Capítulo 3
O estrondo da porta batendo me faz sobressaltar. Fico sentada, petrificada, tentando processar o que tinha acontecido ali.
O que esse homem queria quando resolveu marcar uma consulta comigo? Uma coisa era certa: ele não queria ajuda. Não com essa fúria e com tanta dificuldade em compreender o outro.
Em vez de raiva, eu sentia pena dele. Não gostava quando isso acontecia, mas foi inevitável. Ele ainda tinha muita coisa para superar.
Depois que me recupero do choque, organizo algumas coisas no consultório para ficar mais calma. Não queria voltar para casa agora, pois sabia que não conseguiria dormir.
Ajeito as revistas da sala de espera e tento me ocupar com alguma coisa inútil, mas Conrado não saía da minha cabeça. Suas expressões e sua forma debochada me deixava curiosa.
Ele queria apenas me confrontar.
Em nova tentativa para desanuviar a cabeça, anoto num bloquinho as mudanças no design da sala que estava com vontade de fazer, caminhando de um lado para o outro para passar o tempo.
De repente, o som de trovões ao longe ressoam do lado de fora e me assustam. O dia havia sido bastante quente e conseguia agora a tempestade começava a se formar..
Já passava das 21h. Pego minha bolsa, meu celular e a chave do carro, tranco o escritório e aciono o alarme com pressa.
Já do lado de fora sinto os primeiros s pingos caindo. Coloco a bolsa e cubro minha cabeça com ela, caminhando rapidamente até onde o meu carro está estacionado, poucos metros dali.
Com a coordenação motora não muito estável, demoro uma eternidade para abrir o carro.
Até que, em meio ao aguaçal que estava começando a cair, observo que meu pneu dianteiro esquerdo estava furado.
Ah, não! Não é possível.
Olho de um lado e para o outro. Ninguém na rua. Pressiono o pneu com o pé e constato que estava não havia condições de andar dez metros desse jeito.
Com o celular na mão, abro o aplicativo de táxi. Nenhum disponível na localidade. Uber, nada. É claro que eu não conseguiria nada com essa chuva.
Merda! Merda!
Meu Deus, será que foi o Conrado que fez isso no meu carro?
A hipótese é consolidada à minha frente, quando o vejo mais adiante na chuva que começava a apertar, com um guarda-chuva na mão.
— Estava te esperando.
— Hãm?
Como é?
A tempestade torrencial enfim cai.
Conrado se aproxima E, involuntariamente, dou um passo para trás.
Eu sei lá o que esse homem é capaz de fazer depois daquela sessão?!
Sem me dar tempo para sair correndo ou até mesmo para gritar, Conrado segura meu braço e me puxa para perto de si, para debaixo do guarda-chuva.
— Quer se molhar? – pergunta ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo ele estar ali me esperando.
O vento forte rapidamente inutiliza o guarda-chuvas de Conrado. Estávamos ficando ensopados.
— Vem! — grita ele, perto do meu ouvido. O barulho da chuva era tão alto que mal dava para ouvir o homem à minha frente, porém meu estremecimento por conta da aproximação dele foi sentido por ele com sucesso. — Meu carro é esse da frente.
Eu deveria parar e pensar. Deveria negar. Deveria fugir. Deveria agradecer, entrar em meu próprio carro e dormiria ali mesmo. Com sorte eu não seria assaltada. A possibilidade de passar por essa violência me causa uma aflição terrível. Mas talvez ainda é menor do que aceitar ir para o carro de um homem desiludido com a vida que, provavelmente, furou o meu pneu só de raiva.
Talvez fosse melhor voltar para o consultório, mas o pavor de ficar a madrugada olhando para o teto me deixava angustiada. Não durmo bem em casa, lá, então... e, fora que, não tenho o meu santo remédio no meu ambiente de trabalho, para não deixá-lo acessível a qualquer paciente.
Dane-se! A chuva estava acabando com a minha escova no cabelo.
Deus sabe o quanto cogitei todas as opções. Deus, eu não tinha outra! Ajude-me!
Aceito o convite dele, assentindo com a cabeça.
Corremos juntos pelo estacionamento, ficando encharcados pelo dilúvio.
Ele abre a porta do carona para mim e eu entro sem pensar mais.
Conrado dá a volta. Na minha cabeça, só vinha: fuja! Fuja enquanto há tempo!
Mas não faço isso e ele entra no carro. Fico imóvel.
Ele passa a mão no rosto e nos cabelos.
— Está tudo bem? — pergunta, olhando para mim. Gotas de chuva descem pelo seu rosto e se acumulam em sua barba por fazer.
Apenas faço que sim, sem encará-lo e sem conseguir pronunciar uma palavra, tamanho o meu pânico.
— Seu pneu está furado. Deixa a chuva diminuir que eu troco pra você, tá?
