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04 | CARA DE CACHORRO DE LADRÃO

— Vossa Graça — Ethan Heath assentiu, inclinando a cabeça, assim que viu Eden parada do outro lado da cerca que rodeava sua casa.

A duquesa estava seguindo pelo caminho que contornava a propriedade e terminava logo atrás de Birch Manor, mas antes de chegar em casa, ela viu Ethan ao longe e decidiu que tinha alguns pontos para discutir com o homem. Em sua mão, a coleira de Luna, mas assim que ela colocou os pés dentro da casa de Ethan, a cadela acabou deitada no sofá maior.

— Há quanto tempo você trabalha aqui, Ethan? — Eden perguntou, sentando-se na poltrona marrom de frente para a lareira. Do outro lado, na cozinha aberta que dava para a sala, Ethan enchia duas xícaras de chá, procurando também seu pote de açúcar, que havia se perdido na bancada.

A mulher tentou manter o foco em Ethan, mas a raposa vagando pela sala chamou sua atenção muito mais. Havia também uma coruja na estante do lado direito da sala, além de um corvo na mesinha de centro, e um gato dormindo no banquinho acolchoado ao lado do sofá.

— 20 anos? — questionou o mais velho, chutando baixo. Era muito mais do que isso, mas ele não era tão bom em datas — Eu não sou bom em datas, mas você e seu irmão mais velho ainda estavam de bermuda correndo ao redor do lago.

— Eu sei que você sempre foi incrivelmente leal ao meu pai.

— Ele me deu uma oportunidade quando ninguém queria fazer isso — Ethan lembrou, e Eden assentiu, porque ela conhecia aquela história — Ele não precisava, mas fez, e é isso que conta.

— Sei também que nada acontece nesta propriedade sem você saber.

— Seria justo dizer isso.

— Então presumo que você tenha alguma compreensão do que está acontecendo por aqui.

— Isso também seria justo dizer — Ethan assentiu, e encarou Eden do outro lado da sala — Leite e um cubo de açúcar?

— Obrigada — ela sorriu em agradecimento.

Ethan contornou a poltrona de frente para Eden, passando também pela mesinha de centro, e então estendeu a xícara que tinha na mão direita para a garota. Assim que ela o pegou, ele ocupou o espaço da poltrona atrás dele, deixando o sofá maior com Luna, que naquele momento já havia ocupado completamente o espaço, sem se importar.

— Vejo que você foi apresentada à Srta. Swift — ele tomou um gole do chá, fazendo um barulho no estado enquanto se mexia desconfortável, como se falar sobre aquilo não fosse realmente o tópico mais divertido para si mesmo — O que também me faz pensar que você sabe o que está acontecendo... mais a fundo.

— Qual é a extensão do seu envolvimento? — Eden perguntou sem qualquer restrição.

— Faço questão de que isso não seja da minha conta — o mais velho foi honesto — 15.000 acres são suficientes para me manter ocupado.

— Principalmente quando você pega todos os animais feridos que encontra — comentou Eden, olhando ao redor — Aqui parece um maldito zoológico.

— Bem, Charlie foi atropelado por um carro. Sarah-Jane voou em direção a minha janela. Minha companheira aqui, ela está com a perna quebrada — Ethan apontou para a coruja e depois apontou para o corvo. No final, ele acabou acenando para a gata de pelo branco, com detelhes num marrom mais claro, e só então Eden percebeu que o animal estava com a pata quebrada.

— E aquilo é uma raposa, Ethan? — Eden acenou para trás, onde perto da porta uma raposa havia se acomodado.

— Sim — ele respondeu simplesmente, como se não fosse nada demais.

— Você não é pago para atirar em raposas?

— Há algo específico que você gostaria de me perguntar, Vossa Graça? — o homem mudou de assunto, tentando ir direto ao que sabia que Eden queria ouvir.

— Claro — ela assentiu — Meu pai ficou feliz com a nossa situação, mas não sei se estou confortável com isso.

— Bem, isso pode ser difícil... Você sabe, eles são pessoas sérias, ao que tudo indica.

— Então você acha que eu deveria ficar com o dinheiro e manter a boca fechada?

— Deu certo para seu pai — Ethan deu de ombros — E agora eles criaram raízes por aqui.

— Ok, mas... hm, a coisa é que me deparei com um probleminha, e por vários motivos, acho que posso precisar de ajuda.

