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Com Sangue

Quase todas as noites plateavamos no Facebook troca de poemas. O grupo era fechado o que nos dava alguma liberdade.

Ele em Lisboa. Ela no Uíge.

Não nos conhecíamos. Apenas uma foto que às vezes nem é verdade do rosto. Mas na realidade pouco importava.

A força da palavra, enrolada muitas vezes em enigmas, eram desafios que ambos adorávamos. Muitas vezes circundavam o cortejo, outras a incógnita, mas o facto é que Ele começou a sentir nela uma inteligência que o fascinava.

As comunicações nem sempre eram faceis. Os dados moveis na Europa eram mais acessiveis. E, por vezes, era díficil a ligação. Nesses dias, Ele entristecia-se como um garoto.

O tempo ia-o iluminando sobre a maneira de ser dela ou como Ela seria na verdade. E fascinava-o, pese embora tivesse uma filha com essa mesma idade.

Por seu lado, Ela sentia um desafio de me descobrir. A sua inteligência e intuição feminina sabiam equilibrar o relacionamento, mais que improvavel.

Mas a criação dele quase que entrelaçava na sua. Por outro lado sentia uma experiência humana que muitos dos seus amigos não tinham.

Um dia Ele atreve-se a liga-lhe telefonicamente pelo WattsApp. Foi uma surpresa. Falaram tempos sem fim.

- Eu sou na terra do mítico café! Uige!

Era o «empurrão» que Ele precisava de ouvir. O grão do café era o aroma da sua infância.

Adorava ver o ritual com o balão de vidro com uma lamparina em alcool. A pausa estratégica onde os meus antepassados aproveitavam para falar.

Enquanto Ela falava Ele ia aquecendo como o balão com a água que ao ferver subia por aquele tubinho de vidro e mesclava-se com o pó castanho.

- Não te sentes inspirada? Tenta improvisar algo para ouvir!

Os seus versos eram amargos, como o café arábico das terras altas do Uíge, mas o sotaque africano levava-me outra vez à mesa de jantar onde agora o café fervia ao som da colher de mistura para libertar o aroma levando alguns dos tios a puxar da cigarrilha.

Depois daquela chamada vi o café descer por onde a água quente subiu, saboreando as palavras daquela longa conversa. Pela primeira vez senti o choque da tristeza.

O facto é que Ela acabou por contar que a sua terra vertia muito sangue derramado. Guerras fratícidas e de libertação, que durante décadas assombraram aquelas gentes. O pai, um bravo combatente, faleceu, não da luta, mas do desgosto pelo abandono das autoridades a muitos antigos herois que tiveram a pouca sorte de não ficar na lista.

Por outro lado Ele caminhava de uma depressão, por motivos de perseguição política por se recusar a aceitar determinados padrões. Devassaram-lhe a vida como se ainda exitisse uma polícia de defesa do estado, com técnicas semelhantes de não o deixar descansar, fazer sofrer e rodeado de informadores.

Ao deitar-se ainda lhe enviei um poema, «O Tango», que sendo um dança ardente não deixa de carregar a amargura da vida.

Depois de clicar o envio, naquela plataforma de poetas, sinto um arrepio parecendo-me um toque de um pingo de uma lágrima. E de facto, a mensagem de resposta não tardou, com um coração e o bonequinho amarelo (emoji) a chorar.

Assim foi rolando este «namoro» muito brando, com «altos» e «baixos» como tudo na vida.

Um belo dia Ele recebe uma proposta de trabalho. E passado um mês lá está Ele a entrar no avião para Luanda. Iria para o Uíge trabalhar com as autoridades provinciais num contexto de assistência técnica.

O cabelo branco escureceu, as rugas sumiram e o sorriso voltou. Nada lhe disse. Queria-a surpreender com a sua chegada. Levava uma mala cheia de livros de poetas famosos, como Fernando Pessoa, ou até Mário Pinto de Andrade, Eugénio de Andrade, Bocage, Camilo Pessanha e Cesário Verde.

A viagem era mesmo uma eternidade. Quase dois dias para chegar à capital Uíge depois do avião e de um percurso nada amigavel, com curvas, imensas crianças, e gente «escondida» nas bermas a cortar o capim ou mandioca, tão denso que ficavam praticamente invisíveis.

Um despiste era morte fatal destes inocentes.

