontrar alguém bacana.
Uma vez que meus planos para o almoço foram frustrados, volto a olhar meus e-mails.
Assunto: Obrigada!
Olá, Letícia Liana, imagino que você nem vá ler essa mensagem, mas eu precisava dizer algumas coisas para você.
Há oito anos meu marido me abandonou com uma nenê de um aninho. Entrei em depressão profunda, nem cuidar dela eu conseguia. Precisei da ajuda de parentes. Perdi a vontade de viver durante muito tempo, até que consegui perceber que precisava reagir. E quem disse que reagir é fácil? Não é. Acredito que seja ainda mais difícil do que a própria depressão, na qual você se entrega sem pensar, apenas sente. Mas, como li no seu livro: é um ciclo, e precisamos dessa reação para superar parte do que nos maltrata.
Durante esses anos fui do fundo do poço ao céu. E por muito tempo as pessoas acreditaram que eu era fraca e toda a tristeza que eu sentia era apenas uma forma de chamar atenção. E eu só queria ficar sozinha.
Por muito tempo tive vergonha de pedir ajuda. Até que ganhei um livro seu de uma conhecida, o 'Seja feliz hoje!'. Ele ficou algum tempo guardado no armário e durante uma tristeza profunda de querer abrir mão da minha vida, comecei a folheá-lo. Por isso eu precisava vir agradecer. Você me fez perceber que ainda há vida para mim. Que ainda posso ser feliz mesmo diante de tanta tristeza. O passado deveria ficar lá atrás e eu tinha o poder de fazer um novo futuro. Eu quis. Eu quis e fiz, Letícia. Estou me tratando aqui na minha cidade e seus livros foram que me deu o entendimento do que eu precisava. A ajuda psiquiátrica e psicológica que tanto você frisa e que existe para nos ajudar, mudou a minha vida.
Sou uma mulher renovada e feliz.
Hoje tenho até um namorado e a minha filha é uma linda menina, mas sinto que ainda terei muitas mágoas para superar, mas não me desanimo por isso. Estou forte para poder superar cada obstáculo com um sorriso no rosto.
Por favor, não pare nunca. Seu trabalho é incrível e precisa ser compartilhado com todos que sofrem como um dia sofri.
Parabéns pelo seu lindo dom e por ser essa pessoa especial.
Obrigada,
Thalita Lacombe.
Respiro fundo, olhando para a tela. Um sorriso brota em meus lábios, juntamente com uma lágrima.
Eu amo o que faço e perdi as contas de quantas vezes li mensagens ou ouvi testemunhos pessoalmente sobre como as pessoas superaram a tristeza. Aceitar a ajuda é o primeiro passo.
Conrado havia dado o primeiro passo, aceitando ir ao meu consultório.
'Por favor, não pare nunca. Seu trabalho é incrível e precisa ser compartilhado com todos que sofrem como um dia sofri.'
Releio. Eu precisava agir. Precisava ajudar aquele homem.
Pego meu celular e levanto da cadeira do meu escritório em casa.
Passeio pela casa, pensando no que eu deveria dizer. Rolo a agenda de telefones e encontro seu contato, que já tinha salvo no celular, e aperto a opção de telefonar.
Seja o que Deus quiser!
Ao primeiro toque, sou atendida.
— Alô.
— Quem é? — responde uma voz feminina.
Ou ele deu o número errado para a Carol ou o homem está com uma mulher a tiracolo. Perder a esposa há anos e sofrer não quer dizer que o homem faz celibato. Claro que não!
— Desculpe, esse número é do Conrado Vitti?
— É esse sim — rebate a mulher, meio grosseira. — Quem quer falar com ele?
— Ah, hum...
No fundo percebo que alguém começa a falar e o barulho que vem me impede de responder.
— Oi, oi... — Agora era Conrado quem falava, tinha certeza.
— Oi, Conrado, aqui é a Letícia. Letícia Liana. Desculpe, eu posso retornar mais tarde, se estiver ocupado.
Eu estava completamente arrependida de ter telefonado.
— Não. Não estou... eu...
— Eu aceito. Aceito o desafio — digo, sem enrolação.
Ouço um silêncio repentino em troca.
Espero alguns segundos, incerta se a ligação tinha sido interrompida.
— Alô?
— Oi... — responde ele. — Estou aqui. Na verdade, estou bastante surpreso.
— Posso imaginar.
— Será que podemos almoçar juntos hoje? — oferece ele, como se previsse minha falta de companhia.
— Que horas? – respondo, rápido demais para o meu próprio gosto.
