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Capítulo - 69

Quando nossa filha foi tirada de nós, eu prometi a mim mesmo, que nunca pararia de procurá-la. Que passasse o tempo que fosse eu sempre faria de tudo para tê-la de volta, no aconchego e proteção de nossos braços. Que eu ainda traria de volta, o sorriso para os lábios da minha esposa e que faria aqueles olhos doces e puros, que me encantaram desde a primeira vez que os vi brilharem novamente.

O peso que eu carregava no peito e a tristeza sem fim que eu me obrigava a esconder para não deixar a Carla ainda pior, não existem mais. Assim como os olhos opacos e tristes da minha esposa foram substituídos por alegria e o brilho constante que sempre admirei olhar, pois hoje, 20 anos depois, nossa filha está conosco.

– Ray, os meninos já foram? – Sorrio e acabo de subir os degraus da escada.

– Sim, saíram há alguns minutos. – Ela me abraça com um imenso sorriso em seus lábios. – Está feliz, meu Amor?

– Muito! – Ela se afasta e sela nossos lábios, mas ainda sorrindo. – Eu estou tão feliz, que sinto como se o meu coração fosse explodir. – Eu assinto e acaricio o seu rosto delicado. – E nossa filha é tão linda, Ray. Tão parecida com você. – Ela suspira e fecha um pouco seu sorriso. – Mas... Eu tenho medo que ela não sinta por nós, o mesmo amor que ela demonstra sentir pela Tia. – Agora quem suspira sou eu e a conduzo para que possamos entrar em nosso quarto, onde nos sentamos no sofá.

– Por mais que isso me doa admitir, é uma possibilidade sim, afinal, ela foi criada durante 20 anos, tendo-a como a única mãe que ela conheceu. – Ela assente e seu semblante se entristece. – Mas pelo pouco que pudemos observar e a forma que os meninos sempre falavam dela, nossa filha tem um imenso coração e conseguimos confirmar isso, pois ela simplesmente ouviu nossa história, sem nos julgar, mesmo que no fundo ainda tivesse medo que fossemos rejeitá-la.

– Mas isso nunca aconteceria. – Ela fala convicta e eu sorrio de lado.

– Eu sei disso, meu Amor, mas ela não sabia, pois foram 20 anos acreditando que havia sido abandonada.

– Você tem razão. – Ela se vira, apoiando em meu peito e dá uma risadinha, antes de olhar novamente em meus olhos. – E como você está se sentindo, tendo encontrado a nossa filha, mas que veio acompanhada de um bônus, melhor dizendo, de um genro? – Faço uma careta e ela dá risada, o que me faz sorrir também.

– Durante todos esses anos, eu sempre lamentei o fato da nossa filha não estar conosco e que não cresceria com os filhos dos meus amigos, mas saber que hoje, ela é a namorada de um dos gêmeos, melhor amiga do outro e presenciar o carinho e instinto protetor que Richard tem com ela, como ele sempre teve pelos irmãos, deixa-me de certa forma... Realizado. – Ela assente e eu sorrio, lembrando-me do momento que estive com Richard e Christian no escritório. – Você acredita que o Christian teve a ousadia de me enfrentar no escritório? – Dou risada, negando com a cabeça e Carla me olha confusa.

– Como assim? Por quê? Mesmo que ele tivesse uma personalidade mais forte e ser mais sério que os irmãos, os três sempre foram tão educados.

– Sim, de fato eles são. Mas ameace tirar a namorada dele que aquele rapaz não pensaria duas vezes antes de enfrentar quem fosse, mesmo que ele tenha sido respeitoso com suas palavras, não dando a mínima que estivesse falando com o sogro dele. – Novamente faço uma careta, pois acabei de ter a minha filha em meus braços e já sou sogro de alguém. Pelo mesmo é um dos filhos dos meus melhores amigos.

– Você o ameaçou? – Ela arregala os olhos e eu assinto com um sorriso de lado. – Por quê?

– Na verdade, não foi uma ameaça, eu apenas fiz uma brincadeira, dizendo que não sabia se gostava da ideia de ter a minha filha, que eu acabei de encontrar, trazendo-me um genro no pacote. – Novamente dou risada, lembrando o quanto ele ficou irritado.

– Não acredito nisso, Ray! – Ela dá um tapa em meu peito e nega com a cabeça.

– Ele simplesmente virou uma fera, que precisou ser acalmado por Richard. – Dou uma gargalhada e ela sorri. – Eu pensei que ele iria passar por cima da mesa e me socar, mas mesmo que estivesse vendo em seus olhos, que a vontade dele realmente fosse essa, Christian é educado e respeitoso demais para fazer algo assim, mas se eu tivesse continuado a apertar os botões dele, não sei se aquela educação toda continuaria sendo suficiente para a minha integridade física.

– Eu fiquei impressionada com a conexão da nossa filha com ele, parecendo que estão juntos há muito tempo, quando na verdade são poucos dias.

– Isso é verdade, mas confesso que eu esteja feliz por saber que no fim, o destino trabalhou para fazer com que a nossa filha e o filho dos nossos amigos ficassem juntos, da mesma forma que é nítido que qualquer um daqueles três estivesse disposto a protegê-la.

– Sobre isso, você acha que o Marco... – Ela hesita por ver o meu semblante fechar por tocar nesse assunto, mas continua em seguida. – Você acha que a nossa filha realmente possa estar correndo perigo? – Vejo apreensão em seus olhos e suspiro, pegando em sua mão para acariciar seu dorso.

– Carla, por mais que a sensação de ter sido traído pelo homem que considerei um amigo, justamente por ter sido ele, o motivo para que nós ficássemos 20 anos longe da nossa filha, e que se manteve calado por todo esse tempo, eu ainda acredito que o Marco não agiria dessa forma se não houvesse de fato um motivo.

