No dia seguinte, quando eu abri meus olhos, vi pela janela do meu quarto que o céu ainda estava alaranjado, o sol estava começando a surgir no céu, decidi levantar para tomar logo banho e passar o café.

Fui logo à cozinha e liguei à cafeteira, colocando o café para passar e fui ao meu quarto escolher a roupa, escolhi uma blusa de botão e manga longa azul bebê, uma calça branca que se ajustava às curvas do meu corpo.

Após escolher a roupa, fui tomar um banho, senti a ponta dos meus dedos massageando cada centímetro do meu couro cabeludo, como se ali pudesse ir embora as impurezas que estavam no meu corpo e na minha alma. 

Ter o Math ali comigo era bom, ele era meu amigo, mas sabia que a conversa do dia anterior não ia ficar por isso mesmo, ele iria insistir para que eu terminasse com o Austin, mas eu não podia terminar com ele, não agora que eu estava com a pessoa que mais amo no mundo, eu precisava tomar um rumo na minha vida, mas como decidir o que fazer? Como saber o que é certo e o que é errado? 

Quando sai do banho, meus dedos já estavam enrugados e o espelho embaçado, fui pro meu quarto e coloquei a roupa que já estava separada, peguei meu secador e sequei o cabelo para que pudesse prendê-lo sem danificar os fios,  decidi fazer um rabo de cavalo bem alto no meu cabelo, após terminar de pentear meu cabelo, iniciei a maquiagem, tentando sempre manter o mais natural possível, quando terminei de me maquiar, peguei uma sapatilha azul, e minha bolsa e já levei pra sala, deixando no sofá. Ouvi Math levantar e se encaminhar pra sala, vi uma ruga entre suas sobrancelhas. 

—  Estamos atrasados? — Ele me questionava, enquanto coçava os olhos com a cara ainda inchada demonstrando que ele tinha acordado há pouco.

— Não, eu que estou adiantada—  sorri sem mostrar os dentes—  vem, o café já está pronto. —  Math me seguiu até a cozinha, me ajudou a colocar a mesa para o nosso café da manhã, nos sentamos sem dizer uma palavra. 

— Liv, queria falar sobre algo contigo. —  Senti minha espinha gelar, tinha desconfiança que seria pelo que ele descobriu ontem, e eu realmente não queria brigar com ele, então eu ia protestar, mas quando abri minha boca, ele já me cortou. — É sobre algo que te falei naquele dia, que saímos com Theo— enquanto falava, ele ia movimentando as mãos e no momento em que  terminou de falar eu não conseguia tirar meus olhos dele, ao tocar no nome do Theo é como se mais nada tivesse importância— Quando eu disse que seria loucura você se apaixonar pelo Theo, não quis dizer por vocês dois, porque eu apoiaria você com ele, mas que caso você estivesse gostando dele você iria atrás da sua felicidade, certo? Se você se apaixonasse pelo Theo você arriscaria, não é? Largaria tudo para tentar ser feliz! —  Eu não conseguia piscar ou se quer responder, até porque eu não sabia se faria isso, será que eu largaria o Austin pelo Theo, o mesmo Theo que me deixou há anos atrás? Será que eu largaria o Austin e arriscaria perder a pessoa mais importante do mundo pra mim? Eu acho que não, o Theo merece ser feliz, merece alguém que o mereça e o ame sem reservas—  Olivia, existe alguma mínima possibilidade de você está gostando do Theo? Não como amigo, mas como alguém para ter um relacionamento?—  Eu não conseguia dizer que não amava o Theo como mais do que amigo, porque nem eu sabia se eu o amava assim ou não, Theo sempre foi meu porto seguro, mas eu nunca mais arriscaria perdê-lo na minha vida.  

— Eu  não quero falar sobre isso, podemos trocar de assunto por favor? — Disse o mais impassível possível, eu não tinha uma resposta, não queria pensar numa resposta, ainda mais sabendo que o veria essa manhã.

— Você precisa pensar nisso Liv, eu não quero te pressionar ou te deixar acuada, quero que você seja realmente feliz, e se o Theo for o seu final feliz, eu vou te apoiar nisso— desviei o olhar de Math, olhando para o meu copo de café, minha cabeça estava a mil, Theo era meu amigo tanto quanto Math, mas a minha relação com Math era totalmente definida, éramos amigos quase irmãos, já Theo ele sempre foi alguém que eu corria quando tinha problemas, algumas vezes corria até ele antes de mesmo de ir atrás de Alice.