A entrada no Uíge foi algo memoravel. Uma cidade destruída pelo tempo mas com uma vida de encher o coração. Senti um misto de passado e de tristeza. A arquitectura dos edifícios era me familiar. Mas tanta casa sem porta, janela, ruas esburacadas. O peso de conflitos ancestrais com irmãos e invasores, não passavam despercebidos. Mas nem por isso a vida se perturbava. Uma alegria de côr, carros, motoretas, estudantes de bata branca girando aleatoriamente mas sem fazer ruído. Fechando os olhos, sentia apenas os guinchos das motoretas que contornavam tudo e todos.

Fiquei no Pinguim. Uma residencial recuperada do tempo da administração portuguesa,  que não prescindia de ter a bica, o pastel de nata ou mesmo o pão de leite.  Aquele ambiente familiar fez-me telefonar à minha correspondente. Era assim que se tratavam os amigos que outrora comunicavam por correio aéreo.

Curiosamente não atendeu. Insisti e nada.

Fui para o quarto que tinha tudo o que era essencial. Bem pequenino e o lavatório de criança. Mas nada que não se resolvesse. Depois do banho quente toca finalmente o telemovel. Era Ela.

Não sabia que número era aquele. Claro, não a avisei. Estava no Uíge, a tomar um banho para ser recebido.

Fez um silêncio.

- Já não moro no Uíge faz algum tempo. Estou em Luanda. Peço desculpa. Devia ter-me avisado antes!

Nem mais. Estas surpresas a mais de 7.000 km de casa por vezes dão nisto.

Fiquei um pouco triste mas combinei que no fim de semana iria vê-la a Luanda.

Combinámos então no sábado um almoço no Clube Náutico.

Finalmente o dia. Saio muito cedo, com o sol a raiar pelas 4 da manhã. A viagem eram cerca de 6 horas, sem contar com imprevistos.

No posto fronteiriço provincial, entre o Bengo e o Uíge, o chefe olha-me bem na cara:

- Qual é o seu clube?

Não gosto de futebol, e o meu clube é o Vitória de Setubal. Mas joguei pelo seguro: Benfica!

O sorriso do ancião quase que me acreditava. Abraçou-me e garantiu-me:

- Este ano vamos ser campeões! E já sabe sorte ao jogo....

Nem mais, azar no amor.
E a viagem lá prosseguiu até ao hotel na Ilha de Luanda, não muito longe do local do almoço.

Cheguei antes do tempo impecavelmente lavado, perfumado, barbeado e com roupa de cor branca, a combinar com os meus cabelos. Estava a tomar um aperitivo quando a reconheço ao entrar.

Alta, sapatos esguios, vestido com tons floridos acima do joelho e um decote discreto. Trazia um fio dourado que ficava tão bem no seu tom de pele.

Levantei-me tendo Ela me reconhecido. Ficámos uns instantes a sorrir com a piadinha de vergonha mas nos abraçámos da alegria de finalmente nos encontrarmos.

O almoço correu bem com uma conversa suave e com poucos rodeios. Tinha arranjado emprego em Luanda e as condições eram bem melhores que o antigo trabalho no Uíge. No entanto, na altura do café, Ela sorri e diz-me:

-Levas-me na volta para o Uíge? Tenho assuntos a tratar e assim aproveitava a tua boleia.

Porque não?  Uma viagem quase sem fim com uma companhia agradável, falando de cultura e poesia, em concreto.

Depois do almoço, bem longo, despedi-me combinando ir buscá-la bem cedo a Talatona, que era o bairro onde vivia. O ideal seria chegar ao Uíge ao almoço, ficando desde já convidado para ir a casa de seus tios almoçar.

A tarde de sábado fiquei no hotel a digerir toda aquela conversa. Ela era muito interessante e inteligente. Mesmo jovem, sabia o que queria da vida e, tal como eu, teve de perdoar as amarguras do passado.

Tudo isto faziam-me criar expectativas, sempre sonhando com algum momento menos próprio.
- Tontices de velho!
Rematava eu para o tecto do quarto, saboreando o fresco do ar condicionado, sem deixar de olhar para o celular. Será que Ela gostará de um poema surpresa que marque para sempre esta nossa primeira refeição?

Talvez não. A imprudência sempre foi má conselheira. Uma coisa são desabafos a 7.000km outra coisa é estar perto da realidade.  A proximidade sem dúvida que esbarra com o surrealismo das redes sociais.

No dia seguinte, Domingo, o trânsito em Luanda adormece, e sendo cedo não foi difícil chegar a Talatona, estando já à minha espera no local combinado.