— 13h, pode ser? Alguma sugestão de lugar?
Ele estava pedindo minha opinião?
— Pode ficar à sua escolha — digo, até porque nada me via à mente.
Por enquanto, Conrado. Apenas por enquanto.
— Tudo bem. Te mando uma mensagem com o endereço. Então, até mais.
— Até.
Sinto um alívio enorme, como se tirassem pelo menos a metade do peso que eu carregava. A outra metade eu iria buscar.
Respiro fundo, soltando o ar.
Deixo de lado o que ele queria que eu fizesse. Não vou a essa consulta externa com os discursos pré-prontos. Faria diferente. Ele expôs esse jogo, então deixarei que ele o comande e vamos ver onde isso vai dar.
Recebo a mensagem com o local do almoço poucos segundos depois. Penso em já ir vestida para o almoço do mesmo modo que vou atender meus pacientes, porém mudo de ideia. Seria um almoço entre duas pessoas que se conhecem, algo informal. Então, coloco um vestido, sandálias e vou ao encontro do meu paciente rebelde.
Sentia meu peito subindo e descendo rapidamente. O desafio havia me causado sensações de provocações. Eu não queria perder. Eu não iria perder. Conrado Vitti iria conhecer o poder de Letícia Liana por bem ou por mal.
Paola, Ellen e Fernando iriam gostar de me ouvir falar isso.
Chego ao restaurante indicado, o Oscar bistrô bar, no Leblon, um pouco antes do horário combinado. Busco uma mesa para dois e me acomodo no lugar aconchegante. Peço uma água com gás e espero ansiosa.
Mexo no celular e, sem perceber uma aproximação antecipada, vejo uma mulher parada em frente à mesa.
Ergo meus olhos e observo ao redor.
— Pois não...
— Posso? — Ela aponta para a cadeira ainda vaga.
— Hum... eu...
Ela não espera a minha resposta e senta.
Ajeito minha postura, sem entender o que estava acontecendo ali. Loira, com um semblante sério e fechado. Enfim, consigo me recordar.
Respiro fundo.
— Sou irmã do Conrado. Daniela — diz, confirmando a minha constatação.
Ela coloca as mãos sobre a mesa.
— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. Ele sabe quem você é, Letícia. Só peço para que acabe com isso.
Estreito os olhos.
— Desculpe, eu... não estou entendo. Sou psicóloga, e estou apenas tentando ajudá-lo.
— Você acha mesmo que isso é possível?
Como a própria irmã não poderia acreditar no potencial dele?
— Eu não tenho dúvidas.
Ela dá uma risada debochada. Uma onda de raiva me invade. Outra para duvidar da minha capacidade.
— Você só pode estar brincando, não é? Ele estava indo bem, mas você o encontrou. Sabe o quanto isso é muito óbvio?
— Não vejo brincadeira nenhuma. Esse é o meu trabalho. Sinceramente, continuo sem entender...
— Quem não está entendendo sou eu! Quem você...
— Daniela! — A voz de Conrado ressoa como um trovão no ambiente.
A irmã se levanta com pressa e ajeita a bolsa no ombro, sem desgrudar o olhar de mim.
— O que está fazendo aqui? — pergunta ele, aproximando-se da nossa mesa.
— Precisava ver com meus próprios olhos. E não concordo com isso!
Conrado pega a irmã pelo braço. A tensão cresce entre os dois. Ele a puxa, fazendo-a caminhar ao seu lado, saindo do local.
Volto a respirar.
O que aconteceu aqui?
Com as mãos trêmulas, termino de beber minha água, decidida a ir embora assim que recuperasse o meu equilíbrio.
Até que vejo Conrado voltar.
Ele se joga na cadeira à minha frente e tenho um sobressalto.
— Desculpe por isso, Letícia.
Dou-lhe um tempo para se recuperar e então pergunto:
— Por que ela está com tanta raiva? O que disse a ela?
Ele passa a mão no rosto.
— Estive melhorando nos últimos meses. Acho que depois das nossas conversas, as lembranças têm vindo mais à tona.
— Meu intuito com isso é apenas ajudá-lo — apresso-me em me explicar.
— Eu sei. Peço desculpas novamente pela atitude dela.
— Tudo bem, eu... só não quero que isso, de estarmos fazendo isso de consulta externa, seja algo que atrapalhe a sua e a minha vida.
— Isso não voltará a acontecer. Daniela é uma pessoa boa, estava apenas preocupada.
Arfo. Não quere me aprofundar mais nisso. No fundo, estava irritada com a situação, e uma ponta de arrependimento me atinge.
