Capítulo 9
Norte do Estado de Nova York, verão, 5 anos atrás.
- Mas que droga! - Lauren gritou, saindo do carro. Ela abriu o capô do carro e foi direto no motor. - Pedaço de lata velha - Ela chutou o pneu furiosamente e tentou afastar a fumaça com a mão. Camila ficou no carro com os braços cruzados.
- Droga, droga, droga. - Lauren nem sabia o que estava procurando no meio de todos aqueles cabos e metais. Não havia fogo mas havia um horrível cheiro de gás. Camila assistia como ela começou a remexer seu celular.
- Sério? Isso só pode ser uma brincadeira comigo! Meu celular descarregou.- Ela jogou o celular de novo no carro. - Camz, me deixa usar o seu.
- O meu está descarregado também. - Ela respondeu friamente. Lauren resmungou e golpeou o carro.
- Carro estúpido - Ela xingou. Camila levantou do banco de passageiros e deu uma olhada no motor.
- Parece que um dos cabos explodiu e provavelmente seu tanque de combustível também. - Camila explicou. Lauren a olhou em surpresa.
- De onde veio isso?
- Quando Cece e eu estávamos namorando, ela demorava uma vida para se maquear, então enquanto isso o pai dela me ensinava como consertar carros. - Camila respondeu. Lauren zombou só de pensar.
- Você e Cece nunca namoraram - Ela falou com ar de deboche.
- Namoramos sim, lembra? - Camila insistiu.
- Camz, você estava lá pra fazer ciúmes pra crush da Cece. Você sabe que ela só estava fingindo namorar você, né?
- Bom, pelo menos ela fingiu namorar comigo ao invés de nem isso fazer. - Camila rebateu. Lauren recuou e esticou a coluna. Camila começou a andar pela estrada em direção de onde elas vinham.
- Camz, onde você vai? - Lauren perguntou.
- Eu vou ao motel que vimos mais cedo.
- Camz, isso fica à no mínimo 10 km daqui! - A garota a ignorou e continuou andando. Lauren enfiou suas mãos no bolso e começou a seguir Camila em silêncio. Elas chegaram no motel lá por volta das 22hs. O lugar estava arruinado. Havia algumas luzes piscando e outras sem funcionar. A pintura das paredes estava descascando e as janelas quase arcaicas eram horríveis. Lauren pensou que não seria nada higiênico dormir ali.
- Camz, a gente pode contrair algum vírus aqui. - Ela alertou mas Camila já tinha entrado. Lauren a seguiu.
- Oi. - Camila disse ao garoto em frente ao balcão. Ela o lançou um caloroso sorriso. - Vocês tem algum quarto disponível? - O garoto não parecia ter mais que 16 anos e por seu rosto cheio de espinhas, ele estava passando pela puberdade. Ele não pôde evitar olhar para a linda garota em frente à ele.
- Hm..Claro. - Ele respondeu baixo, olhando desde os seios de Camila até seu rosto. Lauren se segurou para não socar a cara dele.
- Queremos um quarto, camas separadas, por favor. - Camila não pediria quartos separados, mas elas certamente não iriam dormir juntas.
- Você sabe se tem algum mecânico aqui por perto? - Camila perguntou e o garoto pensou sobre a questão.
- Tem um. Mas fica a uma hora daqui. O carro de vocês quebrou?
- Sim. A uns 10 Km daqui. - Lauren disse e o garoto voltou a pensar.
- Bem, se vocês quiserem eu posso ligar pro meu tio. Ele vive a meia hora daqui e ele entende um pouco de carros. Eu posso ligar pra ele amanhã cedo se você quiserem. - Camila sorriu pra ele de novo e o garoto corou.
- Obrigada, você é um amor. - Camila disse. O garoto anotou os dados de Camila e acabou pedindo um dado extra, seu número de telefone e apesar do celular de Camila estar descarregado ela passou mesmo assim o número. Lauren lançou um olhar raivoso pra ele. Ele sorriu sem graça pra Lauren e estendeu as chaves do quarto. Camila pegou uma delas da mão do garoto e caminhou, subindo delicadamente as escadas.
- Telefone - Lauren falou e o garoto rapidamente pegou o telefone da recepção e entregou a ela. Ela ligou para seus pais para avisar o que tinha acontecido. Eles se ofereceram para buscá-la mas ela os falou que elas estavam bem e que o seu carro seria concertado pelo manhã. Apesar de ficarem meio receosos, eles confiaram em Lauren e depois de mais algumas trocas de palavras Lauren desligou. Ela colocou o telefone no gancho e se aproximou do garoto.
