13 | A LAMA DE BIRCH
Era fim de tarde e o Range Rover Sport de Taylor atravessava os portões de Birch em direção à casa principal. O carro estava acompanhado por um segundo veículo, uma van preta, dirigida por Keith, com Blanket no banco do passageiro.
Minutos antes, foi Eden quem passou pelos portões da propriedade, dirigindo seu carro com Archie no banco de trás e Lottie no banco ao lado dela. Mas os dois tinham se enfiado em sua própria ala, e Eden ainda estava se trocando em seu quarto quando recebeu um aceno do Sr. Lawrence sobre o fato de Taylor ter chegado. Mas Eden nem sabia por qual razão ela estava lá. Ela tinha algumas mensagens não lidas da mais nova, então estava um pouco perdida quanto ao que tinha acontecido pelo resto da tarde.
Assim que Eden deixou seu quarto, ela se encontrou com Taylor no hall norte, antes que as duas pudessem seguir pelo longo corredor que levava à biblioteca. Taylor parecia pronta para um compromisso. Ela havia mudado de visual e vestia um terno de veludo vermelho Stella McCartney, de pernas largas, jaqueta grande e camisa com cinto combinando. A roupa definitivamente exalava uma aura própria, e o vermelho combinava com Taylor, pelo menos Eden pensou.
Keith e Blanket foram na frente e, quando abriram a porta da biblioteca, logo viram Daniel sentado no sofá, vestido de moletom e com um cobertor sobre os ombros. Seu cabelo estava molhado, como se ele tivesse acabado de sair do banho, e sua expressão era a de alguém que não dormia há pelo menos um dia inteiro. Os seguranças de Taylor pararam no canto da sala e a mulher passou pela porta em direção à mesa de centro. Ela nem manteve espaço, se sentando no sofá do outro lado, não. Ela sentou-se em cima da mesa de centro, ficando bem perto de Daniel.
— Você está bem, Danny? — ela perguntou.
Um pouco mais atrás, Eden estava de pé, e permaneceu de pé. Apenas enfiou as mãos nos bolsos da calça preta que usava.
— Essa é uma pergunta surpreendentemente difícil de responder agora, para ser sincero — murmurou o mais novo, apertando ainda mais o cobertor contra si.
— Como você está? — Taylor insistiu.
— Só sinto muito pela situação atual — respondeu ele.
— Bem, se você sente muito, está tudo bem então. Exceto, espere um minuto... — ela pausou por um momento, numa óbvia cena, fingindo pensar, e então se esforçou para não revirar os olhos antes de continuar — Onde diabos você estava?
— É uma longa história, na verdade — Danny tentou protelar, e naquele momento ele só parecia saber fazer isso. Na verdade, ele até tinha uma história para contar, mas não estava exatamente orgulhoso dela, e podia imaginar os olhares que receberia assim que abrisse a boca. Ele só queria tentar evitar isso.
— Vamos direto ao final então — disse ela praticamente o interrompendo — Cadê minha maconha?
— Provavelmente é melhor começar do começo — o garoto murmurou, e viu Taylor revirar os olhos e endireitar a postura. Ele tentou organizar seu raciocínio — Eu estava dirigindo pela estrada, e era bem cedo, então eu estava com fome porque não tinha tomado café da manhã. Aí, parei pra comprar algumas coisas no restaurante de sempre, Patty's. E então aconteceu — ele sorriu.
— O que aconteceu, Danny?
— Para ser sincero, minha vida não foi mais a mesma desde então — o garoto ignorou a pergunta de Taylor, e deixou um suspiro pesado escapar — Foi tipo... uma daquelas coisas de epifania. Como uma aparição... bem, a maioria das pessoas chama de garota, não é?! Mas eu, eu chamo isso de anjo. É que... ela não tinha asas — ele manteve o sorriso aberto, sem se importar muito — E então, sem mais nem menos, ela estendeu a mão e roubou.
— O que ela roubou, Danny? — Taylor perguntou.