– Mas... Pelo que eu pude entender ninguém nunca tentou se aproximar da nossa filha, mas se estiverem atrás dela? E se tentarem machucá-la, Ray? Eu não posso perder a nossa filha. De novo não! Eu não iria aguentar se isso acontecesse. – Seus olhos marejam e eu suspiro.

– Fique calma, Carla, que eu não deixarei que nada, aconteça a nossa filha. Você confia em mim? – Ela assente e capturo uma lágrima que deslizou por sua face. – Obrigado! – Beijo a sua testa e ela suspira. – E saiba que eu não estarei sozinho nisso, pois eu confio no Christian e no Richard para cuidar da Segurança dela também, mas nada irá acontecer e a nossa Princesa continuará bem e segura. – E eu farei até mesmo o impossível para isso acontecer, eu prometo a mim mesmo. Ela assente e suspira, ficando em silêncio por um momento.

– Enquanto você estava no escritório com Christian e Richard, a sua mãe fez algumas insinuações que a Anastásia não era a nossa filha.

– Como assim? – Faço com que ela olhe em meus olhos e novamente, suspira.

– Alana começou a fazer perguntas que a deixasse desconfortável, dizendo que não entendia o motivo do Marco a ter apresentado como sobrinha dele, mas que de repente, ela aparece dizendo que é a nossa filha, que estava desaparecida, mas que todos a consideravam como morta.

– Eu não acredito que minha mãe fez isso? – Fico irritado e Carla novamente suspira. – Sinceramente eu não sei qual é o problema da minha mãe, pois depois que meu pai faleceu, ela fica pior a cada dia. Ela tem estado mais afastada, mais isolada, se distanciando inclusive de mim, que sou seu único filho. Parece que a única coisa que a deixa feliz é quando resolve viajar pelo mundo. – Nego com a cabeça contrariado e Carla passa a palma da mão em minha barba, fazendo-me suspirar.

– Sua mãe sempre foi difícil, Amor, mas eu acredito que perder o homem que era seu companheiro de vida e ainda ter que presenciar a sua morte, como aconteceu com ela, não deve ter sido fácil.

– Eu compreendo isso, mas... Ela poderia pelo menos tentar ficar feliz por nós, ainda mais sabendo o quanto sofremos durante esses 20 anos e mesmo que ainda precisemos do exame de DNA para reconhecer oficialmente a Anastásia como nossa filha, é impossível dizer que ela não é minha filha.

– Isso é tão injusto. – Fico confuso e ela sorri, fazendo-me perceber que essa é a sua forma de mudar de assunto. – Carreguei nossa filha em meu ventre por nove meses e ela nasceu exatamente como você. – Ela faz uma careta e eu dou uma gargalhada.

– Mas ela tem a sua doçura e delicadeza, meu Amor.

– Mas percebi que é tão determinada e inteligente quanto você.

– Eu sei! Afinal, ela é minha filha. – Gabo-me e ela volta a bater no meu peito.

– Convencido! – Dou risada, para em seguida beijar seus lábios, mas não consigo parar de pensar no que ela disse sobre a minha mãe.

Por isso, eu irei conversar com ela, quanto as suas atitudes, pois eu compreendo que ela ainda deva sentir a falta do meu pai, afinal, foram quase 30 anos juntos e mesmo que ele sempre será boas lembranças em nossos corações, eu acredito que é hora da minha mãe tentar mudar. Estar mais presente em nossas vidas, principalmente na vida da minha filha, que é a sua única neta.

(...)

– Charles, você conviveu com o Marco por muito tempo, correto? – Pergunto para o meu Motorista, enquanto estamos seguindo para a casa da minha mãe, logo depois de sair da Empresa.

– Sim, Senhor Steele. Desde que comecei a trabalhar na sua casa, há 10 anos. – Ele me olha rapidamente pelo retrovisor interno do carro, para responder, e volta a prestar atenção no trânsito.

– O que você teria a me dizer sobre ele? – Questiono como quem não quer nada e ele direciona o olhar novamente para o espelho e vejo a sua confusão, afinal, eu considerava o Marco um amigo.

– O Marco sempre foi muito reservado, mas também muito solitário, pois ele nunca se casou como o Senhor sabe. – Assinto e ele continua. – Mas eu sei que ele tinha família em Portland, pois algumas vezes eu o ouvi falar ao telefone com o tio e perguntar sobre alguém que ele chamava de... – Ele fica em silêncio por um momento, tentando buscar na memória. – Ah, sim! Ele chamava de Borboletinha. – Sinto meu maxilar travar, pois pela carta que eu li, que ele enviou para Anastásia, essa era a forma que a chamava. – Eu perguntei uma vez se era alguma namorada e ele ficou muito irritado, dizendo que não era para eu dizer besteiras, pois era a sua sobrinha. Mas sempre o considerei um bom profissional, muito sério e responsável com o seu trabalho.

– Compreendo. – E quanto a isso não posso discordar.

– Desculpe-me pelo atrevimento, mas... O Senhor acredita que ele poderia estar envolvido em alguma coisa ilegal, por essa razão que ele tenha morrido?

– Não, Charles! Eu não acredito nessa possibilidade. – Ele assente e não pergunta mais nada.

Porém não vou negar que isso me deixa incomodado, ainda mais quando me lembro das palavras dos Investigadores Derek Loretto e Victor Monteiro, quando estiveram no meu escritório para informar que haviam o encontrado. E além de ter sido encontrado alguns quilômetros de distância do local do acidente, tendo algumas fraturas, Marco foi também torturado, antes de ser alvejado por vários disparos, na face e na cabeça, deixando-o irreconhecível.

Não vou negar que eu tenha ficado triste com a forma que ele perdeu a vida, mesmo que o sentimento de traição se sobressaía à compaixão às vezes, mas eu queria que ele estivesse vivo, para poder me dizer à razão que o motivou a levar a minha filha e mantê-la longe por todo esse tempo. Porém infelizmente não obterei essas respostas e só me resta, esquecer e seguir em frente, ainda mais agora que encontramos a nossa filha e a minha prioridade será sempre mantê-la segura.

Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos negativos e desço do carro, assim que Charles abre a minha porta, na entrada da casa da minha mãe. Toco a campainha e respiro fundo algumas vezes, enquanto aguardo, tendo a porta aberta logo em seguida por Eveline, a Governanta da casa, que não sei por qual razão, eu nunca gostei muito dela.

Eveline Zabat tem uma estatura mediana, usando sempre roupas escuras e conservadoras, estando sempre sisuda e seus olhos castanhos escuros, sempre tão frios e sérios, parece que essa mulher nunca soube o que é sorrir na vida. No entanto, não sou eu que preciso gostar dela e sim a dona da casa, no caso, a minha mãe.

– Boa noite, Senhor Steele.

– Boa noite, Eveline. Onde está a minha mãe?

– Está no quarto. – Ela fecha a porta e volta a me encarar. – Irei avisá-la que o Senhor está aqui, se puder aguardar na sala, por favor! – Eu nego com a cabeça.

– Não é necessário. Eu mesmo irei chamá-la, obrigado. – Atravesso a sala, não dando oportunidade para ela retrucar e subo as escadas.

Enquanto ando pelo corredor, eu percebo o quanto essa casa deixou de parecer um lar para mim. Não tendo mais aquele aconchego e conforto, mesmo que a casa sempre tenha sido imensa, mas antes, apenas por ter a presença do meu pai, tudo se tornava diferente. Hoje está um local triste, escuro, parecendo sem vida. Paro por um momento na porta de um dos quartos e abro-a, vendo que o ambiente, não se parece em nada como o que um dia foi o meu quarto.

Suspiro e retomo o meu caminho, batendo na porta do quarto da minha mãe e assim que ouço sua autorização, abro-a, vendo-a arrumando uma mala e reviro os olhos, pensando que novamente ela irá viajar, aliás, isso é o que ela mais tem feito nos últimos tempos e tenho certeza que terei que fazer mais um depósito em sua conta.

– Mãe! – Ela se assusta e me olha por um momento, antes de sorrir e se aproximar.

– Raymond, por que não ligou avisando que viria? – Ela beija o meu rosto e me abraça, afastando-se rapidamente.

– A Senhora irá viajar de novo? – Ela faz um gesto desdenhoso com a mão e volta ao que estava fazendo antes.

– Eu fico muito entediada nessa casa, por isso uma amiga me convidou para assistir a um desfile em Paris, então eu aceitei, mas ficaremos apenas uma semana fora. – Eu assinto e me sento na poltrona próxima a sua cama. – Mas o que você veio fazer aqui? A sua mulher também veio? – Suspiro ouvindo o pouco caso em sua voz, mas não falo nada.

– Eu vim sozinho, pois precisava conversar com a Senhora.

– Pode falar, estou ouvindo. – Ela fala sem me olhar e resolvo ser direto.

– Por que a Senhora tentou deixar a minha filha desconfortável, insinuando que ela pudesse estar mentindo sobre quem era? – Ela me encara e revira os olhos.

– Sinceramente eu não estou convencida que aquela menina seja a sua filha, Raymond.

– Como não, Mãe? – Levanto-me e me aproximo dela. – A Senhora observou que a Anastásia é praticamente uma cópia minha? Além de ter a mesma marca de nascença que eu e não apenas, mas que o meu pai também tinha. – Novamente ela revira os olhos.

– Isso não quer dizer nada, Raymond. Podem existir várias pessoas parecidas com outras e nem por isso precisam ter algum grau de parentesco e quanto à marca de nascença? Pode ser apenas uma coincidência.

– A Senhora está se ouvindo, Mãe? – Ela para com um vestido, que estava dobrando, no ar, ouvindo o meu tom de voz exasperado e suspira.

– Meu filho, eu não quero que você se iluda e depois volte a sofrer por ter sido enganado por uma golpista, que esperou apenas o tio morrer para reivindicar um lugar que não pertence a ela. – Ela se aproxima e pega a minha mão. – Ela deve ter sido muito bem instruída pelo Rossetti, ainda mais sabendo que você é um dos homens mais ricos do nosso País. – Ela suspira e vejo que realmente está magoada. – Por que você não aceita de uma vez por todas que a sua filha possivelmente esteja morta? Pois se continuar insistindo nisso, depois que ela for desmascarada, outras farsantes surgirão. Eu pensei que você fosse mais inteligente, Raymond. Francamente! – Ela se afasta e eu nego com a cabeça.

– A minha filha não está morta e a Senhora sabe muito bem disso. Eu pensei que a Senhora ficaria feliz por mim, Mãe, por saber tudo que Carla e eu passamos e que agora, depois de 20 anos, eu tenha encontrado a minha filha, mas pelo visto, eu me enganei.

– Se ela for mesmo a sua filha, eu também ficarei feliz por você, meu Filho, mas enquanto isso não seja de fato comprovado, eu ainda irei acreditar que ela não passa de uma aproveitadora e sinceramente, muito me espanta os filhos do Carrick e da Grace acreditarem tanto nessa farsa.

– Tudo bem, Mãe. Se a Senhora quer continuar a negar esse fato, não posso fazê-la pensar diferente, mas, por favor, se encontrá-la novamente, que o episódio que aconteceu na minha casa não se repita, pois a Senhora acreditando ou não, Anastásia é sim a minha filha. – Viro-me para sair do seu quarto, mas paro com a mão na maçaneta da porta, assim que ouço a sua voz.

– Filho, eu quero apenas o seu bem. Pois não quero que você volte a sofrer se aquele exame de DNA, por ventura for negativo. – Eu assinto e olho para ela. – E aquela menina parece ser boazinha demais, perfeitinha demais e ninguém nesse mundo é tão puro e inocente como ela demonstra ser, Raymond. Eu apenas estou preocupada com você e o efeito negativo que isso poderá acarretar na sua vida.