- Se você sabe o que é melhor pra você e se você quer durar até o final da sua puberdade, fique longe dela. Ok? - Ela alertou. Ele engoliu seco, vendo a promessa de morte nos olhos dela e assentiu. Ela pegou a segunda chance e caminhou até o segundo piso. Elas pegaram um quarto de canto e quando Lauren entrou, ela ficou surpresa do quão limpo tudo estava. Apesar do exterior ser horrível, o interior era confortável. Camila estava no banheiro e Lauren se jogou na cama.
Uma hora se passou antes dela se perguntar o que a garota mais nova fazia. O chuveiro não estava ligado e ela não conseguia ouvir nenhum barulho vindo lá de dentro. Ela se levantou e bateu na porta.
- Camz, está tudo bem? - Ela ouviu ruídos lá dentro sinalizando que Camila ainda estava viva. - Camz, você já está aí faz uma hora.
- Vai embora. - Camila disse. Sua voz trêmula. O coração de Lauren se apertou. Ela conhecia Camila como a palma de sua mão e aquela voz era sua voz de choro.
- Camz, por favor.. sai.
- Não.
- Por favor, podemos conversar sobre isso?
- Não. - Lauren respirou fundo e encostou sua cabeça na porta.
- Camz, você sabe como eu me sinto em relacão à você, você é minha melhor amiga. - Silêncio. - Digo, o que você esperava? Nós somos adolescentes, nós não sabemos o que nós queremos. - Lauren ouviu Camila dizer algo mas não pôde identificar o que era, parecia que sua voz foi abafada por uma toalha.
- O que você disse? - Lauren perguntou.
- Eu disse "eu quero você". - Camila gritou.
- Camz, nós não podemos ficar juntas.
- Porque não? Cece tem a droga da namorada dela.
- Isso é porque a namorada dela pode bater em qualquer um que tente machucá-la. Nós duas somos duas adolescentes sem treinamento em nenhum tipo de luta, Camz. Nós não podemos nos defender assim. E garotos sempre vão nos ver como um "desafio". Eu não quero que nada aconteça com você.
- Você é idiota. - A garota disse e mais uma vez o som saiu abafado. Lauren sentiu seu peito começar a doer. Ela odiava quando Camila chorava. Ela não gostava de imaginar lágrimas escorrendo daqueles brilhantes olhos castanhos, que deveriam cintilar apenas de felicidade. Lauren agachou e encostou os joelhos em seu rosto.
Em algum lugar pelo caminho, Lauren tinha se apaixonado pela outra morena. Ela provavelmente se apaixonou antes mesmo de Camila saber que era possível amar alguém do mesmo sexo. Lauren respirou fundo. Nos últimos anos, tudo que ela tinha feito era negar isso e ela odiou cada momento desse. Ela só queria manter Camila a salvo mas agora ela estava com medo de perdê-la completamente.
- Eu amo você. - Lauren murmurou. - Mas eu não quero que nada aconteça com você. - A porta de repente se abriu e Lauren tombou para a frente, em direção ao banheiro.
- O que você disse? - Camila perguntou assim que Lauren se levantou.
- Nada. - E de repente, com força e raiva que assustaram Lauren, Camila a pressionou contra a parede atrás delas.
- Diz. - Camila exigiu. Lauren sentiu medo de Camila pela primeira vez na sua vida. A garota mais nova sempre tinha sido doce e gentil. Essa pessoa a pressionando contra a áspera parede era alguém ardendo de raiva.
- Camz, me solta. - Ela pediu.
- Diz. - Camila repetiu. Lauren mordeu seus lábios e fechou seus olhos com a garota em sua frente cravando as unhas em seus ombros e deixando marcas vermelhas mesmo apesar da roupa.
- Eu não posso, Camz.
- Você já disse uma vez, porque você não pode dizer de novo? - Camila perguntou balançando Lauren.
- Para com isso! - Lauren gritou. - Você precisa se acalmar. - Camila tentou puxar seus braços de Lauren mas Lauren os segurou mais forte.
