[ROSE] One
1
APRECIANDO A VISTA
— Você prometeu que vinha, Gillian! — reclamo ao telefone assim que cruzo a portaria do meu prédio. Sr. Chavez acena para mim, sorridente. Ele sabe que é meu aniversário e até me deu um chaveirinho de Teotihuacan de presente de sua última visita ao México.
Sorrio de volta para ele e sigo para o elevador. Enquanto aguardo as portas abrirem, Gillian se defende:
— Eu sei, Rose, e acredite, me sinto péssima por furar com você. Eu até comprei as passagens, vou pagar uma nota para cancelar.
— Não vejo você desde a mudança. — murcho. Quatro meses, para ser mais exata. Aquele mês de agosto foi a despedida oficial de San Diego. Mal consegui passar tempo com todas as pessoas que são importantes para mim, porque estava todo mundo correndo com a própria mudança. Nem pude me despedir de Gillian no dia em que ela embarcou para Eugene.
— Uma droga, eu sei. Mas você vai passar o Natal em San Diego com sua mãe, né?
— Não, dessa vez eu vou para a Flórida ficar com papai. Não vou conseguir te ver em San Diego. Tem certeza de que não pode vir amanhã pelo menos? Quer dizer, é só uma prova e...
O elevador finalmente chega e eu entro.
— Não vai dar. Sinto muito.
— Tudo bem. — digo, por fim. — Estou no elevador, a ligação vai ficar ruim. Falo com você depois, ok?
Despeço-me dela e desligo. Sei que não tenho direito de ficar chateada, mas a verdade é que sinto falta dela. Tento manter o contato por mensagens e ligações, mas quanto mais o tempo passa menos sinto que é suficiente. Quando ela disse que tentaria vir para Los Angeles para o meu aniversário, mal pude conter a animação.
Mas uma prova surpresa estragou tudo e ela não vem mais.
Eu nunca dei muito bola para comemorar meu aniversário. Ano passado não fiz absolutamente nada e achei que esse ano seria igual. Quer dizer, vai ser igual. Mas queria ao menos rever Gillian, Skyler, Brenda, Bridget, Nadine... Não vai rolar, infelizmente. Mas ao menos Erika e Harry estarão aqui. Finalmente apresentarei Elijah Kelly e Shyla Patel para Harry, que eu não vejo há quase um mês.
Envio uma mensagem para ele assim que o elevador se abre no meu andar:
Já está na estrada? Acha que consegue chegar antes do jantar?
Esse foi o maior espaço de tempo em que ficamos sem nos ver. Harry teve jogos nos dois últimos finais de semana e não conseguiu vir para LA, e eu também não consegui ir até ele porque passei um dos finais de semana doente e o outro finalizando um seminário de uma das core courses em que estou matriculada.
Mas ele não perderia meu aniversário por nada.
Enquanto caminho em direção à porta do meu apartamento, ainda com os olhos no celular, cochichos no final do corredor chamam minha atenção. Detenho o passo antes de entrar no campo de visão de quem quer que sejam.
— Você está atrasado! — é a voz de Audrey na soleira da nossa porta. À frente dela, Harry bufa, irritado.
— Experimenta dirigir trezentas e cinquenta milhas virado, cunhadinha. Cadê, já chegou todo mundo? Onde ela está?
— Aqui. — eu digo, segurando o riso conforme me aproximo.
Harry e Audrey olham para mim ao mesmo tempo, os olhos arregalados.
— Inferno, Harry, você estragou tudo! — Audrey reclama e volta para dentro do apartamento. Consigo escutar um coro de lamentos assim que ela diz: — Ela chegou, gente, podem sair dos esconderijos.
A frustração e o embaraço de Harry só duram cinco segundos. Ele então sorri para mim, um de seus sorrisos abertos e calorosos, e vem em minha direção. Ele está lindo com uma jaqueta de couro caramelo e jeans claros. Percebo que cortou o cabelo desde a última vez em que o vi.
— Minha gata, que saudade. — ele me toma em um abraço de urso, apertando-me e cheirando meu cabelo. Aconchego-me em seu peito e inspiro seu perfume amadeirado.
— Pensei que você só chegaria mais tarde.
— Era parte da farsa. Audrey preparou uma festinha surpresa para você e eu cheguei literalmente agora, estava no estacionamento subterrâneo e acabei de subir pelo elevador de serviço e...
