CAPÍTULO 07.
O meu final de semana tinha sido fantástico, Austin tinha me tratado com tanto carinho, aproveitamos tudo que pudemos até o momento que eu o levei pro aeroporto hoje, após tomarmos café juntos.
Eu já estava chegando no jornal, usava uma calça jeans clara e um blazer branco, blusa de alça fina marrom e para finalizar um scarpin branco junto com uma bolsa bege. Meu cabelo estava com uma trança lateral, mesmo tendo tomado em casa, em uma mão meu café diário e o celular em outra.
Conforme estava chegando, vi Theo vindo de uma posição oposta a onde ele morava, mas segui meu caminho senão podia me atrasar, segundos depois de chegar vi ele entrar com uma cara de quem tinha dormido pouco, mas eu que não ia perguntar nada.
Um tempo depois dele ter chegado, ele sentou do meu lado, com um sorriso um tanto estranho.
— O que foi? — Logo indaguei ele com uma sobrancelha arqueada.
— O que achou da Sam? — Confesso que fiquei confusa com o questionamento dele.
— E importa o que eu penso? — Retruquei para ele.
— Lógico que sim Liv, eu só tenho você e Math aqui, mas só confio em você para isso.
— Ela me pareceu ser legal, mas o que você achou dela? — Ao mesmo tempo que falei, olhei dentro dos olhos do Theo, e ali pude ver uma ponta de esperança nascendo, o motivo eu ainda não sei, mas acho que pode ser por causa da tal Samantha.
— Ela é legal, saímos durante todo o final de semana, e marcamos de ir jantar hoje, mas fiquei meio inseguro. — Ouvia Theo atenta a cada sinal corporal que ele me dava.
— Se você curtiu ela, você devia investir, só com cuidado para não se magoar.
— Eu não me magoo mais tão fácil e ainda é mais fácil, já que não estou apaixonado por ela — após dizer isso, ele apenas piscou, se levantou e andou até a mesa dele, como se aquela conversa nunca tivesse existido, bom talvez nunca tivesse mesmo.
Seguimos o resto do dia a todo vapor, Theo acabou saindo para almoçar e até me convidou, mas preferi ficar no jornal e continuar trabalhando na matéria, e como estava sem fome alguma, não tinha problemas.
Ao voltar do almoço, Theo voltou um pouco mais animado, o que me deixou um pouco intrigada, mas segui fazendo o que iniciei, até vê-lo se aproximar da minha mesa, e deixar um saco de papelão, onde dentro tinha um sanduíche, com meu suco preferido e um cookie.
— Você precisa se alimentar, Olivia — Olhei pra ele indignada, quem disse que eu não me alimentava?!
— Eu me alimento, Parker. Não tanto quanto você, mas me alimento. — Ele me olhava como se estivesse fazendo um esforço danado para acreditar em mim, mas ainda via desconfiança no fundo dos olhos dele. — É sério, eu juro que me alimento.
— Mas eu não vejo Olivia, e vou pegar no seu pé, você passa mal a toa. Não quero que você vá parar num hospital, por favor, come o lanche. — Eu dei um sorriso de lado, ele apenas se aproximou e deu um beijo na minha testa e foi pra mesa dele.
E assim virei o centro das atenções, Theo podia ser muito afetuoso com todas, mas não com a intimidade que tinha comigo e nunca deu um beijo em nenhuma delas, ou as abraçou, mas éramos amigos de longa data, esse era o diferencial.
Eu fingi que não estava recebendo aqueles olhares, e comi o que o Theo tinha trago, e voltei pro meu trabalho inicial. Reparei que uma das garotas não parava de me olhar, e aquilo já estava me incomodando, pois a garota nem disfarçava, pior nem ao menos a conhecia, ou sabia o nome dela.
Algumas vezes durante o dia eu me pegava olhando pro Theo, e tinha muito tempo que não o via com um semblante tão leve, parece que depois de muito tempo ele finalmente estava tendo paz e eu ficava super feliz por ele, ele merecia, pelo menos ele estaria com alguém que pudesse retribuir o sentimento e merecesse ele.
Como eu ia ficar em casa sozinha por uma semana, acabei chamando Math para comermos pizza e assistir um filme lá em casa, como fazíamos quando estávamos na faculdade.
