Last Kiss | Pearl Jam

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   Era noite, eu acordei atordoado sentindo uma forte dor, mas não sabia dizer qual parte doía mais. A princípio nem sabia direito onde estava. Senti meu corpo gelado, e minhas roupas grudadas na pele húmida. Uma forte chuva caia bem em cima de mim, no entanto não me encontrava ali sozinho, algumas pessoas me olhavam e eu podia sentir a aflição saindo de seus poros, o choque nos olhos arregalados de uma senhora me fez estremecer. Tudo começava a ficar claro na minha mente...

Oh onde, oh onde, pode estar meu amor?

Com um piscar de olhos pude vê-la, com seu vestido lilás sorrindo para mim quando parei em frente a sua casa com o carro do meu pai, tínhamos um encontro. Algo especial, eu mesmo tinha planejado tudo e disse-lhe naquela mesma semana:
"Amor, tenho algo para dizer, mas você terá que esperar um pouco, por favor tenha paciência. Eu tenho planos para essa sexta à noite. Diga para seus pais que é algo muito importante, caso de vida ou morte, que não fiquem acordados lhe esperando. Será perfeito, eu prometo."
Percebi mesmo do outra lado da linha que você conteve o riso, quando soltou um leve grunhido que logo foi abafado e me respondeu:
"Oh querido, farei como me pediu."

Antes da sexta chegar já havíamos brigado duas vezes, você queria saber do que se tratava o encontro, mas eu tinha que manter o segredo até lá.
Que tolo! Sinto muito...

Aprendemos em algum momento de alguma forma que a vida é feita de instantes, pequenos segundos que podem mudar o rumo da sua vida. Se eu pudesse voltar no tempo amor, eu não teria ligado, teria ido até você e dito tudo de uma vez.

Quando finalmente a sexta chegou, eu me arrumei e demorei como nunca havia feito antes, queria estar bonito. Era algo especial, ia pedi-la em casamento. No horário combinado eu apareci e lá estava você com seus cabelos castanhos flutuando com o ventos.
Caminhei na sua direção, achando que meu coração ia saltar pela boca. Toquei na sua macia mão, beijei sua testa, senti o cheiro dose do seu perfume e sussurrei no seu ouvido:
"Você é tão linda!"

Entramos no carro, e eu não conseguia parar de olhar para você. Foi assim quando te vi pela primeira vez também, meus olhos não conseguiam parar de fita-la.
Liguei o motor, e ouvimos o ronco grave dele surgir, como uma música dançante. Então partimos para a estrada. Juro que nunca poderia imaginar o que estaria por vir.

Nós não tínhamos ido muito longe.
Lá na estrada, logo à frente,
Um carro estava parado, o motor tinha morrido.

Eu acho... Estava escuro, não tinha sinalização, eu não vi direito. Com antecedência. Sinto muito. Estava distraído demais, e quando eu finalmente percebi o veículo ali parado já era tarde...

Eu não podia parar, então eu desviei para a direita.

O chão estava escorregadio, eu perdi o controle e batemos em cheio na mureta.

Eu nunca vou esquecer, o som daquela noite:
Os pneus gritando, o vidro arrebentando quando nossos corpos passaram por eles...
O grito de dor que eu ouvi por último, que não era meu.

Então era ali que eu me encontrava naquele momento, no chão sujo da estrada, jogado. Com pessoas desconhecidas me olhando, a chuva e o pavor tomando conta de mim. Oh Deus, onde ela estava?
Algo morno começou a fluir através dos meus olhos, não conseguia conter.

Mas de alguma forma eu encontrei minha bebê naquela noite.

Ela estava no chão, não muito distante e de mim, eu vi depois de um tempo o pedaço do seu vestido e me arrastei até lá.

Eu levantei a cabeça dela, ela olhou para mim e disse:
"Me abrace querido, só por um momento."
Eu a abracei forte, a beijei, nosso último beijo.

A ajuda ainda não tinha chegado, eu torcia para no final tudo ficar bem.

Eu encontrei o amor que eu sabia que tinha perdido.

E ouvi algumas pessoas dizendo:
"O socorro já está chegando! Aguentem firme!"
"Por Deus aguentem firme."

Ela estava muito machucada, eu pude ver logo de cara. Tinha muito sangue. Mas logo o corpo dela começou rapidamente a ficar gélido, e eu pude sentir ela partindo para longe. Para bem longe de mim. Seus olhos cor de mel perderam o brilho que sempre me encantava.
A apertei contra o meu peito o mais forte que pude. Minhas mãos tremiam, eu ainda estava em choque.

Bem, agora ela se foi, mesmo eu tendo abraçado forte.
Eu perdi meu amor, minha vida, naquela noite.

A pior noite da minha vida. A noite que nunca vou esquecer.
Às vezes eu começo a caminhar e paro bem onde tudo aconteceu, do outro lado da rua e tudo começa a voltar na minha mente, tão claro como o dia. É impossível não lembrar dela sorrindo, poucos minutos antes da tragédia.

O Senhor levou ela pra longe de mim.
Ela se foi para o céu, então eu tenho de ser bom,
Assim eu posso ver minha querida quando deixar este mundo.

Essa é minha dor, mas meu sofrimento alivia um pouco com minha fé, porque como eu nunca fui antes, agora então serei um bom homem. Com toda minha força.
Ah amor... Ainda não acabou, eu posso sentir, nós nos veremos de novo.