19 | EU TENHO TROCENTOS PRIMOS
— Isto é o Brexit, não é? — comentou Florian de Groot, do outro lado da mesa. No subsolo da fazenda, rodeado de letreiros de neon, com a plantação de maconha logo atrás. Também atrás dele estava Blanket, com Keith perto da porta — Quanto mais regras e regulamentos o seu país impor, mais funcionários a União Europeia terá de contratar para aplicá-los. E mais pessoas significam mais bocas para alimentar, Alison. Então... digo, se você quiser que sua mercadoria continue passando com segurança para o continente, vai custar mais dinheiro.
— Quanto mais exatamente? — Taylor perguntou, juntando as mãos na mesa, sem expressar reação alguma. De Groot se mexeu desconfortável.
Danny olhou para ela, parado ali no final do corredor, com vista para as costas de Florian. O homem mais velho parecia inquieto, com a cadeira pequena demais para ele, alguém absurdamente alto e forte. Taylor se esforçou para não revirar os olhos ao ver Florian sorrir quando quis arrancar uma reação dela, e Eden se inclinou suavemente, colocando os cotovelos sobre a mesa, deixando claro que estava o observando.
— 1.5 milhões.
— E como exatamente você chegou a esse número tão específico? — quis saber a duquesa. Ela logo percebeu como Florian demorou até saber o que dizer.
— Em Zeebrugge temos polícia local, polícia federal, polícia marítima, funcionários aduaneiros, oficiais de comércio e tudo mais que se possa imaginar. Todo mundo é muito ganancioso. E se eu não pagar imediatamente, eles vão ficar bravos e grasnar — respondeu Florian, movendo as mãos sem parar, como se estivesse nervoso demais para se conter.
Eden estreitou os olhos e depois abaixou a cabeça por um segundo. Florian de Groot olhou para ela e, depois do que pareceu uma eternidade de silêncio - mas não passou de alguns segundos - a duquesa arrastou a cadeira para trás.
— Você se importa se trocarmos uma palavra? — ela acenou com a cabeça em direção a Taylor, mas fazendo a pergunta para Florian, como se ter a resposta dele fosse importante. O homem não se importou e assentiu.
— Claro, claro... leve o tempo que quiser.
— Conversa rápida, Taylor — Eden murmurou, levantando-se e apoiando a mão no ombro de Taylor. A garota assentiu e a seguiu. Elas caminharam em direção aos fundos, seguindo pelo mesmo corredor onde Danny estava, mas quando chegaram perto do garoto, ele não precisou de uma indicação falada para entender que precisava dar espaço a elas. Eden olhou para Taylor e depois cruzou os braços — Acho que ele está brincando com a gente.
— Certo, e por que você acha isso?
— Tenho certeza de que foi ele quem notificou a polícia de fronteira e está usando isso para aumentar o preço.
— E por que agora?
— Talvez ele tenha ficado ganancioso.
— Eu entenderia se ele estivesse pedindo um aumento de 10%, mas ele está tentando conseguir o dobro. Parece demais até mesmo para ele.
— Ele deve pensar que tem uma vantagem significativa — Eden deu de ombros — De qualquer forma, você deve ter outro caminho para usar. Porque, dê a ele o que ele quer, e ele continuará pedindo mais.
Taylor permaneceu em silêncio, pelo menos por alguns segundos. Ela suspirou, com um misto de irritação e cansaço, e encarou as costas de Florian. O homem pareceu sentir o olhar dela, porque ele se virou no mesmo momento, e como se estivesse tentando tirar o pior de Taylor, sorriu. Ela retribuiu o sorriso e depois olhou para Eden quando o homem do outro lado se virou.
— Gostei do look — ela apontou para a roupa que a duquesa usava. Nada tão diferente, mas ela deixou de lado as roupas repetitivas, como as jaquetas, os suéteres estampados e os jeans. A escolha do dia foi calça de alfaiataria, reta, em tom escuro. Camisa branca, suéter azul marinho e casaco preto. Nos pés dela estava um par de mocassins novos, que custaram muito mais do que Eden gostaria de admitir.
— Tentando a coisa monocromática.
Taylor sorriu suavemente, diferente do sorriso que ela deu a Florian, e deu um passo em direção a Eden, afastando-a da vista aberta do corredor. Longe de qualquer olhar.