- Apenas me solte. - Camila disse. Os papéis estavam invertidos. Lauren deu o seu melhor para segurá-la enquanto Camila tentava se soltar. Ela acabou indo para a cama e as duas se jogaram na pequena cama de solteiro. Lauren repousou sobre Camila e ela ouviu um pequeno suspiro. Pensando que ela estava tirando o ar dela, a menina mais velha se levantou tão rapidamente quanto ela podia.
- Você está bem? - Lauren perguntou e assim que ela tentou sair da cama ela sentiu seu corpo sendo puxado de volta por Camila. A garota enterrou seu rosto no peito de Lauren e foi só então que Lauren percebeu que os suspiros eram na verdade soluços.
- Isso não é justo - Camila sussurrou chorando. Lauren se aproximou mais e se deitou do lado de Camila até que sua respiração se acalmasse e ela caísse no sono. Quando ela tentou se levantar, notou que a pequena garota apesar de adormecida, ainda tinha um aperto forte em sua camisa. Ela então percebeu que não iria a lugar nenhum durante a noite toda. Lauren notou que haviam algumas lágrimas nos olhos de Camila e ela as enxugou com beijos. Quando ela chegou à milímetros de sua boca, ela parou. O que ela estava fazendo?
Eu preciso parar isso. Eu vou acabar machucando nós duas. Ela pensou, afastou seu rosto e se contentou com apenas encostar sua cabeça na de Camila. Ela caiu no sono assim que ela fechou seus olhos.
Pela manhã, Lauren acordou com a figura de Camila pressionada sobre ela. Por um momento ela se esqueceu sobre a discussão que elas tinham tido na noite anterior. Quando ela se lembrou ela olhou tristemente para Camila.
- Me desculpa, Camz. - Ela sussurrou. Alguém bateu na porta e Lauren se levantou para atender. Dessa vez ela se soltou facilmente do aperto da mais nova. Quando ela abriu a porta ela deu de cara com o peito de um alto e forte homem.
- Você que é a garota do carro com problema? - Ele resmungou mais do que falou.
- Sim. Você está aqui para nos ajudar? - Lauren perguntou.
- Vamos concertá-lo. - Foi tudo o que ele disse. Lauren assentiu e olhou para Camila e o barulho tinha acordado ela. Ela se sentou. Seus cabelos tapando seus olhos.
- Camz? - Camila se levantou e passou por eles sem fazer contato visual. Eles a seguiram. Na recepção Camila olhou quando uma voz preencheu o vazio.
- Vocês estão indo para a fazenda? - O garoto perguntou. Seu tio assentiu. - Ok tio Harry. Mais tarde eu talvez dê uma passada lá. - Ele olhou para Camila e isso fez Lauren se contorcer de raiva. Se ela apenas pudesse se encontrar com esse garoto em um beco sem saída com um bastão, ele veria do que ela era capaz.
O homem as guiou até um caminhão e Lauren subiu na parte da frente e Camila foi na parte de trás, junto com pilhas de feno. Eles chegaram no carro delas e o homem verificou o carro.
- É, vocês vão precisar de um novo tanque de gasolina. - Ele disse. - Eu devo ter um tanque reserva na fazenda.
- Nós podemos te pagar. - Ele apenas rosnou algo baixo e amarrou o carro em sem caminhão.
A fazenda ficava uns 30 minutos dali e eles foram o caminho todo em silêncio. O único barulho era o do rádio e o do ronco do motor. Eles chegaram na casa e Harry desceu. A casa era grande e a vista era de campo aberto. Uma grande mulher grávida estava ajoelhada na frente da casa, colocando adubo em algumas flores. Quando o caminhão estacionou ela se levantou, indo em direção ao mesmo.
- Bem-vindo à casa. - Ela disse quando viu seu marido. - E vocês devem ser as garotas que Keaton nos falou por telefone. - Lauren estendeu a mão e a mulher apertou.
- Meu nome é Lauren. Muito obrigada por sua ajuda. - Camila se aproximou também.
- Camila. - A mulher sorriu.
- Bem, meu nome é Marielle e vocês são mais do que bem-vindas aqui. - Ela disse. - Alguma de vocês já comeu? - As duas negaram com a cabeça e a mulher caminhou para dentro de sua casa.
- Por favor, entrem. Max ainda está tomando seu café da manhã então vocês estão convidadas para fazer o mesmo. - Elas entraram e uma cadela prenha veio em direção à elas e latiu com entusiasmo.