Math se levantou, se aproximou de mim e me deu um beijo na testa, e se afastou me deixando sozinha com meus próprios pensamentos, uma avalanche de lembranças veio em minha mente, eu podia ver claramente uma versão mais nova minha e de Theo sentados de frente para a Baía, sempre ficávamos por horas ali após as aulas, nossos pais de início ficavam desesperados, depois se tornou natural, eu me lembro a última vez que fizemos isso, eu tinha tido a maior discussão da minha vida com a minha mãe e eu queria desabafar com alguém que me entendesse, e bem Théo sempre me entendia, ele chegou lá, com um chocolate quente pra mim e se sentou ao meu lado e não falamos nada por horas, ficamos só olhando a baía e depois de um tempo eu apenas apoiei minha cabeça no ombro dele e só sorriu, sem querer saber ou entender o motivo da briga, ele estava ali para ficar ao meu lado, aquilo me fez um bem danado, o rosto dele sereno com um resquício de sorriso, o céu tendo tonalidades meio alaranjadas, o sol ainda tocando o rosto dele, parecia que ele estava no paraíso, me lembro de querer ficar tão serena quanto ele, e após todo aquele tempo ali, ele me deixou em casa e foi para a casa dele da maneira mais tranquila do mundo. 

Por que ele teve que ir embora?

Meu coração sempre ficava apertado ao me lembrar do desespero de ir na casa dele procurar por ele e a mãe dele me dizer que ele já tinha ido pra Califórnia, e não deixou telefone, endereço, nada, nenhum tipo de contato. 

Aquele acontecimento tinha me destruído de muitas formas diferentes, acabou me deixando mais forte, me tornou uma nova Olivia, mas também me fez correr de todo e qualquer tipo de confronto, eu não gosto de brigar e nem ter a possibilidade de perder mais alguém nessa jornada. 

Se eu fechasse meus olhos eu conseguia ouvir a risada do Theo quando me via de mau humor pela manhã, eu podia ver a imagem do Théo sorrindo, o modo como os olhos dele ficavam pequeninos conforme ele as bochechas dele se destacavam e os dentes perfeitamente alinhados apareciam, eu conseguia sentir o abraço dele pela manhã e o cheiro do nosso chocolate quente, conseguia sentir o cheiro do perfume dele tão marcante e característico, ele estava marcado na minha memória como uma das minhas melhores lembranças.

Perdi um longo tempo dentre meus devaneios, pois quando voltei para a realidade, Math estava parado na porta da cozinha me olhando, com um olhar meio que preocupado mas ele sorria, sabia que ele estava se esforçando, eu sentia falta do meu amigo, e eu só consegui levantar e abraçá-lo forte e ele me retribuiu abraço, alisando meu cabelo.

— Vai ficar tudo bem Liv, não se preocupe, vai tudo passar, okay? —  Eu não sabia se ele estava falando comigo ou com ele mesmo, mas eu estava feliz de tê-lo ali comigo, Math era um irmão urso, alguém importante que eu nunca queria perder e não iria.

— O que acha de irmos logo? Não podemos nos atrasar. —  dei um sorriso fraco ao terminar a minha frase, ele soltou uma risada fraca e me liberou do abraço. —  Quer que eu te deixe na porta do seu trabalho?

— Não precisa, é pertinho, eu vou andando.—  Apenas assenti e saímos de casa antes que perdessemos o horário. 
Consegui chegar com uns minutos de antecedência, graças ao transito da cidade que hoje estava bem tranquilo, nem parecia que estávamos em NY, Theo chegou em cima da hora e foi diretamente para a mesa dele, sem falar com ninguém, parecia que algum bicho tinha mordido a bunda dele, quando ele estava assim era melhor deixá-lo no canto dele, ou ele iria distribuir patada para todos. 

Passei a manhã inteira envolvida nas matérias que estava desenvolvendo, de longe via Theo passando a mão pelo cabelo e pelo rosto, ele estava com algo perturbando os pensamentos dele, algo não estava certo, será que era algo com a Sam? Quando deu nosso horário de almoço decidi ir até a mesa de Theo, vê se eu podia ajudá-lo de alguma forma. 

—  Hey, vamos almoçar? —  dei um meio sorriso para ele, ele me olhou como se não esperasse aquele convite. 

—  Eu não estou com fome, podemos deixar para amanhã? —  Via que algo não estava certo e eu queria ajudá-lo. 

— Eu queria sua companhia e saber como foi ontem né? —  Vi Theo sorrir sem muita emoção, tinha achado o problema, foi algo que tinha acontecido no dia anterior. —  O que houve Theo? 

—  Vamos lá comer, que eu te conto, já que você não vai desistir mesmo. —  Ele bufou e se levantou andando ao meu lado. 

Acabamos ficando numa cafeteria que tinha ali perto do jornal, pedimos um chocolate quente e um sanduíche. 

—  Ontem a Sam foi lá pro meu apartamento, ela dormiu lá—  ele desabafou de uma  vez, numa lufada de ar só. 

—  E qual é o problema, você tentou avançar e ela te deu um fora? —  dei um sorriso meio de lado, vi ele me olhando meio indignado, e passando a mão pelo rosto. 

—  Não fizemos nada Olivia, ficamos conversando até tarde. —  sorri meio afetada ao ouvir ele. 

—  Eu tinha esquecido que você é um príncipe encantado, você respeitou ela né? Que fofo. —  Eu acariciei a mão dele, sorrindo verdadeiramente para ele.