— Foi... foi meu coração ou minha alma. Ou mesmo ambos. Tem sido como um caleidoscópio de dominós caindo desde então, e então meu dia passou de louco a ruim. Primeiro, a van cheia de maconha fez "puf". Perdida! Evaporou como... como vapor de uma chaleira. Um coelho tirado da cartola ao contrário. Então meu telefone descarregou. E eu não conseguia fazer xixi e não sabia para onde ir porque estava no meio da estrada. Mas então... tirei a sorte grande, ou pelo menos pensei que tinha tirado a sorte grande. Uma van cheia de headbangers apareceu. Bolsos cheios de cogumelos. Então eu fumei com eles, dividimos o pão, sentimos o amor, e então me lembro de dançar, a música batia forte, o coração batia forte, a energia batia forte, mas eu não conseguia tirar a visão do anjo da minha cabeça. Então tomei uma xícara de chá para me recompor. É aí que os cogumelos fizeram efeito — ele estremeceu — Depois disso, foi como se eu tivesse caído de um penhasco. Para ser honesto, é como se tudo fosse um pouco confuso. Como uma névoa roxa. A próxima coisa que me lembro é que estava de cara na lama de Birch, recebendo uma cutucada de Ethan e seu bastão de julgamento, que ele usa para caçar aquele pobre bichos.
— Ok, me conte sobre a garota — Taylor nem foi sutil quando ignorou toda a história e focou no que importava.
— Ah, Gabrielle — Daniel sussurrou — Ah, ela é como um sonho que se tornou realidade. Tivemos uma conexão estranha. Ela era um pouco esquiva, para ser honesta. E então se sentou ao meu lado e... apenas começamos a conversar.
— E as chaves da van estavam em cima da mesa quando você se sentou?
— Sim. Tenho certeza que estavam.
— E elas não estavam lá depois?
— Espere — Daniel olhou no fundo dos olhos de Taylor, parecendo até um pouco surpreso — V-você não acha... não, ela não faria isso comigo. Estávamos com a vibração adequada para o momento. Eu senti.
— Como nós vamos encontrá-la? — Taylor virou o rosto, mas não o corpo. Ela olhou para as três outras figuras paradas lá atrás, através de sua visão periférica, e fez a pergunta para o pequeno grupo como um todo. Mas ninguém teve nem mesmo chance de responder.
— Encontrá-la? — Daniel deixou um riso idiota escapar — Ah não, você não precisa se preocupar com isso. Eu dei a ela meu número, então, quando ela me ligar, vou perguntar a ela sobre as chaves.
— Oh meu Deus — Taylor murmurou, revirando os olhos no meio do caminho.
— Quero dizer, tive essa sensação com ela. Tipo... você simplesmente sabe às vezes, entende?! Acho que a amo — o garoto disse, ainda sem conseguir não sustentar o sorriso no rosto.
— Vão até o Patty's — Taylor falou, dessa vez virando o corpo suavemente para olhar na direção de Keith e Blanket — Falem com a equipe.
— Vamos fazer isso — Keith garantiu, e no segundo seguinte estava deixando a biblioteca com Blanket atrás de si.
— De qualquer forma, eu sinto muito, chefe — Daniel murmurou, tirando enfim aquele sorriso do rosto — Eu realmente sinto muito. Há algo que eu possa fazer para ajudar?
— Sim — Taylor foi direta — Encontre uma maneira de fazer essas plantas crescerem mais rápido, porque agora temos um grande buraco em nossa linha de produção. E se aquela erva não aparecer, você está fodido, Daniel — ela se levantou — Continue aqui — e então encarou Eden, logo ali, parada — Capitã...?
Eden olhou para o irmão mais novo uma última vez, mas não se atreveu a dizer nada. Taylor parecia bem descontente com o que quer que tivesse acontecido, e não estava mesmo na mente certa para um momento de "conversa entre família". Eden parou diante da porta e a abriu, para que Taylor passasse, depois murmurou um "conversamos depois" na direção de Daniel, antes de fechar de a porta e sumir pelo corredor.
Mais à frente, Taylor estava esperando que Eden a acompanhasse até a saída, mas a duquesa murmurou para que elas fossem até seu escritório, e a mais nova entrou no espaço vendo Eden se sentar na cadeira atrás de sua mesa. Por sua vez, ela decidiu ficar de pé, alguns passos mais para trás, talvez um pouco mais impaciente do que esperava estar.
— Não me diga, Eddie, que você quer colocar mais um fardo sobre meus ombros — deveria soar como uma brincadeira, pura implicação, mas Taylor acabou parecendo séria demais.
— Bem, sinto muito se for um inconveniente para você, mas quando discutimos sobre a coleta de um veículo para você, eu não esperava encontrar partes cortadas de corpos humanos no escritório da mulher filipina dos carros.
— Quais partes do corpo humano?
— Dedos.
— Singular ou plural?
— Singular.
— Polegar ou indicador?
