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PRÓLOGO

Com seu vestido estampado com flores vermelhas e os cabelos amarrados em Maria Chiquinha, ela procurou o lugar mais escondido para se sentar. O culto estava terminando e ela não conseguia segurar o choro por mais um minuto. Queria colocar para fora tudo que sentia, mesmo ainda tendo apenas sete anos, ela sabia que conversar com Deus era a melhor maneira de aliviar sua dor.

ㅡ Deus, por favor... me diga o que fazer para ela gostar de mim. Eu tento de várias formas, mas não consigo o amor dela. Por que eu sou tão diferente? O que eu tenho de errado? Eu ficaria muito feliz em receber apenas um abraço, um eu te amo, mas parece que não sou boa o suficiente para isso. Faça com que ela goste de mim. Em nome de Jesus, amém.

Ao terminar a oração, seus olhos começaram a derramar lágrimas, e ela acabou se entregando ao choro, agradecendo pelo som do louvor não estar deixando ninguém escutá-la.

Alguns segundos depois, sentiu alguém acariciar seus cabelos. Seus pensamentos se iluminaram ao pensar que seria ela. Então levantou o olhar com expectativa, deparando-se com sua pastora. Sua decepção foi tamanha, que a mesma chorou ainda mais.

ㅡ Ei, meu amor. Por que você está chorando? ㅡ A pastora esperou por alguma resposta, porém não teve nenhuma. ㅡ Você quer que eu chame sua mãe?

ㅡ Não! ㅡ Exclamou imediatamente.

ㅡ Mas por que não?

ㅡ Porque ela me odeia. É melhor a senhora não chamar ela.

ㅡ Não diga isso, princesa. Eu tenho certeza de que sua mãe te ama.

ㅡ Não. Ela não me ama. Ela pode até amar a Clára, mas a mim eu tenho certeza de que ela nunca amou!

ㅡ Olha... Mãe ama seus filhos igualmente, não tem um mais amado que o outro.

ㅡ Tem sim! Rebeca amava mais a Jacó que a Esaú.

Com essa afirmação, a pasto não teve como rebater. Sabia muito bem da história. Rebeca foi capaz de enganar seu marido por preferir seu filho mais novo enquanto Isaque preferia o primogênito.

ㅡ Vamos fazer o seguinte. Eu vou ter uma conversa com sua mãe e então nós vemos se você não está enganada. Eu sei que as vezes nós acabamos nos confundindo.

ㅡ Mas eu não me confundi. E se a senhora for falar com ela, as coisas só irão piorar!

ㅡ Eu prometo que não vou dizer que você me contou. Está bem?

A criança acabou se convencendo. Talvez aquela conversa ajudasse em sua relação com a mãe, porém o medo de que tudo poderia piorar não saiu de sua cabeça.

Ao findar do culto, a pastora teve uma conversa com a gentil e sorridente moça, sem falar realmente o que a triste menina havia lhe dito.

ㅡ ... Estou preocupada com Cléo, ela está meio tristinha. Provavelmente se sintae um pouco rejeitada. Talvez ela precise de mais atenção. ㅡ A pastora ainda pensava na conversa que teve com a menina. Não podia negar que a mesma parecia estar sendo sincera.

ㅡ Eu venho percebendo que ela está diferente, achei que poderia ser apenas uma fase, coisa de criança, mas eu continuo preocupada. A senhora pode ter certeza de que irei conversar com ela, talvez possa resolver...

ㅡ Então eu ficarei mais tranquila. ㅡ A pastora respondeu, porém ainda estava preocupada. Não sabia o que pensar daquele assunto. Será que Cléo era mesmo tratada de forma diferente?

Assim que elas terminaram a conversa, a pastora liberou a moça, que foi procurar por suas filhas para que pudessem ir embora. Ela chamou as duas assim que as encontrou e as três foram embora abraçadas.

Cléo estava contente por aquele contato, Provavelmente sua mãe queria lhe demonstrar que realmente a amava, porém a felicidade não durou muito, aquele sentimento não passou de mera ilusão. Uma ilusão que a menina foi capaz de aproveitar o quanto durou.

A casa da família não era tão pequena, muitas pessoas se perguntavam como dona Carmen conseguia sustentá-la depois de ser abandonada pelo marido. Mas apesar disso, ninguém fazia aquelas perguntas inconvenientes, uma mulher que lutava para dar tudo do bom e do melhor para as filhas nunca deveria ser julgada. Mas ninguém sabia o que acotecia realmente debaixo daquele teto.

A porta foi fechada com força, e o barulho só foi esquecido por Cléo quando contemplou o olhar bravo de sua mãe que era direcionado a ela.

ㅡ Sua menina idiota! Você tinha que abrir a boca para a pastora? ㅡ Cléo pensava que já havia visto sua mãe alterada o suficiente, mas nada se comparava com aquele momento.

ㅡ Mamãe... ㅡ A voz fina de Clara se fez presente. Ela sabia o que iria acontecer com sua irmã.

ㅡ Vá para o seu quarto. ㅡ Clara não teve escolha, não iria desobedecer sua mãe. Então a única coisa que ela fez foi se trancar no quarto. ㅡ Você vai aprender a nunca mais contar mentirinhas sobre mim!

Os olhos de Cléo começaram a marejar. Ela sabia que naquela noite não conseguiria dormir por conta de tanta dor. Não só a dor física que sentiu ao ser praticamente espancada, mas também a dor que seu coração reprimida.

Assim que deitou em sua cama não conseguiu parar de chorar e pensar o que fazia de errado para que sua mãe lhe odiasse tento.

ㅡ Está vendo o que fez? ㅡ Clára, pergunta furiosa ao entrar no quarto, seu furor diminuiu ao ver o sofrimento da irmã, porém continuou zangada. ㅡ Agora nós teremos que nos mudar por sua culpa! É tudo culpa sua!

Foi naquele momento que Cléo começou a pensar que só levava infelicidade para a vida das pessoas.

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