A enfermeira bate na porta do meu quarto para entrar com o meu jantar. O cheiro maravilhoso de comida invade o ambiente no mesmo instante que a funcionária entra. Minha barriga ronca loucamente. Já é segunda a noite e minhas dores no corpo diminuíram consideravelmente com os remédios que me deram e me sinto cada dia mais forte novamente.

Felipe entra no quarto apressadamente, enquanto a enfermeira sai. Sorrio com a visão de seu cabelo ruivo todo despenteado, o que o deixa ainda mais bonito. Ele havia ido para sua casa tomar um banho rápido antes de dormir mais essa noite comigo no hospital. Quando fui internado, Felipe não era permitido entrar no meu quarto mas Aninha mexeu seus pauzinhos e proporcionou que ficássemos juntos. Sendo assim, meu namorado não sai de meu lado.

- Tenho boas notícias! - anuncia- o médico me disse que amanhã cedo você terá alta.

- Sério? Isso é muito bom.

Ele vem na direção de minha cama e se senta.

- Gostaria de poder leva-lo para minha casa- ele acaricia meu rosto.

- Não se preocupe, meu amor, Ana disse que posso ficar em sua casa o tempo que eu precisar.

Felipe assente e me dá um selinho.

- Eu te amo- declara.

- Eu também te amo- sorrio.

Nesse momento a porta se abre abruptamente e meu coração para. Minha irmã, Morgana, está parada na porta com os olhos cheios de lágrimas.

- Eu soube hoje do que aconteceu, viemos correndo para cá- desabafa soluçando.

Abro meus braços e ela corre para dentro de meu abraço. A seguro firme, acariciando seu cabelo, enquanto ela chora em meu peito. Com isso, Felipe sai do quarto.

- Está tudo bem, querida, está tudo bem- a tranquilizo- O quer dizer com "viemos"?

Ela me olha enxugando os olhos.

- Mamãe está me esperando no carro. Disse que ela não pode entrar mas eu podia vir se eu não contasse para o papai.

Por mais que eu gostaria que minha mãe estivesse aqui comigo, saber que ela trouxe Morgana para me ver aquece meu coração. Tenho esperança de que um dia voltaremos a ser uma família.

- Eu não entendo por que falaram aquelas horríveis para você, Vitor. Você continua sendo você, certo?

- Com certeza mas o papai e a mamãe foram criando em uma época em que para você ser uma boa pessoa era preciso ter uma família tradicional e mudar este pensamento é muito difícil.

- Mas você é filho deles, não tem sentido.

Coloco seu cabelo crespo atrás de sua orelha.

- Muitas coisas não tem sentido na vida, Morg.

Ela volta a me abraçar.

- Eu senti muita sua falta e eu fiquei morrendo de medo de você morrer.

- Não se preocupe, irmãzinha. Não vou embora tão cedo e vamos fazer assim: irei te ligar todos os dias, ok?

Ela assente e ficamos abraçados em silêncio por um tempo. É nesse momento que cai minha ficha de como Morgana cresceu. Quando ela nasceu, eu tinha 11 anos e eu não saia de perto dela por nada. Ajudava minha mãe com tudo que era relacionado a ela. Desde sempre, se Morgana me pedisse a lua, eu faria de tudo para realizar seu desejo. E isso nunca irá mudar.