Capítulo 9
O Coração de Scorpion
O casarão Camponelle ficava na área mais alta da propriedade, de lá era possível ver o caminho do bosque ao fundo, entre a fazenda e o rancho Benedict. Juan avistou Sanem caminhar naquela direção, onde a vira pela primeira vez após o seu retorno, então a seguiu. Depois de observá-la por algum tempo, aproximou-se, mas antes que pudesse se anunciar, pisou em um galho e o barulho fez com que Sanem se assustasse.
— Peço perdão se a assustei — disse Juan.
— Não foi nada... — disse Sanem, a cabeça baixa, não esperava ver Juan por ali.
— Você mentiu.
— Menti? — Ela ergueu a cabeça, alarmada.
— Estava cantando antes da minha aproximação desastrosa e pude notar que não canta tão mal quanto disse na outra noite.
— Ah, claro. Só canto mal e não "tão mal". Entendi — gracejou ela.
— Tem razão, não foi um bom elogio.
— Decerto, não foi. — Sanem sorriu para deixar claro que não falara a sério.
Os dois sorriram e se encararam por um tempo. Olhos avelãs e âmbares em uma conversa muda.
Uma brisa passou entre os fios de lavas de vulcão de Sanem e baforou no rosto de Juan, enfeitiçando um pouco mais o seu olfato já afetado pelo aroma dela impregnado nas fibras de sua casaca. Quando a recebera de Sanem ainda pela manhã na congregação e a colocara, sentira como uma espécie de entorpecimento. Um cheiro de campo e floresta misturado com algo mais que ele não conseguia distinguir totalmente. Então pigarreou como forma de dizer ao seu cérebro que contivesse seus ímpetos, pois sua vontade era tomar uma mecha dos cabelos dela entre os dedos e sorver um pouco mais daquele néctar em inaladas urgentes. Precisava desviar a atenção antes que ela percebesse seu estado de desconcerto.
— O que é isso que faz aqui? — Juan apontou para os frascos sobre a mesa improvisada. Eram dois troncos largos mais ou menos com um metro e vinte de altura, um ao lado do outro.
— Pretendo ser uma alquimista.
— "Alquimista"? Você não quis dizer uma boticária?
— Alquimia é...
Juan apontou para o banco que havia ali, o mesmo que vira Sanem dormindo no dia de sua chegada. Sanem entendeu que ele pedia permissão para sentar e assentiu.
— Sim, eu sei o que é alquimia e alquimista — disse ele, sentando-se. Só estou surpreso. Envolve transformar metais em ouro, pedra filosofal e afins? Você é uma espécie de bruxa? — sussurrou ele, olhando ao redor para se certificar de que não havia ninguém espionando.
Sanem sorriu mais uma vez, contendo a gargalhada que dava por dentro enquanto se aproximava dele.
— Há muita ficção em torno da alquimia. Sim, sempre houve a parte mística, mas também houve contribuições médicas e químicas. A destilação e a fermentação advêm da alquimia. Gosto de explorar o que a natureza nos oferece. Cleópatra era alquimista, sabia? Li muito sobre ela na biblioteca Camponelle. — Sanem pausou ao ver Juan rindo. — O que é engraçado?
— Imagino que a biblioteca Camponelle seja a sala de livros que temos na fazenda.
— Sim. Os Camponelles são muito generosos, sempre me deixam ler lá ou até mesmo pegar alguns livros emprestados. Edições mais antigas e delicadas não podem sair da biblioteca.
— Percebo que não conheceu muitas almas generosas e que não conhece muitos lugares.
— Não sou tão caipira quanto o senhor pensa — retrucou, indignada, com seu orgulho ferido. Não podia permitir que Juan a visse como alguém que não sabia nada sobre o mundo. — Já fui muitas vezes a Terramar, algumas a Belomar, e uma vez fui a Bennetrópolis.
— Na fazenda dos seus avós? Criam ovelhas, não é isso?
— Não só isso, produzem tecido, compramos deles para nossa loja do centro de Mira Estrela.
— Sim, é verdade. Sebastian Benedict é um excelente alfaiate.
O semblante de Sanem se suavizou.
— De toda a província — disse, orgulhosa.
— Sem dúvida um dos melhores que já conheci.
— Da Corte também? — ela se deslumbrou.
— E da Europa...
Sanem o olhou desconfiada.
— Não caçoe de mim.
— Jamais caçoo de senhoras. Ele não está no topo da lista, mas está entre os melhores que já conheci. Em breve o procurarei para que me faça um terno.