— Primeiro, eu gostaria de agradecer por ter aceito o meu convite – ele começa, deixando o incidente de lado.
— Você tinha razão, Conrado. Adoro um desafio. Por isso estou aqui. — Ergo um pouco as mãos, tentando descontrair.
Conrado tinha os olhos presos em mim por tempo demais. Ainda não conseguia identificar o que seus olhos buscavam.
Alguma coisa nele me atraía. Algo que ia além do meu entendimento. Uma coisa era fato: eu não poderia negar a mim mesma que o seu jeito másculo e meio rude de ser enquanto me olhava me deixava um pouco excitada.
Remexo-me na cadeira, tentando afastar esses pensamentos.
O garçom se aproxima e nós fazemos nosso pedido. Eu estava tão agitada por dentro, que nem sentia fome.
Sua expressão indicava o quanto ele estava intrigado. Não havia vacilo.
Cruzo os braços na altura do peito, mantendo firme a minha postura.
— Não vai dizer nada? — pergunta.
— Eu? O que quer que eu diga? – Eu não sabia nem do que ele estava falando!
— Não se preocupe. Eu irei pagar esses encontros.
Reviro os olhos. Ele não me entendia ainda.
— Se fosse por dinheiro, eu não te atenderia, Conrado.
Ele faz que sim com a cabeça, escolhendo as palavras.
— Acho que começamos com o pé esquerdo — diz ele. — Talvez pudéssemos começar de novo. O que acha?
Dou de ombros.
— Como quiser.
Ele estende a mão direita.
— Sou Conrado. Conrado Vitti. — Ele solta um sorriso de lado. Um sorriso descontraído, amigável.
Sinto meu estômago gelar e um arrepio invade meu corpo. Por instantes me vejo impossibilitada de respirar.
Sua mão permanece erguida e o sorriso ainda está presente.
Existia um homem lindo dentro dele. Eu sabia que sim.
Mas a forma como ele mexia comigo ainda era desconhecida por mim.
O que um sorriso não faz com uma pessoa?
Em um estalo, volto à realidade.
Ergo minha mão e o cumprimento.
— Seu namorado gostou do bar ontem — comenta ele. Não era uma pergunta.
— Ele não é meu namorado. — Ajeito minha franja, tentando disfarçar que aquela pergunta me deixara incomodada.
Conrado parece surpreso.
— Eu pensei que vocês tivessem alguma coisa.
— Talvez sim. Na verdade, isso não é da sua conta.
— Estamos tentando ser sinceros, lembra?
Solto o ar demoradamente. Aquilo ia ser mais difícil do que eu previra.
— E você? Há quanto tempo exatamente está viúvo?
Ele abaixa o olhar.
Ele queria sinceridade? Queria abertura? Então eu não teria mais cuidado.
— Três anos.
— E desde então nunca saiu com outras pessoas?
— Centenas — responde, sem titubear.
Fico boquiaberta. Um homem bonito desse não ia ficar tão solitário. Em que momento eu pensei nessa possibilidade?
— E?
— E nenhuma delas foi capaz de me fazer esquecer.
Aquilo ao mesmo tempo me traz alívio e me decepciona.
— Com essa postura, você poderia estar saindo com milhares de pessoas e ainda assim estaria fazendo a coisa errada. Não se pode esquecer alguém especial. Não tente preencher esse vazio.
Minhas palavras parecem surtir efeito.
— Quem está falando isso? A Letícia Liana psicóloga ou só a Letícia?
— Somos a mesma pessoa.
— Tem certeza?
Cerro meus olhos para ele e decido tomar outro rumo.
— O que você gostava de fazer e não faz mais?
— Tantas coisas...
— Cite uma pelo menos.
— Correr. Eu corria quase todos os dias.
— E por que não corre mais?
Ele torce a boca.
— Não sei.
— Acho que precisa fazer algo que goste – ofereço, terminando de beber a água em meu copo.
— Isso não é uma novidade, Letícia. Eu sei o que devo fazer, apenas não sei como.
— Sabe aquela coisa de pegar e fazer, sem pensar demais? Digo que isso é válido sobre qualquer coisa.
— Ser irresponsável? — provoca, e percebo que ele está me testando.
— Não! Ou talvez. Eu acho que a vida deve ser vivida no seu extremo. Acho que é isso que falta.
— O que está querendo dizer? Que preciso fazer tudo que vem à mente?
— Exatamente. Talvez assim você retome o gosto pela vida.
— É assim que você vive, Letícia? A vida no seu extremo?