– Mãe, eu não sei como são as pessoas que estão fazendo parte do seu círculo social, mas diferente do que a Senhora pensa, existem sim, pessoas como a Senhora acabou de qualificar e uma prova disso é a minha esposa e a minha filha.

Ela não fala mais nada e eu também não espero que o faça, pois abro a porta e saio do seu quarto e sinceramente? Eu cheguei à conclusão que a minha mãe realmente está diferente, a ponto de eu não mais reconhecê-la, devido as suas atitudes e distanciamento. E constatar isso, apenas me faz sentir ainda mais falta do meu pai, que sempre foi meu amigo e conselheiro, o meu exemplo não apenas profissional, mas ele foi sem dúvida a minha referência de ser humano e o meu eterno herói.

(...)

Aguardar o exame de DNA ficar pronto não foi tão fácil quanto esperávamos que pudesse ser. Não que restasse alguma dúvida que Anastásia fosse de fato a nossa filha, mas por querermos respeitar o seu espaço e dar a ela o tempo necessário para se acostumar com a ideia de ter a sua família biológica por perto, tornou nossos dias mais longos, pois as horas não passavam e os dias pareciam mais como semanas.

Carla sempre perguntava ao William notícias da nossa filha e mesmo nos dizendo que ela estava bem e reagindo melhor do que poderia imaginar ao saber que agora, além da sua família do coração, tem também a sua família de sangue, Anastásia está muito receptiva quanto a essas novas mudanças em sua vida. Apesar de ainda ter receio que o exame possa dar negativo, mesmo com todas as provas que apontam o contrário.

Sempre fui um homem centrado, que pensa primeiro para agir depois, mas saber que a nossa filha está tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe de nós me deixa um tanto quanto ansioso e eu entendo a minha esposa quanto a isso, que desejou tanto ter a nossa filha em seus braços, mas que precisa esperar um pouco mais, justamente porque não queremos de forma alguma que ela se sinta pressionada ou que sinta que estamos impondo nossa presença, forçando uma entrada brusca de todas essas mudanças em sua vida.

Porém assim que o exame de DNA ficou pronto, não pudemos mais nos conter e não pensamos duas vezes em seguir para a casa de Grace e Carrick – que descobrimos que a nossa filha está morando com o namorado –, para abrirmos o envelope que acabaria com todos seus temores e dúvidas quanto a ser nossa filha, porque nós, não tínhamos a menor dúvida quanto a isso.

No entanto ser recebido por ela, assim que a porta foi aberta e ser chamado de pai e mãe, nos fez entender que ela também nos aceitou como seus pais em seu coração, antes mesmo de ter a comprovação que aguardávamos no Exame de DNA, e não há nada que se compare a sensação que essas simples palavras nos causaram. Tão pequenas, mas tão cheias de significados que não conseguimos nos conter e nos entregamos às lágrimas, deixando Grace e Carrick confusos com toda a situação.

– Então quer dizer que além de serem meus amigos, são também os sogros do meu caçula? – Grace fala risonha, assim que nos acomodamos na sala de estar, no momento que ficamos sozinhos, logo após o almoço.

– Quem diria, não é mesmo? Que aquele rapaz triste, frio e amargurado que esteve comigo no México, fosse ser o responsável por trazer a nossa filha para nós e ainda tivesse seu coração transformado e que viesse a ser o meu genro. – Grace olha para a direção da escada e sorri de forma triste.

– Apesar de terem se conhecido numa situação triste, a Ana alcançou o coração do meu filho, na primeira troca de olhar que tiveram.

– Como assim? – Carla pergunta confusa, assim como eu e Grace suspira.

– O Christian conheceu a Ana no dia que o Padre Lutero e o Marco sofreram o acidente, que coincidentemente foi no mesmo dia que ele voltou do México. – Ela fala com pesar e eu suspiro. – A coitadinha ficou devastada, pois naquele momento, ela perdeu as duas pessoas que sempre foram referência paterna na vida dela.

– O que não precisaria ter sido se o Marco não tivesse a tirado de nós. – Falo friamente, sem conseguir me conter e Grace suspira, mas quem responde é o Carrick.

– Ray, eu sei o quanto vocês sofreram e acompanhei tudo durante todos esses anos, mas não se apegue a esse fato e alimente esse ódio todo que consigo ver em seus olhos. – Não falo nada, mas penso em suas palavras, pois até então, eu não havia me dado conta do sentimento ruim que esse assunto me traz. – Pois mesmo que tenha sido sim errado o que o Marco fez, a Ana os amava muito e foram importantes na vida dela, como em sua criação que você pode comprovar que ela é uma ótima menina e com um imenso coração.

– Além de ter a Ângela, que é uma excelente mulher e muito guerreira. Que ama a Ana como se fosse mesmo a sua filha biológica. – Grace completa e, Carla me olha com os olhos marejados.

– Eu sei disso, mas... Quando eu penso que durante todo esse tempo, o Marco esteve na minha casa, acompanhando toda a nossa dor e desespero, vendo todos os Investigadores que contratamos, chegando sempre com negativas antes de desistirem do caso e mesmo assim, se manteve calado, não é fácil de aceitar. – Eles assentem, mas não falam nada. – Principalmente para mim, que o considerava mais do que um Segurança, mas sim um amigo.

– Entendemos a sua revolta, pois o sentimento de ter sido traído por quem você confiava é conflitante mesmo, mas em algum momento, o Marco tentou tirar proveito de vocês, por estar com a Ana?

– Não. Nunca! – E isso de fato me intriga, além de saber o teor das cartas que ele nos enviou e o saldo que há na conta em nome da Anastásia e eu me pergunto de onde veio aquele dinheiro? Penso comigo mesmo.

– Então não seja tão duro, ainda mais com quem não está mais entre nós para poder se defender. – Carrick volta a falar e eu suspiro. – Pense apenas que você tem uma filha maravilhosa, doce, educada, muito carinhosa e que se tudo der certo, se casará com o meu filho e será a mãe dos filhos dele. – Ele completa com um sorriso debochado e eu faço uma careta, o que faz Grace e Carla dar risada.