— Combina bem com você.
— O que é isso...? — Eden deixou um sorriso petulante tomar conta de seus lábios, e Taylor logo imaginou que ouviria algum comentário mais ácido — Você está ficando mais delicada comigo.
— Isso é uma crítica? — Taylor perguntou, entrando no que quer que fosse aquilo que elas estavam fazendo.
— Eu não disse que era — Eden respondeu, antes de se inclinar na direção de Taylor e unir seus lábios aos dela. O beijo não durou mais do que alguns segundos, pois logo Taylor estava se afastando e voltando para onde Florian a esperava, com Eden a seguindo como se fosse a própria sombra dela.
Ela puxou a cadeira de frente para ele e sentou-se, mas ao contrário de antes, Eden permaneceu de pé, encostada na parede, logo atrás de Taylor, com as mãos nos bolsos, como se esperasse qualquer movimento errado do homem do outro lado da mesa.
— Posso ir para 1,2 — informou Taylor — Mas esta é minha oferta final.
— Se quiser resolver a situação, tem que pagar a taxa atual, mais 1,5 — Florian bateu com a ponta dos dedos na mesa, não com muita força, mas o suficiente para fazer barulho — Entendeu?
— Entendo que algumas pessoas precisam molhar seus respectivos bicos. Esse é o jeito do mundo — Taylor fingiu um sorriso — Mas dentro do razoável. Você não pode foder comigo, porra!
As luzes foram embora assim que Taylor fechou a boca, zangada. Ela revirou os olhos, mas estava escuro demais para que Florian visse qualquer coisa.
— Que merda é essa... — Eden murmurou, e sem esperar se mexeu para seguir em direção às escadas, onde havia a indicação das luzes de emergência. Como resposta óbvia, ela estava indo dar uma olhada no gerador, lá em cima, mas antes que pudesse dar o primeiro passo em direção aos degraus, um barulho alto veio do lado de fora.
— Danny, o que está acontecendo com as luzes? — Taylor perguntou.
— Hum... — o garoto se mexeu, sem realmente muita ideia do que poderia fazer. Ele se mexeu na direção dos interruptores, como se a resposta estivesse ali, mas nada realmente aconteceu quando os apertou.
— Ah, você está me intimidando com seus truques baratos, hein? — Florian apontou no escuro, e logo em seguida emendou um francês que Taylor mal conseguiu entender quais eram realmente os significados das palavras.
Era noite, e como Eden não tinha a mínima ideia do que poderia estar acontecendo, ela decidiu que não iria sozinha ver a razão para o apagão repentino. Então, ela acenou para Blanket, e murmurou qualquer coisa sobre precisar de ajuda. O segurança assentiu, mas antes de sair, ele alcançou uma escopeta que guardava no estoque ali de baixo. Os dois caminharam em direção ao fim do galpão, andando em passos ritmados, até que o barulho de carro acelerando os fez acelerar também. A luz baixa do galpão não dava a visão completa, mas Eden e Blanket correram rápido o bastante para conseguirem ver dois sedans antigos puxando carretinhas já velhas. Cada um carregando um gerador, dois dos três que abasteciam a fazenda lá embaixo.
Blanket pensou rápido, e atirou no vidro de trás, mas era pouco improvável que tivesse acertado alguém. O carro continuou acelerando, e Eden puxou as chaves de seu SUV do bolso do casaco, aumentando a voz enquanto dizia para que Blanket entrasse no carro.
O segundo sedan teria sumido na estrada como o primeiro, porque eles pegaram velocidade o bastante para saírem da propriedade. Mas de alguma forma, Ethan estava caçando naquela noite quando viu a movimentação ao longe. Ele fechou o caminho usando seu Jeep, e o Sedan de trás se viu obrigado a parar, tentando evitar uma colisão. O outro tomou o caminho difícil e sumiu de vista. Eden impediu a passagem de vez do segundo carro quando parou seu SUV logo atrás. Ela desceu do lado esquerdo e caminhou na direção de Ethan, que encarava o lado de dentro do carro, um pouco incrédulo.