— Se você perguntar a eles, eles vão te ajudar — Ethan assegurou — Mas isso terá um preço.

— Fiquei me perguntando... — ela disse — O que você sabe sobre eles?

— Eles são bastardos perigosos, isso eu posso te dizer. E no final das contas, eles também são empreendedores. Contanto que você ganhe dinheiro para eles, eles serão legais com você. Mas é preciso ter cuidado, pois embora se mostrem civilizados... apenas, não se deixe enganar pela aparência.

Não que isso estivesse longe do que Eden imaginava, mas de qualquer forma, ela ficou grata pelo conselho. E então, de um momento para o outro, por mais complicado que o cenário pudesse parecer, ela se viu determinada a tirar a casa do mercado e manter a conversa aberta com Taylor. Se ela conseguisse pelo menos parte do dinheiro e depois falasse com ela sobre o Scouse, então definitivamente teriam um acordo real.

No dia seguinte, Eden estava tomando café da manhã sozinha, na mesinha montada na mesma sala onde, dois dias antes, recebera a notícia de que havia herdado o título do pai. Antes de dormir, na noite anterior, ela fez questão de ligar para Osman, deixando claro os próximos passos, e lá estava ela, naquela manhã, com o celular apoiado na mesa, apenas sentada, esperando terminar de tomar o café para que pudesse ligar para o número de Taylor.

Lady Mary costumava tomar o café em seu quarto, e Archie ainda parecia zangado demais para sair do próprio espaço. Danny estava em sua casa, obviamente, mas naquele horário, ele provavelmente já deveria estar tomando seu terceiro refil de café enquanto caminhava até o contêiner do outro lado do galpão das Highland. Grace era, na verdade, a única outra pessoa por ali, mas ela estava indo embora.

— Bom dia, Chuckles — Eden murmurou quando viu a mais nova cruzando o corredor com uma mala de mão.

— Eddie — ela parou diante da porta.

— Quer um pouco de chá? — a mais velha levantou a xícara, e viu a irmão acenando de maneira negativa com o rosto, de um lado para o outro.

— Eu não tenho tempo — ela disse — Tenho um trem para pegar.

— Vestida para sua turnê mundial com o Endurance?

— Eu pareço estar vestida para uma turnê mundial? — Grace apontou para si mesma, e Eden a olhou com atenção. Jeans, suéter, tênis e casaco. Ela parecia estar pronta para voltar para casa.

— Não.

— Mamãe me convenceu a voltar para a universidade para terminar o ano — Grace revelou — Então estou voltando para Londres, só para ajeitar tudo, e aí sigo Bristol.

— Parece surpreendentemente sensato.

— Diz a que saiu da faculdade no segundo ano — Grace murmurou.

— Ok, eu ainda estou do seu lado, Chuckles — Eden comentou — Só acho que a mamãe não está tão errada em fazer você voltar para a faculdade.

— Você sabe que Archie é com quem ela deveria se preocupar, né? Eu sei me virar sem fazer besteira.

— Bem, ela não vai precisar se preocupar, porque eu vou cuidar dele — Eden garantiu.

— Você passou seis anos fora, Eddie — a garota suspirou — Ele não é o mesmo de antes. Na verdade... ele anda bem mais inconsequente agora que fez 38 anos.

— Certo, hm... — Eden desviou a atenção e fez questão de mudar de assunto. Ela deixou a xícara que segurava na mesa e arrastou a cadeira para trás — Gostaria de uma ajuda com suas malas?

— Eu trouxe apenas essa — ela balançou a mala que estava segurando na mão esquerda — Mas... nos vemos em algumas semanas?

— Me ligue quando estiver em Bristol — Eden pediu.

— Claro, Vossa Graça — Grace fingiu uma reverência, por pura vontade em irritar, mas Eden apenas balançou a cabeça e riu suavemente.

— Boa sorte, Chuckles.

*

O escritório de Taylor ficava no segundo andar da academia de boxe de seu pai, onde seu irmão mais novo, Austin, treinava. O lugar funcionava desde o início dos anos 2000, em Croydon, Londres, a 15 km ao sul de Charing Cross.