– Calma aí, meu amigo, foi fácil aceitar que encontrei minha filha e ganhei um genro, por ser um dos gêmeos que eu vi nascer, mas casamento e filhos? Céus! A minha filha é um bebê ainda.

– Bebê, Ray? Sua filha tem 20 anos e é uma linda mulher. – Grace fala e arregalo os olhos, negando com a cabeça. – E não se esqueça de que a sua filha, mora com o meu filho. Você quer que eu diga onde eles dormem? – Ela segura a risada e Carla morde no lábio para não rir da minha cara.

– Meu Deus! Eu não preciso saber disso. – Coloco a mão no peito e sinto um aperto, só de imaginar isso. – Ainda bem que o Carrick é Cardiologista, pois estou sentindo que irei precisar.

– Cardiologista e Cirurgião Cardiovascular, se precisar de um marca-passo, podemos agendar, pois pode escrever o que eu digo que talvez não demore tanto para sermos chamados de "vovô" por alguém correndo por essa casa. – Arregalo os olhos e eles gargalham da minha cara.

– Vocês não valem nada. – Volto a negar com a cabeça, mas acabo sorrindo também.

– Apenas fatos, meu amigo. Apenas fatos.

Encerramos o assunto quando Christian e Anastásia retornam para a sala, sendo seguidos logo depois por Richard e Caleb e sem perceber eu sorrio, pois por mais que eu saiba que eles estejam brincando – ou talvez não –, eu sei que o ciclo natural da vida, não será diferente para a minha filha, ainda mais por ver o quanto ela e Christian estão apaixonados, só espero que eles demorem bastante para ultrapassar as fases desse relacionamento. Acredito que uns 10 anos, esteja bom.

(...)

– Cíntia, eu preciso que você ligue para o Baltazar e cobre a papelada do despacho do carregamento do oleoduto Keystone para o Terminal de Alberta, no Canadá. – Ela faz a anotação e assente. – Esse carregamento está atrasado e eu quero que ele tenha uma boa justificativa para isso ter acontecido.

– Senhor Steele, eu falei com ele um pouco mais cedo, sobre esse atraso e ele disse que o Jungo, o navio-petroleiro, não havia ancorado, mas que já havia ligado no Estaleiro, o que disseram que teve um problema em um dos braços de carga de um dos tanques. – Levo minhas mãos até minhas têmporas e suspiro.

– Essa não é a primeira vez que isso acontece. – Novamente eu suspiro e Cíntia balança a cabeça, afinal, tivemos esse mesmo problema na semana passada. – ligue para o Estaleiro que preciso falar com um dos Engenheiros a respeito disso.

– Sim, Senhor! Mais alguma coisa?

– Quando receber a papelada digitalize e envie para o meu e-mail e pode arquivá-las em seguida. – Ela assente e se levanta, mas antes que eu fale mais alguma coisa, meu telefone começa a tocar e vejo que é minha mãe. – Obrigado, Cíntia e segure a ligação para o Estaleiro, por favor. – Novamente ela assente, saindo da minha sala e eu atendo a ligação.

– Oi, Mãe.

– Onde você está Raymond?

– Onde mais eu poderia estar nesse horário, Mãe? Na Empresa, é claro. – Respondo um pouco irritado, mas suspiro por não ter que descontar nela a minha frustração. – Desculpe-me, Mãe.

– Algum problema, Raymond, para estar tão estressado assim?

– Nada que eu não esteja acostumado, não se preocupe. – Respiro fundo e começo de novo. – Estou saindo para ir para casa agora, pois estou a mais de uma hora atrasado e Carla está me esperando para almoçar. A Senhora está precisando de alguma coisa?

– Sim, preciso que você atenda a Vanessa, que irá à sua casa dentro de uma hora. – Franzo o cenho sem entender, mesmo eu sabendo que elas são amigas.

– E o que ela quer comigo, poderia me adiantar o assunto?

– Ela precisa que você a ajude com algo relacionado à Empresa dela, na verdade ela veio pedir a minha ajuda, mas como você é o detentor do dinheiro, mandei que ela falasse com você.

– Como assim, Mãe? Ajuda? Dinheiro? Não estou entendendo. – Ouço seu grunhido exasperado e sei que revirou os olhos, como se eu fosse um tolo.

– Apenas a atenda, Raymond, que você irá entender, agora eu preciso desligar. – E simplesmente encerra a ligação na minha cara, o que faz com que a minha irritação aumente, ainda mais com os problemas que estou tendo com o oleoduto do Canadá.

Suspiro e passo as mãos em meus cabelos e decido não pensar mais nisso por enquanto. Levanto-me e saio do meu escritório, despedindo-me de Cíntia e entrando no elevador, para me encontrar com Charles no Estacionamento e seguir em silêncio para casa, o que não demora muito para chegarmos.

E depois de me desculpar pelo atraso e saber que William está com a nossa filha – visitando alguns imóveis, o que me deixou um pouco confuso –, Carla e eu almoçamos tranquilamente, onde eu consegui restaurar minhas energias e encontrar minha calma, apenas por estar com a minha esposa, deixando um pouco os problemas apenas para quando eu estiver na SCP.

No entanto, poucos minutos depois de termos almoçado, Margarida entrou na sala para avisar que Vanessa Parker havia chegado e Carla me olha confusa, querendo entender o que essa mulher está fazendo em nossa casa. E dizer que minha Esposa não se agrada com a presença dela seria eufemismo, mas eu preciso atendê-la, justamente por ser um pedido da minha mãe.

– Boa tarde, Querida! – Vejo que Carla segura à vontade de revirar os olhos ao cumprimentá-la, fazendo-me segurar o riso. – Elegante como sempre.

– Obrigada, Vanessa. – Ela se afasta e mede minha esposa de cima a baixo sorrindo, antes de focar sua atenção em mim.