— Mindinho.
— Hm — Taylor deu de ombros, deixando claro que pelo menos para ela, aquilo não soava como algo realmente perturbador.
— Pode ser o menor dedo da mão humana... — Eden se levantou, dando a volta na mesa, e parando a apenas alguns passos da mais nova — Mas o fato de ter sido cortado sugere uma escalada significativa em termos das pessoas com quem lidamos.
— Ah, Eddie — a duquesa viu Taylor sorrir com implicância e também viu quando ela deu um passo adiante — Você não está entrando em pânico, está?
— Não — ela foi honesta — Estou apenas alertando você sobre a situação.
— Seguindo a hierarquia, por assim dizer — Taylor não perdeu tempo, e viu um incômodo tomando a expressão de Eden. Mas a duquesa disfarçou bem logo em seguida, levantando os cantos dos lábios em um sorriso suave, sem mostrar os dentes.
— Por assim dizer — ela deu de ombros — E veja, não estou sugerindo que você tenha mentido, mas é seguro dizer que as informações que você recebeu estavam incompletas. E veja, agora você tem uma pista sobre a maconha, então eu queria saber se existe um cenário em que eu não preciso roubar um carro para você. Nós temos um nome, não temos?
— É mais do que provável que seja um nome falso. E a única descrição que temos é do seu irmão, que está completamente dopado de psilocibina na sala ao lado — Taylor cortou de vez a distância entre ela e Eden, apoiando as mãos na cintura da mulher — Mas o mais importante é que meu pai pediu que você fizesse isso. Ele deve ter seus motivos. E ele irá retribuir. Então, sim, ainda preciso que você roube o carro.
— Não acho que vou roubar este carro para você — Eden murmurou. O rosto levemente inclinado para encarar Taylor, a distância realmente mínima, enquanto a via mantendo um sorriso no canto dos lábios.
— Oh, eu acho que você vai sim — o sorriso cresceu, mas apenas um pouco, e logo a expressão dela pareceu mais sedutora. A mão de Taylor achou seu caminho por debaixo da camisa de Eden, e sua unha se arrastou pelo abdômen dela.
Nenhum das duas parecia estar falando mais já tão sério. Elas estavam mergulhadas no próprio espaço, e gostavam de puxar uma a outra até certo limite.
— Deixa pra lá — a duquesa balançou a cabeça negativamente. Então, sorriu e continuou, brincando — Você quer que eu roube mais alguma coisa, querida?
*
— Modo furtivo, hein? — Archie encarou a irmã quando ela abriu a porta do carro, vestida de preto dos pés à cabeça — Fantástico.
Eden não disse nada, e Archie tomou isso como sua deixa, dando partida no Mercedes-Benz 190 SL, de 1959, logo na primeira tentativa - o que era uma vitória. Era um carro antigo, e consideravelmente caro, mas vinha tendo alguns problemas, e Archie tinha enrolado tempo o bastante para que consertasse aquilo. De qualquer forma, era o carro no qual ele se sentia confortável na direção - era um conversível pequeno, em cor preta, clássico.
Naquela noite, o teto de lona, que normalmente vivia abaixado, estava suspenso. Estava muito frio, e isso não era realmente um problema, mas também tinha chovido por grande parte do dia, e no meio da estrada, uma chuva fina veio a cair outra vez. Archie bateu na rádio, e colocou uma música para tocar, era uma estação qualquer e uma música do Baxter Dury tomou o carro. No tempo que os irmãos Hadfield realmente passaram até chegar na cidade e seguiram adiante, passando por Croydon, pelo menos outras quinze músicas já tinham tocado.
Era tarde da noite. Não tarde demais para que todas as ruas estivessem desertas - não que isso acontecesse realmente em Londres. Em algum canto da cidade, sempre havia agitação. Mas, de qualquer forma, o relógio marcava pouco mais de onze horas, e apesar de muito tarde, a garagem de Mercy ainda estava operando. Ou pelo menos, parecia estar.
— Uh, você esperava que alguém estivesse lá dentro? — Archie perguntou.
Ele tinha estacionado logo ao lado, no canto direito da grade que cercava o lugar. Longe da vista direta, mas não completamente escondido. E estava ali, muito perto dos trilhos de trem que passavam do outro lado da estrada.
— Não exatamente, não.
— Oh... uh... então acho que vou ficar um pouco por aqui — ele falou simples — Caso haja algum problema.
— Não, Archie — Eden não queria discutir, mas estava disposta a isso se precisasse — Você vai direto para casa.