— Você vai adorar isso — o mais velho apontou, e abriu a porta. Eden abaixou o corpo e inclinou a cabeça, apenas para ver que lá dentro, a pessoa no volante era um garoto que não tinha mais do que doze anos de idade. No banco de trás, outra criança, enquanto no banco do passageiro, uma garota. Ela era a mais velha, mas não tão velha. Talvez tivesse dezassete ou dezoito anos.
— Ok, acho que isso foi um pouco excessivo — Eden voltou a se endireitar, e apontou para a arma que Blanket segurava. Ele não estava a apontando, mas se fosse valer de algo, tinha atirado naquele carro minutos antes.
— Como eu poderia saber? — o segurança murmurou.
Ethan ajudou Eden a tirar as crianças do carro. O mais novo, que estava dirigindo, ficou de braços cruzados, encarando Blanket como se estivesse o desafiando, enquanto a garota que tomou a frente, revirando os olhos antes de abrir a boca para falar.
— Bem... não há como você nos matar sem que isso volte para você. Tenho trocentos primos!
— Ninguém vai ser morto aqui — Ethan garantiu.
— E ele, então? Grande homem com a arma — ela acenou para Blanket.
— Bem, ele ficou um pouco animado — Eden disse, e deu dois toques breves no ombro do mais velho — Não foi, Blanket?
— Foda-se eles — ele falou, encarando a garota sem muita expressão — Ciganos ladrões.
— Foda-se você, seu canalha racista — ela aumentou a voz apontando na direção de Blanket, e os garotos do lado também dispararam seus próprios xingamentos — Somos uma minoria. Você precisa aprender um pouco sobre diversidade. Não somos ciganos. Somos viajantes.
— A mesma merda — Blanket deu de ombros, e a garota se irritou o bastante para tentar o acertar, mas Eden a segurou pelos ombros antes que qualquer coisa pudesse acontecer.
— Tudo bem, tudo bem. Tudo bem. Apenas... apenas relaxe. Todos... relaxem — ela olhou na direção do segurança — Blanket, vá ver Taylor. Conte a ela o que aconteceu.
— Sim, vá se foder, Blankie — a garota murmurou.
O mais velho saiu sem dizer mais nada. Ainda segurando a arma, e ainda com a expressão fechada, mas sem dizer nada.
— Garota folgada, qual é o seu nome? — Ethan chamou a atenção da mais nova, que o encarou irritada.
— Vai se foder.
— Que tal você me dar seu nome verdadeiro?
— Meu sobrenome é Ward. E isso é tudo que você vai conseguir, velho.
— Você está em uma propriedade privada e roubou dois de nossos geradores — Eden tomou a atenção dela para si — Por quê?
— Não tivemos escolha — Ward deu de ombros — Um homem da prefeitura veio e pegou o nosso. Ficamos sem nada.
— E por que isso é problema meu? —Eden disse, não como um jeito para irritar a garota. Ela estava perguntando honestamente.
— Vamos, cara, como se você precisasse disso. Há crianças lá sem aquecimento, dormindo em camas geladas, hein. Vocês fariam isso com as crianças? — Ward passou os braços pelos ombros dos garotos, e os puxou para si — Vamos, pense nas crianças.
Eden encarou Ethan, e o mais velho deu de ombros. Ela se sentiu especialmente boa naquela noite - ou talvez estivesse apenas tentando evitar qualquer confusão, afinal, o outro gerador já estava longe de qualquer maneira. Então, Eden encarou a garota de frente para si e apontou para o gerador preso na carreta.
— Vamos, vocês vão me ajudar a tirar aquilo do carro. Por caridade, vou deixar vocês ficarem com o outro gerador que levaram. Daremos a vocês — ela levantou os cantos dos lábios em um sorriso falso — Pelas criancinhas.
Mais tarde, quando Eden estava vendo o sedan seguir caminho, ela se aproximou de Ethan, e cruzou os braços, o olhando de lado.
— Isso vai ser um problema?
— A família Ward é muito conhecida por aqui — Ethan informou — Brigas de cães, brigas de galos, brigas internas. Cem gerações de volatilidade dinâmica.
Era o que o Eden precisava saber. Ela não disse mais nada, à parte do que ouviu, mas aceitou que Ethan a ajudasse com o gerador, e logo os dois estavam retornando para perto do galpão, e arrumando tudo o que tinha sido tirado do lugar. Havia a falta do terceiro gerador, claro, mas eles conseguiriam se virar com apenas dois por uma noite.