— Posso desenhá-lo se desejar — ela se animou, há dias pensava em algo que pudesse dar a Juan de presente.
— Então, além de inventora, poetisa, abolicionista, latinista e alquimista, é desenhista também? A senhora não para de me surpreender. — Ele a encarou.
— Sou uma aspirante à modista, na verdade. — Sanem agachou para acariciar uma de suas flores, não queria que Juan notasse o rubor em seu rosto. — E não tenho a pretensão de me considerar uma latinista. Quanto a ser poetisa, gentileza do senhor. Aquilo foi só brincadeira.
Isso não era exatamente verdade, já que Sanem tinha o costume de versejar em pensamento. Pouca coisa passava para o papel, então seus poemas se perdiam com as memórias idas, mas preferiu omitir esse detalhe. Já era estranho ela se declarar alquimista, então dizer que em diversas ocasiões, em vez de apenas pensar como uma pessoa normal, versejava sobre a situação vivida a faria parecer muito mais excêntrica.
— E quando pode fazer o desenho? — perguntou ele para mudar a direção que a conversa havia tomado, pois notara o constrangimento dela.
— Se estiver disponível, agora mesmo.
Sanem tinha alguns materiais no casebre, fora ali averiguar se tudo estava em ordem após a chuva. Exceto por uns galhos quebrados e umas folhagens espalhadas, tudo estava dentro do normal. Levou seu caderno e o lápis para a área externa; com a ajuda de Juan, que deu a mão a ela — ambos sem luvas e aproveitando ao máximo a adrenalina daquele prazeroso contato, —, sentou em um dos troncos mais altos. Antes de começar, abriu e fechou algumas vezes a mão que ele tocara. Sanem sabia que Juan veria aquilo como uma espécie de aquecimento, mas a verdade era que sua mão formigava e tremia após o toque dele, e precisava que ela fosse contida em sua histeria, como se o abrir e fechar fossem bofetadas dada na face de sua mão, como se dissesse: "Se controle e assuma o seu posto de desenhista, não nos envergonhe".
Após respirar fundo e soltar o ar devagar, começou a desenhá-lo. Um momento que para ela deveria ser eternizado, uma vez que tinha um álibi para deter suas íris alaranjadas sobre ele, podendo admirá-lo sem ressalvas, sem constrangimentos, sem precisar disfarçar.
Depois de um certo tempo imóvel, desconfortável por ser esquadrinhado por uns bons minutos, o Camponelle pediu para ver como estava.
— Já vai escurecer — disse ela, fechando o caderno repentinamente e pulando do tronco.
Juan se adiantou em um reflexo e conseguiu ampará-la, mas Sanem, desnorteada com as mãos dele nos braços dela, tomou a dianteira, não queria que ele percebesse suas faces rubras como romãs, ou que fosse capaz de sentir sua pulsação acelerada sobre o tecido da manga do vestido. O coração dela batia contra o peito de forma tão violenta que não duvidava que pudesse ser sentido em cada centímetro dela.
— Espere, Sanem. Irei acompanhá-la. — Acelerou os passos para alcançá-la.
A Benedict sorriu, era a mais bela das árias ouvir seu nome na voz de Juan Camponelle, o dono de sua alma, como escreveria mais tarde em seu diário:
Sim, o dono da minha alma. Claro, não no sentido espiritual, pois as almas pertencem a Deus. Mas quanto a quem sou, minhas emoções, sentimentos, intelecto, pensamentos... Juan Camponelle é dono de tudo, de mim em cada detalhe. Sou dele, e isso nunca mudará, nem que passem cem anos. Hei de estar nele, e ele em mim, por mais de um século.
Percebendo que Sanem não queria mostrar o desenho sem estar concluído — provavelmente um perfeccionismo de artista —, o Camponelle não voltou ao assunto.
Ao chegarem ao rancho, Juan foi convidado a entrar para que suas medidas fossem tiradas. Os pais de Sanem, o resto da família e Omije estavam à mesa jantando, já que naquela tarde apenas tinham feito um lanche simples na cidade, com exceção de Omije, que ficara em casa e se alimentara normalmente. Insistiram para que Juan os acompanhasse na refeição.
— Receita da Sinhazinha — disse Omije em resposta ao elogio de Juan.
Apesar de ser quase sempre retraída, Omije sentia-se à vontade com Juan. Junto com sua sinhazinha, ele fora seu salvador montado em um cavalo negro. "Raio Negro", como ela costumava chamar o cavalo, já que para ela era difícil dizer Galopeiro. Tentara algumas vezes, e por fim se contentara com raio.