Austin, que lutava profissionalmente e tinha, recentemente, assumido o comando do lugar de vez, vivia por ali. Mas os assuntos das lutas eram o assunto das lutas, os assuntos que Austin administrava com base no que sabia. Dados, negociações e, claro, todas as operações envolvendo as fazendas de cannabis, estavam nas mãos de Taylor. Então, todo mundo sabia, o Swift Knuckle e seu letreiro neon, avermelhado e chamativo, pertencia realmente a filha do barão das drogas, enquanto seu irmão mais novo, de 29 anos recém-completos, era apenas o cara engraçado que conversava com todo o mundo. Mas também, ninguém estava tirando o mérito de Austin - se valesse de algo, ele era realmente muito bom no boxe.

No dia seguinte à conversa de Taylor com Eden, ela estava na academia, vendo um treino de Austin, quando recebeu a ligação da duquesa e, como precisava sempre se garantir, acenou para o irmão no ringue, para que ele pudesse ouvir também, fosse lá o que Eden tinha para dizer. Os dois caminharam para o lado direito da academia, longe da agitação dos treinos, e Taylor atendeu a chamada com o alto-falante acionado.

— Olá, Vossa Graça — a loira não tentou ser gentil, e o cumprimento soou mais como zombação do que qualquer outra coisa. Mas Eden passou direto por isso.

— Preciso conseguir 8 milhões de libras muito rapidamente — ela não tentou contornar a situação, e foi honesta sobre o que queria.

— Ah... oito milhões — Taylor sorriu irônica — Esse é um grande número.

— Meu irmão está em dívida com um cartel de drogas de Liverpool.

— E como ele disse que era o nome do cara de quem pegou o dinheiro?

— Raleigh Raine — Eden disse, e Taylor encarou o irmão, em uma pergunta silenciosa sobre ele já ter ouvido falar de Raleigh ou não.

Para quem conhecia todos os cantos de Londres - e suas gangues -, não era surpresa alguma que Austin tivesse uma ideia de quem era Raleigh Raine. Até porque, toda a família Raine, de Liverpool, era conhecida. Eles não eram os únicos no ramo da coca, mas eram os mais conhecidos, por conta da ligação com Deus. O mais velho dos irmãos, vivia dizendo que falava diretamente com o Senhor.

— Eu o conheço — Austin disse, mas fez isso sem voz alguma, para que Eden, do outro lado da linha, não o escutasse.

— Quanto dos oito milhões são juros?

— Metade.

— Uau... isso parece muito.

— É, bem... a taxa de juros não foi esclarecida no início do empréstimo e, obviamente, minhas opções são severamente limitadas em termos de arrecadação dos fundos necessários, dado o nosso acordo comercial, que eu não tinha ideia que existia até ontem.

— Certo — Taylor disse — Me deixe ver o que posso fazer. Mas, apenas uma pergunta antes de ir, quanto você acha que conseguiria desse valor?

— Não tenho certeza — Eden respondeu com sinceridade — Eu estou trabalhando nisso ainda.

— Se você conseguir cuidar de quatro, verei o que posso fazer com os outros quatro — ela disse — Eu ligo para você.

A loira foi quem encerrou a ligação, e então encarou o irmão tomado por suor, logo ali, a alguns passos de si, ainda um pouco ofegante.

— O que você acha? — ela perguntou.

— Eu conheço Raleigh Raine. E seu irmão, Gospel — Austin disse — Dupla de traficantes de drogas que têm Deus ao seu lado.

— Perigosos?

— Impertinentes, mas não difíceis de lidar se você tiver o apoio certo — ele falou — Eu acho que você pode apertar eles... quero dizer, assim que descobrirem quem é nosso pai.

— Hm, e onde posso encontrá-los?

— Mercado de Peixe, em Poplar. Essa é a frente deles, é onde lavam o dinheiro.

Poplar ficava a poucos passos do topo das torres de Canary Wharf, e era um bairro historicamente pobre do East End. O Billingsgate, que era o mercado de peixes mais famoso de Londres, estava por aqueles lados. Ele abria de terça a sábado, das 4h às 8h30, e ficava perto também das Docklands.

No geral, era fácil chegar ao mercado de peixe, porque as estações Poplar e Blackwall DLR ficavam a cinco minutos a pé, enquanto a estação de metrô Canary Wharf ficava a 10 minutos andando. O lugar era conhecido pelos turistas, mas tinha a frequência dos habitantes locais também. E nunca estava menos cheio, o que era ótimo para a família Raine.