Ethan então se despediu, seguindo para sua cabana, no caminho mais à frente, e Eden caminhou até o contêiner do outro lado. Ela escutou a voz de Florian reclamando em francês assim que começou a descer as escadas, e bem quando pisou no último degrau, todas as luzes se acenderam.
— O que aconteceu? — o belga quis saber, parado perto das grades do estoque — Uma de suas vacas encontrou o interruptor de luz?
Eden o ignorou, passou por ele e caminhou silenciosamente até onde Taylor estava, sentada na mesma cadeira de antes, revirando os olhos. A duquesa puxou a cadeira para perto, e se inclinou na direção de Taylor, explicando o que aconteceu.
— Com isso, talvez devêssemos concordar com uma transferência temporária — a mais velha concluiu — Até descobrirmos um caminho alternativo. Quanto menos problema, melhor.
— Eu não gosto que alguém coloque uma arma na minha cabeça, Eden. Vamos mandá-lo de volta para a Bélgica. Diga a ele que estamos pensando nisso. Deixe-o cozinhar um pouco.
— E os viajantes?
— Não sei — ela deu de ombros — Eu não os conheço, então... o que você acha?
— Depende do que eles viram — Eden atualmente — Se eles sabem o que estamos fazendo, acho que podem ser um problema.
— Então talvez devêssemos os fazer uma visita.
— Com licença — Florian interrompeu uma conversa de longa — Eu gostaria de voltar para casa, para a civilização.
*
O local onde os viajantes tinham se acomodado nas últimas semanas, ficava há pouco mais do que nove quilômetros da propriedade dos Hadfield. Quinze minutos de carro, e quase uma hora e meia a pé.
O lugar era perto de torres de comunicações, e eles tinham uma cidade própria feita de reboques e todo tipo de veículo, fosse os que usassem motores ou então suas carroças puxadas por cavalos e bois.
Quando Eden desceu do carro, que tinha ido dirigindo, Keith a acompanhou de perto. Do outro lado, saindo do lado do passageiro, estava Taylor, e logo atrás Blanket. Os quatro fizeram o caminho comunidade a dentro, passando pelos primeiros trailers, até que pararam quando um homem mais velho, de barba mal feita no rosto e cabelo bagunçado, encarou Keith. O segurança não se intimidou, até porque o homem de frente para ele era bem mais baixo e menos forte.
— O que você está olhando de boca aberta?
— Você, seu careca de merda — o homem apontou na direção de Keith, e só então o segurança ameaçou dar um passo adiante, mas Eden estendeu o braço a tempo de o parar.
— Tudo bem, tente ficar mais calmo — Taylor falou, e então acenou para o homem que mal conhecia — Você, queremos falar com o seu chefe, ou seja lá quem está no comando aqui.
— Quem está perguntando?
— As pessoas que gentilmente doaram aquele gerador para você — Eden respondeu.
O homem não pareceu surpreso. Ele encarou o gerador atrás de si, e então sorriu irônico antes de virar o rosto e aumentar a voz, gritando "JP!". De um trailer branco ao lado, apareceu um homem de regata branca, parecendo mal se importar com o frio. Ele juntou as mãos no apoio de cima do trailer, e encarou Eden mais à frente. Não que tivesse a reconhecido, mas juntou os pontos e imaginou que era sobre a noite anterior. Nada parecia certo partindo dali.
JP gritou o nome de uma garota, e então desceu do trailer. Mais atrás, a mesma garota da noite passada veio apressada. Ela chegou apontando ao dedo e dizendo que tinha sido Blanket o responsável por atirar no carro que o irmão dela estava dirigindo.
— Você atirou na porra da minha família? — JP falou, com seu sotaque forte, parando diante de Blanket. O segurança deu um passo para ficar exatamente de frente para o irlandês. Então, Blanket levantou a barra da camisa que usava, apenas um pouco, deixando a mostra a arma que estava carregando.
Eden olhou a cena não exatamente impressionada, e se esforçou para não resmungar qualquer merda descontente.
— Não sabíamos que eram crianças porque estava muito escuro — ela tentou melhorar as coisas — Devido à apropriação recente de nossos geradores. Para não falar que vocês nos roubaram.