— Por que não esperou no carro até eu verificar se a barra estava limpa? — Audrey aparece de novo na porta, o rosto transfigurado pela irritação. Está com um rabo de cavalo desgrenhado e sem maquiagem, prova de que realmente se empenhou para preparar essa surpresa. Ela atira um chapéu de festa com o rosto da Serena van der Woodsen para ele e nos dá as costas. — Tinha que ter sido você, sério.
Harry revira os olhos enquanto coloca o chapéu e eu me afasto dele, rindo.
— Tá tudo bem, Audrey, foi uma surpresa mesmo assim. Quem está aí? — eu dou alguns passos na direção da porta e o que eu vejo quase me faz cair para trás.
Na pequena sala de estar do nosso pequeno apartamento de dois quartos, um amontoado de gente grita "surpresa!" quando eu apareço. Além dos rostos esperados de Erika, Elijah e Shyla, vejo Nadine, Brenda, Calvin e Gillian. Balões coloridos estão flutuando no teto e Audrey providenciou para todos os convidados chapéus em formato de cone com o tema da minha mais nova obsessão: Gossip Girl.
— Eu não acredito! Vocês vieram! — eu grito e corro para abraçar todo mundo.
— Eu sou uma ótima mentirosa, fala aí. — Gillian ri enquanto eu a esmago em meus braços. Seu chapéu com a cara do Chuck Bass vai parar no chão. O cabelo dela cresceu e está na altura do ombro agora. Ela também fez duas mechas rosas, uma de cada lado. — Até trouxe Calvin para distrair o Harry e poder monopolizar você.
Calvin me cumprimenta com um sorriso sem graça. Nunca fui muito próxima dos amigos do Harry do 12th grade, mas Calvin foi promovido de "apenas um jogador de vôlei idiota" para "namorado de uma das minhas melhores amigas", então agora eu presto mais atenção nele. Ele está usando tranças nagô ao invés do afro puff habitual e parece ter ganhado ainda mais músculos desde que o vi pela última vez.
— Skyler e Bridget não conseguiram vir, mas mandaram um abraço. — Nadine diz quando eu me volto para ela.
— Ah, estou tão feliz! — meus olhos marejam.
Este já é o melhor aniversário de todos os tempos.
• • •
Alguns minutos mais tarde, todos foram devidamente apresentados. Audrey preparou um bolo de chocolate com uma cara tenebrosa, mas eu simplesmente amei o esforço dela em me agradar. Ela está distribuindo cervejas para os convidados e avisando que, se uma única gota cair em nosso sofá, ela fará o culpado limpar com a língua. Elijah me ajuda a partir os pedaços do bolo nesse meio tempo.
— Seu namorado está me fuzilando como se eu fosse Jack, o Estripador. — ele sussurra do meu lado, risonho. Seus cabelos loiros e lisos caem nos olhos castanhos e ele sacode o rosto. Elijah é tão adorável e inofensivo que a comparação com Jack me faz rir.
Acompanho o olhar dele e vejo Harry desviar a atenção para Calvin, que conta alguma história acalorada para ele.
— Relaxa, ele olha assim para todo mundo. Eu falei de você para ele.
— Espero que tenha falado que eu não sou nenhum destruidor de lares. — ele brinca e eu torno a rir.
Elijah e eu nos conhecemos na primeira semana de aula do freshman, primeiro ano universitário. Pegamos as mesmas matérias básicas, incluindo Oratória e História, que estão no plano de classes de nível mais baixo. A gente se deu bem quase que instantaneamente. Elijah também pretende seguir alguma área de Exatas depois dos dois anos básicos da graduação, então provavelmente passaremos muito tempo juntos na UCLA.
Ele também adora ler e é péssimo com bebidas. Finalmente encontrei alguém que fica bêbado mais rápido do que eu. Conhecemos Shyla juntos na primeira festa a que fomos quando decidimos tentar entrar para alguma Kappa. As Kappas são as fraternidades/sororidades da universidade e eu não fazia ideia do quão difícil era ser aceito. Muitas são separadas por gênero, mas acabamos encontrando uma que não era tão rigorosa nem famosa, a Upsilon Kappa Phi. Shyla faz parte da organização e até mora na república deles. Acabamos ficando bem amigos.
— Fica tranquilo, ele vai adorar você. — eu tranquilizo Elijah.