De: Olivia Carter
Para: Math
“Ei, o que você acha da noite da pizza e do filme hoje? Tá livre?"
De: Math
Para: Olivia Carter
“Só se eu puder escolher. Escolher o sabor da pizza e o filme”
De: Olivia Carter
Para: Math
“Você pode escolher a pizza, se eu escolher o filme!”
De: Math
Para: Olivia Carter
“Beleza, te encontro aí às 18:00, me espera! Não sei seu novo endereço!
Ei, o Parker vai também?”
De: Olivia Carter
Para: Math
“Estarei te esperando!
Não! Seremos apenas nós dois! Como sempre”
Eu tinha ficado empolgada pela noite com Math, tinha muito tempo que eu não ficava sozinha com ele, eu sentia falta disso, mas morando com o Austin tinha se tornado quase impossível, então aproveitei isso para ter um tempo com meu amigo.
Ao dar o meu horário de saída, fui feliz da vida para a frente do jornal e Math já estava lá me esperando, me senti como se estivéssemos na faculdade de novo, quando estávamos saindo, ouvimos alguém nos chamar.
— Hey, onde vocês dois vão? — Vi que era Theo que nos chamava.
— Vamos pra casa da Liv, comer pizza e ver filme, quer ir também? — Vi Math responder ao Theo na maior naturalidade.
— Ele não pode Math — respondi antes de Theo ter essa oportunidade. — Ele já tem planos com a “Sam” — fiz as aspas com o dedo.
— Na verdade, tivemos que cancelar o jantar, ela tem um seminário da faculdade. — Ele respondeu olhando diretamente para mim — Mas eu entendo se você não me quiser lá.
— Mas ela não tem motivos para não te querer lá, você é tão amigo dela quanto eu, certo Liv?
— Certo! Só não quero atrapalhar o seu novo relacionamento.
— Olivia, você é minha amiga, você não me atrapalha — Sorri sincera ao ouví-lo, mas eu sabia o quão nocivo tinha sido minha amizade com Math, eu não queria trazer transtornos para o relacionamento de Theo.
— Okay, se quiser ir conosco, será um prazer. — No momento que Theo ia responder, o celular dele apitou, informando que ele tinha uma nova mensagem.
— É a Sam, parece que o seminário foi cancelado, eu vou desmarcar com ela, para podermos ir.
— Não se atreva a fazer isso Parker, tenho certeza que ela refez toda a agenda para estar contigo, vá para casa, tome um banho e jante com ela, teremos mais noites como essa.— Sorri o mais sincera que consegui para Theo, tentei o encorajá-lo a ir jantar com a menina.
— Vai lá cara, nós dois ficaremos bem, Olivia está certa, podemos marcar uma nova noite e você nos acompanha. — Vi a incerteza pairar sobre a cabeça do Theo, mas vi no momento que ele tomou a decisão apenas nos lançou um sorriso meio que sem graça.
— Vocês estão certos, devo ir jantar com a Sam, ela é uma garota muito especial — Ele já foi se despedindo de nós. — Da próxima eu vou, só marcarmos com antecedência.
E assim Theo sumiu no meio da multidão de pessoas que estavam circulando naquela hora, apenas soltei um suspiro e reparei que Math me olhava intrigado com o que estava passando na minha cabeça, mas naquele dia em específico foi o dia em que libertei Theo, deixei ele ser feliz, e de certa forma sabia que a Sam era uma boa menina e ia fazer bem pro Theo.
— Então já escolheu o sabor da nossa pizza?— Falei olhando pro Math, que me olhou como se eu tivesse 29 cabeças.— Tá me olhando assim porquê? Eu tô com fome — Ele deu seu tão costumeiro sorriso de lado, passou seu braço envolta do meu ombro, e fomos andando até meu carro.
Ao chegarmos no meu apê fiz logo o pedido da nossa pizza, e fui escolher um filme, eu tinha ficado muito fã de filmes de super heróis então acabei escolhendo “Capitão América: Guerra Civil”, eu já tinha visto esse filme milhares de vezes, mas eu estava louca pra ver de novo, e se eu deixasse Math escolher algum filme, ele escolher o que eu menos gosto.