– Raymond, meu Querido. Você não sabe o quanto agradeço por atender o meu pedido. – Ela me pega de surpresa, beijando o meu rosto e Carla franze o cenho, mas não diz nada.

– Na verdade, Vanessa, confesso que estou confuso sobre o motivo que a trouxe aqui, ainda mais assim tão de repente, mas vamos até o escritório. – Ela assente e olho para Carla. – Gostaria de nos acompanhar, meu Amor? – Ela se aproxima e beija os meus lábios, antes de passar os dedos delicadamente por meu rosto e por sua cara, imagino que seja por ter a marca do batom, deixado por Vanessa.

– Não, Amor! Eu irei aproveitar esse tempo para analisar a nova grade de cursos que iremos oferecer bolsas do Instituto Alvorecer. – Eu assinto e sorrio. – Pedirei para servi-lhes um café e água.

– Para mim não é necessário, Querida, obrigada. – Vanessa se pronuncia e olha para mim. – Mas se tiver um whisky, aceitarei com toda certeza. – Assinto e volto a focar nos olhos verdes da minha esposa.

– Eu aceito o café, Amor. – Carla assente e se afasta. – Vamos, Vanessa? – Ela sorri e passa a minha frente, seguindo na direção do meu escritório e eu faço o mesmo, fechando a porta em seguida, iniciando o assunto enquanto sirvo uma dose da bebida para ela. – Então, Vanessa, o que eu poderia ajudá-la? – Ela suspira dramaticamente e aceita o copo da minha mão, bebendo um gole antes de responder.

– Ah, Raymond, você não sabe o quanto estou constrangida em vir a sua casa para falar sobre isso, mas infelizmente eu não tenho mais a quem recorrer. – Ela volta a beber e eu apenas fico em silêncio, aguardando que ela continue. – Eu posso? – Ela aponta para o bar e eu confirmo com a cabeça, vendo-a se levantar e servir uma dose dupla de whisky para em seguida continuar. – Há alguns meses, eu passei por um sério problema financeiro e quase perdi a minha casa e a minha Empresa... – A interrompo por saber sobre isso, inclusive sobre a venda do Estaleiro ao Christian.

– Sim, mas fiquei sabendo que você vendeu a sua parte do Estaleiro, que era do seu pai, e recebeu uma boa quantia por isso.

– Sim, claro. E mesmo assim, a quantia recebida foi suficiente apenas para eu pagar a hipoteca da minha casa e fazer com que a minha Empresa continuasse em funcionamento, porém algumas dívidas ficaram pendentes e apesar de ter conseguido, na época, um prazo com o Banco, eu não consegui liquidar todos os títulos em aberto.

– Certo, mas em que exatamente eu poderia ajudá-la? – Refaço a pergunta, tendo uma ideia do motivo dela estar aqui e novamente ela suspira dramaticamente.

– Aquela Empresa é a minha vida, Raymond. Eu depositei todas as energias que eu tinha e investir inclusive o que eu não tinha para mantê-la aberta, ainda mais por causa dos funcionários que trabalham para mim. – Assinto, mesmo sabendo que ela pode se preocupar com tudo, menos com quem trabalha para ela. – Eu cometi um erro e dei a minha Empresa como garantia ao Banco, pois só assim que eu consegui esse prazo para liquidar o saldo devedor, só que eu não consegui resgatar os títulos.

– Deixe-me adivinhar, você nominou os títulos ao portador, dando ao Banco o direito de cessão e o Banco os repassou. E agora alguém os liquidou e está querendo receber o bem referente aos títulos?

– Sim, foi exatamente isso que aconteceu. – Vejo o ódio cintilar em seus olhos, mesmo que ela mantenha a face com falsa chateação. – O novo Portador dos títulos me deu uma semana para resgatá-los, no entanto o meu prazo se encerrará em quatro dias e depois de conversar com a Alana, ela me sugeriu que eu falasse com você em nome dela, para que talvez, pudesse me ajudar.

– Suponhamos que eu fosse te ajudar, estamos falando de quanto e quais seriam as minhas garantias? – Arqueio uma sobrancelha para ela que bebe todo o líquido do seu copo.

– Quanto à garantia, você seria detentor dos títulos, mas dando-me um prazo para pagar cada centavo que você usar como o meu Investidor.

– E o valor, Vanessa? – Ela engole em seco, antes de responder.

– Um pouco mais de $ 4,5 milhões. – Arqueio a sobrancelha novamente e ela suspira afinal isso é muito dinheiro. – Mas não precisa se preocupar Raymond, se você puder ser o meu Investidor por um tempo, eu devolverei cada centavo, acrescido dos juros e correção monetária. Eu só não posso perder a minha Empresa. – Suspiro e me acomodo melhor na cadeira.

– Eu preciso pensar quanto a isso, Vanessa, pois estamos falando de muito dinheiro. – Ela assente e novamente engole em seco. – Eu preciso analisar esses títulos e falar com o meu Advogado. Você conseguiria uma cópia desses documentos? – Ela pensa por um momento, mas assente. – Ótimo! – Eu me levanto e ela faz o mesmo. – Como o seu prazo está se encerrando, consiga esses documentos ainda hoje que conversarei com a Carla sobre isso e lhe darei uma resposta amanhã, no fim da tarde.

– Você não sabe o quanto fico agradecida, Raymond. E saiba que estou disposta a fazer tudo que você precisar por isso. – Ignoro sua insinuação e caminho na direção da porta, abrindo-a.

– Fique tranquila que eu não preciso de nada, até porque eu disse que iria analisar a situação e não que estou concedendo o seu pedido. – Ela arregala minimamente os olhos, mas assente.

– Mesmo assim eu agradeço, pois sei que por ser um pedido da sua mãe, você está disposto a pensar na possibilidade de me ajudar. – Apenas balanço a cabeça, pois independente de ser um pedido da minha mãe ou não, se não for viável e seguro, eu não atenderei nenhum pedido, principalmente se for considerar para quem seja.