A piadinha não pareceu popular quando ninguém riu. A atenção ainda nos olhares de JP para Blanket, e no fato de que o segurança ainda estava com a mão na arma, pronto para qualquer coisa. Taylor acenou suavemente, chamando a atenção para si.
— Que tal conversarmos um pouco, hein? — ela disse, e pareceu funcionar porque JP a olhou e depois do que pareceu uma eternidade, apontou para o trailer. Uma vez lá dentro, apenas ela e Eden entraram, enquanto os seguranças ficaram na porta. Do outro lado, no entanto, a família inteira de JP se enfiou naquele espaço pequeno, ocupando o que deveria ser a sala de visitas.
Eden e Taylor se sentaram no sofá de costas para a janela, com a mesa de centro as separando de JP e sua família. O homem até vestiu um cardigã para conversar, mas mesmo assim não parecia menos ameaçador.
— Se você tem algo a dizer, diga — ele resmungou.
— Talvez devêssemos ter essa conversa em um lugar mais reservado — Taylor tentou ser gentil quanto ao pedido, não que isso fosse importante para JP.
— Você pode falar o que tem para falar na frente da minha família — JP garantiu, e Taylor passou o olhar pelas pessoas. A irmã dele estava mais atrás, bem como os três irmãos, e então a mãe, que surgiu carregando uma bandeja com chá, leite, biscoitos e um pote com cubinhoa d
e açúcar.
— O que você está fazendo, mamãe? — a garota da noite anterior murmurou, mas sua voz saiu alta o bastante para que Eden escutasse.
— Ela é uma duquesa, Kellie Ann — a matriarca dos Ward falou, deixando a bandeja na mesa de centro e apontando para o leite — Eu a vi nos jornais. Leite e açúcar, Vossa Graça?
— Um pouco de leite, mas sem açúcar, obrigada — Eden sorriu gentilmente.
A mulher ajeitou o chá, colocando um pouco de leite e então estendeu o copo. Taylor recusou a bebida, e logo a mãe de JP estava dando as costas, apenas para se sentar no sofá atrás do filho, e ao lado da filha.
— Certo... o que você quer? — JP puxou o assunto outra vez.
— Garantias de que você e sua família ficaram longe da minha propriedade — Eden foi suscinta.
— Porque você está cultivando maconha lá? — Kellie Ann perguntou.
— O que lhe deu essa impressão? — Taylor semi cerrou os olhos, e fez a pergunta com a voz baixa, tentando soar despreocupada.
— Ah, eu não sei. Podem ser todos os malditos geradores — JP falou — As idas e vindas. O exército de cortadores de ervas vietnamitas que continuam se perdendo em nossas ruas. Ou o fato de que um dos nossos rapazes olhou para um daqueles barris azuis no galpão perto dos geradores, e isso foi encontrado... — ele estendeu a mão, e puxou um pacote cheio de erva, logo abaixo da mesinha de centro. JP deixou o pacote na mesa, e Taylor o encarou, mas deu de ombros como se aquilo não significasse muito.
— Não prova nada — ela disse — Mas... apenas um momento. Você está tentando nos chantagear?
— Ah, bem, isso depende da sua definição de chantagem.
— Talvez você possa nos ajudar a esclarecer sua definição — Eden comentou.
— Acho que posso fazer isso — JP falou, e no instante seguinte ele e a família estavam se reunindo em uma rodinha, num murmúrio indistinto sobre o que quer que estivesse buscando tirar de lá. Quando eles se resolveram, JP encarou Eden e não Taylor, como se sentisse mais confiança negociando com uma e não com a outra.
— Eu quero entrar.
— Excusez-moi? — Taylor não conseguiu evitar, ela levantou as sobrancelhas realmente surpresa, e ouviu de lado um "Oi?" confuso vindo de Eden.
— Temos todo tipo de habilidades que podem ser úteis neste negócio — JP gesticulou, talvez mais nervoso do que animado, e isso Eden reparou. Ele então apontou para a duquesa — Tenho certeza de que você pode resolver isso. Apenas considerar.
— Certo — Taylor descruzou suas pernas e se preparou para levantar — Acho que esta reunião chegou à sua conclusão natural.
— Um segundo, Teffy — Eden apoiou a mão direita no perna de Taylor, sem nem mesmo reparar no apelido que saiu de seus lábios. Depois, a duquesa agitou o dedo indicador na direção de JP, como se pedisse um momento — Você se importaria se eu e minha parceira trocássemos uma breve palavra?