Enquanto eu escolhia o filme Math foi tomar um banho, pelo que percebi ele tinha passado em casa, pego roupa tanto para dormir quanto para ir trabalhar.
Quando ele saiu do banho, foi minha vez de tomar um banho relaxante, enquanto eu estava no banho ouvi a campainha tocar e a voz do Math falando alguma coisa com alguém que não sabia quem era na verdade, terminei meu banho e logo coloquei meu pijama da Marvel cinza chumbo, que consistia em uma T-shirt com o nome da Marvel e um short. Depois de me vestir, prendi meu cabelo em rabo de cavalo no alto da cabeça e minha pantufa vermelha também da Marvel, e fui pra sala vi que a nossa pizza tinha chegado, o que agradeci muito.
— Nossa, graças a Deus, tô morrendo de fome — eu anunciei ao chegar na sala, vi o Math dar um sorriso, mas quando ele me olhou o sorriso que estava no rosto morreu, e ele me lançou um olhar alternado entre preocupado e raivoso.
Ele se levantou e caminhou em minha direção como se a vida dele dependesse daquilo, eu iria até fazer uma brincadeira, mas me dei conta o que tinha acontecido quando ele passou a mão onde eu tinha levado um soco do meu namorado, Math segurou meu rosto com delicadeza e passou a mão em cima do roxo, tão leve que quase fazia cócegas, mas creio que a delicadeza dele era para não me machucar mais.
— Onde você conseguiu esse hematoma, Olivia? — Math exigiu saber — E por favor me fala a verdade, não sou tão idiota para achar que você caiu e se machucou, de idiota tenho só a cara.
— Foi um acidente. — Droga eu tinha esquecido totalmente de passar a base para amenizar.
— Que tipo de acidente é esse que você leva um soco, Olivia? — Ele bradou, o rosto dele estava todo vermelho, as narinas infladas, eu nunca tinha o visto daquela forma, eu dei uma distância segura entre nós dois, para que eu pudesse correr, caso ele perdesse o controle.
— Eu não levei um soco. — sussurrei, mas sem segurança alguma, sabia que Math não tinha acreditado, nem eu acreditaria em mim mesma, Math levou uma mão à cintura e a outra aos olhos e bufou.
— Você quer que eu acredite nisso? — ele me olhou. — Você está com medo, Olivia, medo.
— Eu não estou com medo— Tentei passar segurança em cada palavra que eu dizia.
— Então me diz por quê você está com a mão na maçaneta, pronta para sair? — quando ouvi ele me dei conta que eu fui cada vez mais me afastando dele, fiz questão de soltar a maçaneta e me aproximar mesmo mantendo uma distância segura.
— Você estava gritando e todo nervoso, não sei o que você podia fazer. — Enquanto eu falava passava meu olhar por toda a sala, não conseguia encará-lo.
— Eu nunca te machucaria, sou eu. Olivia, eu nunca faria isso, nem mesmo se eu perdesse o controle. — Eu me aproximei dele com cautela e ele estendeu os braços para mim, e eu me agarrei à ele. — Me desculpa te assustar, quando te vi roxa e saber que aquele filho da puta fez isso contigo, eu fiquei fora de mim. Ele vai pagar por isso, Liv, isso não vai ficar assim — sentenciou enquanto fazia carinho por minha cabeça.
— De quem você está falando? — Perguntei meio confusa e o olhei.
— O Austin, quem mais?— esclareceu Math com um certo nojo na voz. — Eu vou fazer aquele desgraçado implorar pra morrer, ele mexeu com a pessoa errada.
— Math, por favor, não faz nada, vai ser pior. — Pedi a Math desesperada, em minha mente passava várias formas diferentes que Austin podia se irritar.
— Por quê vai ser pior? — Exclamou confuso, vi um brilho de entendimento passar pelo olhar dele, quando eu olhei para toda a minha casa. — Você não vai ficar aqui com ele, Olívia. Eu não posso deixar você ficar aqui, ele pode acabar te matando, você tem noção disso?
— Eu não vou embora só porque você quer, Matthew — esbravejei com ele.
— Eu não vou te deixar aqui sozinha com um psicopata Olivia, pelo amor de Deus.
— Eu sei me defender.
— Claramente você não sabe— Ele apontou pro meu olho roxo — Não que você devesse revidar, mas devia ter pedido socorro Olivia, por que não me ligou?
