🍓 - eleventh
O domingo se passou voando. Sem encontros daquela vez, eles passaram o dia quase inteiro sem se falarem como gostariam, presos em atividades acumuladas. Entretanto, no fim da tarde, conseguiram um tempo para jogarem juntos durante algumas horas, parando apenas quando se deram conta que o relógio indicava duas e quarenta e nove da manhã e teriam não mais que três horas de sono.
Na segunda de manhã, os dois estavam quase se rastejando pelas casas, domados pelo sono que não tiveram durante a madrugada. Mas, sem arrependimentos porque, querendo ou não, perderam o sono juntos entre as partidas dos vários jogos.
— Você e Harry estavam animados, não estavam? Ouvi as suas risadas até tarde da noite. — Narcisa comentou enquanto tomava seu café da manhã e observava seu filho terminar de comer, sonolento.
— Ficamos jogando até tarde. Muito tarde...
Decidiu então parar de enrolar e terminar de se arrumar antes que se atrasasse e não sobrasse tempo para buscar Harry. Terminou de ajeitar suas roupas, arrumou seus fios rebeldes e escovou os seus dentes. Pegou a sua mochila e saiu de casa, se despedindo de seus pais e partindo até a casa de Potter.
Logo de longe, conseguiu vê-lo sentado na calçada, com a mochila em seu colo e a cabeça deitada sobre suas pernas dobradas.
— Bom dia, Hazz. Vamos? — Se aproximou, ajudando-o a se levantar e deixando um beijinho singelo em sua bochecha quente.
— Vamos.
E então, cruzaram todo o caminho até o colégio, com os braços colados enquanto conversavam vagamente sobre o que tinham feito durante o dia antes da ligação no fim da tarde. Conseguiram chegar na escola antes do sinal tocar e puderam ficar a sós na sala, sentados juntos e calados, desfrutando do toque singelo em suas mãos que não os abandonavam.
Torceram para que tudo corresse bem durante o dia e tudo ficou quase perfeitamente bem. Próximos a hora do almoço todos foram liberados um pouco mais cedo para comerem porque a professora sentia dor de cabeça e pediu para que saíssem adiantados. Obviamente não serviu como um problema que precisasse de um drama, então todos correram até o refeitório e se sentaram em suas habituais mesas depois de pegarem suas comidas.
Como todos, Draco e Harry fizeram a mesma coisa. Sentados sozinhos em uma mesa ao lado da parede - era a que eles quase sempre usavam -, eles conversavam baixinho, soltando risadinhas enquanto comiam. Em uma paz incontrolável que foi quebrada quando avistaram Cedrico se aproximando.
Ele não cansa?, pensou Draco, já irritado.
Descaradamente ele parou ao lado da mesa, olhando-os firmemente. Seus olhos carregavam sentimentos que eles não conseguiam saber ao certo quais eram, até que ele puxou Malfoy pelo colarinho da blusa, obrigando-o a se levantar levemente desnorteado.
— O que você está fazendo, Cedrico? — Harry se levantou também, largando a sua bandeja.
— O que gostaria de ter feito há muito tempo.
Antes que pudessem questionar, o punho fechado de Diggory chocou contra o maxilar de Malfoy, que teve um sobressalto e errou os passos, pressionando a mão sobre a dor e resmungando. Mas não deu tempo de pensar no que fazer porque logo Cedrico se jogou em cima dele, socando o seu rosto sem parar.
Àquela altura, as pessoas já tinham parado de comer para tentarem entender o que estava acontecendo ali. Harry tinha seus olhos arregalados diante da cena que estava presenciando e ficou ainda mais assustado quando viu Draco cair contra o chão, mas não sendo um impedimento para Cedrico que aproveitou sua queda para sentar sobre sua barriga e continuar socando-o sem piedade.