Desta vez vinha com uma T-shirt alaranjada bem justa realçando o corpo de mulher na força da vida. Os calções em caqui, também justos, não me deixaram pegar bem na bagagem. O aroma do perfume que Ela emanava, junto da bagageira, deixou-me instável, dissimulando que não me lembrava bem do caminho para a Estrada do Bengo.
- Queres que eu conduza?
Mesmo a viatura sendo da empresa, uma nacional a conduzir é sempre melhor que um estrangeiro. E assim ia muito mais tranquilo, principalmente quando parava nas barreiras policiais.

A viajem decorria normalmente. Ela era atenta e sabia como lidar com o tráfego daquelas bandas. Sem tirar os olhos da estrada alimentava a conversa sem problema.

As minhas hormonas às vezes davam sinal, principalmente quando o vento "amaciava" os seus cabelos tornando todo aquele perfil numa mágica que alimentava a minha imaginação. Ela devia de notar, mesmo sem ver, porque sorria com a matreirice das mulheres astutas:
-Gostas da paisagem? Agora aí nesse lugar podes ver bem a beleza angolana.

E ria-se quase me deixando sem saber o que responder.

Lembrei-me do malão cheio de livros.

-Tenho uma surpresa para ti!

O olhar dela ainda ficou mais matreiro. O que será?

Na barreira policial perto do Caxito, quando estávamos em fila, deita-me um olhar marcante. Os olhos negros pareciam explodir.
- Tu és mesmo um cavalheiro. Sabes bem como tratar e respeitar uma mulher. Adoro estas tuas atenções.
O sinal de perigo acendeu-me o peito, mas nada disse aproveitando o carro andar e parar junto ao polícia.

Depois da barreira, em plena estrada, onde o silêncio se tornava cada vez mais pesado, abranda a viatura junto a um cruzamento para uma picada.
- Queres vir conhecer o paraíso?
Olhava para mim fixamente. Tira o cinto de segurança aproximando-se de mim.
Pega na minha mão beijando-a e depois puxando-me para si os lábios tocam-se suavemente.
Fazendo-lhe uma carícia na cara apelo ao bom senso, num tom suave e, na verdade, pouco eficaz. Esta diferença de idades deixava-me incomodado.

Mas o corpo humano nem sempre funciona com sensatez e acabei por a abraçar com força beijando-a com a vontade que ambos sentíamos.

Senta-se ao volante rindo-se para mim. Avança pela picada com velocidade ao som do "bip" sem o cinto de segurança, olhando-me com malícia e às vezes oferendo-me a mão.

- Vamos a uma cascata linda onde estaremos sós por nossa conta!

E ria-se com a malandrice da juventude fazendo da minha cabeça um parafuso sem fim onde não conseguia encontrar uma razão que me parasse.

O sonho prometia até que de repente sinto-me no ar onde num instante parecia entrar num paraíso.

O tempo parou de repente até que sinto alguém bater-me na cara. Uma dor forte na perna esquerda e o desagrado de algum sangue a correr.

Quem nos ajudava tudo fazia  para me tirar do carro. Sem meios alguns camponeses lamentavam-se ao longe com uma mistura de zumbidos fortes que me atormentavam.

Por fim lá me conseguem tirar pela traseira começando a sentir fortes dores na parte inferior da perna direita.

De repente lembro-me dela e tento-me levantar, mas as dores e um homem não me deixaram.
- A rapariga? Como está a rapariga?

A mina foi mortal. Apanhou-nos como a qualquer outro, como num jogo de sorte ou azar.
A minha camisa e cara estavam cheia do seu sangue, como que um abraço não se quisesse separar.

A dor agora invadiu-me totalmente. O choro leva as minhas lágrimas a lavar as provas daqueles momentos mágicos de sonho arrastando aquele seu sangue para a eternidade.

Uma senhora tenta-me dar apoio como uma mãe que vê seu filho numa aflição. Tenta pôr me a cabeça na sua perna para sentir mais conforto. O seu sorriso terno com o branco forte daqueles dentes, fez-me pedir-lhe que guardasse estas minhas últimas palavras, porque o peso dos remorsos consumia-me a responsabilidade de ter sido tão imaturo:

"Normalmente sangue significa dor ou morte!

Mas nós não vivemos sem sangue.

Sangue é vermelho nos humanos que não entrem na morgue.

Em todos e todas seja qual fôr o gangue.

Mas quem dirá que em Isabel corre de outra côr,

Tornando-a numa nobre e gentil flôr."

(2136 palavras)

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