Taylor não era o tipo de pessoa que colocaria os pés no Billingsgate, mas depois daquela conversa com Austin e a situação que tinha de ser resolvida para Eden, ela fez exatamente isso. No dia seguinte, chegou lá de carro, e entrou com seus sapatos de salto preto com sola vermelha, fazendo barulho pelo chão. 4h da manhã em ponto, e o lugar ainda estava começando a funcionar.

Taylor tinha optado por seu sobretudo cinza e o conjunto de calça de alfaiataria e blazer na mesma estampa. Apresentando um xadrez misto em cinza, preto e branco, fecho de botão trespassado duplo e cintura marcada com cinto. Por baixo, uma camisa de gola alta branca, que ela combinou com o epítome do que eram acessórios elegantes - uma boina de lã escarlate e bolsa Birkin de couro vermelho.

Austin tinha mostrado uma foto de Raleigh, e não foi difícil para Taylor o reconhecer ao fundo do mercado, em uma das últimas estações, onde havia uma subida direta para o que parecia um escritório. Taylor fez barulho chegando, e atraiu a atenção por onde passou.

— Belo linguado, hein — ela comentou quando parou diante de Raleigh, que limpava um peixe. Ele estava de agasalho vermelho, usando um avental branco que tinha deixado de ser branco pelo menos um ano antes — Dois quilos e meio. Nada mal para um peixe selvagem.

— Tudo bem, mocinha — ele sorriu de lado — Você está apenas olhando ou vai comprar?

— Nenhuma das alternativas — Taylor foi honesta — Estou aqui por você. Meu nome é Taylor Swift — ela falou, como se isso bastasse, e, em outras partes da cidade, talvez bastasse, mas não ali. Isso a irritou a um pouco, mas ela não deixou transparecer, e então partiu para o que definitivamente funcionaria — A filha eloquente e estilosa de Scott Swift?

— Claro — Raleigh acenou, tomando consciência de com quem estava falando, mas isso não o fez diminuir menos o respeito próprio que estava tentando impor — Eu respeito o Scott.

— Todo mundo respeita ele — Taylor falou sem muita cerimônia — Podemos conversar um pouco sobre Archie Hadfield?

Raleigh a encarou curioso, e um pouco surpreso pela ideia direta. Ele olhou para um lado e depois para o outro, e logo estava acenando para que Taylor o acompanhasse.

— Vamos lá para cima — ele falou.

O "lá pra cima" se referia a uma escada mal acabada de ferro que levava a um escritório antigo na parte alta do galpão. Lembrava muito o escritório de uma daquelas fábricas antigas de Londres. O lugar estava tomado por decorações, com fotos de família, camisas de futebol enquadradas, peixes empalhados em molduras de madeira, e todo tipo de móvel em tom de marrom avermelhado. As paredes eram brancas, com uma divisão minúscula no meio delas em marrom, e então do meio para o chão eram pintadas de azul. A mesa de Raleigh estava tomada por papéis, mas ele os ajeitou como poderia, e ficou de pé atrás do móvel de madeira, encarando o movimento lá de baixo pelo vidro que dava a vista de tudo. Taylor estava do outro lado, de frente para Raleigh, sentado no braço do sofá que tinha sido colocado ali, em um espaço pequeno da sala, com uma poltrona e uma mesinha de centro.

— Até onde eu sei, seu pai ainda está na cadeia — Raleigh comentou se virando. Ele tinha uma xícara de chá nas mãos, e antes disso tinha feito duas. Taylor estava com a dela, tomando seu chá com leite e apenas um cubo de açúcar, porque era como deveria ser, nunca diferente — Quanto tempo resta?

— A pena dele é de quatro a dez.

— Tá... — ele suspirou, tomou uma parte do chá e apoiou a xícara na mesa — Não ouvi nada além de coisas boas sobre sua operação. Eu pensava que o jogo de vender erva era muito complicado. Muito espaço para produzir, e retorno insuficiente. Mas parece que você cuidou disso.

— Nós sempre ficamos longe da coca — Taylor disse — Significa que não estamos competindo com você.

— O que não consigo entender é... — Raleigh puxou sua cadeira e se sentou — Qual é a sua conexão com aquela idiota posh?

— Eu tenho um acordo que pode... ser prejudicado por essa dívida que ele tem. E eu queria ver se havia uma maneira de resolver isso.

— Oito milhões é muito dinheiro — Raleigh comentou, sendo apenas petulante.

