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Capítulo 4

À Procura do Vulcão Adormecido


Juan não pôde esperar até a noite para encontrar a jovem que apelidara de Vulcão Adormecido, talvez ela nem aparecesse. Por isso, após a reunião em família, saiu para cavalgar e foi mais uma vez até o bosque, mas novamente não a encontrou. Ficou pelas redondezas até o final da manhã, contudo, ela não apareceu, assim como não aparecera no dia anterior.

Não teria outro remédio, precisaria esperar até o jantar para saciar sua curiosidade sobre a identidade daquela moça. Continuava a perguntar sobre a lista de convidados e sobre as jovens das redondezas. Juan pedira a descrição das que tinham a possibilidade de ser a donzela misteriosa do bosque, mas nenhuma se enquadrava totalmente na descrição. Talvez fosse apenas um desencontro de percepções. Além da irmã, perguntou também à mãe, mas novamente não houve um casamento perfeito. A solução seria esperar.

Os Benedicts estariam presentes, como sempre, pois eram os seus vizinhos mais próximos e amigos de longa data, também vieram da Itália, algumas décadas depois de Janno Camponelle. Além disso, Anna estava quase noiva de Samuel Benedict, pelo menos fora o que a irmã lhe dissera, despejando sobre ele as últimas notícias da região. Pela cor de cabelo da jovem, poderia ser uma Benedict, talvez alguma parenta que estivesse visitando os vizinhos. Uma das irmãs do falecido Salomon seria pouco provável, eram muito meninas ainda, a mais velha mal devia ter debutado pelos seus cálculos.

Disseram a ele que era certo a presença da família Fabri, não faltavam a nada. O Sr. Fabri era o dono da mercearia do Centro de Mira Estrela, principal cliente da fazenda Camponelle, tinha seis filhos, dois rapazes e quatro moças, duas já em idade de casar. Os rapazes já eram adultos, trabalhavam com o pai. As meninas variavam em idade entre doze e dezoito anos. Todos tinham cabelos e olhos castanhos, com traços expressivos e pele alva. Eram bonitos. O Sr. Fabri fora caixeiro viajante, mas se apaixonara pela região e por aquela que seria sua esposa, fazendo-o fincar raízes.

A família Tabajara era outra presença confirmada, Romero Tabajara era o braço direito e também o esquerdo na fazenda, um coadministrador. Ele tinha cinco filhos solteiros já crescidos, três moças e dois rapazes, havia mais dois filhos pequenos, um casal, que em tais ocasiões ficavam sob os cuidados de Gertra, uma alforriada de quase trinta anos que prestava diversos serviços para os moradores da região, mas que se ocupava principalmente da família Tabajara, juntando cada vintém que ganhava para alforriar a irmã mais velha, por conta disso não formara ainda a própria família, pois isso significaria gastos a mais e menos tempo para se dedicar aos seus ganhos.

O casal tinha outros dois filhos já casados que não compareceriam por morarem longe da fazenda. Os Tabajaras eram pardos, olhos grandes e puxados e tinham fartas cabeleiras onduladas. Os homens não sofriam de calvície, tampouco as mulheres de escassez, motivo de inveja dos cavalheiros e de cobiça das damas, que suspiravam diante dos robustos penteados das Tabajaras e das tranças que chegavam às coxas.

Havia ainda o Sr. Borges, o delegado de Mira Estrela, com sua filha solteira Felícia, considerada já perto do limite ideal para se casar por muitos aos vinte e três anos. Apesar do nome, a jovem parecia tudo, menos feliz, sempre introspectiva e pálida. Alguns julgavam isso ser devido à austeridade do pai, que estava sempre como um verdadeiro sentinela ao lado da filha, ou à alguma desilusão amorosa. O delegado tinha também um filho de vinte e um anos, mas ele estudava Direito na Capital do Império, e só retornava a Mira Estrela no período de férias. A esposa havia falecido há quase três anos, e não parecia inclinado a um segundo casamento.