A verdade é que eu nem conversei tanto assim com Harry sobre ele. Os primeiros meses meus aqui na UCLA e de Harry em Stanford foram simplesmente uma loucura. Na maioria das vezes em que nos encontramos, mal tivemos tempo de conversar. Ele sempre vinha e voltava correndo. Eu ainda não me sinto confiante de dirigir sozinha na autoestrada, então só fui para Stanford uma vez com Erika de copiloto, no aniversário de dezenove anos do Harry no final de outubro.
Espero que as coisas se acalmem um pouco agora que o frenesi de calouro passou. Harry vai comigo para a Flórida para as festas de fim de ano, então teremos algum tempo de qualidade juntos. Quando voltarmos depois do recesso, podemos tentar ajustar nossas rotinas para nos vermos com mais regularidade.
— Tá bom, Rose, eu finalmente acredito em você. Ele não é horroroso. — Shyla aparece na nossa frente, dando de ombros.
Ela tem a pele escura e os cabelos negros e lisos na altura da cintura. É alta e tem um corpo de cair o queixo. Os olhos são grandes e expressivos e, apesar de toda a imponência, ainda são reconfortantes e gentis. Ela tem uma energia de líder que eu e Elijah particularmente adoramos. Exceto quando ela fica muito mandona, claro. Sem ela com certeza teríamos virado comida de veteranos na nossa busca ingênua por uma fraternidade.
— Eu disse! Você encucou com aquela foto. — reclamo. Quando mostrei fotos do Harry para ela, ela fixou em uma que tirei dele em um momento desprevenido e desde então ela me zoa dizendo que eu namoro um guaxinim.
— Ele é bem padrãozinho, mas é bonito. Minha mamadi teria se apaixonado. — ela ri.
A família da Shyla é indiana e eu simplesmente adorei a mãe dela quando fui convidada para um almoço em sua casa. Eles moram todos aqui em LA, pais, tios, primos e avós, mas Shyla não suporta morar com eles e prefere ficar na insalubridade da Upsilon a ouvir reprimendas por ir a festas ou andar com tatuados. Eu e Elijah somos os únicos amigos que a mãe dela gosta e aposto que é só porque não temos nenhuma tatuagem.
— Duvido, ele tem tatuagens. — relembro-a.
Ela ri e Gillian se desvencilha da conversa de Nadine e Brenda e vem até nós.
— Rose, eu adorei seus amigos. Estava preocupada que você ficasse desamparada sem mim para pôr juízo na sua cabeça, já que Erika não é muito melhor que você nesse aspecto, mas Shyla é simplesmente uma general. Adorei você, garota.
Shyla faz uma cara convencida e sorri para Gillian.
— Eu tive que adotar esses dois filhotes de poodle ou então eles seriam destroçados pelas outras fraternidades. Meu lado sensível me traiu.
Elijah mostra o dedo do meio para ela.
— Você age como se fosse a Cleópatra, mas só é dois anos mais velha que a gente, Shyla.
— Eu já estou no major enquanto vocês dois precisam estudar aquela chatice de Oratória no freshman. Uns bebezinhos. — ela debocha e Elijah bufa, contrariado.
— Ei, eu também tenho que estudar Oratória na UO. — Gillian reclama. Nem a Universidade do Oregon escapou do programa básico entediante.
— Mas você parece madura, se quer saber. Esses dois pararam na quinta série. — Shyla provoca e eu e Elijah protestamos ao mesmo tempo.
Harry é atraído pelas nossas reações e deixa Calvin falando sozinho.
— Qual a treta? — ele se enfia entre Elijah e eu e coloca um dos braços sobre o meu ombro. Elijah cambaleia para o lado, incrédulo com a falta de educação de Harry.
— Eu estava falando para Gillian que sua namorada e Elijah são dois tontos infantis e precisam da minha orientação maternal. — Shyla continua sua provocação.
Harry dá uma olhada de rabo de olho para Elijah e então se fixa em Shyla.
— Então você é a Mini Cooper 2.0?
— Esse apelido já perdeu a graça, bocó. — Gillian revira os olhos.
— Se depender de mim, vai acompanhar você até sua lápide. Aqui jaz Mini Cooper, filha e amiga amada.
— E namorada! — Calvin grita do outro lado da sala.
Gillian finge não dar bola, mas vejo como ela sorri com o que Calvin diz. Eles dois são o casal mais improvável da história. Quem diria que um cafajeste e uma garota anti-homens se dariam tão bem.
