Prólogo
* Sábado 03 de outubro de 2020. Califórnia.
~ Que belo dia para estar morto~
Você já pensou na possibilidade de acordar e não saber onde está, as horas, o dia e muito menos saber coisas sobre você? Você nunca pensa nisso porque tecnicamente é impossível de acontecer, ou pelo menos era. Mas para mim o impossível aconteceu e eu gostaria de nunca ter acordado alí.
Por que? Você verá o porquê.
Eu abri meus olhos vagamente e me deparei com um lugar desconhecido. Eu não me lembrava de como havia chegado ali, nem quem me trouxe, muito menos que lugar era esse.
Sentei-me na beira da cama pequena e observei aquele pequeno quarto em tom acinzentado, com 2 camas de solteiro e 2 velhos guarda-roupas.
Busquei na memória vestígios que poderiam me ajudar a saber como cheguei ali, mas nada adiantava, isso fazia com que eu sentisse fortes dores de cabeça.
Percebi que eu não me lembrava de uma boa parte da minha vida recente, como por exemplo; o que eu tinha feito no dia anterior e até mesmo o que eu comi na noite anterior. Era como se tivessem apagado minha memória, não toda, mas a parte mais recente.
Além daquele lugar ser frio e tenebroso, era possível ser escutado sopros fortes de ventos lá fora, eles batiam na velha janela quebrada, que fazia um grunhido assustador. Uma parte de mim estava com medo daquele lugar e a outra parte confusa. Engraçado né? Para um cara como eu: adolescente, jogador de futebol americano, bolsa facultativa, vida ganha, amado e paquerado por todos, e o pior: um grande egocêntrico namorador. Eu não deveria ter medo, mas na real... Eu estava me borrando alí!
Me levantei dolorosamente por conta do forte cansaço que sentia, e segui para fora daquele minúsculo quarto.
Não precisei de esforços para abrir a velha porta daquele lugar, ela estava entreaberta, deixando um pequeno feixe de luz iluminar uma minúscula parte do quarto. A iluminação daquele lugar era precária.
Continuei caminhando e me deparei com um enorme corredor, meus pés descalços sentiam o piso gelado e assustador daquele lugar, eu me perguntava onde estavam meus tênis. Continuei a caminhar, buscando coragem e ignorando os gritos assustadores dos quartos vizinhos por qual eu passava pela caminhada.
Era um longo corredor branco envelhecido, com vários quartos, me virei e observei vagamente a porta por qual eu saíra, decorando a sua cor vermelho vinho caso eu precisasse voltar.
Todos as portas dos quartos tinham uma cor e todas elas se repetiam, a porta do quarto em que eu saíra era a única que tinha a cor vermelha, enquanto as outras eram brancas ou amarelas.
Chegando ao fim daquele corredor encontrei um salão enorme, com pessoas jovens que não passavam dos 18 anos.
Dei um passo dentro daquele salão e todas as conversas sessaram, as pessoas presentes ali se viraram e me encaravam atentamente, alguns começaram a cochichar coisas que possivelmente são relacionadas à mim, e os outros concordavam com desdém.
- Alguém... Poderia me ajudar? Que lugar é esse?! -gritei enquanto caminhava para o centro do salão. Todos me olharam estupefatos, alguns deles se encolhiam na cadeira receosos talvez pela minha presença. Infelizmente esse receio se esvaiu quando me atrevir gritar novamente:
- Eu... Não sei onde estou! -fui ignorado e para piorar: ridicularizado por todos.
- Alguém?! Por favor?! -caminhei em meio à eles.
- Alguém?!
Sabe quando alguém te xinga e você sente vontade de matar a pessoa por ter feito isso, mesmo que seja uma raiva momentânea e você sabe que se arrependerá depois de ter feito? É exatamente o que eu senti agora, multiplique isso por 3 vezes mais.
É uma raiva que não vália a pena ser descontada, mas eu não ligava pra isso, pelo menos não naquele momento. Ninguém se arrepende na hora; é um senso comum e, nenhum garoto com o orgulho ferido deixaria ser tratado daquela forma, mesmo que tivesse em um lugar estranho.
E foi por isso que cerrei os punhos.
Meu corpo estava quente, já não sentia mais o gelito do chão sujo daquele salão bagunçado e a adrenalina já me impedia de sentir medo do desconhecido. Na verdade, eu não sentia nada a não ser raiva e a certeza de que atacaria alguém a qualquer momento.
- ALGUÉM PODE ME AJUDAR?!-gritei pela ultima vez e minha voz saiu embargada, àquela era minha última tentativa de ser ajudado. Infelizmente, fui ignorado novamente.
E agora é o momento em que eu me arrependerei depois.
Não vou dizer exatamente o que aconteceu, porque minhas memórias ainda falham e necessito de grande ajuda para conseguir distinguir o que é real e não fruto causado pela injeção. Eu apenas sei que gritei, corri e... Algumas mortes ocorreram.
Três pessoas brancas.
Eu nunca mais serei ignorado.
*Terça 06 de outubro de 2020. Califórnia.
~Vamos brincar de morrer?~
Abro meus olhos, e deparo com o pequeno quarto novamente. Eu não sabia como havia chegado ali, de novo.