"Num é que combinô mais?", disse ela quando apelidou o cavalo.
— Tô aprendendo com... Ahhh! — gritou Omije, levando a mão à boca enquanto olhava um dos copos quebrados no chão.
Fora o resultado da euforia de suas mãos ao querer contar ao convidado sobre o tanto de coisas que Sanem a estava ensinando.
Omije se encolheu assim que Emília Benedict fez um movimento para levantar-se, protegendo a cabeça com as mãos.
— Venha, Omije, sente-se aqui para não se cortar — disse Emília, levando a agregada até a sua própria cadeira.
— Na cabicera não, Sinhá — protestou Omije, constrangida por ocupar o lugar de sua benfeitora.
— Se continuar me chamando de Sinhá, vou pegar essa vassoura da mão de Sanem e vou dá com o cabo dela na sua cabeça — gracejou Emília.
As crianças riram, mas Elisabella e Elisabelle sinalizaram para que se calassem, mesmo com apenas quatorze anos recém-completados, perceberam que a tentativa de descontração da mãe não fora muito feliz. Havia temor nos grandes olhos de Omije, duas grandes bolas de neve com um abismo no meio de cada uma.
Sanem balançou a cabeça em negativa para a mãe; e o pai, embora fosse um homem silencioso, de poucas palavras, pigarreou na tentativa de irromper o silêncio que se instalara. Apreciava o silêncio, mas aquele era um mau silêncio, o do tipo que afligia e fazia aumentar a tensão.
Omije tentou se levantar, mas foi contida por Emília, que, pressionando seu ombro para baixo com batidinhas ternas na sequência, disse:
— Sente-se, minha filha, sente-se. Não queremos que se machuque.
Omije olhou assustada para Sanem, como se pedisse desculpas pela ofensa de ter sido chamada de filha, uma igual. Filha como sua Sinhazinha.
— É só um lugar, Omije — disse Sanem ao começar a varrer os cacos. — Os donos da casa sentarem à cabeceira, ou os mais velhos, é só uma tradição das famílias, e não uma lei inquebrável.
— A segurança das pessoas deve estar acima das regras de etiqueta e convenções sociais — disse Samuel, corroborando o que a irmã dissera. — Quando dois princípios se chocam, precisamos privilegiar o de maior valia. Mais vale o bem de uma pessoa ou um mero lugar de honra?
Emília assentiu, satisfeita, abaixando para pegar o pedaço maior do copo. Instruíra bem os filhos.
Omije insistiu para que a deixassem limpar tudo, mas as Benedicts recusaram, sabiam que Omije estava nervosa e que com isso poderia acabar se cortando.
Juan observava tudo, admirado.
— Omije não poderia estar em casa melhor — disse Juan após irem para a saleta de costuras.
Para tirar as medidas das costas, a modista precisou ficar nas pontas dos pés. Tinha esperança de ainda crescer mais alguns centímetros, não queria que seus lábios ficassem tão longe dos de Juan, assim não dependeria dele para um beijo. Tal pensamento a fez corar, então ela se afastou do castiçal, não queria que Juan lesse em seu rosto a denúncia de seus anseios, que considerou lascivos. Talvez fosse aquele aroma de sândalo e almíscar que exalava dele o culpado por afetá-la tanto, ela tentava entender, mas no fundo sabia que não era isso, o cheiro era apenas um potencializador. Ela era apaixonada por ele, e isso era o suficiente para afetá-la até as entranhas de seus ossos. Ele não precisava fazer nada ou exalar qualquer fragrância, só precisava existir.
— Por enquanto é o suficiente — disse Sanem, encerrando as medições.
Após Juan renovar seus agradecimentos à família Benedict, Sanem pegou uma vela protegida por uma donzela de vidro e acompanhou o Camponelle até o portão.
A escuridão já havia envolvido o lugar em seus braços... Mas para ele, os olhos de tigre de Sanem eram a iluminação perfeita, vívidos e bruxuleantes, capazes de iluminar o abismo mais treviano e aquecer até mesmo uma montanha de gelo, embora também o fizesse lembrar de algo muito triste.
Juan a olhava com tal escrutínio que as palavras desfaleceram na garganta de Sanem.
Como incandescentes vaga-lumes, seus olhos iluminam a minha província até o cume, versejou ela em pensamento.
Iluminar a minha província? Que província? O que eu quis dizer com isso?
Não seja tola, Sanem, é poesia, às vezes a beleza está na fuga de sentido...
O tamanho do segundo verso não ficou com uma boa simetria, talvez se...