- Calma, Descala. - A mulher disse. Um jovem garoto correu pela sala de estar em direção à sua mãe. Ele não parecia ter mais do que 5 anos.
- Já acabou? - O garoto assentiu e se sentou em frente à TV para assistir desenhos. Havia panquecas sobre a mesa. Marielle pegou prato para as duas e elas aceitaram devido a fome.
- Então, pra onde vocês estavam indo antes do carro quebrar?
- Pra casa. - Elas responderam juntas e Lauren continuou. - Bom, nós vivemos em Miami.
- É bem longe daqui. - Ela pensou alto. - Escutem, Harry tem algumas viagens de negócios para fazer e se ele não conseguir concertar o carro de vocês antes do anoitecer, eu insisto que vocês fiquem aqui por essa noite. Eu não quero que nenhuma de vocês dirijam com sono e durmam no volante.
- Oh, nós não podemos aceitar. - Lauren disse. - Já estamos agradecidas suficiente. - Marielle a lançou um olhar sério e teimoso e Lauren se lembrou do olhar " Não teime comigo" de sua mãe e nenhum filho ou filha seria capaz de insistir.
- Eu insisto, senhoritas. Apesar que acho que Harry concertará o carro de vocês antes de anoitecer. - Ela afirmou. O acampamento começaria em dois dias e se o reparo não ficasse pronto hoje elas teriam apenas um dia em casa. Algo dizia a Lauren que as coisas não dariam certo.
Camila sempre levou jeito com crianças. Ela era paciente e na maioria das vezes que se juntava à uma criança ela agia como uma, então não foi difícil pra ela ficar com Max. Os dois brincavam lá fora, perseguiam um das ovelhas pelo quintal e Camila se sentou na cerca, assistiu os dois, rindo e correu até que Max caiu, ele não conseguia se levantar de tanto que ria. Camila o pegou no colo e o jogou em seus ombros, correndo e girando, imitando um avião. Lauren sorriu com a vista e pulou quando sentiu um nariz gelado tocar seu tornozelo. Ela olhou pra baixo e encontrou um pastor-alemão lambendo suas meias.
- Deixa eu adivinhar - Lauren disse abaixando-se para acariciar a cabeça do cão. - Seu nome é Troy e você não quis engravidar a cadela logo ali. - Ela sorriu um pouco por sua piada e levantou o olhar apenas a tempo de ver Max correndo em sua direção e Camila atrás o seguindo.
- Mounty! - Ele gritou, pulando no pobre cachorro. Max olhou para Lauren. - Ele vai ser papai logo, logo. - Ele disse.
- Eu sei.- Lauren respondeu e sorriu abertamente para ele.
- Vamos lá Mounty, Vamos perseguir ovelhas. - Ele disse correndo, o cachorro o seguiu entusiasmado. Lauren se sentiu vulnerável agora que estavam apenas ela e Camila a sós.
- Você ainda está brava? - Ela perguntou. Camila não disse nada. - Camz, eu...
- Não começa. - Camila disse entrando na casa. Lauren deixou escapar um pesado suspiro. Ela ficou lá fora por mais uma hora assistindo Max e Mounty correndo pra lá e pra cá. Como se imaginava, o garoto se cansou e caminhou em direção à Lauren.
- Eu vou entrar. - Ele bocejou. Lauren esticou sua mão para ele pegar e os dois entraram. Camila estava sentada no sofá assistindo TV. Max pegou o controle remoto e trocou pro canal de desenhos. Lauren se sentou do lado oposto da sala, olhando a cada minuto para a garota. Ela não sabia o que fazer para concertar as coisas então ela preferiu manter o foco em outra coisa.
- Garotas? - Marielle entrou na sala assim que Max começou a roncar baixinho no chão da sala. - Oh querido - Ela pegou Max. - Harry acabou de chegar em casa, ele vai concertar o carro agora.
- Muito obrigada, de verdade. - Lauren disse.
- Oh, por favor, não se preocupe com isso. Nós seríamos péssimas pessoas se deixássemos duas garotas lá fora abandonadas. E, que fique entre vocês e eu mas, o cara que conserta carros na oficina mais próxima é meio pervertido. - Ela riu e subiu as escadas pra colocar Max na cama. Assim que Marielle subiu, Harry soltou um alto grito.
- Maldito cachorro. Que danado, Mounty! - Ele gritou. Marielle desceu correndo as escadas.
