Capítulo 18
San Francisco, Califórnia, Cinco anos atrás.
Quando Lauren abriu os olhos, ela não estava na rua onde foi baleada. A menina não estava em um hospital, nem em seu apartamento em Nevada, e a única coisa que ela conseguia enxergar eram lampejos da luz do sol atravessando as folhas das árvores. A morena se sentou e olhou em volta. Lauren estava sentada abaixo de uma árvore em uma floresta cercada por montanhas cobertas de neve. A menina olhou para o céu, não havia muitas nuvens na imensidão azul. A morena ergueu a mão e tocou o lugar em sua cabeça onde havia sido baleada. Quando ela sentiu que não havia nenhum machucado naquela região, Lauren retirou a mão imediatamente, olhando ao redor para constatar se realmente estava sozinha naquele lugar.
"Olá?" Sua voz ecoou pela floresta. Ninguém respondeu. A morena se levantou e começou a caminhar sem um rumo certo.
Lauren observava o local enquanto andava sobre as raízes das árvores. A menina não sabia onde estava, mas ela tinha certeza que nunca havia ido a aquele lugar antes. Sem prestar atenção onde estava pisando, Lauren tropeçou em uma pedra e caiu. Mas surpreendentemente, ela não sentiu nenhuma dor. A menina se levantou e olhou para suas mãos, estranhamente normais, sem nenhum arranhão. E de repente, ela começou a ter uma noção de onde estava.
Lauren respirou fundo e sorriu, a confusão em sua mente desaparecendo milagrosamente. A menina podia sentir todas as suas preocupações irem embora, como se ela não precisasse mais se lembrar do mundo em que estava. Naquele momento, a morena soube que havia chegado onde ela desejava estar há anos.
"Eu estou aqui!" Ela gritou, começando a correr pela floresta.
"Eu estou aqui!" Ela gritou novamente. O sorriso de Lauren desapareceu ao perceber que ninguém iria respondê-la. "Camz?" Seu coração batia descontroladamente em seu peito, e a menina olhou ao redor mais uma vez, tentando identificar qualquer rosto conhecido que pudesse estar por ali. Mas ela não encontrou ninguém.
A idéia de estar sozinha naquela imensidão verde fez Lauren começar a chorar. A menina finalmente estava onde desejou estar por tantos anos, e a pessoa que ela esperava que a acompanhasse não estava com ela. A morena olhou em volta mais uma vez, e ao voltar seu olhar para frente, finalmente avistou uma silhueta saindo de trás de uma árvore gigante. Ela continuou caminhando, chegando cada vez mais perto da morena. Lauren se recusou a acreditar que fosse quem ela estava esperando até a menina estar a poucos metros de distância.
"Oi." Camila sussurrou. Lauren olhou a latina dos pés a cabeça. Ela usava um vestido amarelo e sapatos da mesma cor, um arco vermelho com um laço delicado brilhava em seu cabelo.
"Oi." Lauren respondeu. Sem conseguir pensar em mais nada, a morena correu em direção à latina e puxou-a para um abraço apertado.
"Você não faz idéia do quanto eu senti sua falta." Lauren disse. Os braços de Camila envolveram a morena de uma forma delicada e carinhosa, e finalmente, a menina pôde constatar que aquilo não era um sonho.
"Eu senti sua falta também." Camila respondeu. Lauren se afastou dos braços da latina para ver seu rosto, sendo surpreendida por um largo sorriso da morena.
"Você está exatamente do jeito que eu imaginei." Lauren disse. Camila riu e colocou uma mecha do cabelo da menina para trás de sua orelha. Lauren não sabia o que dizer. Elas estavam separadas há tanto tempo que a menina havia esquecido como deveria se comportar na frente do amor de sua vida.
"Vamos, Lolo. Eu quero te mostrar tudo." Camila disse, puxando a menina pela mão.
"Por que a pressa? Temos uma eternidade para fazer isso!" Lauren puxou a latina para mais um abraço, descansando sua cabeça no ombro da menina. "Vamos ficar assim por um tempo." Camila sorriu, aproveitando o calor do corpo da morena junto ao seu.
Camila mostrou todos os lugares possíveis para Lauren. As meninas passaram pelas montanhas até chegarem à margem de um lago, onde uma velha cabana completava a magnífica visão.
"É lá que você fica?" Lauren perguntou.