Porém esqueço por um momento os agradecimentos dela e tenho uma surpresa ao chegar à sala e ver a minha filha, que se levanta para receber o meu abraço, mas o olhar de desprezo da Vanessa não me passou despercebido e eu sei que Anastásia trabalha na Empresa dela, mas isso não lhe dá o direito de tratar as pessoas como inferiores apenas por isso, mesmo que ela não saiba quem a Anastásia é. E eu pude conhecer um pouco mais sobre a índole e caráter de Vanessa Parker, quando tentou manchar a reputação da minha filha. O que para mim, é inadmissível um Empregador tentar fazer isso com ex-funcionários, sendo a minha filha ou não. E foi ali, naquele momento que tomei a minha decisão de nem mesmo pensar na possibilidade de investir na Empresa dela.

Mas fiquei muito feliz em saber que quem é o novo detentor dos títulos seja o Christian e que ele tenha tomado uma atitude quanto a isso. E mais uma vez, eu não poderia ficar mais satisfeito em saber que a minha filha tem um namorado que está disposto a fazer tudo por ela, inclusive adquirir algo fora da sua área de atuação apenas por "cumprir promessas" a quem tentar maltratar a minha Princesa.

(...)

– Ray, nossa filha está indo para a casa da Tia com o Christian, não precisamos buscá-la na Universidade. – Carla fala assim que desliga o telefone e me olha preocupada, diante ao meu silêncio.

Durante a nossa conversa, sobre tudo que aconteceu a nossa filha pelo tempo que trabalhou para Vanessa, a sua "tia" ligou, pedindo para marcar o nosso encontro e mesmo que eu tente não demonstrar a minha insatisfação pela proximidade da minha filha com essa mulher, eu não posso negar o pedido dela, ao garantir que teríamos apenas uma conversa, mas não posso negar que isso não me agrada em nada, ainda mais por eles terem mantido Anastásia longe de nós nesses 20 anos.

– Tudo bem. – Carla suspira e se vira no banco, para poder me olhar.

– Ray, eu sei que o que eles fizeram foi errado, mas, por favor, não chegue armado dessa forma, pois a nossa filha ama essa mulher e sabemos que ela sempre foi muito bem cuidada e teve uma excelente criação. – Respiro fundo e pego em sua mão.

– Desculpe-me, meu Amor, mas... Não vou negar que essa situação me desagrade, porém darei um voto de confiança a ela e ouvirei o que tem a nos dizer. – Carla sorri e se aproxima rapidamente selando nossos lábios e seguimos o restante do caminho em silêncio.

Observo o bairro que minha filha morava, assim como a casa, quando o Charles para na porta. E me pergunto por que o Marco deixou que ela tivesse uma vida tão modesta, se havia recursos para fazer diferente, considerando o valor que há numa conta em nome da nossa filha? Não que isso me importasse o local que ela foi criada ou não, afinal, isso não define as pessoas, mas ele poderia ter feito diferente e isso muito me intriga, não vou negar.

– Oi, Mãe! Pai! – Sorrio ao ver nossa filha acompanhada de Christian e beijo sua testa, mas ela me olha intensamente, com seus olhos azuis, tão iguais aos meus, mas tão puros e inocentes, mas que no momento há também apreensão. – Papai, não condene a minha tia antes de ouvi-la, por favor!

– Tudo bem, Princesa. – Ela sorri e se afasta. – Como vai, Christian? Eu fiquei sabendo sobre a promessa que foi cumprida a Vanessa e devo dizer que fiquei muito satisfeito com o que você fez. – Ele sorri de lado e aperta a minha mão.

– Imaginei que sim, afinal, sou um homem de palavra, Raymond. – Assinto por entender suas palavras, que me foram ditas em meu escritório, mas vejo Anastásia revirar os olhos, igual a sua mãe faz e isso me faz sorrir.

– Vamos entrar? A minha tia está nos esperando.

Ela abre a porta e entramos e percebo que por mais simples que a casa seja, é confortável, aconchegante e se parece mesmo com um lar. Observo a estante que há várias fotos da nossa filha, assim como Carla está fazendo com os olhos marejados, e respiro fundo, pois através dessas fotografias eu vejo que nessa família realmente havia muito amor, onde pude ver inclusive o sorriso do Marco tão sincero ao estar com a minha filha.

Ouvir a história da Ângela de fato mexeu comigo, pois perder um bebê, que foi gerado com tanta expectativa em seu ventre, não deve ter sido fácil, pois eu senti essa dor quando soube que o meu bebê havia morrido, antes de saber a verdade sobre o "sequestro". Presenciar o amor que há entre minha filha e Ângela me causa um pouco de inveja, não vou negar, pois ela vivenciou todas as fases, cada evolução, cada nova conquista da Anastásia, nos quais foram tiradas de nós. Mas não posso negar que ela fez de fato por amá-la, como se fosse mesmo a sua filha e não por obrigação.

– Ângela é uma boa mulher, Raymond. – Christian chama a minha atenção, assim que ela saiu da sala para buscar algo que não faço ideia do que possa ser.

– Sim, eu consigo reconhecer isso, agora.

– Eu entendo as suas razões por estar relutante em aceitá-la, Papai, mas... Ela é e sempre será especial para mim, mas não quer dizer que os amarei menos por isso. – Sorrio por sentir o meu coração se aquecer sempre que ela me chama de "papai" e a verdade em suas palavras e assinto.

– Agora eu sei disso, minha Filha.

Ela sorri e vejo o quanto essa menininha é especial, tendo uma luz que irradia a sua volta, deixando inclusive o namorado com um sorriso bobo nos lábios, mas não falo nada, apenas nego com a cabeça por ver o quanto esse rapaz mudou em tão pouco tempo.