— Ai pelo amor de Deus, Matthew, você nem aqui estava e só foi uma vez, não vai mais acontecer, ele me prometeu. — Math deu uma risada sarcástica.
— Nossa, estou muito aliviado agora, ele prometeu. — Math disse num tom de deboche que fez meus olhos revirarem. — Até porque é super possível que ele nunca mais te bata né Olivia? Pelo amor de Deus. Você tem que parar de ser ingênua, ele não vai parar. Ele vai te privar, Olivia. Você quer viver só pra ele? Quer virar saco de pancadas de um idiota? Por que se for isso que você quer, eu não vou ficar aqui pra estar vendo você demonstrar pra todos que tem um relacionamento perfeito, mas ser mentira. Não quero ver você toda roxa, porque eu te juro que quem vai ficar todo roxo vai ser ele, ele vai aprender a ser homem, ele vai ter que me bater, só não prometo que ele vai sair com vida. — Eu conseguia sentir toda a raiva que Math estava sentindo em cada palavra.
Eu sabia que o Math estava falando a verdade, ele ia acabar batendo tanto no Austin que poderia matá-lo, mas eu não quero isso, porque eu não passei a maquiagem no meu rosto? Seria mais fácil e eu não estaria no meio de um furacão.
Math andava de um lado para o outro como se fosse um bicho enjaulado, e eu não tinha a mínima ideia de como acalmá-lo, tinha pensado em chamar o Theo, mas só seria pior, talvez se eu desse bebida pra ele funcionasse, talvez seja uma boa opção.
— Math, me escuta, eu te prometo que ele não vai fazer mais — a cada palavra que eu dizia, eu tentava mantê-la firme e clara, conforme fui informando Matthew, eu ia me encaminhando para a adega, onde peguei um vinho tinto e abri o mesmo e nos servi— Só que eu não vou sair do meu apartamento, é meu. — Entreguei a taça para Matthew que bebeu todo o líquido em segundos. — Foi presente de formatura.
— Então, eu faço ele sair — Eu respirei fundo, tentando manter a calma. — Eu não posso te deixar no mesmo ambiente que ele Olivia. — Eu ia falar mas ele me cortou. — Você vai me escutar, primeiro são gritos, depois são apertos, depois agressões, fora a dependência emocional, e os abusos psicológicos, isso quando eles não abusam sexualmente das vítimas. Isso é grave, eu não posso te deixar aqui com ele, você é como uma irmã, eu nunca vou me perdoar se algo te acontecer e eu podendo te proteger — Ele deixou a taça de lado, veio em minha direção e me abraçou, naquele momento sabia que ele lutaria por mim, caso fosse necessário, mas sabia que ele também não desistiria de que eu terminasse com Austin, eu estava completamente ferrada.
—Eu vou fazer algo, mas por hoje será que podemos ver o filme e comer agora? Eu realmente estou com fome e não tem como nada ser resolvido por agora. — Olhei para ele com um sorriso meio frouxo, ele deu um meio sorriso e assentiu, eu sabia que a cabeça de Math estava funcionando a todo vapor, eu sabia que ele não ia desistir de que eu fosse embora, mas eu não tinha motivos para ir embora.
— Você nunca vai perder essa mania de gostar do Chris Evans? — Arqueou a sobrancelha enquanto me olhava, dei um sorriso meio de lado para ele.
— Na verdade, eu não escolhi esse filme por causa do Evans— Vi que ele me olhou meio desconfiado — Eu escolhi por causa Bucky — Math gargalhou ao me ouvir.
— Certo, o bad boy , você tem um fraco pelos caras maus, hein?! — Eu ri ao ouvi-lo.
— Só os que tem cara de mau, mas são bonzinhos no fim — Ele respirou fundo e me soltou.
— Vamos comer e ver esse filme, mesmo sabendo que esse não é o melhor da franquia — Revirei os olhos ao ouvi-lo, me aninhei a ele no sofá e dei play no filme.
E assim passamos a nossa noite entre vendo o filme, comentando nas cenas de luta e comendo a pizza, eu sentia que aquela seria uma das últimas noites que estaríamos em paz, mas eu não sabia que estava certa em sentir e pensar isso.
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