"Às vezes. Eu estou morta, então eu posso ficar onde eu quiser." Lauren apertou a mão de Camila.
"Eu gostei daqui. É calmo." As meninas caminharam até a beira do lago e Lauren tirou os sapatos, deixando seus pés mergulharem na água cristalina enquanto Camila a observava em silêncio.
"Vem, Camz!" Lauren gritou. Camila sorriu e balançou a cabeça. A morena franziu o cenho e saiu da água, caminhando até a latina.
"Eu te amo." Camila a tranquilizou, ao ver a expressão de preocupação de Lauren. "Mas isso não está certo." Lauren deu um passo para trás.
"Como assim?" Camila mordeu o lábio.
"Você estar aqui. Isso não é certo."
"Por quê? Eu estou morta, Camz. Finalmente eu posso ficar com você." Lauren disse. Camila balançou a cabeça novamente.
"Não, Lolo, você não está." Ela disse, fazendo Lauren sentir um arrepio percorrer sua espinha. "Lolo, você não está morta."
"Do que você está falando?" Lauren perguntou. A menina olhou em volta, procurando uma forma de escapar da verdade que Camila estava prestes a revelar.
"Você não está morta, Lolo." Lauren estremeceu. "Você está em coma." Lauren deu um passo para trás, balançando a cabeça em descrença.
"Você está errada. Você está errada, Camz. Eu vim para ficar." Ela disse.
"Eu sinto muito." Camila sussurrou. Lauren caiu de joelhos.
"Em coma..." A morena sussurrou, tentando processar a informação.
"Por favor, não fique brava."
"Eu levei um tiro na cabeça!" Lauren gritou. "Na cabeça porra!"
"Eu sinto muito." Camila sussurrou novamente. Lauren fechou os olhos. Aquilo não podia ser verdade. A latina devia estar fazendo algum tipo de piada, mas a morena sabia que Camila nunca brincaria com algo assim. No momento em que Lauren começou a aceitar que talvez não estivesse morta, vozes ecoaram em sua mente.
"Ela está respondendo..." Lauren não reconheceu aquela voz. A menina abriu os olhos e Camila estava ajoelhada a sua frente.
"Eu vou acordar?" Lauren perguntou.
"Eu não sei." Camila respondeu. A latina pegou a mão da morena e a levou até o seu rosto. Lauren fechou os olhos, tentando memorizar a sensação da pele quente de Camila.
"Eu não sei se posso ficar sem você de novo." Lauren disse.
"Sim, você pode. Você é forte, Lolo." Lauren balançou a cabeça, mas Camila colocou uma mão em cada lado de seu rosto, fazendo-a olhar para a latina. "Você pode."
"Eu não quero acordar, Camz." Lauren disse, soluçando ao se jogar nos braços da morena. "Eu não quero acordar."
"Os batimentos estão caindo!" Uma voz desconhecida exclamou. Lauren se endireitou para olhar para Camila.
"O que está acontecendo?" A morena perguntou. "Alguém disse que os meus batimentos estão caindo."
"Você está desistindo, Lolo." Camila disse. A latina respirou fundo e olhou diretamente nos olhos de Lauren. "Você tem que escolher. Você pode voltar ou..."
"Eu posso morrer." Lauren disse. A menina pensou por mais alguns segundos antes de se levantar abruptamente.
"Lolo? Lolo, o que você está fazendo?" Camila perguntou, franzindo o cenho ao ver a reação da menina. Lauren começou a andar de um lado para o outro.
"Eu preciso pensar." Ela respondeu. A menina continuou a se mover nervosamente, olhando para Camila algumas vezes.
"Camz, eu quero ficar..."
"Minha filha, por favor, acorde." Lauren interrompeu sua frase no meio. Aquela era a voz de sua mãe? "Laur, nós te amamos. Por favor, por favor, não nos deixe antes de podermos nos desculpar."
"O que foi?" Camila perguntou, notando o olhar distante de Lauren.
"E-eu acho que são os meus pais." Lauren respondeu.
"Vamos lá." Era a voz de Alexa. "Você tem que acordar! Quem vai me ajudar no bar?" Lauren se sentou novamente.
"Sabe, Laur," os olhos de Lauren se arregalaram quando ela ouviu aquela voz muita conhecida interrompendo o silêncio em sua cabeça. "Max acaba de completar nove anos e ele me pergunta sobre você todos os dias." Era Marielle. Lauren colocou a mão sobre sua boca.