Hã? Estava arrependido?
Meneio com a cabeça novamente.
— Não precisa. Amanhã eu dou um jeito. O que você estava fazendo aqui até essa hora? — murmuro, enfim recuperando a minha coragem.
Ele solta um suspiro e vejo sinceridade em seus olhos.
— Eu queria te pedir desculpas.
Aquilo definitivamente me surpreende.
— Pelo o quê? Por ser agressivo comigo ou pelo pneu do meu carro?
Não consigo controlar o veneno em minhas palavras. E queria ouvi-lo confessar a atrocidade.
— O quê? Você acha que eu faria isso? — Ele fica aborrecido com a acusação. Arrependo-me imediatamente da pergunta. — Não sou louco. Jamais faria isso!
Seu espanto é tanto que fico constrangida. Claramente ele está falando a verdade.
— Desculpa. Desculpa... eu estou nervosa e acabei falando besteira. Desculpe mesmo. Você... você me deixou nervosa, Conrado.
Ele relaxa o semblante e sua expressão inicial volta.
— Queria te pedir desculpas por como agi lá no consultório, eu não queria. Estou me sentindo péssimo.
Franzo o cenho. Como é?
Sua voz era calma e, pela primeira vez, amigável.
Aproveito a deixa e faço a pergunta que está me consumindo.
— Por que veio? Por que quis se consultar?
— Estava intrigado.
— Intrigado?
— Por você.
Arregalo os olhos e desvio o olhar.
— Eu acho que me expressei mal... Depois de que tudo aconteceu comigo, com a minha esposa... ver alguém com essa história de perseverança, de recomeçar da melhor forma, de... Ah, eu estou revoltado com isso e não posso mais descontar nas pessoas. Aliás, eu já conhecia a sua história, Letícia.
É claro que conhecia!
— O que suas irmãs dizem? — Minha tática era mudar o teor da conversa de forma simples.
A pergunta o faz ficar com a cara amarrada novamente.
— Isso é uma consulta?
— Não. Pode ser apenas uma conversa amigável – faço uma pausa. — Bom, se quiser.
Ele me encara. Essa encarada dele era bem irritante às vezes.
— Elas me induzem a procurar ajuda.
— Foi o que imaginei. São quantas? — questiono, com um sorriso.
— Quantas o quê?
—Irmãs. Você disse irmãs, mas não disse quantas.
— Duas. Apenas duas.
Sorrio mais abertamente.
— Sorte a sua. Sou filha única.
— Sorte é uma coisa que não tenho, Letícia.
Respiro fundo. Eu estava indo bem... Bem até demais. Não iria começar a questionar suas tristezas, não agora.
Volto a focar no assunto mais leve.
— Qual o nome delas? São mais velhas?
— Daniela e Marina. Sou o filho do meio.
Estávamos progredindo.
— Hum... isso deve ser bem legal. Eu realmente não as vi no dia do bar.
— Elas já tinham ido embora. Na verdade, só apareceram para me tirar de lá.
Arqueio as sobrancelhas. Estranho...
— Hum.
— O noivado da minha irmã foi ali naquele hotel. Naquele dia.
— Oh! Que coisa boa! A mais velha ou a mais nova?
Ele estreita o olhar. Estava percebendo a intensão das minhas perguntas.
— A mais nova.
— E para quando será o casamento?
— Ela acabou de noivar.
Óbvio, sua tonta! O que você estava falando?
— Hum... entendi. — Sorrio sem graça.
A chuva continua forte.
— Vou te levar para casa — diz ele, colocando a chave na ignição.
Não discuto esse oferecimento e agradeço baixinho. Queria mesmo que esse dia acabasse logo.
Meu apartamento era a 10 minutos dali. Vou indicando o caminho rua a rua até chegarmos.
— Se quiser conversar mais um pouco e se abrir comigo, Conrado, sabe onde me encontrar — falo, por fim, voltando ao meu modo profissional.
A tempestade já havia cessado, deixando apenas uma leve garoa. Era chuva de verão. Normal.
— Obrigada pela carona – continuo, e coloco a mão na maçaneta da porta.
— Não por isso, Letícia.
Sorrio em retribuição e saio do carro, mas, antes de me afastar totalmente ouço-o me chamar pelo nome.
Viro-me de volta e ele abaixa o vidro.
— Naquele dia, no bar... você disse que estava comemorando.
— Isso.
— Era o seu aniversário?
— Não. Não era, mas tenho meus motivos para comemorar aquele dia — respondo categoricamente.
Ele concorda, apertando os lábios.
— Era o dia que o tal avião caiu, não é? Desculpe, é que li uma reportagem naquele dia relembrando o acidente.
Sua pergunta me causa desconforto. Todos sabiam. Todos lembravam. Eu não tinha para onde fugir de perguntas como aquela.