- Querido, o que houve?
- Esse cachorro estúpido pensou que o tanque reserva era um brinquedo de morder! - Marielle colocou sua mão no braço dele. - Eu vou ter que dirigir horas até o Marty para conseguir outro.
- Você não precisa. - Lauren disse, se levantando. - Já causamos problemas demais. - Harry ergueu uma mão para calá-la.
- Não. Eu prometi a Keaton que eu iria ajudá-las. Mas parece que vocês terão que ficar aqui essa noite. Nós temos um palheiro lá em cima e um colchão no celeiro.
"Puta merda". Lauren pensou. Harry pegou as chaves e beijou sua esposa.
- Eu voltarei o mais rápido que eu puder, mas você conhece o Marty, provavelmente ele vai querer que eu beba um drink ou dois. Além do mais, eu não chegarei até amanhã cedo.
- Faça o que precisar, querido. - Ela disse. Ele acenou e sumiu de vista em seu caminhão.
- Eu vou brincar com mais algumas ovelhas. - Camila disse. Mariele sorriu.
- Nós teremos que trazê-las depois para dentro da cerca. Mounty geralmente faz um bom trabalho, mas você gostaria de ajudá-lo? - A mulher perguntou. Camila a deu seu melhor sorriso e assentiu.
Já era tarde quando elas terminaram. Lauren decidiu ir dar uma olhada na cama do celeiro. O lugar dava vista para a maioria do campo e dali se tinha uma ótima vista da lua e das estrelas. Ela conseguia ver as luzes da casa tão bem quanto conseguia ouvir os " Béés " das ovelhas. Era tranquilo ali, apesar dos mosquitos.
"Eu queria que Camila estivesse aqui". Ela pensou. "Deus, eu queria ela aqui por mil razões". Ela interrompeu seus pensamentos quando ouviu vozes. Ela congelou. Ela virou sua cabeça para tentar ouvir melhor. Ela reconheceu a voz masculina do motel. Tinha que ser aquele idiota do Keaton. Ele mencionou que passaria ali mais tarde e Lauren não pôde evitar pensar em que fazer Mounty morder ele seria uma ótima idéia.
Ela ouviu risada de uma pessoa que claramente não era ele. Ela reconheceria essa risada mesmo se fosse surda de um ouvido. Era o som da voz de Camila. Lauren olhou na escuridão tentando identificar onde os dois estavam e se estavam perto um do outro o suficiente para ela pular em cima do garoto. Eles estavam se apoiando em uma pilha de palha perto de uma árvore. Eles estavam conversando sobre algo que Lauren não conseguia entender. Ela os assistiu atenciosamente, tentando pescar as palavras. Então, calmamente, Camila se inclinou e o beijou. O sangue de Lauren ferveu e ela se virou, os olhos queimavam de raiva e e ela estava completamente enciumada. Quando ela olhou de novo eles já não estavam se beijando, Keaton se inclinava para outro beijo. Lauren tossiu bem alto e os dois viraram suas cabeças em surpresa. Lauren primeiro fez contato visual com Camila, quem se levantou da pilha de palha e sumiu de vista pela porta dianteira. Depois ela encarou Keaton, o garoto se tensionou lembrando da ameaça de Lauren e quando a mesma se levantou para perseguí-lo, ele correu mais rápido do que sabia que podia e entrou em seu carro. À essa altura Lauren já tinha descido.
- Se eu ver você de novo.... - Ela gritou. Agora que o babaca estava fora de vista ela tinha que lidar com um problema mais sério. Seu rosto estava vermelho e ela tentou não pensar nisso. Camila tinha beijado ele, e não o contrário. Ela quis beijá-lo e isso fez Lauren ficar furiosa e perturbada.
- Onde está Camila? - Ela perguntou assim que ela entrou. Marielle estava sentada no sofá, assistindo o noticiário da noite.
- Acho que ela está no palheiro lá em cima, querida. Vocês duas vão dormir lá? - Lauren ignorou a perguntar e correu escada a cima. Por não ter porta, Lauren simplesmente entrou.
- Mas que merda foi aquilo, Camila? - Lauren exigiu. Camila estava sentada no peitoril da janela, olhando lá pra fora. - Porque você chegaria perto daquelee..pedaço de merda?
- Não é da sua conta, Lauren. - Camila rebateu.
- Ele é nojento, Camila.