— Sanem?!... — Juan a chamou pela segunda vez, tirando-a de seus devaneios.
— Será que aquela constelação tem nome? — Ela apontou para o céu, acima do ombro esquerdo de Juan, tentando disfarçar para que ele não a achasse esquisita.
O Camponelle se virou para verificar, mas não conseguiu distinguir nenhuma constelação, apenas estrelas dispersas no oceano celeste.
— Olhe bem, tem um punhado de estrelas sem muito brilho, quase formando um quadrado, e uma mais brilhante.
— Parecem tímidas — disse Juan, virando-se para ela.
— Talvez alguma beleza aqui embaixo as tenha inibido — respondeu Sanem, arregalando os olhos em seguida e corando. Não podia acreditar no que acabara de dizer.
Juan sorriu, e apesar de não conseguir enxergar os detalhes do rosto de Sanem, pois ela havia distanciado a donzela de seu rosto, ainda assim, por algum motivo, a achou ainda mais bela.
— Boa noite, Juan Camponelle — despediu-se, abrindo a porteira para que ele saísse.
— Boa noite, Sanem Benedict. Estrela carmesim.
Durante alguns dias, Sanem revisitou infinitas vezes a primeira madrugada que passara com seu amado, assim como mais um nascer das estrelas em sua companhia. Os olhos brilhantes dele como dois luminares na penumbra invadiam seus sonhos, e foram por alguns dias e noites seus vigias constantes, levando-a para cavalgar sob as estrelas. Contudo, a aproximação da festa de Juan acabou por trazer outras ocupações em sua mente.
Omije a ajudou como auxiliar na costura, pois Sanem estava sobremodo atarefada com os ajustes do vestido de Odete e com o traje de Juan. Além disso, também se comprometera com outras questões menores da festa.
Todos os inícios de tardes, Sanem ia à fazenda Camponelle e lá ficava até o crepúsculo ajudando com os últimos acertos. A reclusão de Maranna implicava em um grande desfalque, contudo, isso não durou muito. Surgia de forma inesperada, dando ordens ou resmungando.
— Dio, Dio!... Che cosa fare? Se non faccio niente, farão tutto male.
Apesar de falar pouco, estava sempre atenta a tudo, inteirando-se de cada detalhe, e quando alguma decisão dos membros da família causava uma pinicação em sua língua, ela interrompia seu silêncio, o que passou a acontecer com mais frequência conforme a data se aproximava.
— Male... male... — por vezes era tudo o que dizia.
Andava de um lado para o outro, arrastando seus tamancos — uma vaidade que ela se recusara a abrir mão após o avançar da idade — e meneando a cabeça, o que acabava por arrancar risadinhas aqui e ali.
— Ma como questo? No, no... Due jarras na entrada com due bacias. Pronto, è questo. — E voltou ao silêncio.
Tec-tec-tec... Os tamancos iam se arrastando pela casa.
As mulheres da casa sempre aguardavam a justificativa da matriarca Camponelle quando ela opinava ou contestava algo, mas como de costume em seu estado de luto, apenas revirava os olhos e se retirava, arrastando os tamancos enquanto se apoiava na bengala.
Annalice, apesar de ser um tanto centralizadora nos comandos da casa, raramente refutava Maranna, preferindo lhe fazer as vontades, o que não era o caso de sua sogra. Julianna era mais expansiva e teimosa, passara muitos anos no comando da luxuosa casa de Belomar, sempre com seus comandos sendo executados, era difícil para ela ter de se submeter à nora e à sogra.
Maranna apenas se continha mais na presença do sogro, o já centenário Janno Camponelle, que por vezes saía de seu quarto para tomar um ar fresco.
Nas véspera da festa, Maranna ocupou Sanem além do comum, indicando uma nova tarefa ou apontando com a bengala para algo que queria que a jovem opinasse. Ao notar que já não havia mais luz natural entrando pelas janelas e que castiçais e donzelas assumiam seu turno, a octogenária pediu que chamassem o neto primogênito.
Sem delongas, a italiana ordenou que o neto acompanhasse Sanem e suas irmãs até o rancho Benedict. Estavam hospedando um caixeiro-viajante, apenas pernoite, pois haviam encomendado uma grande quantidade de especiarias e um tanto de outros ingredientes necessários para o banquete do dia seguinte. O mascate viera de longe e por isso passaria a noite ali.