— Mas 100% de porra nenhuma é nada — ela sorriu sem mostrar os dentes, e viu o sorriso do homem mais velho se desmanchando — Olha, nós dois sabemos que você não vai conseguir os oito completos, então sejamos realistas. O que acontece se eu conseguir os quatro originais em dinheiro até o final da semana?

— Não posso simplesmente esquecer quatro milhões em juros — ele foi claro, e pensou na solução logo em seguida. Ou talvez, tivesse pensado na solução no momento em que soube quem era Taylor e o que ela estava fazendo ali — E se tratarmos disso como um investimento em sua operação?

— Não — ela cortou ele de uma só vez — Isso não vai funcionar. Não estou procurando investidores. Mas ainda estou tentando encontrar uma maneira de superar isso. De alguma forma.

Raleigh era uma cara estranho. Se fosse usar uma gíria de Liverpool, Taylor diria que ele tinha cara de "cachorro de ladrão", e não, ela não estaria inventando. A gíria era basicamente sobre alguém que tinha uma expressão facial que mostrava hostilidade ou amargura, e Raleigh tinha um pouco disso. Ele se vestia como um professor de educação física, mas tinha o cabelo bem penteado e Taylor reparou como estava usando todo tipo de acessório, no pescoço e nos pulsos, em ouro. Ele deveria ser dez anos mais velho do que ela - então, quarenta e três ou quarenta e quatro -, e já tinha cabelos brancos crescendo. Ele era mesmo um Scouse, o jeito de falar entregava por completo. Mas também, Raleigh parecia ser o tipo de cara que se achava mais esperto que todo mundo, coisa que ele definitivamente não era.

— Quando eu receberia os quatro milhões?

— Você pode pegar na sexta-feira — Taylor respondeu — Adoçado com um pacote de White Widow que vale pouco mais do que um milhão.

White Widow era uma cepa híbrida de cannabis feita a partir de um cruzamento genético entre uma raça sativa brasileira e uma do sul da Índia. Era, basicamente, uma das variedades mais famosas do mundo, criada pela primeira vez na Holanda pela Green House Seeds na década de 1990. Em qualquer outra situação, Taylor não estaria negociando aquilo de graça, mas ela estava mesmo tentando seu melhor, e pensando na situação como um todo.

— Tudo bem — Raleigh se deu por vencido, mas não parou por ali — Com uma condição.

— Que condição? — Taylor perguntou, esperando o mínimo, porque ela sabia que tinha atingido seu teto.

— Ele tem que se desculpar — Raleigh declarou, e a garota do sul de Londres acenou suavemente, deixando a xícara que segurava na mesa de Raleigh, quando se levantou e deu cinco passos na direção dele — E ele tem que admitir que é um idiota.

— Entendido.

— E quero que fique gravado para a posteridade — ele falou — Há um vídeo que eu gostaria que ele imitasse.

— Certo... mas, bem, há vídeos e vídeos.

— Não é nada pornográfico — Raleigh garantiu.

— Então, se eu te der os quatro — ela fez o número com a mão direita — E a White Widow — e então imitou um gesto, como se estivesse fumando — Mais o vídeo, com um pedido de desculpas, estamos bem?

— Ah, sim, sim — o mais velho sorriu acenando em concordância — Se você me conseguir tudo isso, estamos mais do que bem.

*

Eden ouviu o barulho de um helicóptero sobrevoando a propriedade em Chelmsford. Ela estava em seu escritório quando o escutou, então arrastou as cortinas e encarou o lado de fora, tendo a vista do campo, e foi quando observou a figura nada usual. Tinha um Airbus ACH130, Aston Martin Edition, pousando na extensão do campo, em meio a grama baixa.

Exatamente cinquenta segundos depois, o mordomo da casa, Sr. Lawrence, estava abrindo a porta do escritório, depois de uma única batida na madeira, e enfiando o rosto para dentro, enquanto dizia que Eden tinha visita.

A mulher não tinha se preparado para sair naquele dia. Na verdade, ela deveria receber Taylor no final da tarde - ou início da noite, já que dependia muito do horário em que a mulher pegasse a estrada. Mas mesmo assim, não havia nenhum outro encontro. Por essa razão, Eden tinha se vestido de maneira casual. A escolha de roupa foi mais comum, mas nada longe do que ela costuma usar com aquele tempo; com calça jeans em lavagem clara e corte reto, uma camisa branca por baixo de um cardigan creme, e um sobretudo, apenas alguns tons mais escuro que o cardigan, completando a sobreposição. Nos pés, ela tinha um modelo simples de botas Chelsea, em cor marrom, e já gasto.