- Ele é legal.
- É, mas você pode conseguir alguém muito melhor. - Lauren respondeu.
- Ele gosta de mim, ok? - Camila se levantou, caminhando mais pra frente.
- Oh, então você sai beijando todo mundo que gosta de você. É isso? - Lauren ridicularizou.
- Eu acho que já beijei o suficiente número de pessoas que não gostam de mim. - Camila reclamou. "Aii, essa doeu", Lauren pensou. Ela não conseguiu achar uma boa resposta pra rebater isso. - Eu estou realmente cansada, você poderia sair, por favor? Amanhã temos que dirigir por mais 5 horas. - Os ombros de Lauren cairam e ela sentiu como se tivesse perdido a batalha.
- Ok. - Lauren disse derrotada e começou a descer as escadas. Ela quase se chocou com Mariele, quem estava com as mãos em sua barriga.
- Oh, Me desculpa. Eu não quis...
- Garotas! Eu preciso de vocês duas. - Marielle disse. A calma com que ela falou isso era assustadora e Lauren sentiu como se algo ruim estava a ponto de acontecer de novo. Camila achando estranho o silêncio se juntou a Lauren na escada.
- Está tudo bem? - Ela perguntou.
- Garotas, eu preciso que vocês fiquem o mais calmas possível, ok? - As duas assentiram. - Minha bolsa acabou de estourar.
O cérebro de Lauren girou e levou um minuto pra ela processar o que a mulher tinha acabado de dizer.
- Oh droga, droga. - Ela xingou.
- Garotas, preciso que liguem para o Harry. Eu lhes darei o número do celular dele. Tem uma grande chance dele estar bebendo e não atender, mas eu quero que vocês deixem uma mensagem de voz explicando que seu bebê está nascendo agora e que eu o queimarei vivo se ele não chegar em casa logo. - Camila correu para pegar o telefone. Lauren ficou paralizada no mesmo lugar. Ela não sabia o que fazer. Não havia nenhum adulto para assegurá-la de que tudo ficaria bem. Marielle estava tendo seu bebê e as únicas pessoas que estavam lá eram ela, Camila e Max e o garoto já estava em sua cama. Camila voltou com o telefone e discou os números. Assim como Marielle imaginou, Harry não atendeu e Camila deixou uma mensagem de voz com Marielle no fundo, calmamente ameaçando seu marido.
- Ok. Lá se vai minha carona para o hospital. - Marielle estava surpreendentemente despreocupada quanto a isso, mas Lauren pode vê-la respirando profundamente. - Ok, nós vamos ter que fazer isso do antigo e velho jeito.
- Nós poderíamos ligar pro 911 - Lauren sugeriu.
- Não. Tudo bem. Eu queria um parto em casa, de todos os modos. Foi assim que Max nasceu. Exceto que, da última vez, eu tinha Harry e uma parteira. Agora eu tenho duas garotas que não fazem idéia do que estão fazendo. - Ela respirou profundamente. - Ok. Uma de vocês precisa começar a encher a banheira com água quente. A outra precisa pegar as toalhas. Por favor, rápido. Eu só consigo me concentrar até eu começar a chorar e gritar de dor. - Ela sorriu suavemente. Lauren se desligou de seu transe e correu até o banheiro, começando a encher a banheira. Lá fora Marielle deixou um gemido de dor alto escapar e andou com dificuldade até o banheiro.
- Eu não sei o que eu estou fazendo -Lauren disse sentindo o pânico crescer em sua garganta.
- Tudo bem, Lauren. Eu só preciso que você faça exatamente o que eu disser. - Marielle disse antes de soltar outro grito. Camila chegou com os braços cheios de toalhas e as colocou no chão. As duas ajudaram Marielle a entrar na benheira e ela se deitou lá, gemendo de dor. Lauren segurou a mão de Camila em busca de conforto e ela ficou feliz quando Camila apertou sua mão.
- Você vai conseguir. - Camila sussurrou pra mulher em trabalho de parto e Lauren rezou para essas palavras serem verdade.
Seis horas depois, Camila segurava um bebê choramingando em seus braços. Harry à essa hora já deve ter estourado o limite de velocidade umas três vezes depois de ouvir a mensagem em sua caixa postal. Quando ele chegou, Marielle passou umas meia hora o xingando e o fez jurar nunca mais beber. Em várias vezes, Lauren sentiu como se ela estivesse a ponto de vomitar ou de desmaiar, ou os dois de uma vez, mas ela via luz na sua frente. Camila sempre segurava firme sua mão e a trazia de volta pra realidade. Quando tudo acabou, ela sentiu como se ela fosse a pessoa quem deu a luz.