- O que aconteceu? -perguntei em voz alta, enquanto me levantava, sentando a beira da cama. Minha cabeça latejava muito, senti como se tivesse levado uma surra ou em uma das piores ressacas pós treino que eu fazia. Que merda estava acontecendo comigo?
- Você surtou... -virei meu rosto em direção à voz, perplexo. Eu não tinha percebido a presença da garota alí, me senti chateado por não ter percebido antes, ela era linda.
A garota se levantou e caminhou em minha direção. Ela tinha um rosto sério e enigmático, seus cabelos curtos eram em tom azul flamejante, seus olhos como a noite. A garota parecia ter saído de um filme, ela era linda de mais, meu alarme de garotas bonitas ressoava na minha cabeça. Nunca tinha visto alguém como ela.
Sinto seu perfume soave e o inalo disfarçadamente, uau, ela cheira tão bem!
- Caralho...-sussurrei, ela franziu o cenho.
- Quê?
- Nada... Digo, eu surtei? -gaguejei, ela assentiu e se abaixou na minha frente.
- Você teve um surto, enforcou 3 pessoas no salão e gritou feito louco. Tiveram que te segurar para fazer você parar, mas você começou a agir como se fosse o Tarzan e atacou todo mundo, só parou depois de horas.
- Eu não me lembro de ter feito nada disso...
- É praticamente impossível de ser lembrado, sabe. Eles o sedaram e injetaram cluster memory. Sempre faziam comigo, embora nunca tenha funcionado.
- Cluster memory?
- É o nome que eu dei para a Injeção da memória. -se levantou.
- Injeção da memória? -ela assente. -O que isso significa?
- Bom, significa que você esqueceu uma parte importante da sua vida recente, uma parte que faria mal a alguns e possivelmente para você. -franzi o cenho, não estava entendendo nada. Ela revirou os olhos - É um método usado para aqueles que desejam esquecer seu passado, e também para aqueles que precisam esquecer. -simplificou, embora eu não tenha entendido muita coisa.
- Desculpa mas, ainda não entendi muito... -ela apenas sorriu e se virou
- Tudo no seu tempo, Sebastian.
- Como sabe o meu nome?! -me levantei bruscamente
- Todos aqui sabem seu nome... -me deu uma piscadela. - Ah, a propósito me chame de Amy. -estendeu a mão pra mim.
- Não preciso dizer quem eu sou porque parece que todos já sabem, afinal, como sabem meu nome?
- Somos avisados de quem vai entrar aqui, eles dizem seu nome, idade e qual cor que está... -revirou os olhos enquanto andava pelo quarto procurando alguma coisa.
- Cor?
- Sim, somos selecionados por cores: branco, amarelo e vermelho. Você por outro lado... -apontou para mim - Foi escolhido assim como eu para o quarto vermelho.
- O que essas cores significam? -por um segundo, eu jurara ter visto seus olhos brilharem maliciosamente.
- Tudo. -sorriu - As cores influenciam na vida social daqui, como por exemplo o vermelho... Ele é uma cor muito mais forte do que todos as outras cores, e por isso os outros de cores mais baixas nos evitam.
- Então foi por isso que fui evitado no salão?!-ela assentiu.
- Isso significa que você só pode falar com pessoas da sua mesma cor. A não ser que você conheça alguém das outras cores que não tem medo de falar com um serial killer... -riu - Mas como é impossível, só fale com vermelhos ou pretos, mas o preto foi excluído há muito tempo, é impossível haver algum preto aqui, então só fale com os vermelhos mesmo.
- Por que os outros nos evitam?
- Por causa do significado das cores. A cor branca é para aqueles que fizeram mal inocentemente e que não repetiriam isso de novo, o amarelo é para aqueles que não machucariam ninguém quando estão sãs, mas tem momentos de surto e é nesse momento que eles machucam. -recordo vagamente o momento em que passei no corredor e escutei gritos, provavelmente são dos moradores da porta amarela. - E para nós... -apontou para sua blusa vermelha. - É para aqueles que são perigosos, independentemente do estado mental.
- Então eu sou perigoso? Por quê?
- Agora você deve estar confuso, entendo perfeitamente. Mas logo você vai entender. -sorriu fraco.
- Eu tenho uma pergunta...
- Suponho que tenha muitas perguntas. -assinto em concordância. Ela me encara.
- Esse lugar... É um lugar, bom muito... Peculiar. O que é aqui?
- Você não sabe o que é aqui? -nego. Ela arquea a sombrancelha um tanto perplexa - Primeiro as cores, agora a escola... Curioso muito curioso...
- Quê?
- Bom... Bast, posso chama-lo assim? -assenti - Esse lugar... -olhou em volta - Não é nada mais nada menos que um colégio interno.
- Colégio interno?! -ela se sentou na cama e me olhou atentamente, sua sombrancelha ainda arqueada e sua expressão era de quem lançaria uma bomba, e adoraria ver o estrago dela.
- Sim Bast, um colégio interno... Para assassinos em série.
- Um colégio de assassinos?!
- Sim, e você faz parte dele.
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