Sinto o desconforto tão presente na minha vida! Era como se o abismo que escalo diariamente me tragasse de uma só vez.
Engulo com dificuldade e reajo da forma que mais sabia fazer: mentindo para mim mesma. Sorrio e concordo.
— E eu não deveria ter motivos para comemorar? — questiono-o com a voz estremecida.
Ele estreita o olhar.
— Deveria, Letícia. É claro que deveria.
***
O celular toca alto em algum lugar no meu apartamento. Deixo o copo de suco de caju na mesa da cozinha e vou até a sala para atender.
— Oi, mãe.
— Bom dia, querida, como está?
Volto para cozinha e engulo o resto do suco.
— Estou bem e vocês?
— Estamos bem também. Sua tia Margarida pegou uma gripe, menina! Foi um problema pra sarar. Ah, seu pai está aqui mandando um beijo pra ti.
— Mande outro.
— Quando virá nos visitar?
Essa era a pergunta que ela mais fazia. Nesses últimos dois anos, estive em Porto Alegre na maioria a trabalho. Foram apenas duas visitas rápidas em casa.
— Mãe, estou tão atolada! Preciso organizar minha agenda para isso. Talvez em maio.
— Maio estaremos em Punta, filha. Já te contei isso.
— Del leste?
— Cana! Punta Cana. Queremos praia e seu pai está eufórico por essa viagem.
— Eu imagino. — penso um pouco. — Então posso ir em junho. Final de junho.
Não tinha nem certeza se poderia, mas precisava dar algo a minha mãe.
— Junho passaremos em Gramado. Lembra da Josiane?
— Não — digo, caçando a minha bolsa pela casa.
— Aquela que morava perto daquela sua amiga, que o pai era o dono do mercadinho aqui perto?
— Não lembro, mãe.
Encontro a bolsa.
— Ela trabalhou com seu pai e depois descobriram que eles eram primos distantes. Ela é neta da tia-avó Mercedes.
— Lembrei! — minto. Dona Irene jamais desistiria.
Eu sabia a quem tinha puxado!
— Ah! Ela tem uma casa lá em Gramado e nos ofereceu ficar lá por uns tempos. Pensei que poderíamos passar um mês. O que acha de ir ficar alguns dias conosco?
— Dias? Não vai dar, mãe. Não estarei de férias nessa época.
Ouço um riso abafado do outro lado do telefone.
— Férias? Você não tem férias, minha filha! Você precisa relaxar, Letícia...
Ouço um barulho na linha.
— Oi. Oi, filha... sou eu, seu pai.
— Eu sei que é você, pai — sorrio.
Posso imaginar a cena dele tirando o celular da mão dela.
— Vamos para Gramado? — sua voz sai tão animada que até me contagia.
— Então... estava falando pra mãe que...
— Trabalho, trabalho... vai esperar a idade chegar para aproveitar?
Epa! Peraí!
— Vocês não estão fazendo isso?
— Estamos, mas, ao contrário de você, nós não tínhamos dinheiro para aproveitar enquanto éramos jovens.
Solto um longo suspiro.
— É, eu sei. Mas não posso deixar meus pacientes na mão.
— Eles não ficariam bravos por causa de uma semana.
— Vou pensar com carinho, está bem?
— Boa menina.
— Bom, pai, agora tenho que ir. Ontem o pneu do meu carro furou e ainda tenho que resolver isso.
— Nossa, filha, essas coisas acontecem, fica tranquila. — E, quando eu menos esperava, ela acrescenta: — Às vezes um homem em casa pode ajudar nessas coisas.
Eu odiava o machismo dele. Muitas vezes eu fazia coisas apenas para provocá-lo, só para lhe dizer que eu era mulher, mas que poderia fazer tudo o que queria sem precisar de ninguém.
— Eu tenho capacidade para trocar o pneu, pai. O problema é tempo, e ele é escasso. Tenho que cumprir a minha agenda. — Então decido que é melhor encerrar logo essa conversa. — Eu preciso mesmo ir.
Uma coisa era certa: a pressão para voltar em definitivo a Porto Alegre passou depois que eles perceberam que a minha vida teria que ser aqui, no Rio de Janeiro. Porém com isso o foco havia mudado: agora eles queriam um marido para mim. Você não está namorando? Quer ficar igual à sua tia Hermínia?
Hermínia era uma tia solteirona que criava 23 gatos no próprio apartamento, cheirava a mofo e tinha os cabelos todos desgrenhados. Eu tinha medo dela. Jamais seria assim! Confesso já ter tido pesadelos macabros que me faziam conviver com aquela gataria de todos os tamanhos e cores, e no final eu morria sozinha no apartamento e meu corpo alimentaria os gatos por meses afinco. Sempre acordava meio paranoica com essa mísera, ou melhor, nula possibilidade.