Além das jovens mencionadas, haveria as serviçais da casa, participariam do jantar como criadas de mesa e da cozinha. Algumas Juan conhecia, outras não. Talvez fosse alguma delas, por isso fez inúmeras visitas à cozinha interna e à externa, que concentrava um número maior de empregados. Cavalgou algumas vezes pela propriedade na esperança de encontrar pelos vinhedos a sua bela. Não teve sucesso. Contudo, todas estariam presentes para atuarem nos bastidores do jantar, e então poderia sanar suas dúvidas.

Entre apurações e preparativos, as horas se passaram, o dia se despediu e a noite trouxe a renovação das expectativas.

Transitando pelos cômodos, bem iluminados pelos muitos castiçais, candelabros e lustres entre doze a vinte e quatro velas, Juan observava as moças com o farfalhar de seus vestidos rodados, mas sem extravagâncias, uma vez que o clima ainda era de luto — exceto por Odete, a primogênita do Sr. Fabri, não perdia uma oportunidade para exibir seus vestidos da Corte — e uma em especial chamou a atenção de Juan.

Cabelos de Vulcão. Inconfundíveis. Estavam presos, mas a cor era única.

A jovem conversava com Anna, pareciam trocar confidências, com cochichos ao pé do ouvido e risinhos. A irmã de frente para ele e a ruiva de costas. Rodeou o salão de médio porte, em estilo rústico, comum às fazendas com casarões de arquitetura colonial, piso de madeira e mobília de cedro, mogno e jacarandá. Confirmou o que já sabia. Não demorou muito para que os brilhantes olhos alaranjados encontrassem os âmbares de um amarelo translúcido. Parecia hipnotizada.

A aproximação de um belo rapaz de olhos azuis e cabelos cobres fez os olhos da jovem misteriosa se desviarem. Entregou bebidas para as duas, e a intimidade que demonstrava ter com a bela moça do bosque alarmou o Camponelle. Juan nunca fora muito próximo dele, mas tinha certeza de que era Samuel Benedict, era idêntico ao Salomon.

Não é possível, pensou Juan.

— Se tornou uma linda moça, não é mesmo? — disse Julino ao se aproximar do filho.

— Quem é ela? — perguntou Juan.

— Descubra por si mesmo — respondeu Julino, em tom misterioso.

A esperança de não ser a irmã de Samuel reacendeu, uma vez que o pai não faria mistério caso fosse de fato apenas a vizinha, imaginou ele. Pegando uma nova bebida, Juan aproximou-se do trio, cuidando para que não fosse notado. Samuel afastou-se novamente, e as duas trocaram cochichos, mas Anna elevou o tom de repente, permitindo que Juan ouvisse a conversa.

— Fale mais alto, não consegui entender.

— Que se dependesse de mim, já estaria casada com o meu amor de toda a vida... Mas sei que é praticamente impossível — a moça repetiu.

— Na reunião de família desta manhã, nosso querido Juan disse que está pronto para pedir a mão de alguma moça de Mira Estrela. — Anna olhou para o irmão e sorriu.

Desconcertada, a ruiva deixou cair a sua taça, quando abaixou para catar os cacos, sua mão se encontrou com a de Juan, com a barreira dos tecidos das luvas, claro, uma vez que seria indevido comparecerem a um evento social sem, contudo, tal barreira não foi suficiente para impedir que ela sentisse um arrepio percorrer seu corpo.

— A senhora está bem? — perguntou Juan, os olhos âmbares agarrados aos dela.

Se fosse na Europa, ou talvez na Capital do Império, Juan a chamaria de senhorita, uma vez que se tratava de uma jovem solteira, mas os moradores de Mira Estrela tinham o costume de chamar todas as mulheres, a partir dos quinze anos, de senhora como demonstração de deferência às mulheres em geral e não apenas às casadas ou mais velhas. E ele se lembrava desse detalhe.