—  Aí é que tá, ela queria e eu não quis, qual é o meu problema? —  vi Theo passar a mão pela sua cabeça em sinal de desespero. —  Ela deve estar achando que não gosto dela, mas eu gosto, só não queria que fosse de qualquer jeito. 

—  E você falou isso com ela?—  Ele assentiu —  Okay, então vamos organizar uma noite perfeita para vocês, com pétalas de rosas, champagne e tudo que você achar que ela merece. 

—  Você realmente me ajuda? —  vi ele me perguntou meio incrédulo, a incerteza pairava no timbre de voz dele e no olhar.

—  Eu não devia, mas ajudo sim —  Sorri para ele —  Você só precisa marcar o dia, que eu organizo tudo para vocês terem a melhor noite da vida de vocês.

—  Você não precisa fazer isso Liv. —  Ele disse meio incerto. 

—  Mas eu quero te ajudar, afinal sou sua única amiga aqui. —  Sorri meio de lado para ele. 

—  Obrigado Liv. —  Ele sorriu meio de lado e demos aquele assunto como encerrado, já que  o garçom trouxe nosso pedido, e contei para ele sobre a noite anterior, apenas omitindo a parte da discussão com o Math. 

—  Liv, não sei de onde você tirou que o melhor filme é "Capitão América Guerra Civil", sendo que o melhor é  "Thor Ragnarok"—  Olhei para ele indignada, como ele ousava me dizer isso? 

—  Você tá muito louco, o melhor é Guerra Civil, sem falar no Capitão e no Bucky—  Vi que ele me olhava com um certo divertimento no olhar —  O que foi? É a verdade.

— Você tem um crush no Chris Evans até hoje, Olivia?! Eu não acredito nisso —  Ele começou a rir até quase chorar, me fazendo ficar meio encabulada. 

—  Para com isso, eu não tenho um crush nele, mas ele é um ótimo capitão, você quer que eu desmereça ele como Capitão América? —  Ele ria ainda mais e chamava ainda mais atenção de todos que estavam na cafeteria—  Para de rir Parker, eu não fico rindo do seu amor pela Miley Cyrus, você me fazia assistir Hannah Montana por causa dela. — o acusei indignada e vi o sorriso dele morrer no mesmo segundo.  

— E você me carregava sempre pro cinema por causa do Evans, estamos empatados—  ele deu de ombros. —  Sem falar que meu crush por ela acabou há uns anos. 

Após essa pequena e divertida discussão, pagamos nossos pedido e fomos embora, enquanto andávamos pela rua eu não conseguia parar de pensar em como arranjar uma noite maravilhosa para o Theo e a Sam, mas eu ia começar por floricultura, afinal de contas rosas nunca são demais, e também iria organizar a lista de músicas, ia pegar uma para deixá-los bem no clima  e velas aromáticas também, tenho certeza que ia ser a coisa mais linda do mundo. 

Quando chegamos no jornal cada um foi para sua mesa, e eu já comecei a contactar cada floricultura de NY, e deixava anotado com o número apenas as melhores delas, as músicas iria fazer pela noite quando chegasse em casa, champangne ele podia comprar no dia anterior e as velas aromáticas eu já sabia onde comprar e exatamente quais cheiros ele deveria comprar, eu sabia que Theo era bem ligado nesse lado romântico de tudo, por isso me ofereci para ajudá-lo e tinha certeza de que ele iria dar o melhor dele para ser uma noite agradável para ambos, então já deixei anotado o que comprar pro café da manhã do outro dia também, ele teria tudo em mãos.

A semana passou bem rápido, assim como o final de semana, fiquei o fim de semana praticamente todo dentro de casa, apenas adiantando matérias pro Jornal, vendo alguns filmes e séries, Math estava trabalhando durante o fim de semana e bem Theo estava com a Sam desde sexta feira e eu estava doida para saber o que tinha acontecido entre eles no fim de semana.

Eu tinha planejado uma noite perfeita para eles, reservado uma mesa em um dos melhores restaurantes de New York, após eles iam para o cinema ver algum filme que eles escolhessem na hora, depois iriam para a casa do Theo, onde seriam recepcionados pelo corredor inteiro de pétalas, fazendo um caminho até o quarto dele, onde estaria iluminado por velas e teria um balde com champagne na cama dele e duas taças, e uma playlist só esperando para ser tocada, como eu disse uma noite perfeita. 

Eu já estava sentada na minha mesa no jornal em cólicas doida pra saber o que tinha acontecido e nada do Theo aparecer, ele chegou 5 minutos atrasado e nem me olhou  nos olhos, mas logo recebi uma mensagem na minha caixa de email.

De: [email protected]
Para: [email protected], [email protected]
Assunto: Atualização do meu fim de semana 
Data: 25 de setembro de 2018.
Bom dia, 
 gostaria de dizer que não faço mais parte do círculo de solteiros. 

 Pedi a Sam em namoro e ela aceitou.
 Obrigada Olivia, isso não seria possível sem você! :)