— Claro — o mais velho disse. Não houve nem mesmo silêncio antes da resposta, e Eden desconfiou, mas revirou os olhos e não disse nada — Sim. Definitivamente. Vou direto para casa. Só acho que você precisa agir com um pouco de cuidado com essas pessoas.
— Eu ficarei bem, Archieden.
Archie concordou. Eden enfiou a mão no bolso da calça, certificando-se de que seu celular estava ali, bem como as chaves do carro que estaria roubando em alguns minutos. Logo em seguida, ela se inclinou para trás, e alcançou uma máscara de esqui que havia deixado no pequeno espaço de trás do carro.
— Olha, hm... por favor, posso perguntar algo?
— Claro.
— Por que diabos estamos fazendo isso? Poderíamos fazer o que o pai fez. Cinco milhões por ano por absolutamente nada. É um bom pagamento, Edechie.
— Não é pelo dinheiro — Eden garantiu — Trata-se de nos afastarmos de tudo isso, de sairmos da operação. Eu estou fazendo isso pela mamãe. E também... trata-se de retomar o controle. De manter essas pessoas longe da propriedade, e voltar a fazer as coisas da maneira certa. Reconstruir tudo.
— Reconstruir... — Archie acenou — Claro... então, só para ter isso claro em minha mente. Para deixarmos de ser associados aos criminosos, vamos nos tornar... criminosos.
Eden vestiu a máscara de esqui em cor preta, com apenas dois furos para os olhos. Ela virou o rosto, encarando o irmão, e Archie sustentou o olhar no dela.
— Não somos criminosos, Archie. Não sei de onde você tirou isso.
— Claro que não somos — o mais velho zombou, mas fez isso baixo o suficiente para que Eden não escutasse enquanto saía do carro. Ela se inclinou para baixo antes de fechar a porta, e olhou para o mais velho uma última vez.
— Te vejo em casa.
Archie murmurou um "boa sorte", que acabou não sendo escutado, e ele viu a irmã se afastando. O mais velho deveria ter ido embora, mas acabou ficando sem realmente pensar sobre tudo. Ele viu Eden pulando a grade, e então entrando no estacionamento. Ela seguiu até a porta lateral da garagem, que estava aberta até a metade, e agachou, vendo que havia apenas uma pessoa ali dentro. A porta principal, que levava exatamente para a frente do estacionamento, em direção à saída, estava fechada. Então, o plano acabou sendo desenhado de maneira simples. A duquesa forçou a porta do Mini Cooper que estava estacionado do outro lado do pátio e acionou o alarme. O barulho foi alto o bastante para chamar a atenção de quem estava lá dentro. Eden então se escondeu, e quando viu o homem passando em direção ao lado esquerdo do pátio, ela seguiu pelo caminho contrário, e passou pelo portão lateral que tinha sido arrastado completamente para cima.
O carro verde estava ali. Logo ali. Eden correu na direção dele, sem tempo para qualquer outra coisa, e o acionou, apertando a chave e destravando as portas. Ela estava dando a volta para entrar no lado do motorista quando escutou uma voz, vindo de uma sala ao lado.
— Eu lhe conto tudo o que você quiser saber, mas, por favor, não me machuque de novo.
Do lado de fora, o alarme do Mini Cooper ainda estava tocando, mas logo parou, e Eden nem mesmo prestou atenção. Ela também não prestou atenção no barulho de um caminhão chegando, e o som alto do portão do estacionamento lá da frente se abrindo.
Eden caminhou até onde tinha escutado a voz. Parecia muito com um freezer antigo, mas não tinha as portas, e no lugar, tinham colocado um pano para disfarçar a entrada. No centro da sala, estava um cara, de mãos amarradas e com um saco branco na cabeça. Ele não parecia realmente disposto a calar a boca, enquanto pedia para que não cortassem seus outros dedos. Eden não conseguiu não revirar os olhos, e então começou a considerar as opções que tinha. Não eram muitas. No fim, ela fez o que talvez não deveria. Desatou as mãos do homem e saiu o arrastando na direção do carro. Enfiou ele no banco do passageiro, e deu partida no carro, mas antes de sair da direção, seu celular começou a tocar.
— O que foi?
— Você precisa sair daí agora — Archie falou do outro lado.
— Obrigado. Obrigado. Eu devo minha vida a você — o homem no banco do passageiro desandou a murmurar.