Julgara que talvez a moça tivesse uns vinte e dois anos, isso se devia mais à postura, vestido sóbrio e acessórios modestos. O cabelo partido ao meio, presos em um coque alto, distanciava-se dos penteados mais comuns das jovens solteiras entre os quinze e dezenove anos, que davam preferência a deixarem alguns cachos soltos, o que era o caso de Anna, dormira com as mechas enroladas em rolinhos e só os soltara pouco antes da festa começar. Cabelos soltos, principalmente na parte da frente, e com cachos, davam um frescor que harmonizava perfeitamente com a juventude de quem debutara há poucos anos.

Vendo-a melhor, considerou que não passava dos dezenove. O rosto não tinha uma única linha que denunciasse a passagem do tempo, uma menina em um corpo de mulher. O Camponelle a considerou jovem para ele, porém, uma vez que ela mesma dissera estar pronta para se casar, se era um anseio dela, e se o faria de qualquer forma, então por que não com ele? Já que tinha que ser alguém, que fosse ele. Não fora ela a dizer que a pessoa a quem amava era impossível? Naquele momento, ignorou a suspeita que nascera ao ver Samuel entregando a bebida.

— Não vai nos apresentar, querida irmã? — questionou Juan após dar a mão à ruiva e ajudá-la a levantar-se.

Sanem sentia-se hipnotizada. Finalmente, após tantos anos, Juan Camponelle estava diante de si. E ainda mais belo do que se lembrava. Os olhos de um âmbar único, tão dele; os cabelos castanhos, vastos, sedosos; o nariz reto, que para Sanem se encaixava perfeitamente nos traços dele.

— Está cego, irmão? Não percebeu ainda que é a nossa vizinha, minha amiga de infância e futura cunhada? — Ela piscou para o irmão. — É a irmã de Samuel, nossa engenhosa Sanem Benedict.

Além da face rubra, a jovem Benedict não demonstrou outra reação, estava mortificada com o comentário da amiga.

Em outra situação, Juan teria repreendido a irmã pelos maus modos, mas o desapontamento o calou. Suas suspeitas se confirmaram, para sua infelicidade. Sanem era alguns anos mais nova do que Anna, isso significava que, apesar de seu bom porte, era quase uma menina ainda. Não era alta exatamente, mas também não era baixa como Anna, tinha uma estatura acima da média para a idade, que nas contas de Juan devia ser de dezesseis anos, uma vez que, segundo ele, a irmã tinha dezenove. Não sabia ao certo. De qualquer forma, ele a pegara no colo. Por Deus! Uma relação entre eles seria reprovável.

— A pequena San? — indagou ele, ainda tentando assimilar.

— Sim, a nossa Sanezinha. Mas já não é mais tão pequena assim, não é mesmo, irmão? Tenho certeza que notou. — Ela deu uma risadinha travessa.

Sanem ficou ainda mais rubra quando Anna deteve o olhar em seu colo, em que, apesar do vestido sem decote, duas elevações projetavam-se exuberantes sob as camadas de tecidos.

Juan, alheio àquela insinuação da irmã, repassava na mente as modernidades realizadas na fazenda. A construção de uma casa de banho com cisterna na área externa era uma delas. Haviam feito um desvio do rio que passava pela propriedade. Havia também banheiro para uso coletivo dentro do casarão, com latrinas confortáveis, banheira pequena para higiene rápida, bacias, jarros e poltrona; e um outro gabinete com latrinas fora feito apenas para uso familiar. Além disso, em cada quarto havia cadeiras sanitárias com penicos embaixo, eram acolchoadas e muito confortáveis, com braços para apoio, praticamente poltronas.

Contaram a ele que aquelas melhorias foram ideias da querida Sanem Benedict, mas não dera muito atenção, não havia entendido se ela ajudara, se dera alguma ideia ou se fora algum outro envolvimento, contudo, na ocasião, não vira necessidade de esclarecer, era para ele irrelevante. Lembrou-se também dos itens que vira nos fundos da cabana no dia em que chegara. Tudo agora fazia sentido, ela era uma espécie de cientista, uma inventora, concluiu ele.