Eden estava abotoando o cardigã por baixo do sobretudo quando chegou no Hall Norte, na entrada da casa, onde um garoto - muito jovem - estava a esperando. Ele tinha cabelos longos e suavemente cacheados, um pouco acima dos ombros, e carregava uma barba bem cortada, além de se vestir como se estivesse pronto para um dia em um dos clubes de ricos na cidade - usando um terno acinzentado, com sapatos bem polidos nos pés.

— Meu nome é Duckworth, Kay Duckworth — o garoto falou, e Eden imaginou que ele fosse cinco ou seis anos mais novo que ela. Ele não parecia tão mais velho que Daniel, na verdade — Sou o assistente pessoal de um comprador específico, que está interessado em adquirir a Birch Manor. Devo dizer que meu cliente ficou um tanto decepcionado ao saber que você instruiu seus advogados a desistirem das negociações antes que ele tivesse a chance de contra-atacar com uma oferta mais... hm, atraente, se posso colocar dessa maneira. Apesar disso, meu cliente gostaria de ver se você está aberta para uma reunião cara a cara.

— Quem exatamente é seu cliente? — Eden perguntou interessada.

— Se você estiver disposta a vir comigo, — o garoto acenou — Eu poderia ter você se encontrando com ele às... — ele levantou o braço e encarou o relógio em seu pulso — Oh, onze em ponto.

— Certo — Eden sorriu gentilmente, mas um sorriso tão falso que foi difícil Kay não perceber — Obrigada, mas minha situação mudou. Não estou mais vendendo a casa — ela acenou para o mordomo parado ao lado da porta, e gesticulou para que ele voltasse a abrir a saída, e desse espaço para que Kay pudesse passar — Sr. Lawrence.

— Meu cliente entende- — Kay se apressou em dizer qualquer coisa, e então se interrompeu quando reparou que tinha se perdido um pouco nas informações que deveria repassar — Meu cliente imaginou que isso fosse acontecer, e ele entende. Ele também entende que isso representa um inconveniente específico para você. Então... — Kay levantou a maleta de couro que carregava, e que só ali, naquele momento, Eden reparou que ele a segurava. O mais novo abriu a maleta e Eden pôde ver as inúmeras notas de £50 libras, com o desenho da falecida rainha quando essa era um pouco mais jovem — Ele gostaria de fazer uma oferta a você. £450.000 libras, apenas pelo seu tempo. Não é reembolsável, é claro.

Eden seria muito idiota se não aceitasse esses termos, e ela pensou nisso. Então, minutos depois, a mulher estava entrando com Kay naquele mesmo helicóptero, enquanto Mary estava na via de entrada, parada na frente de casa, observando a filha se afastar. O destino era Londres, mas desembarcando do helicóptero, Eden ainda entrou em um carro junto de Kay, e juntos os dois seguiram até a St. James Street, guiados por um motorista. O destino final mesmo foi o White's, um clube privado de Londres.

O lugar era o clube de cavaleiros mais antigo da cidade, tendo sido fundado em 1693, e ainda era considerado o clube mais exclusivo da Inglaterra, com pouquíssimos membros aceitos e filiações que passavam de pai para filho. Eles não aceitavam mulheres, mas tinham recebido algumas visitas da Rainha Elizabeth II - em 1991 e 2016. Dificilmente o precedente de aceitar mulheres nesses encontros entre a 37–38 da St. James's Street era aberto, mas naquele dia, Eden entrou sem problema algum, para se encontrar com Owen Huard, um membro importante do clube, que tinha desembolsado um bom dinheiro para que aquele encontro acontecesse exatamente ali, protegido pelas paredes do White's.

Owen, por sinal, estava jogando bilhar, no que parecia uma aposta com outro homem - dado ao fato de que tinha dois maços cheios de notas de £100 libras na mesa. Mas o jogo estava no final, e quando a outra parte da aposta saiu da sala, Kay entrou acompanhado de Eden.

— Senhor, a duquesa de Birch, Eden Hadfield — ele disse, juntando as mãos na frente do corpo e parando ao lado da mesa.