Maranna não confiava quando recebiam caixeiros-viajantes para pernoites, os considerava homens que arrastavam asas de vila em vila para qualquer saia que passasse na frente deles. E ela, com seu olhar de águia, o notara pelos cantos olhando de soslaio para as mulheres da casa, fosse uma Benedict, uma Camponelle, uma Tabajara ou alguma outra criada. E notou também que a Tabajara do meio retribuía aos flertes, tivera até a audácia de soltar seus longos cabelos e andar pela casa com os fios negros chacoalhando abaixo dos quadris.
O homem estava na casa dos trinta, e apesar de não ser nenhum príncipe encantado no quesito beleza, tinha seus atrativos e ares de sedutor. Na concepção de Maranna, eram os tipos mais perigosos.
Jordão e Joseph estavam na sala, assim como Jesuíno, que conversava com Sanem em uma das enormes janelas, que se assemelhavam a portas na forma e no tamanho, alheios às maquinações da bisavó. Qualquer um deles poderia acompanhar as Benedicts, contudo, Juan não contestou o pedido da matriarca, estava satisfeito em ter alguns momentos com a Benedict mais velha.
— Consegue ver? — disse Jesuíno para Sanem, desenhando com a ponta do dedo o formato da constelação Scorpius.
— Então aquela gigante é Antares? — verificou Sanem.
— Isso mesmo, Antares, o coração de Scorpius. Alpha Scorpii. Uma bola de fogo — comentou Jesuíno, fazendo referência a cor avermelhada da estrela.
— E onde deveria estar o veneno na calda... — Sanem seguia o raciocínio.
— Com licença — disse Juan, interrompendo a conversa. — Estou à disposição para acompanhá-la até o rancho. — Ele olhou para a bisa, que assentiu satisfeita.
Sanem entendeu, lançando a mais velha um olhar agradecido.
Maranna sorriu para Sanem e em seguida sinalizou para um dos garotos Tabajara para que acompanhasse o mercador até uma das alcovas e passasse a chave por fora.
Tec-tec-tec... Sua missão daquele dia fora cumprida, já podia recolher seus tamancos no quarto.
— Grazie a Dio che non ha janelas in nostras alcovas. E grazie anche alla mio amato Nianno — resmungou ela enquanto se distanciava.
Jesuíno, empolgado com a conversa com Sanem, ofereceu-se para ir junto, não era sempre que alguém se interessava por astronomia. Contudo, seus planos foram frustrados, Elisabella puxara assunto com o rapaz, deixando que Sanem e Juan fossem na frente.
Quando chegaram diante do rancho, Elisabelle, enfadada com a conversa entre a gêmea e o Camponelle mais novo, despediu-se de pronto e entrou.
— Boa noite, Antares — disse Juan, despedindo-se de Sanem.
— Oh! Então entende de estrelas e constelações? — admirou-se ela.
— Apenas das mais importantes e belas — galanteou ele, mas Sanem não se deu conta.
— E Antares é uma delas?
— A estrela mais bonita de todas.
— E por que o senhor acha isso? Não seria as de intenso brilho azul as mais bonitas? Como aquela na cauda do escorpião? — Ela apontou para o céu.
— Shaula — disse Jesuíno, que embora estivesse atento ao que Elisabella lhe dizia, não pôde deixar de ouvir a conversa.
— Isso, Shaula, obrigada, Jes...
Juan ergueu as sobrancelhas. Nunca ouvira ninguém chamar o irmão de Jes. De que o chamavam? Apenas Jesuíno aparecia em sua memória auditiva. Estava sempre tão quieto e recluso pelos cantos, em seu quarto ou biblioteca, longe das vistas de qualquer um, que pouco chamavam por ele. Mas não parecia ser o caso de Sanem...
"Li muito sobre ela na biblioteca Camponelle", lembrou-se das palavras de Sanem, então tudo fez sentido.
— E então, não acha Shaula a mais bonita? — perguntou Sanem, ainda curiosa sobre o parecer dele.
— De todas, a estrela rubra é a mais linda.
— Mas por...
Antes que Sanem pudesse concluir a pergunta, ele se antecipou:
— Peculiar e ardente...Como olhos de tigre — respondeu Juan, com os olhos fixos na Benedict.
Então fez uma leve reverência com a cabeça e partiu, fazendo com que Jesuíno se despedisse desajeitadamente das duas moças e corresse atrás do mais velho.
Mexendo em uma mecha solta de seus cabelos, Sanem olhou para a constelação e disse:
— O coração de Scorpius.
E então sorriu.
***
*Donzela de vidro: redoma utilizada para proteger a chama da vela para não apagar.
Estrelinhas...
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Vejos vocês lá^^
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