— Ah! Preciso te falar uma coisinha... — Ele abaixa o tom da voz. — Sabe o que é? Então, eu e sua mãe extrapolamos esse mês no cartão de crédito e acho que ficaremos apertados para viver o restante do mês. — Ele solta uma risadinha cúmplice. — Sabe como é, não é? A nossa aposentadoria não é lá essas coisas.
Respiro fundo. Eu não me importava com isso. As viagens, na maioria das vezes, eram financiadas por mim. Eu até gostava disso. Queria mesmo que eles aproveitassem a vida e que mamãe estivesse com a mente ocupada. A "mesada" paga a eles compensava.
— Amanhã farei o depósito de uma boa quantia para vocês, ok?
— Obrigado, minha filha. Você é ótima.
— Qualquer coisa, me avise, tudo bem?
— Pode deixar. Um bom dia para você. Te amamos.
— Também, pai. Beijos.
Encerro a ligação e chamo um táxi pelo aplicativo. Em seguida, ligo para a seguradora do carro solicitando a troca do pneu. Não, eu não teria tempo para trocar esse pneu!
Hoje eu atendo apenas na parte da manhã no consultório e tenho marcado uma palestra em uma empresa em Niterói, ou seja, o dia estava cheio.
Minutos depois o táxi chega e em pouco tempo chego ao local onde meu carro está estacionado. Pago e agradeço ao taxista pela rapidez.
Saio do automóvel e dirijo-me ao meu. Dou a volta no carro e percebo que o pneu já estava trocado. Uau! Valeu a pena fazer esse seguro!
Satisfeita, vou para o consultório. Anoto mentalmente que deveria deixar um elogio no site deles. Merecem!
Na sala, encontro Carol sorridente e um paciente já na espera. Cumprimento-os e olho discretamente para o relógio digital enorme que mandei pôr na parede, em cima da mesa da Carol. A consulta estava marcada para às 9h, eram 8 e a pessoa já batia continência.
Entro no escritório e repasso rapidamente a palestra de hoje, antes de começa a atender.
Atendo ao homem que já está aguardando e ganho dez minutos de intervalo até o próximo paciente. Fico à espera do próximo quando Carol liga para a minha mesa.
— Doutora Letícia, tem um rapaz aqui dizendo que é da seguradora do seu carro. Veio trocar o seu pneu.
— Hã? Não, não... ele já foi trocado. Avise que... deixa! Já estou indo aí.
Decidida que era melhor tirar aquela história a limpo, vou pessoalmente até a recepção.
— Olá, bom dia — digo para o homem de macacão azul da seguradora, com uma caixa de ferramenta na mão e uma cara amarrada.
— Bom dia, dona, vim trocar seu pneu. — Ele ergue um papel. — Essa foi a sua solicitação, hoje, às 7 horas da manhã, confirma?
— Eu confirmo...
Ele faz que sim com a cabeça.
— Everaldo.
— Bom, Everaldo, acho que o pessoal se equivocou. Eu solicitei, sim, a troca do pneu, mas alguém já veio e trocou antes.
— Trocou? — Ele visualiza o papel em sua mão e coça a careca. — Mas sou o único mecânico da região, senhora. Você se lembra do nome dele? Preciso ligar para a empresa e procurar saber o que aconteceu.
— Na verdade, eu não o vi. Quando cheguei estava trocado.
— E não trocaram pelo step?
Step? Não! Ih, nem pensei nisso! A apólice incluía outro pneu?
— Não. Eu nem abri o carro — explico, me sentindo meio idiota.
— Então, dona, não foi a gente, não, viu.
Então uma possibilidade vem à mente: Conrado! Só poderia ter sido ele.
— Eu já imagino o que tenha acontecido... peço desculpas pela confusão, senhor Everaldo. Se quiser, posso assinar o documento e confirmar sua troca. Pode ser?
— Faria isso? — Os olhos dele ficam alegres.
— Claro. — Assino o papel na mesa da Carol, que fala ao telefone.
— Se não for pedir demais, dona Letícia, será que poderia me dar um autógrafo? Minha esposa e minha filha são suas fãs. Nem vão acreditar que estive na sua frente se eu não levar uma prova.
Sorrio para ele. Toda vez que isso acontecia era fofíssimo.
Carol, com o telefone em um dos ouvidos, estava ligada em tudo. Falando com um paciente, ela abre a sua gaveta e retira um cartão grande com uma foto minha. Eu sempre as tinha por perto, para o caso de algum pedido como esse. Pergunto o nome delas e faço uma dedicatória bonita.
O homem sai feliz e agradecido. Pelo menos não perdeu sua manhã.
Agradeço à Carol e volto para a minha sala.
Agora eu estava incomodada. Não poderia ter sido outra pessoa! Conrado veio e trocou meu pneu por outro! Ele é doido mesmo!
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