— Precisa ouvi-la cantar — disse Anna, despertando Juan de seus pensamentos. — Vamos, querida Sanem, cante ao menos uma modinha esta noite.

— Não quero aborrecer o seu irmão com a minha voz desajeitada — disfarçou Sanem, já recuperada da petrificação, o antídoto fora a possibilidade de ter que cantar naquele momento.

— Ah, não seja modesta, Sanezinha. Sabe que é um verdadeiro passarinho.

— O que tenho a meu favor é que seu irmão bem sabe o quanto você é dada ao exagero.

— Bem, prazer em revê-la, se me dão licença — despediu-se Juan, indo em direção ao pai.

Estava frustrado e constrangido.

— Sanem Benedict já é uma mulher feita — disse Julino, percebendo o interesse inicial do filho e desinteresse posterior.

— Uma criança, papai. Pelo amor de Deus! Ela é mais nova do que a minha irmã, e ambos consideramos a Anna uma criança — retrucou Juan, exasperado. — Além disso, pensei que os primogênitos desta família só pudessem se casar com uma Camponelle — foi irônico.

Juan tinha razão, em outras circunstâncias, a família não cogitaria sugerir um casamento fora da parentela, mas a situação era extrema.

— Anna é miúda como a mãe, e imatura, um tanto infantil no estilo e nos modos, ao contrário de Sanem — contra-argumentou o Sr. Camponelle. — Já tem quase dezoito, e todos por aqui sabem do desejo dela de se casar bem antes dos vinte, não fala de outra coisa essa menina.

Na verdade, ainda estavam no primeiro trimestre do ano e Sanem só faria dezoito em setembro, mas Julino, além de ser de outra geração, era muito menos moderno do que o filho. Para ele, com dezessete, uma moça estava mais do que pronta para se casar; e para seus antepassados, bastava o útero anunciar que estava a postos e os seios corroborarem, sinalizando sua prontidão para amamentarem um bebê, respeitando sempre o limite mínimo que estabeleceram, quatorze anos, que era quase um consenso há muitas gerações, em diferentes nacionalidades, já que com doze dificilmente uma mocinha aparentava ser uma mulher, possuindo ainda, no corpo e na mente, ares de criança.

Juan passara muitos anos na Europa, e tirando casamentos da nobreza, por questões políticas, de acordos, ou casos de extrema pobreza, as jovens, em sua maioria, não costumavam se casar nessa fase intermediária entre menina e mulher. Era uma fase de preparação para a vida adulta, de aprendizado, bailes e viagens.

Em Portugal, mesmo séculos antes, eram raros os casamentos antes dos quinze, descobrira sobre isso em um dos debates que participara no pátio externo do campus em Coimbra, sentavam-se no batente do prédio ao lado esquerdo da torre de relógio e do sino. Segundo pesquisara um dos alunos, havia apenas um registro de casamento aos doze anos.

Na Inglaterra, assim como em outros países, casamento com menores de vinte e um precisava do consentimento dos pais, e o mínimo permitido era aos dezesseis anos, ainda assim, não era o mais comum.

Juntando tudo isso e mais as ideias que circulavam entre os acadêmicos de que dos doze aos dezoito era uma fase intermediária, fora arraigado em Juan a concepção de que uma moça só deveria se casar no mínimo aos dezoito anos, sendo o ideal a partir dos vinte.

A noiva de Louis, um colega de curso, dissera certa vez que, nos romances de Jane Austen — que ele passara a conhecer por intermédio dela —, mesmo existindo personagens femininas se casando aos quinze, a média de idade para casamento das mocinhas era em torno dos vinte anos. Os casamentos vistos como tardios eram os das moças com vinte e quatro, vinte e cinco anos em diante.

Jane Bennet tinha vinte e dois e era uma das mais apreciadas, recebendo diversas propostas, ou seja, não era considerada uma solteirona encalhada, mas sim uma jovem ainda em idade ideal para o casamento. A moça calculara tudo.