O menos esperado veio quando Draco revidou, segurando em sua camisa com uma mão e socando o seu olho com a outra, aproveitando o momento para virá-lo e ficar por cima, continuando a socar o seu rosto. Cedrico empurrou o peito do mais novo para longe, levantando com passos rápidos e percebendo que ele se levantava também. Não perdeu tempo e correu, agarrando o tronco de Draco e soltando um gemido doloroso quando sentiu suas costas serem socadas pelos punhos firmes do maior.
— Cedrico! Draco! Parem, por favor, parem!
Harry tentou afastá-los, mas eles eram muito mais fortes e estavam irritados. Na sua última tentativa ele correu para o lado de seu melhor amigo quando eles se afastaram brevemente, mas Cedrico, com seus olhos levemente fechados pelos impactos avançou em cima de Draco, mas acabou socando o rosto de Harry que tentou intervir empurrando o seu peito.
Com o forte impacto ele caiu no chão, pressionando o canto de sua boca que sangrava, com os olhos lacrimejantes e sentindo o gosto levemente metálico do seu próprio sangue. Vendo Harry jogado no chão, o cabelo de Draco adquiriu um vermelho escuro e extremamente forte que nem precisava de esforço para entender do que se tratava. Em um segundo, ele estava socando o rosto de Diggory jogado no chão sem dó.
Sua vista estava turva pelas lágrimas que insistiam em acumular em seus olhos, lembrando da cena de seu Potter jogado no chão e sangrando e usando aquilo como combustível para continuar batendo no moreno que já estava fraco e quase desacordado, com o rosto completamente ensanguentado e as mãos fracas tentando empurrar o corpo de Draco para longe, mas sem ter sucesso.
Em um grito, Malfoy deu seu último soco, com os nós de seus dedos completamente manchados por sangue, esvaziando sua frustração em lágrimas mal contidas, deixando Cedrico Diggory jogado enquanto se afastava, se levantando e encarando suas próprias mãos manchadas por sangue, sequer tentando controlar o ritmo das lágrimas que desciam pesadamente por suas bochechas doloridas, chorando compulsivamente percebendo o que tinha acabado de fazer.
Olhando ao redor, percebeu que todos lhe encaravam. Avistou a diretora andando em passos apressados até o tumulto no refeitório, provavelmente já tendo noção do que estava acontecendo. Ao descer um pouco mais seu olhar, percebeu Pottee quase encolhido sobre o chão, encarando-o com os cílios colados pelas lágrimas e a camisa encharcada com poucas manchas avermelhadas de sangue.
— Draco... — Viu sua boca trêmula chamá-lo e não hesitou em se ajoelhar ao seu lado, agarrando as suas costas e escondendo seu rosto em seu ombro, desabando completamente em seus braços.
Harry também chorava, agarrando-se em Draco e acariciando as suas costas, sentindo as pequenas tremidas que seu corpo nervoso dava.
— Tá tudo bem. Agora tá tudo bem.
Vendo a situação que os dois estavam, a diretora então perguntou aos presentes o que tinha acontecido. Eles explicaram tudo que aconteceu desde o início e ela deixou os dois se safarem, obrigado Diggory a se levantar e puxando-o até a diretoria, mandando os outros dois rapazes irem rápido até a enfermaria e irem para casa descansarem depois.
Obedeceram, indo minutos depois em silêncio até a enfermaria, onde receberam curativos para os machucados depois de limpos e permaneceram sentados, calados.
— Eu não devia ter feito o que eu fiz. Devo ter te assustado. Me desculpa.
— Não, Draco. Você me defendeu, você brigou com ele por mim. Não sou a favor da violência mas eu não tô chateado com você. Eu sei que você só fez isso pra me proteger e tá tudo bem, ok? Não precisa se culpar. — Ele respondeu, pacientemente.
Draco apenas balançou suavemente a sua cabeça, sem conseguir elaborar uma resposta apta para aquela situação. Vendo que ele estava tão afastado e retraído, Harry o chamou.
— Ei. — Ao obter a sua atenção, ele sorriu. — Vem cá, amor.