— Bem, já que você é uma duquesa... — JP fingiu um sorriso — Fique à vontade.
Eddie limpou a garganta e se inclinou de lado, ficando de costas - da maneira como conseguiu - para conseguir cobrir a boca e não deixar tão claro o que dizia. Taylor fez o mesmo movimento, e logo as duas estavam de ombros grudados, muito perto uma do rosto da outra.
— Ande comigo — Eden pediu — Nós estamos com um problema envolvendo a distribuição do produto. Eu não confio no Florian de Groot, e você não tem mais nenhuma outra alternativa se não ele, ou eles. Esse pessoal... eles vão para todos os lugares-
— Não — Taylor a interrompeu, antes que ela pudesse concluir — Não estamos fazendo isso.
— Mas é perfeito — Eden sustentou — Resolvemos dois problemas de uma só vez — Taylor a olhou, incerta, e precisou de mais algumas palavras para que a ideia caísse da forma correta para ela. Alguns segundos depois, e as duas estavam se virando. Eden cruzou uma perna sobre a outra, e apoiou as mãos uma sobre a outra, em seu colo — Acontece que temos um pequeno problema com a distribuição do nosso produto.
— E percebemos que você e seu povo podem ter experiências em passar com que mercadorias pela fronteira.
— Isso é apenas um clichê cansado — um garoto lá atrás, no início do trailer, disse.
— Então não é verdade? — Taylor perguntou.
— Uh, ele não disse que não era verdade — JP murmurou.
— Bem, sua experiência pode ser útil para levar nosso produto pela Europa — Eden deu de ombros — O que você acha? Existe um acordo para ser feito?
— Você está me chamando para dançar e nem me pagou uma bebida — JP sorriu, batendo uma mão na outra, em palmas que soaram não tão altas.
— Certo... — Eden o acompanhou — O que você bebe?
A resposta para a pergunta era "Uísque caro pra caralho", e isso Eden descobriu mais tarde quando recebeu JP e sua família na sala de visitas de Birch. A família do homem se acomodou na mesa, mas eles se sentaram nos sofás. Eden e Taylor de um lado. JP de outro. O Uísque caro na mesa do centro.
JP tomou uma dose inteira em um único gole. Depois, ele apoiou o copo na mesa, antes de pedir para Sr. Lawrence, o mordomo que estava parado perto da lareira, encher novamente o vidro.
— Você é muito gentil, Vossa Graça — ele disse — E esse Uísque tem um gosto de muito caro, hein?
— Dalmore, single malt de 25 anos — Eden falou — Deve ter me custado pouco mais de mil libras.
— Hum — JP tomou sua segunda dose, também de uma só vez, e voltou a apoiar o copo na mesa. Ele então se inclinou e alcançou no chão algumas pequenas canecas de ferro. Tinha levado três, junto de uma pequena garrafa forrada por jornal e amarrada ao meio — Agora, eu não vim aqui de mãos vazias. E isso aqui... é poitín. Da Irlanda. É feito de batatas, maçãs e, uh, um pouco de fluido de freio. Porque você vai precisar de algo para desacelerar depois que o motor pegar no tranco — ele arrastou os copos pela mesa, depois de os encher. Eden alcançou um, e Taylor pegou o outro. JP encheu um para si mesmo e murmurou "saúde" antes que os três pudessem tomar uma bebida juntos.
Eden sentiu de imediato o quão forte aquilo era, mas tentou controlar o resmungo que insistiu muito para sair. Taylor não conseguiu fazer isso, e realmente não se importou. Ela odiou a bebida.
— Isso é forte — ela disse.
— Ah, sim — Eden concordou.
— De qualquer maneira... — Taylor continuou — Temos um acordo ou o quê?
JP investiu profundamente na sua reação. Ele suspirou e terminou sorrindo antes de encher seu segundo copo. Ele não economizou, e gesticulou para que Eden e Taylor devolvessem seus copos vazios.
— Bem, temos um acordo, mas não antes de bebermos esta garrafa inteira de poitín, Taylor — ele riu levemente — Você quer fazer negócios com os Wards, você tem que festejar com os Wards. Tenho certeza que você entende.
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