As duas garotas deixaram o recém-nascido com seus pais e antes de sairem Marielle as agradeceu profundamente. Harry, movido à emoção, lhes deu abraços que quase quebrou seus ossos. As duas sairam da casa e foram para o celeiro, subindo as escadas e se sentaram com suas pernas balançando.
- Isso foi intenso. - Camila disse secando o suor de sua testa.
- É. - Lauren respondeu. Ambas tinham sorrisos aliviados em seus rostos.
- Sei lá, foi meio divertido - Camila disse. - Foi como ...esperar uma surpresa aparecer. - Lauren rolou seus olhos.
- Claramente você achou sua vocação, Camz. Parteira. - Camila riu um pouco.
- Eu não sei o que isso significa. - Ela respondeu.
- Exatamente o que você fez essa noite. - Lauren explicou. As duas ficaram sentadas em silêncio por um tempo até que Lauren voltou a falar. - Obrigada por ter estado lá. Eu não sei se eu conseguiria fazer isso sem você. - Camila sorriu.
- Também fico feliz de você ter estado lá. - Lauren virou sua cabeça e olhou completamente para Camila. A morena estava sorrindo e seus dentes brilhavam mais sob a luz da lua. Seus olhos estavam radiantes e maravilhosos. Lauren então percebeu o quanto havia sentido falta daquele sorriso. Mesmo que tivesse se passado apenas um dia.
- Eu não gosto de nós brigando. - Lauren murmurou. A expressão alegre de Camila sumiu e ela se lembrou o porque elas haviam discutido. Ela olhou para seus pés.
- Eu também não gosto. - Ela respondeu. Quando Camila parou de sorrir, Lauren percebeu que faria qualquer coisa para fazer Camila feliz. Ela precisava ver aquele sorriso bobo. Ela queria que Camila a olhasse, completamente apaixonada. Ela odiava quando outra pessoa, como Keaton, beijasse Camila. Se tem algo que o parto de Marielle ensinou a ela é que ela era uma pessoa totalmente sem esperanças sem Camila.
"Eu estou apaixonada por ela" Lauren pensou e ela sentiu como se essas palavras batessem forte contra seu peito, a deixando sem ar. "Eu amo você, Camila."
- Tem alguma coisa no meu rosto? - Camila perguntou, tocando suas bochechas com seus dedos.
- Camz.. - A voz de Lauren estava baixa e trêmula. Camila a olhou de novo. Lauren sentiu sua boca ficando seca e todas as partes de seu cérebro gritando pra ela parar.
- Algum problema? Tem alguma aranha em mim? - Camila perguntou. Lauren respirou o mais profundo que ela pôde e deixou as palavras sairem.
- Eu te amo, Camila.
Com essas três palavras, pareceu que qualquer barreira que a impedisse de sentir o quão forte era esse amor simplesmente desapareceu. De repente ela percebeu o quanto ela precisava estar com a outra garota e ela arfou quando toda a emoção a atingiu de uma vez. Os olhos de Camila se arregalaram e Lauren moveu sua boca, mordendo os lábios.
- Di..iz de novo. - Camila respirou.
- Eu amo você. - Lauren não achou mais fácil dizer pela segunda vez. Ela ainda pensava na lógica de seu cérebro. Por sorte, as partes lógicas estavam morrendo e sendo substituídas pelos sentimentos que ela tinha reprimido por tanto tempo. Camila deslizou sua língua por seus lábios antes de beijar Lauren firmemente e docemente. Suas línguas se entrelaçaram e seus dentes bateram. Apesar de ter sido um beijo desajeitado elas não se importaram. As mãos de Lauren agarraram o pescoço de Camila, a puxando pra mais perto e as mãos de Camila se apressaram em se aproximar de Lauren.
- Eu amo você. - Lauren não conseguia parar de dizer isso e toda vez que ela dizia isso, Camila a puxava para um beijo ainda mais intenso e mais longo do que o anterior. Quando elas finalmente se acalmaram, Camila deu o sorriso mais doce que Lauren já tinha visto em toda sua vida.
- Eu também te amo, Laur.
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