Amor?
Visivelmente abatido pelo que foi chamado, ele se arrastou até o lado de Harry na maca, ainda calado e com a cabeça baixa. Potter envolveu seu corpo em um abraço letárgico, acariciando levemente a sua mão machucada e deixando um beijo em cima de seus curativos.
— Obrigado por ter me defendido.
Sem precisar elaborar uma resposta, ele não tentou respondê-lo, apenas assentiu e deixou sua cabeça deitar em seu peito.
Um pouco mais tarde, os dois deixaram o colégio juntos. Draco ainda estava abatido então não falou nada durante todo o caminho, mas isso não abalou Harry que falou pelos cotovelos e apesar de não obter uma resposta, sabia que estava recebendo atenção.
— Está entregue. — Potter falou quando chegaram em frente a casa de Malfoy.
Draco balançou a cabeça como resposta e Harry virou-se para ir embora, mas sentiu uma mão quente tocar timidamente seu pulso.
— Fica...
Incapaz de negar qualquer pedido seu, ele apenas sorriu e assentiu, entrando na casa. Subiram e deixaram suas mochilas no chão. Draco sentou na cama, observando ele andar pelo quarto.
— Toma um banho quente e quando você voltar fazemos novos curativos. Eu faço alguma coisa pra gente comer enquanto isso, tomo banho e a gente assiste alguma coisa. Tudo bem?
— Ok.
O loiro logo foi tomar seu banho enquanto Harry pegava os ingredientes para fazer kkultteok, cantarolando alguma música qualquer e focando apenas naquilo.
No banheiro, Draco tinha seu rosto molhado contra a parede, com a água caindo por todo o seu corpo. Seus machucados ardiam, mas ele não se mexia. Lembrava da cena de Harry jogado e de Diggory completamente ensanguentado. Apesar de não se arrepender de ter feito o que precisou fazer, era quase perturbador.
Finalizou o seu banho, vestindo uma calça de moletom e um camisão. Quando saiu do banheiro e desceu, balançando seus cabelos úmidos, encontrou Harry terminando de decorar os bolinhos de arroz doces com mel.
— O banheiro tá livre. Pode pegar uma roupa minha e tem toalhas limpas no banheiro.
Harry concordou e foi correndo se banhar. Não demorou muito até que ele voltasse, usando uma bermuda e uma camisa longa que ia até metade das suas coxas.
— Vamos fazer os seus curativos agora. Vem. — Puxou-o pelo braço levemente, sentando-o na cadeira e pegando a caixinha de primeiros socorros.
Delicadamente ele limpou os cortes, passou um remédio e enfaixou. Depois, deixou um beijo sobre cada nó de sua mão, usando a mão vaga para acariciar sua bochecha e selar os seus lábios lentamente.
— Vamos comer.
Colocaram um filme de romance qualquer e sentaram no sofá, dividindo os bolinhos de arroz. Depois de alimentados, largaram os pratos sobre a mesa e se aninharam juntos, com Harry deitado sobre o corpo quente de Draco.
— Eu sei que você tá triste, mas por favor, não se culpa por nada que aconteceu. Você não teve culpa, ele chegou te batendo e você só reagiu. Você não é agressivo, você não é o monstro da história, amor. — Seriamente ele encarou os seus olhos, com as mãos segurando as laterais de seu rosto. — Você só me defendeu. Ele me bateu, você se irritou e me protegeu. Tá tudo bem, nós estamos bem agora. Então esquece isso, tá? Tenta fazer isso agora.
— Eu te amo. — Sussurrou contra seu rosto, abraçando-o suavemente e apoiando sua cabeça em seu ombro.
Não percebeu quando adormeceu, enquanto o filme passava, a tarde ia embora e seus corpos dividiam calor. Nos braços do seu amor, ele encontrou exatamente toda a paz que a sua alma fragilizada precisava sentir naquele momento tão turbulento.
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