Tudo começou como um jogo de provocações e ninguém achava que fosse durar. Gillian tratava Calvin como um capacho e ele parecia estranhamente fascinado com isso. Ela vivia dizendo que não iriam para frente, mas cá estão eles, firmes e fortes. Ele acabou não conseguindo uma bolsa para Stanford e terminou indo para o Oregon assim como Gillian. Eles não se desgrudam mais.
— Agora que conheci Gillian, ser considerada uma versão 2.0 dela é um elogio e tanto. — Shyla diz e faz um toquinho de mão com Gillian.
— Ah, maravilha! Ei, Rose, Nadine e Brenda vão conseguir ficar até a festa do preto! — Erika comemora e me avisa. Ela conseguiu entrar para uma das maiores sororidades da UCLA, a Sigma Kappa Beta. Só aceitam meninas lá e são extremamente fechadas, mas vão dar uma festa amanhã à noite aberta às outras fraternidades e Erika me intimou a ir.
— Festa do preto? — Harry pergunta, olhando para mim.
— É uma dessas festas temáticas de fraternidade. Você vai conseguir ficar e ir com a gente?
— Preciso voltar para Stanford amanhã de manhã, tenho treino às 15h. — ele diz e eu percebo certo cansaço em seu semblante. Imagino que ele esteja exausto depois de dirigir tantas horas só para me ver e já ter que ir embora amanhã.
— Relaxa, bonitão, vou cuidar da sua princesinha. — Shyla consola Harry. — Além do mais, com nosso colírio Elijah sempre ao lado dela, nenhum engraçadinho ousa chegar perto demais.
A tentativa de tranquilização de Shyla surte o efeito contrário, porque sinto Harry se retesar do meu lado quase que instantaneamente. Ele assente sem muita expressividade e me dá um beijo na bochecha antes de se afastar e voltar a conversar com Calvin.
— Porra, Shyla, o cara já me olha como se eu fosse atacar a Rose a qualquer momento e você ainda vem e mete essa? — Elijah sussurra, ansioso.
— O quê? — Shyla se faz de desentendida e depois solta uma risada curta. — Qual é, ele está com ciúmes de você?
— Claro que não. — faço um sinal de desdém com a mão. — É só que eles estão se vendo pela primeira vez e Harry é meio rabugento. Mas daqui a pouco eles dois serão, tipo, melhores amigos.
Elijah faz uma careta.
— Não sei, não.
— Pobre Elijah, vai enfrentar a fúria do titã. — Gillian faz graça, então se inclina para ele e sussurra. — Só para você saber, ele caiu no soco com Zack umas quinhentas vezes por causa da Rose.
— Zack? Quem é Zack? — Elijah fica vermelho e olha assustado para Harry.
Eu e Gillian caímos na gargalhada.
• • •
Várias horas depois, a maioria dos convidados já foi embora. Erika voltou para seu apartamento, duas quadras de distância de onde Audrey e eu moramos, e Nadine e Brenda foram dormir com ela. Shyla voltou para a república e Elijah para seu dormitório.
Gillian e Calvin estão dormindo em um colchão no chão da sala e Harry está neste exato momento tomando banho no meu banheiro enquanto eu namoro os presentes que ganhei. Gillian me deu uma almofada onde se lê "você merecia o mundo, mas eu só tinha dinheiro para uma almofada" ao lado do desenho de um cocô e um papel higiênico se abraçando. Rio sozinha. Totalmente a cara dela.
Erika me deu óculos de sol novos e Elijah e Shyla se juntaram para me dar a coleção inteira dos livros do Senhor dos Anéis. Nadine me deu um belorque de coração e Brenda um porta-retrato com uma foto de todas nós juntas no 12th grade. Aliso a imagem, nostálgica, relembrando todos os momentos incríveis (e terríveis) que nos trouxeram até aqui.
O presente de Audrey foi uma semana livre da louça. Confesso que não teria presente melhor, odeio lavar louça.
Quando Harry sai do banho, ainda pingando e com uma toalha em torno da cintura, distraio-me dos presentes e contemplo a visão dele. Sorrio maliciosamente, feliz por finalmente ter um momento a sós com ele.
— Apreciando a vista? — ele tira a toalha do quadril e a usa para secar os cabelos. Agora ele está completamente nu na minha frente. Percebo que, assim como Calvin, ele ficou mais musculoso desde que entrou na faculdade. Deve ter a ver com a rotina de treinos intensa a que eles são submetidos.