"Lolo?" Camila a chamou, observando os olhos cheios de lágrimas da menina.
"Eu não sei o que fazer." Lauren soluçou.
As meninas ficaram sentadas uma de frente para a outra em silêncio durante algum tempo, pensando na decisão que Lauren precisava fazer. O sol já começava a ser escondido pelas nuvens, quando a morena se pronunciou.
"Eu pensei que meus pais não gostassem mais de mim." Lauren disse. "E, meu Deus, Marielle disse que Max acaba de completar nove anos? Que merda, eu devo estar em coma por pelo menos um ano." Camila olhou para a menina.
"Eu não sou a única que te ama, Lolo."
"Que merda, Lauren Jauregui! Se você não acordar, vai carregar toda a minha ira para o seu túmulo!" Lauren gargalhou ao ouvir aquela voz carregada de raiva.
"Meu Deus, Camz! É a Lucy!" Camila sorriu.
"Está vendo? Eu sabia que ela gostava de você." Camila disse, sorrindo. Mas logo a brincadeira deu lugar a indecisão, fazendo Lauren voltar seu olhar para o chão.
"Eu não posso deixá-la." A menina disse, mais uma vez.
"Sim, você pode." Camila afirmou. "Eu sempre estarei aqui."
"Eu tenho vivido no passado, Camz." Lauren confessou. "Tudo o que eu fiz, todos os lugares que eu estive, foi na tentativa de preservar sua memória."
"Lauren..."
"Eu sei..." Lauren deu alguns passos para frente, se aproximando de Camila. "Eu preciso ir. Preciso terminar essa viagem e viver para poder refazer todas as minhas memórias." Ela pegou a mão direita de Camila, acariciando a pele macia da latina. "Mas por que isso envolve deixar você?"
"Você nunca vai me deixar." Camila respondeu. "Você disse que nunca iria me deixar e manteve essa promessa durante todo esse tempo."
"Mas..."
"Nós não estamos no céu, Lauren. Estamos na sua cabeça. Aqui é onde você quer estar, onde eu estou. Se você morrer, não há nenhuma garantia que eu vá estar te esperando do outro lado."
"Você sempre está em meus pensamentos." Lauren sussurrou. Camila sorriu.
"Eu sei." A latina afirmou, dando um abraço apertado na morena. "Você pode fazer isso." Lauren suspirou.
"Eu acho que eu ainda tenho um monte de coisas para fazer, não é? Como... ajudar a Alexa no bar, e pegar Camren. Eu também preciso encontrar todos os nossos amigos, ver como eles estão. E eu preciso pedir desculpas a tantas pessoas." Lauren sorriu. "Se eu voltar, eu não vou mais viver no passado." Camila apertou a mão da morena.
"Eu te amo." A latina disse.
"Eu também te amo." Lauren respondeu, pensando por um segundo antes de se pronunciar novamente. "Se eu ficasse aqui, eu provavelmente me arrependeria. Posso viver com arrependimentos, mas eu não quero morrer com eles." Assim que terminou de falar, a visão de Lauren ficou turva e a morena sentiu uma pontada na cabeça. Ela estava voltando. Instintivamente, a menina buscou a mão de Camila.
"Eu sempre vou te amar." Ela disse. A latina assentiu.
"Eu sei." E de repente, tudo ficou branco.
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Quando Lauren abriu os olhos, a menina teve que piscar lentamente diversas vezes para focar as imagens a sua frente.
"Laur?" Clara levantou-se rapidamente e se aproximou da cama em que a filha estava com Michael logo atrás. Lauren tentou olhar para os pais, mas uma quantidade enorme de tubos a impedia de mover a cabeça. Ela ainda sentia um pouco de dor e o cansaço era tão grande que a morena não conseguia fazer mais nada além de dormir. Mas ela não sonhou com Camila.
Lauren descobriu que ficou em coma por quase um ano e dois meses. Ela estava consideravelmente mais magra e sua pele estava ainda mais clara do que antes. A primeira coisa que a menina fez depois de recuperar o movimento de seu pescoço foi olhar para sua mão esquerda. A morena deixou escapar um suspiro de alívio ao ver o anel de prata firmemente colocado em seu dedo anelar.