Sua pergunta me faz calar. Era sempre difícil falar de mim mesma.
Limpo a garganta, escolhendo as palavras.
— Eu vivo o que devo viver.
Ele arqueja as sobrancelhas.
— Eu não sei, mas, ao meu ver, palestras, viagens, consultas o tempo inteiro não podem definir uma vida como proveitosa.
— Somos diferentes, Conrado. Talvez o prazer para mim seja o oposto do seu. Sinto-me realizada com o que faço.
— Não digo que não é, apenas quis lhe provar que a história do "faça o que eu digo, mas não faça o que faço" cabe perfeitamente nessa situação. — Ele bebe um pouco da sua água, seus olhos me testando o tempo inteiro.
— Você não me conhece. Não sabe da minha vida.
— É verdade. Eu não sei de nada. — O seu tom de deboche ainda me incomodava.
— Ok. Você venceu. Diz — peço. Havia chegado ao meu limite.
— O quê?
— Diz o que você pensa. O que pensa de mim, Conrado? Estou muito curiosa. Se vamos fazer isso, vamos fazer bem feito, não é?
Ele concorda com a cabeça e sorri novamente, apertando os lábios.
Merda de sorriso perfeito.
Depois de um minuto inteiro analisando a situação, ele ergue as mãos, pronto para começar.
— Quero sinceridade.
Era minha vez de olhá-lo de forma intrigante.
— Acho você uma farsa.
Aquilo me atinge de uma maneira que eu não saberia explicar. Nunca haviam me dito isso antes.
Eu não queria mostrar a minha indignação, mas meus olhos se abrem diante daquela audácia.
Minhas mãos voltam a tremer e novamente coloco-as abaixo da mesa, longe da visão dele.
— Continue.
— Veja bem, você pediu minha opinião. Estou dizendo o que eu sinto. Não sou dono da verdade. Não leve pelo lado pessoal.
Era a minha vez de sorrir.
— Não levar para o lado pessoal? Você acabou de dizer que eu sou uma mentira. Isso não é pessoal, claro que não.
Ele balança a cabeça, como se eu tivesse dito algum absurdo.
— Acho que tudo dito e escrito por você é apenas o que os outros querem ouvir, mas, no fundo, você não age da forma como sugere que as pessoas façam.
A afronta dele só piora.
— Em que momento você percebeu isso? — Minha pergunta tinha um tom de deboche e raiva.
Ele nega com a cabeça.
— Não houve um momento específico. Só acho que se fosse comigo, toda aquela história da tragédia do avião não me deixaria tão feliz assim. Sei lá, talvez me deixaria bastante incomodado, mesmo que agradecido. Não sei o que se passa na sua cabeça...
Sinto meus músculos saltarem por debaixo da pele.
Olho de um lado e para o outro, antes de voltar a ele. Pisco algumas vezes tentando não operar impulsivamente.
— Você tem razão. — Ele desfaz o sorriso que ainda mantinha. Por isso ele não esperava — Você não sabe o que se passa na minha cabeça. Passar bem, Conrado.
Levanto com toda a fúria que meu corpo consegue exaltar.
— Letícia...
— Adeus. Boa sorte com seu luto e todos os seus problemas.
Ajeito a bolsa e passo por ele como um raio.
Assim que chego à porta do restaurante, sinto sua mão segurar meu braço.
— Por favor, não vá.
Viro meu rosto e, de tão próximo a ele, consigo sentir seu perfume.
— Chega. Você conseguiu o que queria. Eu desisto. Vou embora.
Ele baixa o tom da voz, receoso com os olhares que são dirigidos em nossa direção.
— Desculpe. Você pediu e eu fui grosseiro.
— Foi sim. Mas eu quero ir embora.
— Não posso deixá-la ir.
Conrado chega seu rosto mais perto do meu. Aquela aproximação inesperada me deixa ainda mais nervosa, mas não sei se de raiva ou se por qualquer outra coisa que eu estivesse sentindo naquele momento. Na verdade, eu era um vulcão de sensações diferentes.
— Desculpe. De verdade. Por favor.
Puxo meu braço devagar e, contrariada, faço que sim.
Voltamos para a mesa, sem alardear demais os outros clientes. Contrariada, sento-me novamente.
— Posso tentar de novo?
Cruzo os braços na altura do peito.
— Você está sendo um babaca.
— Eu sei.
— Aquela foi sua última chance. Nada de tentar novamente. Precisa se responsabilizar pelos seus erros. E, sinceramente, não consigo entender o quanto tudo que eu digo te incomoda.