— Está tudo bem — Eden falou na direção dele — Apenas cale a boca.
— Eu calar a boca? — Archie disse do outro lado da linha.
— Não você — ela falou — Olha. Me escute. Saia daqui.
— Eu não vou a lugar nenhum, porra — Archie falou, e depois disso não recebeu resposta alguma.
Ele ouviu o barulho da chamada encerrada, e olhou adiante, vendo a mesma mulher daquela tarde ao lado do caminhão que tinha estacionado minutos antes. Eles estavam descarregando algo, e o mesmo homem que tinha saído lá fora por conta do alarme do Mini Cooper, juntou as mãos no portão principal, e o arrastou para cima.
Tudo foi muito acelerado, e o homem precisou pensar rápido quando viu um Lamborghini verde, com toda sua velocidade, vindo em sua direção. Eden não tirou o pé do acelerador, e passou direto pelo caminhão, por Mercy e todos os outros caras. Ela trocou o caminho, e tentou pegar uma via menos movimentada em direção ao Swift Knuckle. Aproveitou a falta de movimento na rua para desacelerar, e enquanto voltava a discar o número do irmão, também tirou o saco branco da cabeça do cara ao seu lado.
— Você está bem? — ela disse.
— Ah, cara, você salvou minha vida — o garoto disse. Ele era realmente um garoto. Não parecia ter mais do que vinte anos. Parecia ter acabado de sair da escola. Tinha os cabelos tingidos de azul, e o rosto estava um pouco machucado — Olha o que ela fez comigo.
Ele levantou as mãos, mostrando que tinha perdido o mindinho. Eden não se surpreendeu realmente. A conta parecia certa. O mindinho com o que ela tinha se deparado era definitivamente dele.
— Isso é-
— Eu costumava tocar piano — o garoto a interrompeu — Estou fodido. Estou incompleto.
— O que você fez com ela?
— Você não sabe?
— Não, claro que não.
O garoto olhou ao redor, parecendo tomar consciência de onde estava. Ele começou a suar frio, e então murmurou uma ou duas palavras desconexas.
— O que porra você fez? Você... você tem que devolver — ele balançou o rosto — Não, não, não, não. Você tem que devolver.
— Devolver o quê?
— Pare o caro e a-abra. Abra o porta-malas — ele disse — Eu te mostro.
*
Eden chegou com o rosto cheio de sangue na academia de boxe da família Swift. O sangue não era dela - importante destaque. Mas, de qualquer forma, o sangue era de alguém.
Taylor era a única pessoa ali, naquele horário. Ela viu Eden entrando pela porta dos fundos, tirando a jaqueta que usava e passando no rosto, o que, acabou não adiantando muito. O sangue parecia já seco, e ela precisava de um pouco de água para fazer aquilo funcionar.
A duquesa se sentou no banco de madeira baixo, e apoiou as costas na parede - que, na verdade, era uma parede de espelhos. Taylor estava ali, de frente para ela, em pé, usando aquele mesmo terno vermelho com o que tinha aparecido em Birch horas antes.
— Você saiu? — Eden perguntou.
— Reunião de negócios no Dozo.
— Restaurante japonês?
— Isso — ela assentiu — Hm, presumo que as coisas não saíram exatamente como planejadas... quero dizer, você tem sangue no rosto. E eu espero que esse sangue não seja seu.
— Não é — Eden garantiu — E dizer que as coisas não saíram como o planejado... bem, é praticamente um eufemismo.
Taylor enfiou a mão na Birkin preta que segurava e tirou de lá um pacote de Bed Bath Wipes, da Carell, com essência de aloe vera.
— Quer um lenço umedecido? — ela estendeu o pacote fechado — Tenta se limpar enquanto me conta o que aconteceu.
— Bem, acontece que Tonibler não foi exatamente honesto sobre por que queria aquele carro — Eden falou. Ela rasgou o pacote sem cerimônia alguma e puxou três lenços de uma só vez, passando pelo rosto. Em um primeiro momento, não funcionou realmente, mas logo começou a ter algum efeito. Eden puxou mais lenços.
— Como assim?
— O carro estava cheio de um carregamento. Cento e cinquenta quilos de cocaína. O carro inteiro. Todas as partes.
— Isso deve valer três milhões, pelo menos — Taylor murmurou.
— Três e meio, aparentemente — Eden deu de ombros.
— Bem, de qualquer forma, talvez Tonibler não soubesse que isso estava lá.