Eden se inclinou, apoiando uma das mãos na mesa de bilhar, e acenou suavemente com o rosto. Do outro lado, Owen sorriu, e deixou o taco em cima da mesa, antes de alcançar seu paletó apoiado na estante alguns passos atrás de si, o vestindo e abotoando. Ele era um homem baixo, e parecia ser bem mais velho, no que deveria ter cinquenta ou sessenta anos. Tinha o cabelo bem cortado e completamente branco. Não sustentava barba alguma, e usava um óculos de grau em uma armação grossa, que definitivamente parecia muito caro.

— Bom dia — Eden falou, quebrando o silêncio primeiro.

— É um prazer, Vossa Graça — Owen disse, e Eden reparou como ele tinha sotaque americano — Owen Huard, como em "Howard", mas H-U-A-R-D. E você, provavelmente, gostaria de saber por que estou tão interessado em comprar a propriedade de sua família.

— De fato eu gostaria.

— Se podemos... — Owen acenou para a porta à direita, uma porta branca de madeira, que estava fechada. Kay se apressou em dar seus passos até lá, e logo estava a abrindo e dando passagem para que Owen pudesse cruzar. Owen o fez, e Eden o acompanhou sem realmente muito escolha.

Os dois se sentaram em cadeiras opostas, um de frente para o outro, com uma mesa os separando, em uma biblioteca gigante com todos os tipos de livros, decorados com quadros enormes de molduras douradas. Kay então se colocou alguns passos ao lado, um pouco para trás, logo depois do carrinho de bebidas, onde havia uma garrafa especial de vinho tinto separada.

— A verdade é que, sua propriedade é um modelo de exemplo da filosofia arquitetônica de William Kent, que era um homem de muitos talentos.

— E um mestre em alguns.

— Hm — Owen mostrou curiosidade — Então você está familiarizada com a filosofia dele?

— Não tinha alguma coisa a ver com a reconciliação do selvagem com o civilizado?

— Uma obsessão digna que ambos compartilhamos. As pessoas... ou sobrevivem na selva ou existem no zoológico. Poucos reconhecem o significado da reconciliação paradoxal dos dois. É preciso um indivíduo raro que entenda o quão astuto e agressivo alguém tem que ser para adquirir uma propriedade como a sua. A sua casa é um testemunho da síntese desta cultura. É o que chamo de refinamento... violento — ele disse — O primeiro Duque de Birch compreendeu este princípio, tal como eu. É por isso que pretendo oferecer uma quantia obscena de dinheiro pela sua propriedade.

— Bem, esse é um discurso de venda atraente, mas se você colocar assim, você corre o risco de vender a casa de volta para mim — Eden deixou sua ironia escorrer, e a expressão permaneceu intacta, mas Owen continuou ali, sorrindo de maneira suave — Agora, vamos brincar ou conversar?

— Você bebe vinho? — ele perguntou, e mal esperou pela resposta quando no instante seguinte estava acenando na direção de Kay. O assistente, do outro lado, vestiu um par de luvas, e começou a decantar o vinho, em um processo realmente novo para Eden. Mas ela não disse nada, e Owen continuou — O valor é derivado de quanto alguém está disposto a pagar por algo. Se eu disser que vale tanto... então vale — ele se inclinou em direção à mesa, e alcançou a caneta e o papel, ambos ali, prontos para serem usados. Owen anotou algo no papel amarelo e passou na direção de Eden, o arrastando pela mesa — Pelo menos para mim.

— Bem — a inglesa encarou o papel, e o número nele, mas o manteve ali em cima da mesa, como se não fosse realmente nada demais — Isso é um grande número, e eu aprecio o esforço que você fez para apresentá-lo para mim . Mas mudei de ideia, e a propriedade não está à venda.

— Estou preparado para ir mais além desse número. Então, por que você não me permite fornecer as chaves e a liberdade do seu legado herdado? Pode ser surpreendente para você, mas eu aprecio a vitória e a maldição paradoxal de seu privilégio recebido.

— Bem, agradeço a apreciação, mas o momento para mim é tudo e agora não é o momento certo.

— Eu entendo... — Owen concordou, e estendeu a mão na direção de Kay — Duckworth, por favor.

— Senhor, H — Kay se aproximou do mais velho e colocou duas taças, cheias até um pouco menos da metade, em cima da mesa. Owen acenou para que Eden pegasse sua taça, e assim ela fez.

