Capítulo - 85
Confio cegamente no meu irmão mais velho – pois cometi o erro de não fazê-lo apenas uma vez e não pretendo repeti-lo –, porém a partir do momento que Anastásia está envolvida na equação, tenho minhas ressalvas quanto a "ter a cabeça fria e saber a hora certa de agir". Mas tenho que concordar também com o que Anastásia disse, pois não sabemos de fato se este doente está apenas querendo mexer com a nossa cabeça para que dessa forma vivêssemos constantemente amedrontados, mas cautela, nunca é demais.
Tentei buscar na memória se algum comportamento suspeito da Débora tenha me passado despercebido – mesmo que eu fosse um idiota e cego naquele tempo –, mas os únicos momentos que me recordo foram às visitas daquele amigo dela, o tal Eric, e se for pensar bem em como se comportavam, não demonstravam serem amantes ou algo parecido, mas também não se pareciam como simples colegas de trabalho.
E, talvez tentar encontrá-lo seja a chave para as nossas respostas, porque se o motivo para que esse homem esteja usando para se vingar pela morte dela – no qual a única culpada foi à própria Débora –, seja por algum laço afetivo, somente sendo algo mais do que simples amantes, justificaria as suas ações. O que mais uma vez tenho que concordar com o Richard ao afirmar que o vínculo deles vai além do "Comercial". Será que esse homem possa ser um tio, um irmão ou quem sabe um primo distante? Porque sinceramente, estou começando a duvidar que a Débora fosse mesmo órfã.
Agora, quanto ao homem que Edgar viu com ela na porta daquele Restaurante, também é uma grande incógnita, mas dado ao seu histórico nada decente, não duvido nada que seja mais um aspirante a vítima daquela mulher, que deveria ter sido tão doente quanto o homem que nos enviou aqueles envelopes. Além de serem tão perturbados a ponto de colocarem câmeras em nossos apartamentos. Porra! O quanto tudo isso era doentio?
Sinceramente, não quero ficar pensando nisso, afinal, tenho preocupações maiores para lidar no momento, como por exemplo, a minha namorada obstinada e geniosa, que não percebe que eu apenas quero mantê-la em segurança e não controlá-la, por essa razão eu sugeri que ela não trabalhasse por um tempo, o que foi previamente refutado, obviamente, além do fato de o Edgar pedir para conversar sozinho com ela, esteja me matando.
– Christian, não precisa se preocupar, pois o Edgar já nos deu provas suficientes que não era o mau-caráter que julgávamos que fosse. – Suspiro e encaro o meu irmão, interrompendo o processo de subir as escadas.
– Mas mesmo assim ainda não confio nele, Richard, além dele ter dito com todas as palavras que se interessou por minha namorada. – Falo entredentes e ele nega com a cabeça.
– Não confie nele, mas sim na sua namorada. – Fico em silêncio, apenas o encarando. – Ou por um acaso a Ana tenha dado algum indício de não ser digna de confiança?
– Nunca! – Falo sem hesitar e ele sorri de lado.
– Então, ótimo! Confie nela e esse interesse do Edgar, não é no sentido romântico, Christian, ele também me falou sobre o encantamento e a admiração que adquiriu por ela, mesmo que tenham conversado poucas vezes.
– Eu sei. – Dou-me por vencido e passo a mão em meus cabelos. – Vou tomar um banho e esperá-la no quarto. – Ele assente, mas antes que eu dê um passo, ele me para, segurando em meu ombro.
– Christian, quando o Taylor me ligou, eu já estava a caminho da sua Empresa, pois mesmo que o Jay ainda esteja avaliando as imagens do Estaleiro do México, eu preciso mostrar-lhe algo que conseguimos identificar.
– Poderemos falar sobre isso amanhã? – Ele assente, entendendo o quanto estou esgotado com esse dia de hoje. – Inclusive vou marcar com o Raymond para que ele esteja presente, porque pode ser que a sabotagem não tenha de fato ligação comigo, mas sim com ele.
– Eu também pensei sobre isso, mas vamos marcar aqui em casa, por ser uma zona neutra e eu confiar nos homens que trabalham para nós.
– Tudo bem. Marcarei no início da noite, pois tenho certeza que ele vai querer ver a filha.
– Você não vai jantar? – Nego com a cabeça e tiro a gravata de vez, que está solta desde que cheguei a nossa casa.
– Estou sem fome. E depois de tudo que eu vi, não conseguiria comer absolutamente nada. – Ele assente e me lembro das fotos que estavam faltando no envelope. – O que você fez com as fotografias daquela mulher e do bebê... – Engulo em seco, por lembrar daquilo. –... Você sabe do que estou falando.
– Estão naquela pasta onde guardei as cartas, agora onde também estão todo o conteúdo do seu envelope e do Edgar. – Assinto, pois não quero vê-las novamente. – Eu sabia que a Ana iria querer saber sobre o conteúdo dos envelopes e achei desnecessário que ela se deparasse com aquelas imagens.
– Obrigado. – Ele sorri de lado e nega com a cabeça. – Subirei agora, boa noite, irmão.
– Boa noite, pirralho!
Nego com a cabeça, mas acabo sorrindo de lado, pois mesmo quando eu fizer 40 anos, ele sempre me chamará assim e dessa forma, eu subo as escadas, tentando não pensar sobre o que Anastásia e Edgar possam estar conversando, mas Richard tem razão, ainda não confio nele, mas nela, confio completamente.
(...)
Acordar sentindo minha cabeça pesada é um sintoma que conheço muito bem, sempre que tomava meus remédios, mas confesso que desde que conheci a Anastásia nunca mais recorri a esse meio para dormir, o que me faz pensar que isso tenha sido ideia do Richard, pois somente ele e o Caleb sabem onde guardo o frasco desse medicamento. Respiro fundo, abro os olhos e vejo que estou sozinho no quarto. Levanto-me, indo ao banheiro e depois de escovar os dentes, decido não sair do quarto e jogo meu corpo pesado novamente na cama.
Por um momento, permaneço de olhos fechados, sentindo-me ainda cansado e meu estômago levemente enjoado, o que me faz respirar fundo algumas vezes. Sinto-me miserável, com os meus músculos doloridos, parecendo que realizei séries intermináveis na academia e tento me recordar de quando foi à última vez que tive um acesso de fúria como ontem e lembranças amargas me invadem, trazendo o dia que abri aquele exame de DNA, há quase três anos, levando-me a ter uma explosão parecida. Mas sinceramente, o sentimento nem mesmo se compara, pois agora, alguém está ameaçando a razão que eu tenho para ser um homem melhor. A mulher que me fez entender e conhecer o que é de fato amar e ser amado.
Ouço a porta ser aberta e a luz acesa, fazendo-me sentir o seu perfume doce e suave, mas também um cheiro inconfundível de café. Sinto sua presença se aproximar e algo é posto sobre a mesa, para em seguida sentir o toque suave e delicado de sua mão acariciando o meu rosto e meus cabelos.
– Vamos acordar dorminhoco? – Nego com a cabeça, mas continuo de olhos fechados e ouço sua risadinha, enquanto sua mão continua acariciando o meu rosto. – Eu já conheci muitas de suas facetas, Amor, mas ser manhoso é a primeira vez. – Impossível segurar a risada e abro os olhos, vendo-a linda e sorridente, como todas as manhãs. – Bom dia!
– Bom dia, Baby! – Recebo um beijo delicado nos lábios e me sento, enquanto ela se levanta e pega uma bandeja, com um café da manhã completo para dois, abrindo-a e colocando-a em meu colo.
– Ontem você não comeu direito, e eu também estava morrendo de fome, mas queria comer com você. – Sem saber a razão, fico envergonhado por nunca ter recebido café na cama, a não ser por minha mãe, é claro.
– Obrigado. – Ela morde um morango e sorri, antes de colocar a outra metade na minha boca. – Que horas são?
– Um pouco mais que 08h30. – Fico espantado, pois nem me atentei a verificar a hora, mas ela dá de ombros. – Resolvi não ir à Universidade hoje, de qualquer forma eu queria que você descansasse um pouco mais.
– Eu preciso ir à GNIH, além de ter que marcar com o seu pai uma reunião aqui em casa, para falarmos sobre a paralisação temporária da construção da Plataforma. – Bebo um gole do café e começo a comer a omelete, enquanto ela termina de mastigar uma torrada, para poder falar.
– Eu poderei... Participar dessa reunião? – Sorrio do seu rosto corado e assinto.
– Se você quiser, é claro que sim. – Ela assente e eu suspiro, lembrando-me também do outro motivo para essa reunião. – Precisaremos conversar com ele também sobre tudo que aconteceu ontem. – Quem suspira agora é ela, pegando a minha mão.
– Não vamos pensar nisso por enquanto. – Resignado eu concordo, afinal, não temos nada que possamos fazer quanto a isso. – E, por mais que eu não queria trazer problemas comerciais para casa... – Sorrio e ela para de falar confusa. – O que foi?
– Ouvir você considerar aqui, como a sua casa, deixa-me muito satisfeito. – Novamente seu rosto fica corado, fazendo-me acariciá-lo. – E, aproveitando que este assunto foi mencionado, apesar de talvez você achar que esse ainda não é o momento ou que eu esteja indo rápido demais, eu estava pensando... – Engulo em seco, mas decido ser direto. – O que você acharia de ter um lugar apenas nosso? – Ela arregala os olhos e fica apenas me encarando por alguns segundos.
– Como assim? – Respiro fundo e coloco a bandeja sobre o criado-mudo, pegando em sua mão.
– Não seria de imediato, mas... – Novamente eu respiro fundo, sentindo-me um estúpido por ter tocado nesse assunto assim, tão de repente. –... Eu acredito que você percebeu a área sem construção que há aqui, não é?
– Sim, inclusive ontem mesmo, enquanto nós estávamos indo para o Anexo dos Seguranças, eu estava me perguntando o porquê de um lugar tão grande, tendo apenas a casa dos seus pais e um anexo.
– Aqui é um Condomínio e meus pais resolveram comprá-lo na intenção de sempre ter os filhos por perto. – Ela apenas assente, para que eu continue. – Sendo assim, cada um dos meus irmãos, assim como eu, têm um terreno, para que pudéssemos construir nossas casas futuramente.
– E... Você quer fazer isso agora? Para morar comigo?
– Na verdade, sim. – Ela pensa por um momento, mas não deixo que fale ainda. – Eu sei que você deve estar pensando que nada nessa vida é garantido, ainda mais quando temos um relacionamento há pouco tempo, mas... Já estamos morando juntos, só nos mudaríamos para uma casa apenas nossa independente do que possa vir acontecer futuramente. – Apesar de que se depender de mim, não pretendo que esse relacionamento acabe nunca, penso comigo mesmo, enquanto ela morde o lábio inferior e fica pensativa, deixando-me nervoso. – Eu sei que estou sendo precipitado, que talvez isso possa ser absurdo, mas... – Ela se reclina e beija os meus lábios, calando-me.
– Christian, se for considerar que tudo foi muito rápido entre nós, pois no dia que você disse estar apaixonado por mim, e eu falei o mesmo, já passei a vir morar na sua casa, mesmo que naquele dia, seria algo temporário, por causa do que a Thaís fez. Sem contar que dormimos na mesma cama, sem nem mesmo nos conhecer direito, eu diria que estamos apenas seguindo o fluxo normal de como está sendo o nosso relacionamento.
– Isso eu não posso negar. – Sorrio de lado e o seu sorriso se amplia.
– Agora, se você considerar também que está propondo isso para uma romântica, sonhadora e que sempre acreditou em contos de fadas... – Ela faz uma careta e dou risada. –... Além de acreditar que o amor verdadeiro existe e que eu esteja vivendo o meu, com o homem que eu afirmei tantas vezes amar e que farei isso sempre que eu puder, então não diria que isso seja um absurdo. – Volto a sorrir e acaricio o seu rosto.
– Então... Você aceitaria? – Ela dá de ombros, mas sem deixar de sorrir.
– Sim, eu aceitaria, melhor dizendo, eu aceito. – Levo um segundo para registrar suas palavras e sem pensar, jogo-a na cama, deitando-me sobre ela, fazendo-a se assustar. – Christian!
– Você está mesmo certa quanto a isso? – Ela assente, tentando segurar uma risada. – Você já percebeu que eu sou impulsivo e hoje mesmo eu posso procurar um Arquiteto para começar a desenvolver o projeto da nossa casa, não sabe? – Novamente ela assente, mas faz uma carinha sapeca em seguida.
– Eu sei de tudo isso, Christian, mas eu acho que você deveria se preocupar no momento, em como vai dar essa notícia para os seus pais e seus irmãos, principalmente para o Caleb.
– Merda! – Eu gemo e escondo o rosto em seu pescoço, fazendo-lhe soltar a risada que segurava. – Aguentar o dramático do Caleb, não vai ser fácil. – Falo abafado por sua pele, fazendo-a se contorcer, mas continua rindo, o que não dura muito, pois começo a beijar o seu pescoço alvo e tentador, fazendo a sua risada se transformar em um gemido manhoso.
– Christian... – Deslizo minha mão por sua perna, subindo a sua saia, enquanto continuo beijando seu pescoço e mordo delicadamente o lóbulo de sua orelha. – Eu estou pronta para trabalhar e você... Ah... – Ela geme quando invado sua delicada calcinha e toco sua boceta, acariciando-a, deixando-a molhada rapidamente.
– Tão sensível Baby! – Suas mãos apertam os meus ombros, quando coloco um dedo dentro dela, acariciando também o seu clitóris, fazendo-a gemer, deixando-me absurdamente duro. – Eu tenho certeza que você poderá se arrumar novamente para trabalhar... – Volto a morder o lóbulo de sua orelha e sussurro em seu ouvido. –... Depois que eu te foder.
– Christian... – Sua voz é apenas um gemido e, grunhindo, tomo seus lábios nos meus sem deixar de acariciá-la e a nossa manhã não poderia ter começado mais prazerosa.
(...)
– Boa tarde, Christian! – Arqueio uma sobrancelha, assim que vejo a aparência de Oliver, entrando em minha sala.
– Será que a tarde está mesmo boa, Oliver? – Ele suspira e senta na cadeira a minha frente.
– Sinceramente? Está uma merda. – Deixo os relatórios que estava avaliando e dou total atenção a ele.
– O que está acontecendo, Oliver? – Ele se levanta e caminha na direção do Bar, colocando uma dose dupla de Uísque, oferecendo-me, o que nego de imediato. – Essa não é a primeira vez que o vejo bebendo durante o expediente. – Ele dá uma risada amarga e volta a se sentar.
– Não se preocupe, estou em perfeito estado para resolver o seu problema. – Eu suspiro e nego com a cabeça.
– Quanto a isso eu não tenho dúvida da sua competência, Oliver, mas eu estou preocupado com você. – Ele respira fundo e me olha arrependido por ter sido rude.
– Desculpe-me, Christian. – Ele bebe todo o conteúdo do seu copo e me encara, fazendo-me perceber o quanto parece miserável. – Eu aceitei a imposição do meu pai e isso está me deixando maluco.
– O quê? – Questiono entre incrédulo e preocupado, não acreditando no que estou ouvindo.
– Isso mesmo que você ouviu, aceitei me casar com a Juliet Maldonado, ou pelo menos a assumir um compromisso no jantar de sábado.
– Oliver, você sabe que isso não vai dar certo.
– Christian, eu não aguento mais a pressão do meu pai. Não aguento mais a falta de compreensão da minha mãe e essa confusão não está me ajudando em nada. – Ele retira sua gravata e o paletó, dobrando a manga da camisa, tudo isso para não me encarar. – E, sinceramente? Estou com 28 anos, o que nesse ponto meu pai tem razão, pois está na hora de eu pensar em começar a minha família.
– Com uma mulher? – Arqueio novamente a sobrancelha e ele me olha ofendido.
– E com quem mais seria?
– Oliver... – Eu respiro fundo e penso no que irei falar por um momento. –... O pior cego é aquele que não quer ver, mas pior ainda é aquele que tapa os olhos de propósito para não enxergar a verdade da qual sabe que vai cometer um erro que poderia ser evitado. – Ele tenta negar, mas levanto a mão, interrompendo-o. – Não tente negar, não para mim que sei toda a verdade e você sabe muito bem disso.
– Você não pode dar credibilidade para as palavras de um bêbado, Christian, e você melhor do que ninguém deveria saber disso. – Dou uma risada sem humor e nego novamente com a cabeça.
– Oliver, você está se ouvindo? Está se olhando no espelho e vendo a situação deplorável que você se encontra? – Levanto-me, apenas para voltar a me sentar na cadeira ao lado dele, colocando a mão em seu ombro. – Eu cometi o erro em não ouvir os meus pais, em não dar atenção aos meus irmãos e isso me custou muito caro, porque eles sim sabiam o que era o melhor para mim naquele momento. – Respiro fundo, pois pensar nisso ainda é incômodo para mim, mas volto a falar. – Mas são situações diferentes, porque a minha família de fato estava preocupada comigo, diferente do seu pai que está preocupado apenas com ele mesmo. Preocupado apenas com a imagem do Desembargador Carter que está obrigando-o a se casar com uma mulher, que deve estar tão infeliz quanto você, e não como um pai que deveria se preocupar se o filho será feliz ou não, ainda mais sabendo que ele é gay, Oliver. Porque é isso que você é, meu amigo, você é gay. – Ele não fala nada por um momento, mas sei que está ponderando minhas palavras, pois consigo ver a confusão em seus olhos.
– E o que eu deveria fazer Christian?
– A primeira coisa é sair da porra daquele escritório, porque você não precisa dele, Oliver, e só basta uma palavra sua para que eu disponibilize um andar inteiro para você aqui no meu prédio. – Ele se espanta com meu tom de voz, mas não me preocupo em medir as palavras. – A segunda coisa, é deixar de ser controlado por seu pai e sua mãe, porque me desculpe meu amigo, a sua mãe também não está pensando em você, porque se estivesse não aceitaria tudo que seu pai vem lhe fazendo há anos.
– Não é tão simples assim, Christian. Isso não se trata apenas de continuar a ser controlado por ele ou não.
– Claro que não, pois para conseguir se libertar de uma vez de toda essa opressão do seu pai, você precisa ser o homem de 28 anos que deveria ser e assumir a sua orientação sexual, sem se preocupar com a opinião de outras pessoas, desde que seja feliz com quem realmente quer e não com quem acham que deve estar ao seu lado, para uma vida inteira ou enquanto a infelicidade suportar permanecerem juntos.
– Merda! Você falando dessa forma, parece tão fácil. – Nego com a cabeça, pois tomar decisões nunca é.
– Fácil não é e não será num primeiro momento que você fizer isso, ainda mais se pensar que terá que passar por tudo isso sozinho, Oliver, mas posso lhe garantir que não há nada mais libertador do que aceitar que está errado e tomar as rédeas da sua própria vida, mas também aceitar ajuda quando estão dispostos a ajudá-lo. – Ele baixa a cabeça por um momento, encarando as próprias mãos, como se a solução dos seus problemas estivessem nelas, mas sem querer tripudiar ainda mais em sua miséria, preciso confirmar o que acredito que seja a razão para que ele tenha aceitado a imposição do seu pai. – Essa sua decisão repentina, em aceitar um compromisso com a tal Juliet, tem a ver com o Pietro? – Ele me olha espantado e pálido.
– O que... O que você está querendo dizer? – Eu respiro fundo e volto para a minha cadeira, dando um pouco de espaço a ele, pelo menos o máximo possível no momento.
– Eu vi quando vocês dois saíram por um momento do camarote, no sábado e quando voltaram você logo foi embora e parecia um pouco desnorteado. – Ele desvia o olhar dos meus, fazendo-me suspirar. – Oliver, eu não estou lhe julgando, pelo contrário, mas... Desde aquele almoço, no aniversário do Richard, que você deixou claro, mesmo sem querer, o seu interesse no Pietro e pelo que eu percebi naquela Boate, é recíproco. – Depois de alguns segundos em silêncio, ele respira fundo e muda completamente de assunto.
– O que você queria discutir sobre a GRS, Christian? – Suspiro e nego com a cabeça, pois sei que ele não vai responder a minha pergunta, mas isso respondeu a minha dúvida.
– Antes de vir para a GNIH eu passei na GRS e Anastásia me mostrou vários títulos vencidos, alguns inclusive próximos de serem encaminhados para protesto e outros já estão em cartório.
– Eu imaginei que isso poderia acontecer depois de ter visto a situação financeira que a Vanessa havia deixado a Empresa. – Assinto, pois eu também esperava por algo assim. – Mas você sabia dos riscos que estava correndo, quando resolveu agir de forma impulsiva, liquidando os títulos, Christian.
– Sim, eu sei. – Ele assente e pego os relatórios, entregando-os. – Mas vamos resolver tudo o mais rápido possível, pois de acordo com a projeção financeira que Melissa e Anastásia me entregaram, em poucos meses o capital investido será recuperado.
– Tudo bem, eu resolverei a parte Jurídica e lhe informarei quanto capital você precisará disponibilizar para deixar tudo em ordem, mas acredito que na conta Empresarial ainda deva ter algum saldo. – Nego com a cabeça.
– No mesmo dia que eu assumi a Empresa, a Vanessa ainda tinha acesso às contas, então você pode imaginar o que aconteceu. – Ele assente, pois vindo daquela mulher, não poderíamos esperar outra coisa. – Eu sei que essa questão com o Banco não é sua função, mas se não tiver problema, eu gostaria que você assumisse e mudasse os acessos, dando totais poderes para Anastásia e também para Melissa Vitalli, que será a pessoa responsável pelo Financeiro da GRS.
– Tudo bem, eu farei as procurações e as levarei ao Banco para validar os acessos. – Assinto e ele se levanta, guardando os documentos que o entreguei em sua pasta. – Estou voltando para o Escritório e assim que estiver com as procurações prontas, mandarei para que você possa assinar.
– Obrigado! – Ele assente, recolhe seu paletó e a gravata e caminha na direção da porta. – E, pense no que eu falei, pois não vale a pena ser infeliz para satisfazer as vontades de alguém que não se preocupa com você, Oliver. – Ele assente sem me olhar e sai da minha sala, fazendo-me suspirar e só espero que ele não continue a insistir nesse erro, pois eu sei que irá se arrepender pelo resto de sua vida.
(...)
Ter que interromper uma construção do porte da plataforma do Raymond, por tempo indeterminado é algo que não estava em meus planos, mas Aleksander, assim como eu, também achou que seria o melhor que poderíamos fazer, até que tudo fosse resolvido e novas medidas de segurança pudessem ser tomadas. Além de sabermos o que Richard descobriu nas filmagens, pois ninguém iria entrar no Escritório, mexer nos computadores e substituir as plantas físicas sem que tivesse alguém de dentro, colaborando com essa sabotagem.
Raymond além de ser um excelente profissional, entendeu a situação, pois não podemos correr o risco de algo assim acontecer novamente, o que fundamentou minhas suspeitas assim que Richard dispôs no telão da sala de reuniões, imagens do Estaleiro do México em diferentes dias, pois além de ter um dos meus funcionários envolvido, aparecem também um homem e uma mulher, ambos vestidos de preto e ocultando suas faces, como se soubessem exatamente o local que as câmeras estão.
– O envolvimento de um dos meus funcionários é inegável, mas eu não faço a mínima ideia de quem possam ser essas pessoas. – Falo frustrado e Jay pausa as imagens, ampliando-a, mas além de estarem usando capas longas, óculos escuros e chapéu ou capuz, no caso da mulher, a imagem fica distorcida.
– Eles devem estar usando algum dispositivo eletrônico, mas fizeram questão de deixarmos saber que se tratava de um homem e uma mulher. – Jay afirma e Richard assente. – E, por mais que eu não possa afirmar essa questão, mas... Richard, você percebeu como eles parecem saber onde as câmeras, que poderiam pegar os seus rostos, estão?
– Eu também percebi isso. – Meu irmão afirma e volta a rodar a filmagem.
– Vocês estão querendo dizer que alguém da Segurança pode estar envolvido? – Meu irmão me olha e suspira.
– Sim, Christian, mas como o Jay disse, não podemos afirmar com certeza, no entanto a decisão de paralisar a construção pode ser um problema para descobrirmos quem possa ser, pois nesse momento os envolvidos já devem ter passado para quem deu a ordem da sabotagem e estarão em alerta.
– Eu posso não entender muito sobre isso, mas você estaria sugerindo que continuassem a construção, mesmo com as peças erradas, apenas para pegar os envolvidos? É isso, Richard? – Anastásia pergunta e olho para Raymond que está estranhamente calado.
– Não, Pequena, a decisão foi à correta, pois se continuasse como estava, vidas inocentes poderiam ser prejudicadas se um acidente tivesse acontecido, mas quem mandou fazer isso e quem estiver envolvido, além do funcionário que levou essas pessoas ao Escritório, vai permanecer no anonimato. – Ele suspira e para novamente a filmagem. – A questão é quem poderia querer prejudicá-lo, Christian? Por que no México e não em Olympia, onde há vários projetos em andamento?
– Porque a intenção não é prejudicar o Christian, Richard, e sim a mim.
Raymond fala pela primeira vez desde que as imagens e a filmagem começaram a passar e suspira, pegando algo em sua pasta, entregando ao meu irmão, que franze o cenho, à medida que vai vendo o conteúdo de um envelope. E quem franze o cenho agora sou eu, pois esse envelope foi entregue por Ângela, deixado por Marco.
– O quê? Mas por que, Pai? – Ana pergunta confusa e assustada, mas ele alcança a sua mão sobre a mesa.
– Por alguma razão, o Marco já havia descoberto algo e foi isso que pediu para que a Ângela me entregasse, quando nos encontrássemos, Filha.
– Mas... Isso não faz sentido, Pai, porque de acordo com as orientações do meu Tio Marco, esse envelope só chegaria as suas mãos em sete meses, quando eu fizesse 21 anos. – Ela nega com a cabeça e me olha, mas não estou entendendo onde ela pretende chegar com o seu raciocínio.
– O que você está querendo dizer, exatamente, Ana? – Pergunto tentando ajudá-la a concluir sua linha de pensamento, mas ela nega com a cabeça, como se tivesse pensado em algo absurdo e suspira.
– Em sete meses, muitas coisas poderiam acontecer, acidentes poderiam ocorrer e pessoas inocentes poderiam morrer caso vocês não tivessem descoberto agora, que eu era a filha que os meus pais estavam procurando. – Ela se levanta e começa a andar atrás de sua cadeira. – Eu... Eu não consigo acreditar que o meu tio estaria disposto a deixar várias pessoas se machucarem, apenas para me proteger de algo que nem mesmo sabemos ser verdade ou apenas por superproteção dele. – Seus olhos marejam e vejo que está decepcionada com a atitude do Tio. Levanto-me e faço com que ela pare de andar, abraçando-a.
– Baby, eu não posso justificar as atitudes do seu Tio, mas eu acredito que essa não tenha sido a intenção dele, mas quando se trata de alguém que amamos, estamos dispostos a tudo para mantê-la segura e longe de qualquer perigo. – Ela nega com a cabeça e me encara, com os olhos tristes.
– Mas... Isso está errado, Christian, não se pode colocar a vida de vários em prol de uma única pessoa, ainda mais se tivesse a oportunidade de evitar ambos, contando a verdade.
– Filha! – Ela olha para Raymond, que suspira. – O Christian tem razão, o Marco não poderia imaginar que algo assim fosse acontecer, mas ele deixou claro que não tinha certeza de nada ainda, mas que estava investigando, porém ele não queria que eu fizesse algo que pudesse colocar a minha família em perigo, pois ele sabia que eu não iria ficar quieto se soubesse sobre isso.
– Além do mais, pelo que eu entendi nessa carta deixada por ele, ainda há pessoas de confiança do Marco tentando descobrir quem poderia ser os responsáveis por tudo que envolve o seu passado, Ana. – Olho para meu irmão e fico confuso com o que fala.
– Como assim, Richard?
Ele suspira e me entrega os documentos que Raymond trouxe, onde vejo notas fiscais originais, cópias das mesmas notas só que superfaturadas e também várias fotografias em lugares diferentes do mesmo homem e a mulher que apareceram nas imagens no Estaleiro do México. Além de ele ter mencionado para que não fizesse alarde a ninguém e que confiasse no Capitão de Polícia Augusto Loretto. Olho para Richard e seu olhar me diz muito mais do que ele está disposto a falar, o que não farei perguntas sobre isso agora, mas depois... Ele terá que me falar o que sabe.
– Se o que o Marco diz nessa carta faz sentido, o que acredito que faça de fato, quem está por trás da sabotagem do Estaleiro tem o intuito único e exclusivo em prejudicar o Raymond. – Meu irmão volta a falar depois de um tempo. – E, pelo que eu entendi o Lorenzo também sabia de algo, mesmo que não tivesse sido direto em suas palavras, pois temia que algo pudesse acontecer a ele, caso contrário não teria feito o pedido que fez ao Marco.
– Está sendo difícil manter a razão, até mesmo na minha Empresa. – Raymond passa a mão no rosto e volto a me sentar com a Anastásia. – A minha vontade é de demitir todo mundo, justamente por não saber quem possa ser a pessoa infiltrada, mas se eu fizer isso, sei que apenas irei atrapalhar e não ajudar a descobrir quem quer prejudicar a minha filha para me punir de algo, pois não tenho inimigos e mesmo que nos negócios eu sei que possa haver rivalidades, nunca prejudiquei ninguém para que pudesse sofrer essa retaliação. – Richard suspira e sei que o que ele irá dizer não nos deixará nada satisfeitos.
– Raymond, eu sei que não é fácil, mas... Você vai precisar continuar a fingir que não sabe nada sobre isso. – Ele assente e eu suspiro, sabendo que seria algo que ele diria. – Além de não podermos fazer nada no momento, pois se o que o Marco disse é verdade, o responsável que tentou matar a Ana quando era bebê é o mesmo que está ganhando dinheiro se aproveitando da sua Empresa e enquanto ele ou ela quiser, continuará no anonimato, pois acreditam que a sua filha está morta, agora por qual razão ela deveria permanecer escondida até os 21 anos, é um pergunta que não consigo encontrar nenhuma resposta, por isso eu aconselho que além das pessoas que já sabem que a Ana é a sua herdeira, Raymond, seria melhor continuar assim, sem mais ninguém saber sobre esse fato.
– Merda!
– O que foi Raymond? – Pergunto preocupado com a sua reação.
– Creio que essa informação não seja mais um segredo de certa forma. – Fico confuso e ele suspira, olhando para a filha. – Esse seria outro tópico que pretendia falar nessa reunião, pois os documentos reconhecendo que Anastásia é uma Steele por ser minha herdeira saíram e a Carla planejou um jantar para apresentar a nossa filha.
– Droga, Raymond! – Passo uma mão em meus cabelos, tendo a outra apertada por Anastásia. – O Marco fez tudo o que fez para mantê-la em segurança, até que completasse 21 anos para agora você anunciar ao mundo que ela está viva? – Falo entredentes, tentando me controlar.
– Quando se espera 20 anos para ter a sua filha em seus braços, é difícil de conter a felicidade da sua esposa em querer anunciar para todos que o sofrimento acabou Christian. E sinceramente, a Anastásia precisa tomar o lugar que é seu de direito, sendo oficialmente uma Steele e reconhecida como minha única herdeira. – Ele também fala irritado.
– Eu entendo Raymond, mas dessa forma você simplesmente voltou a colocar um alvo nela, mais um para falar a verdade. – Murmuro amargurado e percebo que falei em voz alta.
– O quê? Como assim mais um? Do que você está falando, Christian?
Ele me olha ainda mais irritado e acredito que estou sendo hipócrita ao acusá-lo de colocar um alvo em sua filha, quando eu a envolvi numa história que nem eu mesmo tinha ideia fazer parte.
Será que vou conseguir encerrar uma única noite em paz com a minha namorada? Pelo visto, há muitos fatores que estão dispostos a dificultar a minha vida quanto a isso.
Porra! Que inferno que esses problemas nunca acabam!
Eita! Christian cheio de atitude, gostei, Senhor Romântico 🥰🥰🥰!
E, Oliver! Vem aqui para eu bater na sua carinha, vem 😡😡!
É! Os ânimos já estão exaltados agora, imagina depois que Raymond souber o que de fato aconteceu para Ana ter mais um alvo em suas costas 🤭🤭. Eu que não quero estar perto desses dois quando essa bomba detonar 🤭🤭.
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