— Ele sabia — Eden garantiu — Ele mandou o Jason entrar lá para pegar o carro, assim como me mandou.
— Espere. Quem é Jason?
— O cara com o dedo faltando — Eden levantou uma das mãos, apontando com a outra para o mindinho.
— Ah — Taylor transpareceu uma expressão surpresa — Onde você encontrou o resto dele?
— No armazém, amarrado a uma cadeira.
— Ok, ok... — ela acenou, e pela primeira vez desde o início da conversa pareceu realmente perturbada — Um momento, amor. Quando você está trabalhando, você nunca responde a um pedido de ajuda. É um maldito clichê. Essa é a minhoca no anzol. O que você é, bebê...? O rato que pega o queijo?
— Este não é meu trabalho diário, Taylor — Eden se defendeu, ou pelo menos tentou fazer isso — Mas... voltando ao que eu estava contando. Tonibler sabia que a porra do carro estava cheio de cocaína e sabia o que aconteceria.
— Certo... — Taylor concordou, e então apontou para o rosto da mais velha, ainda cheio de sangue — E como isso aconteceu?
— Eu parei no acostamento, para que Jason mostrasse o carregamento, e aí ele surtou um pouco. Começou a dizer que eu precisava ir embora e que ele também, e então... bem... — ela inclinou o rosto um pouco, se lembrando da cena — Ele pisou na via e um ônibus estava passando. Foi tudo muito rápido.
— Esse sangue é dele?
— Eu estava bem perto — ela deu de ombros — Eu nem tinha ideia de que isso era possível. Ele ficou... — ela gesticulou — Não acho que seja possível ter uma ideia de quem ele foi um dia. O que.. é meio que uma pena.
— Bem, pode ser uma pena, mas não é problema nosso — Taylor caminhou na direção de Eden e apoiou sua bolsa no banco, se sentando ao lado da duquesa e puxando alguns lenços da mão dela — Deixa que eu te ajudo com isso — ela virou o rosto de Eden para si e passou o lenço com cuidado, tirando parte do sangue no lado direito do seu rosto — Você sabe, não mexemos com pó. É mais fácil de mover, claro, e os números tendem a ser maiores, mas atrai todo tipo de confusão. As pessoas desse meio são completamente malucas.
— Para ser claro, a única razão pela qual estamos nesse jogo é porque você me pediu para roubar essa porra de carro — Eden murmurou.
— Estou ciente das escolhas que levaram à nossa situação atual, Eden Sage Hadfield — Taylor parou o que fez, mas apenas por um momento, para que pudesse encarar Eden. Logo depois, ela estava de volta a tarefa de se livrar de todo aquele sangue.
— Por que você diz meu nome completo sempre que está irritada?
— Porque seu nome é curto demais e eu preciso de tempo arrastando ele pela minha boca, para deixar claro que estou irritada com você — ela murmurou — Olha aqui... — Taylor virou o rosto da mais velha com cuidado, e passou o lenço muito perto de seu olho direito — Estou interessada em explorar como podemos nos livrar disso. Presumo que você ainda tenha o carregamento.
— Sim, está no porta-malas do carro, estacionado aqui do lado de fora.
— Bem, conheço muitas pessoas que se livrariam disso para nós, mas fariam perguntas.
— Então, o que fazemos? — Eden viu Taylor se afastar — Jogamos fora a coisa toda? Colocamos o carro em algum canto, esquecemos que isso aconteceu?
— Primeiro, descobrimos de quem é essa merda e então-
O celular de Eden vibrou no meio da frase de Taylor, e a mais velha murmurou um "desculpa" enquanto enfiava a mão no bolso, pegando o aparelho. Ela viu o nome de Archie na identificação, e suspirou um pouco mais calma. Tinha se esquecido dele por um momento, com toda a coisa das drogas, mas então imaginou que o mais velho tinha, pelo menos, saído da garagem de Mercy bem. Se tudo estivesse certo, ele deveria estar quase na metade do caminho para casa.
— Archie — a duquesa falou quando atendeu a chamada.
— Oh, olá — a voz do outro lado soou alta, e deu a impressão de que sustentava um sorriso. Eden ouviu Mercy por apenas alguns minutos naquela tarde, mas era uma voz característica demais para não ser reconhecida. Era definitivamente ela — Archie não pode atender o telefone agora. Você quer saber por quê? Porque ele está se preparando para sua punição. Me traga a cocaína, ou Archie vai acabar sem bem mais do que apenas os dedos no fim dessa noite.
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