Ele levanta as mãos. Eu realmente deveria ir embora.
— Eu estou errado. É isso que quer ouvir?
— Não. Não quero ouvir nada que não seja verdadeiro. Eu sou uma farsa, você também é.
— Eu sou. Nunca escondi isso — revela e aquilo me pega de surpresa. — Finjo que está tudo bem para as minhas irmãs. Deixo-as marcar encontros às cegas para mim com suas amigas. Transo com elas. Prometo ligar, mas isso nunca acontece. Sorrio sem vontade. Digo que não vendo meu antigo apartamento porque está valorizando, mas a verdade é que não consigo me desfazer dos meus melhores momentos, que estão presos ali. Não trabalho porque gosto de me torturar, de me culpar. Encontrei você e finjo que sou estúpido, quando, no fundo, jamais agiria assim com qualquer pessoa, ainda mais uma mulher.
Mantenho meus olhos nele e respiro fundo.
— Era isso que queria ouvir? — pergunta, bebendo a água que o garçom trouxe novamente.
Balanço a cabeça.
— Foi um bom recomeço. Talvez merecêssemos uma trégua.
Era a minha vez de estender a mão. Eu não entendia porque tentava tantas vezes com ele, mas também não queria ficar buscando uma razão que eu sabia ser impossível de encontrar.
Ele concorda e nossos ânimos se acalmam.
O almoço chega e finalmente nos ocupamos com algo que não seja criticar e analisar um ao outro.
— Eu sabia — digo.
— Sabia o quê?
— Que você não era assim tão rebelde — falo no mesmo tom que ele usa quando quer me atacar.
Seu sorriso torto volta a figurar em seu rosto quando ele engole a comida e questiona:
— Em que momento você percebeu isso?
— No momento que disse que tinha perdido a esposa. Alguém que sente um amor tão grande não pode ser um idiota completo.
Ele abaixa o olhar. Havia funcionado.
— Obrigado.
— Não tem de quê.
— É engraçado dizer isso, mas acho que você e Daniela se dariam bem.
— Eu e sua irmã? — sorrio. — Pode acreditar que não.
— Ela também não é assim.
— Eu não disse nada. Apenas quero dizer que se ela não me conhece, não deveria vir apontando o dedo.
— Você tem irmãos, Letícia?
— Não.
Admitir que sou filha única me remetia à solidão. Acho que era porque eu via meus amigos de Porto Alegre com seus irmãos como companhia 24 horas, enquanto eu ia dormir sozinha e brincava sozinha em casa. Lembro de implorar a meus pais por um irmão, mas foi em vão.
— Daniela só me protege demais. Na verdade, nem sei o que farei com ela depois do que fez aqui.
— Deveria agradecer pela preocupação, mas deixe claro que somos apenas amigos.
Por alguma razão, aquilo o surpreende.
— Amigos?
— Não é isso que quer? Não foi por isso que exigiu que sua terapia fosse fora do consultório?
Ele remexe na sua comida, repentinamente perdendo o interesse por ela.
— Não, eu...
— Sinceridade.
— Apenas queria conhecê-la melhor. Já disse que você me intriga.
Respiro fundo.
— Agora sim você está sendo sincero. Posso lhe dizer o número de pessoas que tentaram fazer isso. Que tentaram se aproximar. Infelizmente, devo insistir que a nossa amizade tem âmbito profissional. Você entende?
Ele não responde.
— E o que fez? – pergunta, voltando a comer.
— Hum?
— O que fez com as pessoas que tentaram se aproximar?
— E eu nunca permiti que acontecesse, Conrado. Me afastava.
— E por que aceitou esse desafio, então?
Sorrio, erguendo meu copo na direção dele.
— Porque ele começou antes mesmo de você começá-lo.
— Então quer me consertar?
— Não. — Sorrio. — Quero que seja feliz.
Ele aperta os lábios.
— Eu estava errado.
— Você já disse isso.
— Tirei conclusões erradas sobre você, Letícia.
Agora estava ficando interessante.
— Não sou mais uma farsa?
Ele levanta as mãos.
— Não sobre isso. Ah, não vamos começar de novo, não é?
Eu queria que a raiva voltasse. Queria ter coragem para deixar tudo isso de lado e voltar à minha rotina perfeita.
Conrado viu em mim o que eu lutava diariamente para esconder, mas algo em mim fervia. Era a vontade de vencer, de fazer a diferença. Eu iria conseguir. Ah, iria!
Talvez assim eu consiga dormir algumas noites sem nenhum tipo de intervenção.
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