Quando debatiam sobre o assunto, Juan e os colegas chamavam a fase dos doze aos dezoito de período adolescere, que em latim significa crescer. Era a fase do crescimento, do desenvolvimento, tanto externo quanto interno, de maturidade, e isso era necessário para o casamento, não apenas estarem prontos biologicamente para procriarem.

— Para se constituir uma família, senhor meu pai, é preciso muito mais do que questões biológicas... mas se esse é o desejo dela, tenho certeza que há muitos rapazes ansiosos para desposá-la, não faltarão propostas. Espanta-me que ainda não tenham surgido.

— Pelo que sei, há vários interessados, mas a família ainda não sinalizou sobre estar pronta para cortejos. Como sabe, o luto entre eles foi grande, e só este ano passaram a comparecer a eventos sociais...

— Sim, Salomon... Um bom rapaz — disse Juan, pesaroso.

— Não só Salomon, mas a esposa e a filhinha.

Juan assentiu contristado, lamentava não ter comparecido ao enterro, tinha boas relações com Salomon antes de ir para a faculdade. Desvantagem de morar longe.

Julino apertou o ombro do filho, uma espécie de consolo. E então retornou ao assunto anterior:

— Aqui não estamos tão atrasados quanto pensa, não somos homens das cavernas, meu filho. Não aprovamos casamento com meninas que aparentam ser crianças ainda. Eu e seu avô nunca celebramos um casamento com uma jovem com menos de quatorze anos, mesmo os pais autorizando, aconselhamos nesses casos um período maior de noivado, exceto por motivos de força maior, se é que me entende. — Julino passou, discretamente, a mão na barriga.

— Entendo perfeitamente. Na Europa não é diferente, principalmente no campo — lamentou-se Juan.

— O que você entende, meu filho? — indagou Annalice, aproximando-se.

— Estamos falando sobre casamentos precoces — respondeu Julino à esposa. — Como um sacerdote, estou a par dos recenseamentos matrimoniais, não há registro, ao menos nos últimos anos, de casamento antes dos quatorze, pelo menos não oficialmente.

— Quem vai se casar com menos de quatorze? — perguntou o avô de Juan, Justino, assimilando a conversa pelo final.

— O contrário, papai — disse Julino. — Estava dizendo antes do senhor chegar que é raro, ao menos por aqui. A porcentagem dos que se casam com menos de dezoito é de menos de dez por cento.

— A irmã da minha avó se casou aos quatorze anos com um rapaz de dezesseis — disse Julianna, que chegara logo atrás do marido.

— Outros tempos, dona Lianna. Outros tempos e outro país — respondeu Julino à mãe, chamando-a pelo apelido. — Quanto mais agrícola um país, mais casamentos precoces.

— Também somos um país agrícola — retrucou Julianna.

Ecco, os nonnos Janno e Janna tinham dezenove e dezesseis quando se casaram — disse Justino.

— E eu me correspondia da Itália com o senhor, meu amado esposo, desde os doze — continuou Julianna. — Se tivessem me dado permissão, com treze já estaria casada, mas só me deixaram vir com dezesseis, e aqui me fizeram esperar até eu completar dezessete.

Julianna não cansava de contar essa história, mas ninguém se queixava, o amor entre eles era inspirador; correspondentes desde quase a infância, por vezes eles sentavam com a família diante da lareira e liam algumas das suas cartas de amor.

— Rainha da minha alma — disse Justino, beijando a mão da esposa.

— O que eu disse? Estão vendo? Como não ia querer me casar aos treze? Sempre me escrevendo galanteios nas cartas. — Ela acariciou o rosto do marido.

Julino pigarreou, nunca se acostumara com o jeito expansivo dos pais, com demonstrações de afeto em público, era mais reservado, e por isso ficava constrangido na maioria das vezes.