Assim que Lauren acordou, o médico foi até seu quarto e explicou o que tinha acontecido. A menina teve um dano cerebral significativo, mas o pior já havia passado. Nas primeiras horas que passou acordada, a morena não conseguia falar e nem se mover, mas mesmo assim, seus pais começaram a se desculpar.
"Você é a nossa menina." Sua mãe soluçou, apertando a mão de Lauren. Seu pai não conseguia olhar diretamente para ela, mas quando a morena sussurrou um fraco "Papi..." o homem rapidamente apareceu ao seu lado, seus olhos cheios de lágrimas.
"Nós nunca mais iremos te abandonar." Michael prometeu.
"Quando soubemos... Oh Deus, seu pai ainda tem as marcas que comprovam o tamanho da minha raiva." Sua mãe riu em meio às lágrimas. Lauren deu um sorriso torto pensando em como era bom ter sua família de volta.
A recuperação da menina foi lenta e dolorosa. Lauren teve que reaprender a andar. Seu corpo tinha ficado muito tempo sem nenhum exercício físico e ela teve que passar o resto do ano tentando recuperar sua mobilidade. Seu cabelo que havia sido raspado para a cirurgia, voltou a crescer e agora batia em seu ombro.
Depois de quase um ano de seu acidente, mas precisamente em outubro, Lauren voltou para Nevada e começou a trabalhar no bar novamente. Alexa sentia falta de sua ajuda e garantiu a menina que o movimento havia diminuído consideravelmente após o acontecimento. A mulher falou que a maioria dos fregueses ficou extremamente triste ao saber o que havia acontecido com a menina e uma forma de não lembrar do trágico acontecimento, era não ir mais ao bar. No final do mês, Lauren pediu alguns dias de folga para ir até o destino final de sua viagem.
Então, algumas horas depois, lá estava ela, olhando para o mar na praia onde Camila havia proposto. A menina tinha chegado ao lugar algumas horas mais cedo e esperado para ver o pôr do sol. Quando começou a escurecer, Lauren se aproximou do mar e deixou a água gelada tocar seus pés enquanto o seu rosto era banhado por lágrimas. Ela chorou até não poder mais, tentando se livrar de todos os sentimentos ruins que a prendiam a uma vida de tristeza e mágoa.
"Está na hora." A menina disse, se virando e caminhando até o calçadão. Lauren avistou uma senhora sentada sob um guarda-sol, arrumando suas bijuterias em cima de uma toalha estendida na areia. Quando a mulher terminou de arrumar sua mercadoria, a morena viu dois anéis de prata brilhar no meio das outras jóias.
"Oi!" Ela chamou a senhora.
"Gostaria de comprar alguma coisa?" A mulher perguntou. Lauren balançou a cabeça.
"Seus anéis." A menina se aproximou da senhora e abriu a mão para que a mulher pudesse ver as bijuterias. Uma estava em sua palma e o outro em seu dedo. "Eles funcionaram." A mulher sorriu.
"Fico feliz em ouvir isso."
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Quando Lauren entrou no carro para voltar para Miami, ela não sentiu a mesma sensação de pavor como da última vez que retornou a sua cidade natal. Vai dar tudo certo, a menina pensou. Visitar o túmulo de Camila era o passo final daquele longo e demorado processo. Lauren não era idiota, ela sabia que a dor pela morte da latina nunca iria sair de seu peito. Mas aquele era um bom começo.
"Um começo." Lauren sussurrou, sentindo o alívio que aquelas palavras traziam para o seu coração. "Finalmente, eu posso começar a viver de novo." Com os olhos cheios de lágrimas, a menina girou a chave e ligou o carro. Ela estava voltando para o lugar onde a maior tragédia de sua vida aconteceu, mas isso já não soava tão mal assim.
"Já estava na hora." Lauren imaginou Camila dizendo, e assentiu, concordando com as palavras imaginárias da latina.
"Nós estamos indo para a casa." A morena sussurrou para Picasso, que estava sentado no banco do passageiro como de costume. O bicho de pelúcia não disse nada, é claro, mas a menina sabia que Camila a ouviu. Lauren abriu as janelas de seu carro, e o vento gelado daquela noite de outubro invadiu o veículo, fazendo a menina ter a certeza de que ela nunca havia se sentido tão livre em toda a sua vida.
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