— Ô se estou. — recosto-me na cabeceira da minha cama de solteiro. Sinto falta da minha cama antiga em San Diego. Era de casal e tão espaçosa... Nesse apartamento que moro com Audrey os quartos são minúsculos e mal cabem uma de solteiro. Minha escrivaninha se apinha em um dos cantos, abarrotada de livros, e um guarda-roupa de apenas duas portas fica na outra extremidade.
Os aluguéis em Los Angeles são assustadoramente caros. Nossos pais não conseguiriam bancar algo muito maior, especialmente em uma boa localização como a nossa, mas sou grata pelo que eles nos proporcionam. Assim que possível tentarei encontrar um estágio para aliviar os gastos para eles. Audrey já está no major, os dois anos finais da graduação, mas seu estágio em uma editora é voluntário.
Harry tira da mochila que trouxe uma cueca preta e a veste, distraído. Quando estou prestes a protestar, meu celular toca com uma ligação de Eve.
— Oi, mãe. — e pelos minutos seguintes ouço pacientemente mamãe reclamar do fato de eu não ter atendido nenhuma das trinta outras ligações dela ao longo do dia. Explico que eu estava ocupada sendo a anfitriã da minha festa de aniversário surpresa e ela se acalma um pouco.
Ela me deseja feliz aniversário e eu agradeço enquanto Harry se atira na minha cama e enterra o rosto no meu pescoço, passando um braço sobre mim. Quando a ligação termina, eu volto a prestar atenção nele, que agora está de olhos fechados, parecendo a um passo de pegar no sono. Remexo-me para conseguir guardar os presentes e assim liberar mais espaço na cama. Ele resmunga e me observa enquanto eu arrumo a bagunça.
— Merda. O seu presente. — ele diz de repente. Olho para ele, sem entender, e ele suspira, cobrindo o rosto com as duas mãos. — Acabei deixando no meu quarto antes de sair e me esqueci de trazer.
— Está tudo bem. O importante é que você conseguiu vir. — eu digo, acariciando o rosto dele.
Não estou chateada que ele tenha esquecido, até porque não faço tanta questão assim de ser presenteada, mas confesso que o presente dele era o que eu estava mais ansiosa para receber. Harry é muito melhor do que eu nessa coisa de presente e ele sempre se lembra de todas as datas importantes. É a maneira dele de dizer que me ama e eu passei a contar com isso. O fato dele ter esquecido me causa uma leve pontadinha no coração, mas não vou dar importância.
— Feliz aniversário, gatinha. — ele me puxa para um beijo doce. Nossas línguas se entrelaçam e meu coração se derrete com o contato. Faz tanto tempo desde a última vez... É fácil me manter ocupada durante a semana e até esquecer um pouco a falta que ele faz. Mas, quando estamos juntos novamente e eu o sinto tão próximo assim, a dor da distância ataca com tudo. Vai ser horrível dizer tchau amanhã.
O beijo se intensifica e minha respiração acelera. Aproximo-me mais dele, passeando os dedos pelo peito desnudo. Harry corresponde, mas antes que eu consiga descer a mão ainda mais, ele interrompe o beijo e me encara.
— Tudo bem se a gente transar amanhã quando acordar? Eu estou tão cansado da viagem e da festa que tenho medo de pegar no sono no meio do negócio. Não dormi quase nada, tive treino até quase meia noite ontem. De manhã tive teste de Cidadania e de lá já peguei estrada para vir para cá.
Faço que sim com a cabeça. Eu percebi que ele estava cansado. Ele passou a festa inteira bocejando e coçando os olhos. A rotina dele em Stanford é muito pior do que a minha e preciso ter isso em mente sempre. Às vezes fico frustrada quando ele não fala comigo o suficiente durante a semana ou quando desliga as nossas ligações rápido. Nas vezes em que ele veio para cá, também não ficou muito. Por isso nem consegui apresentá-lo para os meus amigos até hoje, porque sempre que ele vinha o tempo era tão contado que eu optava por passar só com ele.
Mal conversamos nos últimos tempos. Isso está começando a se transformar em algo maior do que um pequeno incômodo, mas não acho que seja culpa dele ou que mereça uma conversa. Quando estivermos na Flórida teremos tempo de sobra e essa situação vai melhorar.
Harry sorri fraco para mim, cansado demais até para isso. Ele me abraça de conchinha e sussurra que me ama antes de começar a roncar baixinho no meu ouvido.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro