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Capítulo - 79

Depois de alguns segundos do susto inicial, apesar de saber que isso uma hora ou outra iria acontecer, eu respiro fundo e encaro o rosto sério, porém posso ver que também está aflito a minha frente, sem sua pose arrogante ou maldosa como vi naquela Boate. E, mais uma vez as palavras do Padre Lutero vêm a minha cabeça, quando ele dizia que "Antes de tomar qualquer decisão precipitada, devemos ouvir antes de falar e somente assim poderemos julgar ou não as atitudes de uma pessoa", por essa razão eu sorrio para Belinda, que ainda aguarda a minha resposta.

– Está tudo bem, Belinda, irei atendê-lo, obrigada. – Ela me olha desconfiada, mas assente se retirando e fechando a porta. Suspiro e volto a olhar para o homem a minha frente. – Ouvirei o que você tem a me dizer, Edgar, mas se a razão para vir até aqui, tem a intenção de denegrir a imagem do Christian, acho melhor você dar meia volta, pois irá perder o seu tempo.

– Muito justo, mas garanto que venho em paz.

– Sendo assim, sente-se, por favor, e me conte a razão da sua visita. – Ele suspira e se senta e só então percebo que há um envelope preto em sua mão, que o coloca sobre a mesa.

– Primeiro eu quero me desculpar por aquele dia...

– Essas desculpas devem ser direcionadas ao Christian e não a mim, Edgar.

Sei que estou sendo um pouco rude, mas quando me lembro de como o meu namorado ficou por causa dele, é um pouco difícil controlar, mas ele me dá um sorriso, sem provocações ou insinuações e sim verdadeiro, o que muito lembra o sorriso da Eloise e do Pietro.

– Agora entendo o porquê de o Christian ter deixado o passado para trás e se rendido a você. – Franzo o cenho e não contenho a pergunta que simplesmente salta por meus lábios.

– O que você está querendo dizer com isso? – Seu sorriso se amplia, sentando-se mais relaxado e confortável na cadeira.

– A primeira vista você parece uma menininha imatura, frágil e tão delicada como uma flor, mas basta passar alguns minutos na sua presença, que é muito fácil perceber que na verdade você é forte, determinada e que está pronta para mostrar seus espinhos, apenas para defender a quem você julgar merecedor de sua defesa, mesmo que essa pessoa possa não ser digna dela. – Sinto o meu rosto esquentar, mas mantenho-me firme diante o seu olhar perscrutador, além de ver sua clara insinuação mesclada ao que deveria ser um elogio.

– Você pode ter razão quanto ao fato de eu querer defender quem pode não ser digno, considerando que eu fiz isso em relação a você. – Seu sorriso vacila e vejo culpa em seus olhos, mas não sei o motivo e continuo. – A primeira vista, você parece ser um homem determinado, forte e que usa a provocação e o sarcasmo como uma máscara de proteção, mas sabe o que eu realmente vejo? – Pergunto retoricamente, pois não o deixo responder. – Eu vejo um homem que carrega muita tristeza no olhar e que também foi machucado no passado. Um homem que se permitiu ser enredado por mentiras de uma mulher vil que manipulou tanto a sua cabeça, que isso afetou a sua capacidade de julgamento e decisão própria, a ponto de não medir palavras para tentar afetar e condenar uma pessoa que foi a maior vítima de suas acusações infundadas, mesmo eu não sabendo até que ponto você também foi uma vítima dessa história.

– Do que você está falando? – Ele pergunta sério e eu suspiro.

– O que você realmente veio fazer aqui, Edgar? – Ele sustenta o meu olhar, mas não fala nada. – Eu tenho certeza que não é para provocar ainda mais o Christian, pois ele não está aqui, então seja sincero comigo. – Ele continua em silêncio, até que suspira e se dá por vencido.

– Por alguma razão, eu me senti incomodado com algo que você disse no sábado e acabou de falar algo semelhante agora, mas de fato eu queria me desculpar por tê-la ofendido quando...

– Você não me ofendeu. – Ele nega com a cabeça e me dá um sorriso de lado.

– Acredite, eu ofendi sim, não diretamente e sim com o que eu disse ao seu namorado. – Fico confusa, mas ele nega com a cabeça. – Só me desculpe por aquela cena na Boate, mas não vale a pena que eu repita as palavras que usei, pois foi sem sentido e muito babaca da minha parte.

– Sim, você realmente agiu como um babaca naquele dia. – Ele nega com a cabeça e volta a sorrir.

– Você é sempre assim? Direta e sincera com o que pensa?

– Sim, Edgar. Eu fui criada e ensinada que a sinceridade e honestidade são o que de mais valioso podemos ter depois do nosso coração. Eu fui criada também a ouvir antes de falar e entender determinadas situações antes de julgar, por essa razão que estamos conversando, mas até agora você não disse de fato o motivo que o trouxe até aqui. – Ele passa uma mão em seus cabelos cacheados e suspira, antes de fixar seus olhos azuis intensos em mim.

– Sinceramente, eu não sei exatamente o que estou fazendo aqui, Anastásia, mas... – Ele volta a suspirar. – Mas algo em você me transmite confiança e esses seus olhos puros e inocentes, são tão transparentes que parecem enxergar até mesmo a mais oclusa das almas. – Ele dá uma risada sem humor e esfrega as mãos em seu rosto. – O que é irônico, quando você é tão jovem, tendo apenas 20 anos e sendo a namorada do homem que até então eu deveria odiar. – Suspiro e baixo-a-guarda, vendo que nesse momento ele parece mesmo frágil e sobrecarregado com esse assunto.

– Idade não define maturidade, Edgar, e eu não preciso ter 30 ou 40 anos para saber o que é certo ou errado. – Ele assente e passa novamente a mão em seus cabelos, deixando-os mais rebeldes. – Eu não sei o que de fato aconteceu entre você e o Christian, ou o motivo que você acredita ter para odiá-lo, mas... – Mordo meu lábio inferior, incerta em fazer essa pergunta, pois quando a fiz ao Christian, ele não reagiu muito bem. – Tudo isso é por causa da Débora? – Ele me olha por um momento e vejo um lampejo de raiva passar por seus olhos.

– O que você sabe sobre a Débora?

– Talvez a real história que possa ser bem diferente da que você acredita saber.

– Será mesmo, Anastásia? – Ele pergunta em tom sarcástico e suspiro, pois vejo que esse assunto realmente também é delicado para ele. – Será que o seu namoradinho contou que por quase um ano, se envolveu com uma mulher que já tinha namorado e que pediu para manter o relacionamento em segredo ou iria sujar a imagem dela? – Franzo o cenho, confusa sobre o que ele está falando. – Será que ele contou que a obrigou a morar com ele, apenas para provocar os irmãos porque eles não gostavam dela, simplesmente porque ela era órfã e pobre? Será que o seu namoradinho contou que a engravidou e depois a estava pressionando para que ela abortasse? Ele contou que a obrigou a abandonar o emprego, mas que deixava faltar o que ela precisava? Ele contou também, que por ela insistir em ficar com o bebê, ele a expulsou do quarto e disse que só voltaria a tocar nela quando aquela aberração que ela carregava não estivesse mais nela, só porque o bebê seria especial? – Ele se levanta e começa a andar de um lado para o outro, com a respiração alterada, mas eu não o interrompo, pois sinto que ele precisa colocar isso para fora. – Será que ele contou que só conseguiu ser o que é hoje, porque os pais dele compravam todos os olheiros interessados em novos talentos na Universidade e por isso os seus projetos eram escolhidos? Eu duvido que ele tenha lhe contado isso, Anastásia, ou será que eu estou muito enganado em relação a você, por saber de tudo isso e ainda continuar com ele, defendendo-o como você fez?

Ele apoia as mãos na mesa e me olha com seus olhos selvagens, ofegante como se tivesse corrido uma maratona, por isso eu suspiro e me levanto, caminhando até o frigobar, pego uma garrafa com água e sirvo em um copo, entregando a ele, que aceita sem pestanejar, bebendo tudo de uma vez e vejo que suas mãos estão tremulas. Ele volta a se sentar e respira fundo, mas aguardo que se acalme um pouco mais.

– Essa é a razão para você odiá-lo tanto?

– E você ainda acha pouco? – Seu tom foi rude, mas o compreendo, mesmo sabendo que ele está errado.

– Você amava a Débora, Edgar? – Ele franze o cenho, mas nega com a cabeça.

– Não, eu não amava. Mas isso não quer dizer que ser feito de corno por meu colega de classe e minha namorada em questão, não me deixasse puto. – Assinto, mas ele continua. – Mas a questão não é essa, apesar de ter sido traído e tê-la odiado, passando a vê-la como uma vadia, eu ainda era humano e não iria deixar que uma mulher fosse maltratada, ainda mais quando me pedia ajuda, mesmo que a condição fosse que eu não interferisse em seu relacionamento porque ela não queria ser agredida por ter me contado, ainda mais sabendo que havíamos sido namorados. – Volto a franzir o cenho com essa informação.

– Como assim? Você não continuou com a Débora quando ela estava com o Christian? – Ele nega com a cabeça e mais uma vez passa a mão nos cabelos, o que estou vendo ser uma mania dele.

– Claro que não. Apesar de tentar provocar o Christian por diversas vezes na Universidade, para fazer com que perdesse aquela pose certinha dele e me enfrentasse, do mesmo jeito que fazia em casa com a namorada, mas nunca aconteceu. – Ele fala frustrado e começo a encaixar algumas peças.

– Por isso você dizia na Universidade que transava com a namorada dele? Para fazê-lo perder a paciência e te agredir? – Ele me olha culpado, mas assente.

– Sim, realmente eu fiz isso algumas vezes na Universidade e não me orgulho desse fato, mas como você mesma disse naquele dia na Boate, éramos jovens e imaturos na Época.

– Pelo visto continuam sendo.

– O que você quer dizer com isso? – Eu suspiro e mesmo não o conhecendo, eu acredito em sua história, mas ignoro sua pergunta.

– Eu vou te fazer uma pergunta, mas está no seu direito não me responder, porém preciso saber. – Ele assente e novamente respiro fundo. – Essa ajuda que a Débora pedia, por um acaso era dinheiro? – Ele franze o cenho, mas assente.

– Sim. – Ele responde de imediato, mas continua confuso. – Por que a pergunta?

– Edgar, essa história que a Débora te contou, não passava disso, apenas história. – Ele fixa seu olhar no meu, mas não fala nada. – Tudo isso que ela contou é mentira. Ela estava te usando, da mesma forma que usou o Christian pelo tempo que ficaram juntos.

– Como você fala isso com tanta certeza?

– Eu conheço toda essa história, mas realmente como aconteceu. – Ele tenta falar algo, mas o interrompo. – O que aconteceu entre o Christian e a Débora não cabe a mim, contar a você, mas quando conheci a família do Christian, eu também era órfã e pobre e nunca fui tratada diferente por nenhum deles. O Caleb é o meu melhor amigo e sempre me tratou como sua irmã mais nova, o Richard não foi diferente e não preciso dizer nada sobre os pais deles, que sempre foram amorosos comigo. Agora você acha mesmo que se essa fosse à questão, como a Débora justificou sendo o motivo para eles não gostarem dela, eles iriam ser diferentes comigo?

– Podem ter se arrependido de terem sido péssimas pessoas no passado e se culpam pela morte da Débora, por causa do que o Christian a obrigou fazer e tentaram mudar. – Nego com a cabeça e suspiro.

– Edgar, você confiava na Débora?

– E você confia no Christian?

– Com a minha vida se fosse preciso. – Falo sem pestanejar e ele arregala os olhos. – Eu acredito no homem que eu amo e sei que a história que envolve a Débora não é essa que você está me contando. – Levanto a mão, quando ele tenta me interromper. – Da mesma forma que eu acredito em você e sei que por todo esse tempo vem alimentando ódio por uma pessoa inocente, quando deveriam ter agido como adultos e conversado.

Ele fica em silêncio, ponderando tudo que eu disse, mas vejo que ainda tem mais alguma coisa que ele não contou, ou algo que ainda o impeça de acreditar em tudo que acabei de dizer, mas é difícil quando essa história não é minha para poder contar, pois não sei o quanto disso o Christian gostaria que mais alguém pudesse saber, mesmo que esse alguém também seja um dos envolvidos em seu passado.

– Você disse que quando conheceu a família do Christian, também era órfã e pobre. O que quis dizer com "o era"?

– Acredito que você conheça a história dos tios do William?

– Sim, a minha mãe é amiga da Carla e sabe que eles tiveram a filha sequestrada quando nasceu e que há 20 anos estão procurando por ela, com esperança que a encontrem com vida, mas o que tem... – Ele se cala por um momento e dou um sorriso envergonhado por ver a forma que ele me encara agora, quando a compreensão lhe invade. – Você... Você é a filha deles?

– Sim, eu sou Anastásia Steele, a filha perdida deles.

Não gosto de usar o termo sequestrada, pois o meu Tio Marco não é um sequestrador e ele teve suas razões para fazer o que fez – mesmo que eu não saiba ao certo quais são –, mas Edgar arregala os olhos e tenho vontade de rir, pois nisso ele lembra muito o Pietro, mesmo sendo mais sério que o irmão, é claro.

– Como isso é possível?

– Longa história, mas se tivermos oportunidade um dia eu... – Sou interrompida por uma movimentação estranha e vozes alteradas do lado de fora da sala e me levanto assustada da cadeira quando a porta é aberta abruptamente. – Christian! – Ele vem a passos rápidos em minha direção e me abraça.

– Você está bem, Anastásia?

– O que aconteceu? – Ele continua me apertando em seus braços, mas não fala nada, apesar de conseguir sentir o seu corpo trêmulo. – Christian, fala comigo! O que aconteceu?

Ele me afasta dos seus braços e vejo o estado caótico que ele se encontra, com os cabelos bagunçados, como se estivesse passado à mão diversas vezes nele, a gravata frouxa, o paletó amassado e com olhos vermelhos e muito irritado, mas também vejo medo neles, enquanto ele continua me olhando, sem piscar, como se fizesse isso, eu fosse sumir da sua frente a qualquer momento.

Olho para a porta e vejo Taylor, Richard e Aleksander, este que está encarando o Edgar, que continua sentado, como se ele fosse um maluco homicida. E fico ainda mais confusa com a sua atitude, bem diferente da brincalhona que vi no dia da Boate. Volto a encarar o rosto pálido do Christian, porém sua atenção é desviada para algo que está em cima da minha mesa, mas precisamente para o envelope que o Edgar trouxe e só agora ele se deu conta que há outra pessoa na sala e vejo seu rosto mudar numa fração de segundos de preocupado para furioso, quando direciona seu olhar gelado para o meu visitante.

– Foi você, seu desgraçado? – Ele dá a volta na mesa tão rápido que quando vejo, está segurando o Edgar pelas lapelas do terno e batendo suas costas na parede. – Foi você que me enviou aquele envelope, não foi? – Tem tanta fúria em sua voz que me encolho no lugar, mas acordo do meu torpor, assim como os outros que tentam segurá-lo.

– Christian! – Mas ele me ignora completamente.

– Responda, seu miserável! – Edgar parece ter acordado do susto também e segura os pulsos dele.

– Do que você está falando, Grey?

– Christian, acalme-se! – Richard fala e junto com Taylor, consegue afastá-lo de Edgar, que arruma seu paletó amassado. – Você não sabe se foi ele quem enviou, então mantenha a calma.

– Claro que foi esse desgraçado! – Ele pega o envelope da mesa e joga no Edgar que fica ainda mais confuso, assim como eu. – Se veio trazer esse envelope para Anastásia, não se dê o trabalho, pois eu não permitirei que você faça mal a ela, está me ouvindo? Você. Não. Vai. Se. Aproximar. Dela. – Ele fala pausado e entredentes, tentando novamente partir para cima do Edgar, mas Taylor e Richard conseguem segurá-lo. – Me solta, porra!

– Você está louco? De que envelope você está falando? – Ele pega o envelope do chão e volta a colocá-lo sobre a mesa, onde claramente há o nome dele escrito com uma letra cursiva perfeita. – Esse envelope eu recebi na minha Empresa, quando estava vindo para cá, não o trouxe para Anastásia.

– NÃO FALA O NOME DELA, SEU DESGRAÇADO! NÃO PRONUNCIE O NOME DELA! – Dou um pulo no lugar com o seu grito raivoso e ele se debate ainda mais, parecendo uma fera enjaulada e meu coração se aperta por vê-lo dessa forma, ainda mais por não saber o motivo para isso estar acontecendo.

– Christian! – Eu tento me aproximar, mas Aleksander, que também entrou na sala, tenta me segurar.

– NÃO TOCA NELA! – Aleksander se afasta num pulo, deixando-me ainda mais preocupada com a reação do Christian. – ME SOLTA! EU VOU ACABAR COM ESSE DESGRAÇADO! – Richard o joga em cima do sofá e tenta imobilizá-lo e meus olhos enchem de lágrimas. – QUE PORRA! ME SOLTA, RICHARD!

– Eu vou soltar... Se você ficar calmo. – Richard tenta trazê-lo a razão, mas não suporto mais vê-lo assim e ele vai acabar se machucando se continuar a se debater como está fazendo.

– Christian! Amor olha para mim! – Ele continua se debatendo, tentando se soltar. – Christian!

– Ana... É melhor deixá-lo se acalmar primeiro. – Richard chama a minha atenção, mas nego com a cabeça.

– Ele não vai me machucar, Richard. – Ele fica me encarando, fazendo um esforço descomunal para segurar o irmão sem machucá-lo. – Solte-o, por favor.

– Ana...

– Solte-o! – Taylor é o primeiro a se afastar e eu me aproximo, tocando o rosto de Christian, vendo o quanto ele está vermelho e quente, pela fúria que exala de seu corpo. – Amor, olhe apenas para mim. Somente em mim, por favor. – Ele fixa seu olhar no meu e o que vejo me assusta, pois há ódio cru neles, porém eu respiro fundo quando sinto um nó se formar em minha garganta, mas não posso chorar agora e olho rapidamente para Richard, que entende e o solta, mas ainda se mantém ajoelhado ao lado do sofá, enquanto com a outra mão, toco o peito do meu namorado, sentindo-o subir e descer rapidamente e seu coração completamente descontrolado. – Eu não sei o que aconteceu, mas juntos vamos resolver, mas você precisa se acalmar, tudo bem? – Sento-me na beirada do sofá e continuo acariciando-o. – Deixem-me sozinha com ele, por favor!

– Ana, eu não acho...

– Richard, por favor! – Respondo sem tirar os olhos de Christian que não tenta mais se levantar e eles logo saem fechando a porta. – Conversa comigo, Amor! Conte-me por que você está assim! – Ele nega com a cabeça com a respiração ainda ofegante, puxando-me para os seus braços e me aconchego como posso ao seu lado no sofá.

– Ninguém vai te machucar, Anastásia! Eu não vou permitir que ninguém, te machuque. Ninguém! – Ele repete sem parar e meus olhos voltam a marejar, mas respiro fundo e me aconchego ainda mais em seus braços, que me apertam como se quisesse me fundir ao seu corpo.

– Eu acredito e confio em você, Amor! Mas vai ficar tudo bem, apenas se acalme. – Seus músculos estão tão tensos e trêmulos que parecem querer saltar por sua pele e o tecido de suas roupas, assim como seu coração que continua muito acelerado.

– Ninguém vai te machucar, nem que para isso eu precise matar o desgraçado que tentar.

Sinto o peso e a frieza em suas palavras e meu corpo gela, mas apenas continuo acariciando o seu peito, pedindo a Deus que ele se acalme logo e que essas sejam palavras ditas motivadas apenas pela raiva.

(...)

Depois de passar alguns minutos nos braços de Christian, sentindo-o se acalmar aos poucos, mesmo que ainda seja nítida a tensão de seus músculos, Richard entrou na sala, pedindo para que fossemos embora, assim que percebeu que o irmão estava mais controlado, pois ainda queria conversar conosco.

Eu queria ter perguntado pelo Edgar, quando saímos da sala e não o vi ou o Aleksander, mas por bem da calmaria e da sanidade do meu namorado, achei melhor não fazer essa pergunta. Assim que saímos do elevador, tudo estava normal no salão de vendas, enquanto meus colegas de trabalho e o pessoal terceirizado continuavam com a arrumação da Loja, o que acredito que não tenham percebido nada do que possa ter acontecido dois andares a cima e agradeci mentalmente por isso, afinal, aqui é meu local de trabalho e Christian é o proprietário dessa Empresa.

O trajeto está sendo feito em absoluto silêncio, mas diferente do habitual, estávamos no carro do Richard e tenho certeza que meu cunhado fez isso apenas para manter sua atenção em Christian, que estava estranhamente calado, e pude comprovar isso sempre que seus olhos desviavam do trânsito para verificar o irmão pelo retrovisor interno do carro.

Suspiro e dou um aperto em sua mão, tentando fazer com que olhe para mim e foi o que aconteceu, quando desviou o olhar das ruas movimentadas de Seattle e me encarou, mas não gostei de ver seus olhos tão sem vida ao mesmo tempo em que refletia também selvageria. Eu queria muito saber o que aconteceu e o que está passando em sua cabeça, mas sei que não irá me falar, pelo menos não agora. E, por estar ciente disso, eu faço a única coisa que seja adequada no momento, aproximando-me ainda mais dele, ignorando completamente o uso do cinto de segurança.

– Eu te amo, Christian! – Acaricio o seu rosto, antes de selar rapidamente seus lábios, recebendo um sorriso de lado, apesar de ainda estar triste com alguma coisa.

– Eu também te amo! – Sorrio e ele suspira, escorregando no banco após soltar o seu cinto para esconder o rosto na curva do meu pescoço.

Começo a acariciar os seus cabelos e Richard me olha rapidamente pelo espelho, dando-me um sorriso de lado, apesar de conseguir ver em seus olhos azuis o quanto está preocupado, mas não quero pensar o que motivou isso, apenas transmito a segurança que Christian parece sentir em meus braços e assim permanecemos durante o restante do trajeto, até chegarmos a casa.

– Vamos para o Escritório da Central de Comando, Christian! – Richard fala assim que saímos do carro, enquanto Christian apenas assente, pegando a minha mão e seguindo para seja lá onde fica isso.

Atravessamos o jardim e observo essa parte da propriedade – que eu ainda não conhecia – e vejo um anexo, onde posso ver alguns dos Seguranças que fazem a proteção da casa. Olho para o lado e percebo uma extensa área sem construção nenhuma, mas toda gramada e bem cuidada e tenho vontade de perguntar por que uma área tão grande sem nada nela, mas contenho minha curiosidade, pois não é o momento para perguntas fora de hora.

Entramos no anexo e fico impressionada com o quanto é grande, mas não tenho tempo de olhar com atenção até que entramos em uma sala de reuniões muito bem equipada com telas e mais telas projetando imagens de toda a área externa da casa, mas percebo que há algumas de dentro dela também.

– O que ele está fazendo aqui? – Assusto-me com o tom de voz de Christian e vejo que Edgar também está na sala.

– Christian, sente-se e você logo irá entender o porquê do Edgar estar aqui. – Richard fala com toda calma do mundo, enquanto o irmão continua encarando o Edgar com muita raiva e sinto isso no aperto de sua mão que se intensifica na minha. – Christian, sente-se! – Ele fala mais firme, não dando brechas para argumentação e a contragosto, Christian afasta uma cadeira para que eu possa me sentar, fazendo o mesmo em seguida ao meu lado, segurando a minha mão.

Fico confusa com a tensão que está no ambiente e com o motivo do Edgar estar aqui, mas vejo o envelope preto a sua frente e franzo o cenho quando Taylor coloca outro igual sobre a mesa e sinto o corpo de Christian retesar. Observo com atenção e vejo que a caligrafia de ambos é idêntica, o que a princípio passaria tranquilamente por algum convite muito bem elaborado, mas pela forma que meu namorado e Edgar encaram os envelopes, essa não é a questão com toda certeza.

– O que tem nesses envelopes? – Quebro o silêncio sem conseguir conter a curiosidade e ninguém me responde, mas Richard alterna o olhar entre Christian e eu, antes de suspirar.

– Christian, não seria melhor se a Ana...

– Não! Ela precisa saber e eu jamais mentiria ou esconderia algo dela. – Sua voz gelada e decidida faz com que um arrepio passe por meu corpo e vejo Edgar desviar o olhar dos envelopes para nos encarar, mas não fala nada.

– O que vocês estão falando? – Olho para eles, mas ficam apenas me encarando. – O que tem nesses envelopes para vocês estarem agindo assim?

Novamente, recebo apenas o silêncio e reviro os olhos, levantando-me rapidamente para pegar o envelope com o nome do Christian e ninguém tenta me impedir. Abro e fico ainda mais confusa vendo algumas fotografias minhas. Sozinha, saindo da Universidade, entrando ou saindo da Loja, algumas têm o Christian e também uma do dia que o Edgar foi até a Loja buscar seus ternos, no momento que se apresentou e beijou a minha mão. Fotos do dia da Boate e inclusive do momento que Christian está sobre o corpo do Edgar em cima do Balcão. Pego o envelope menor, mas Christian o pega das minhas mãos, assustando-me.

– Esse você não precisa ver. – Franzo o cenho e encaro seus olhos decididos, mas pego o envelope novamente de suas mãos. – Anastásia...

– Se você não vai mentir ou esconder nada de mim, isso inclui o conteúdo desse envelope também, Christian. – Ele assente e suspira, passando as mãos em seus cabelos que continuam bagunçados.

– Está tudo bem, Christian! Não há problema no que ela vai ver.

Ouço a voz de Richard, mas não presto atenção nele, eu apenas abro o envelope e vejo uma mulher loira, de olhos verdes e com um sorriso que não me parece verdadeiro. Continuo vendo as fotografias da mulher que não faço ideia de quem possa ser até a compreensão me bater ao vê-la com o meu namorado. Essa é a Débora, ex-namorada que usou e manipulou o Christian. A razão pelo qual ele acreditou que deveria se esconder do mundo, afastando-se inclusive de quem amava, isolando-se em seu mundo de autocomiseração e autopunição.

Olho para Christian que está com seus olhos fixos em mim, talvez esperando alguma reação minha, mas isso é parte do passado dele, não posso fazer nada para que pudesse apagá-lo ou tirar a parte que essa mulher entrou na vida dele. Olho rapidamente para Edgar que também está olhando para mim, mas posso ver também que algo está o consumindo e me pergunto o que há dentro do envelope dele, mas por ora, foco nas fotografias em minhas mãos, colocando-as sobre a mesa e suspirando.

– Baby, eu... – Pego em sua mão e sorrio, mesmo sentindo o meu coração se apertar por ainda não entender o alarde todo por causa dessas fotos, por mais que eu sinta que algo está faltando.

– Está tudo bem, Christian. Isso é seu passado e não podemos mudá-lo, apenas seguir em frente e superá-lo, mas... Além de ter a fotografia dessa mulher, porque enviaram fotos minhas... Nossas para você? – Vejo que todos fazem uma troca de olhar, inclusive o Edgar e foco nele. – Aliás, o que há no seu envelope, Edgar? Pois eu acredito que para você estar aqui, deve ter ligação com o envelope que o Christian recebeu, correto? – Ele inspira e expira, antes de assentir.

– Sim, Anastásia! Há ligação com o envelope que o Christian recebeu e... Talvez você possa estar certa sobre o que falou no seu Escritório. – Franzo o cenho, mas então as mentiras da Débora me veem a cabeça.

– Do que vocês estão falando?

Christian pergunta rude, mas não me importo com o seu tom de voz, afinal, eu não estaria diferente se fosse comigo, mas Edgar suspira e deixando os ombros caírem, olha para o meu namorado que ainda mantém a raiva direcionada a ele.

– Que talvez nós dois tivéssemos sido usados e manipulados pela Débora, Christian.

O silêncio pairou no ambiente deixando a todos tensos, enquanto Christian e Edgar se mantêm numa troca de olhar que diz muita coisa e nada ao mesmo tempo, afinal, foram anos se odiando sem de fato deverem fazer isso e, eu só espero que no fim, eles possam conversar e não tentarem se matar, como fazem sempre que estão juntos.

Mas a questão que não para de martelar a minha cabeça é: Quem enviou esses envelopes a eles? E com qual propósito de terem feito isso?

Eita, que foi revelador essa conversa da Ana com o Edgar, não é mesmo 🤔🤔?

E, minha nossa Senhora dos namorados possessos. Senhor Gelo em modo surtado, ativado com sucesso 😱😱!

Será que vamos ver o Senhor Gelo e o Senhor Sarcástico se resolverem? Eu não sei de nada! Só observo 😏😏.

Essa é uma pergunta que também queremos saber Ana! Quem será que enviou esses envelopes e por quê 🤔🤔 ?


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