— Obrigada — ela agradeceu e levou a taça até o nariz, sentindo o aroma do vinho. Owen fez a mesma coisa do outro lado, e Eden encarou a garrafa aberta no carrinho logo atrás, tomando atenção ao ler o rótulo — Hm... é um Romanée-Conti 2002.

— Você é fã da RDC? — o mais velho disse.

— Hm... — ela sorveu parte do vinho e apoiou a taça de volta na mesa — Eu sou mais chegada em Bordeaux. Mas meu pai adorava Burgundy, ele colecionava RDC. Você já experimentou um 82?

— Infelizmente não, mas eu sei que sobraram apenas seis caixas dele no mundo.

— Oito, na verdade — ela corrigiu — Dois pertencem a Coroa, uma pertence ao Arquiduque da Moldávia. E o resto... Bem, o resto está na nossa adega — ela se interrompeu por um momento — Junto com duas garrafas do '45.

— Ah, a tentação é demais — Owen foi especialmente dramático, inclinando a cabeça para trás, por um momento, e então sorrindo aberto — Se você não me permite comprar a casa, por favor, permita-me comprar o vinho. Prometo que serei muito generoso.

— Seria muito difícil para mim desapegar deles — Eden mostrou um apego que, honestamente, ela não tinha. No dia anterior, ele estava sentada com Osman, conversando sobre o que poderia abrir mão na propriedade. Ela deixaria as obras de arte irem em um estalar de dedos, se as vender no valor total do que valiam não demorasse tanto. Em contrapartida, havia uma adega de vinhos, com metade dela atingindo o total de três milhões de libras. Eden sabia então que venderia aquilo pelo maior preço que conseguisse na primeira oportunidade que tivesse, ela só não sabia para quem. Mas a pessoa estava ali, logo na frente dela.

Mais tarde, quando Eden já tinha voltado para casa - depois de ajudar parte dos funcionários a descarregar pouco menos da metade da adega no helicóptero de Owen Huard -, ela estava lá, no escritório, acompanhando Taylor pela visão da janela. 

A mulher tinha descido do carro, que ela mesma tinha dirigido até lá - coisa que parecia o costume. Ela poderia ter incontáveis motoristas, apenas pelo dinheiro que movimentava, mas Eden ainda não tinha a visto andando com nenhum. Seguranças? Bem, ela não descartava que eles existissem, porque alguém como Taylor precisava de proteção, mas nenhum a vista também.

A mulher mais nova deu a volta na propriedade, e foi recebida pelo mordomo. Alguns minutos depois, a porta do escritório de Eden estava sendo aberta, e a loira estava então entrando, chamando a atenção pelo barulho do salto no piso. Ela parou diretamente na frente da mesa de mogno antiga, e apoiou uma Birkin preta no tampo.

— Eu espero que tenhamos chegado em algum lugar — Taylor disse.

— Eu vendi parte da coleção de vinhos do meu pai — Eden comentou — O que me rendeu três milhões. Em papel. Exatamente o que precisamos. Isso, mais o dinheiro no cofre... — ela apontou na direção do cofre na parede esquerda da sala, que ficava atrás de uma réplica suspensa de uma obra de Johann Zoffany — Deve pagar a dívida do meu irmão. Claro, supondo que sua conversa com o Sr. Rainer tenha corrido bem.

— Há algumas condições — Taylor levantou a questão — Mas ele ficou feliz em aceitar os quatro da dívida original, desde que seja em dinheiro e amanhã.

— Oito para quatro... — Eden se levantou da cadeira onde estava sentada e deu a volta na mesa, seguindo para frente do cofre. Ela apoiou a mão na moldura e então abriu, como uma porta mesmo — Isso é muito impressionante.

— Pense nisso como um gesto de boa vontade, de mim — Taylor não perdeu a oportunidade, e mesmo de costas, Eden conseguiu sentir o sorriso nos lábios da garota. Mas, se ela tinha planos de comentar sobre isso, os planos ficaram de lado, porque ela abriu o cofre, esperando ver a mesma quantidade de antes, e a única coisa que tinha era o papel amassado, rabiscado com a sequência que o abria.

— Tá tudo certo? — Taylor quis saber.

— Não — a mais velha deu um passo para trás e foi para o lado, deixando a visão da parte de dentro do cofre livre, apenas para que Taylor pudesse ver que não tinha absolutamente nada lá dentro — Na verdade não tem nada certo.

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