Como todos aqueles que são avós de netos adultos, o casal já era idoso, contudo, os cabelos brancos não eram tantos quanto o esperado, e havia uma firmeza na pele incomum na velhice, essas eram características da linhagem dos Camponelles, as carnes rígidas e os cabelos alheios à passagem do tempo. Os homens costumavam beirar ou passar alguns centímetros de um metro e oitenta, e as mulheres oscilavam em tamanho, mas boa parte tinha estatura mediana.

Os olhos de Juan vagaram à procura de Sanem. Não podia negar que, por mais que resistisse a seguir os passos dos Camponelles, voltando ao convívio com a família, na presença deles, o amor entre seus pais e avós o compelia a desejar o mesmo para si. Por mais que Julino e Annalice fossem mais comedidos, transbordavam carinho um pelo outro, cuidado, amizade e companheirismo. Eles eram um casal harmonioso, seus temperamentos combinavam, eram dóceis e piedosos.

— Ao menos passe um pouco de tempo com ela, conversem, para que se conheçam melhor — disse Julino, puxando o filho de lado e falando baixo para que apenas Juan ouvisse.

— Eu a conheço desde que nasceu.

— Não a Sanem crescida. Esta não é mais a Sanem de sete anos de idade que você pouco conviveu até ir para a faculdade.

Claro que ele encontrara Sanem algumas vezes ao longo dos anos, mas fora de relance, quase sem contato ou proximidade. Há cinco anos não visitava a família, desde então, muita coisa mudara, e Sanem definitivamente era uma delas. Talvez o pai tivesse razão.

— Agora a juventude vem com essas modernidades de aproveitar a solteirice e casar mais tarde — disse Annalice. — Que benefício isso pode ter? Ser pai quando deveria já ser avô? Aproveitar os filhos menos anos do que poderia? Não conhecer os netos?

A voz da mãe foi sumindo no momento em que os olhos de Juan avistaram Sanem indo para a saleta de descanso, que estava com a porta aberta, enquanto Anna abordava Felícia, oferecendo-lhe um quitute.

Juan aguardou alguns minutos e depois foi atrás da Benedict, resolveu aceitar o conselho do pai e conversar um pouco com Sanem. A moça se encontrava aos pés de sua bisnonna Maranna.

Ao notar Juan à porta, Sanem beijou a mão da matriarca Camponelle, fez reverência ao rapaz com uma inclinação sutil e, ruborizada, retirou-se.

— O que disse a ela? — perguntou Juan.

— Que será tua esposa.

— O que está dizendo, bisa? Ela não é uma Camponelle.

No, non lo è. Ma la famiglia Benedict è fertile quanto la nostra. Non è questo o motivo di questa tradizione? Questa ragazza ti dará moltos filhos... , belos bambinos — concluiu ela, pensativa, com a costumeira mistura que fazia entre italiano e português, mas dessa vez privilegiando mais a língua pátria.

Apesar de achar graça das palavras da bisa, não fez caso delas, por certo Sanem o via como a um irmão mais velho.

— Agora fine, non quero parlare molto. — A italiana olhou para o quadro dela ao lado do falecido marido.

Sì, capisco. Andiamo, bella donna, vou levá-la para o quarto.

A idosa assentiu, costumava dormir cedo e a hora já se fazia avançada para ela.

Enquanto a levava, Juan olhou para trás e viu a parte lateral dos cabelos de Sanem, as lavas ardentes recolhidas no topo, com fios aqui e ali escorrendo pelo pescoço. Conversava com alguém, mas não era possível ver a outra pessoa.

"Questa ragazza te dará moltos filhos... , belos bambinos", as palavras de Maranna ainda ecoavam nos ouvidos de Juan.

Com certeza teríamos lindos filhos, pensou o jovem Camponelle.

Imaginou uma criança com o cabelo cor de lava de vulcão e olhos de tigre, amarelo-alaranjados como os que vira certa vez em um dos zoológicos que visitara na Europa. E então sorriu, mas, de repente, seu sorriso virou cinzas, como palha queimando no ardor das chamas.          

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