– Eu sei que não é a mesma coisa, mas eu fiz isso para vocês, poderem acompanhar um pouco do crescimento da Ana. – Ângela aparece com alguns álbuns de fotografias e entrega para Carla. – Este envelope é para você, Borboletinha, mas você já sabe o conteúdo dele, pois o Marco deixou outro semelhante no Banco que você já recebeu. – Minha filha assente e mesmo assim abre o envelope. – E este é para o Senhor, junto com essa caixa. – Ela se aproxima cautelosa, entregando-me e respiro fundo, pois não posso continuar agindo assim, não depois de saber tudo que aconteceu.

– Apenas Raymond, Ângela. Vamos deixar esse Senhor de lado, pois independente do que aconteceu, seremos família agora. – Ela assente, ainda envergonhada, e vejo o sorriso da minha filha e esposa e abro o envelope, mas volto a fechá-lo rapidamente, com as poucas palavras que continham na primeira folha.

Vejo Christian arquear uma sobrancelha, mas não falo nada e ele entende pelo meu olhar que não é o momento para perguntas. Analiso a pequena caixa e franzo o cenho por um momento, por tê-la visto alguns anos atrás e abro-a, ofegando com o conteúdo, chamando a atenção de todos para mim. Sem conseguir controlar, os meus olhos marejam e lembro-me das palavras do meu pai, quando eu disse que pediria a Carla em casamento, da última vez que o vi com vida, antes de voltar para Boston.

– O que é isso, Pai? – Ele fechou o cofre e se aproximou com a caixa na mão, entregando-a para mim.

– Essas joias foram da sua avó, as primeiras que meu pai conseguiu comprar quando a SCP começou a ter lucros. Ele disse que se não fosse por sua avó, dando a ele o apoio que precisava, enfrentando as dificuldades ao lado dele, nada que conseguiu realizar seria possível e não teríamos o que temos hoje. – Ele sorriu saudoso e eu fiz o mesmo, pois pouco me lembrava do meu avô, mas sabia que era um homem incrível. – Ele disse que a primeira pessoa a receber algo tirado do seu trabalho, deveria ser a esposa dele e agora elas serão suas.

– O que é... – Parei de falar ao abrir a caixa, surpreendendo-me com o que havia nela. – Pai, eu não posso aceitar isso. – Tentei devolver e ele negou com a cabeça.

Dentro da caixa havia um conjunto de joias em safiras e diamantes, sendo um berloque com o brasão da nossa família, uma presilha de cabelo em formato de borboleta e uma meia aliança com cinco safiras e quatro diamantes.

– Não só pode aceitar como vai! – Ele falou decidido, mas sem deixar de sorrir. – Só me prometa que essas joias sempre irão fazer parte da nossa família, então se for presentear a mulher que pretende se casar, tenha certeza que ela é mesmo à mulher da sua vida, ou quem sabe será para a sua futura filha. – Sorri e neguei com a cabeça, pois não havia nem me casado e meu pai estava falando de netos.

– Tudo bem, eu aceito, Pai. – Levantei-me e o abracei. – E prometo que elas sempre estarão na nossa família.

– Ray, Amor? – Levanto o olhar ouvindo o chamado da Carla e vejo que estão todos me encarando e só então percebo que tenho lágrimas deslizando por meu rosto.

– Desculpem-me, mas isso... Isso foi um presente do meu pai, que eu pensei que estivesse com a minha mãe. – Eles ficam sem entender e respiro fundo, secando o meu rosto. – Elas estavam no cofre da minha casa e só o meu pai e eu tínhamos acesso a ele. E se estavam com o Marco, então foi o meu pai quem as entregou a ele. – Eles continuam confusos e me levanto, aproximando e ajoelhando-me na frente da minha filha. – Acho que hoje eu sei o porquê do Marco te chamava de Borboletinha. – Retiro a presilha de cabelo e coloco em sua mão. – E assim como essa presilha, eu quero que você fique com essas joias. – Ela arregala os olhos e nega com a cabeça.

– Eu não posso aceitar isso, Pai! Isso é... Não, de jeito nenhum! – Sorrio e pego em sua mão.

– Esse presente foi deixado para que eu presenteasse a mulher que eu me casasse, ou a minha filha, mas devido a tudo que aconteceu e as circunstâncias que elas voltaram para as minhas mãos, eu quero que você fique com elas. – Ela tenta negar, mas aperto delicadamente a sua mão. – Aceite como um presente do seu avô, por mim. – Ela olha em meus olhos, suspira e assente.

– Tudo bem, Pai. Obrigada. – Beijo a sua mão e me levanto, recebendo o sorriso da minha esposa.

– Só me prometa uma coisa, Filha. – Ela desvia o olhar das joias, e assente. – Que você sempre irá mantê-las em nossa família. – Ela se levanta e me abraça.

– Eu prometo Papai! – Aperto-a em meus braços e suspiro feliz de ter a minha Princesa comigo e agora, com um presente que foi deixado pelo homem que foi tão importante na minha vida, o meu pai.

(...)

Depois de sairmos da casa da Ângela, despedimos da nossa filha e nosso genro, para logo seguirmos para a nossa casa e não pude deixar de pensar no envelope que estava em minhas mãos e agradeço por Carla não ser tão curiosa quanto eu, pois em momento algum ela questionou o seu conteúdo e muito menos o motivo para que eu me trancasse no meu escritório.

Respiro fundo e abro o envelope, vendo o aviso que me fez fechá-lo novamente, onde dizia "Não abra na presença da Anastásia. Esteja sozinho quando o fizer". Analiso o conteúdo e vejo um bilhete, mas o deixo de lado por um momento, por algo chamar a minha atenção, contendo a letra do meu pai.

'Marco,

Você sabe o quanto confio em você e por essa razão deixo essa caixa e o conteúdo dela para que seja entregue ao meu filho, mas peça a ele que a guarde para que seja dado a minha neta quando ele achar conveniente'.

– Pelo visto pensávamos iguais quanto a isso, Pai, pois foi justamente para a sua neta que eu entreguei. – Sorrio triste por falar sozinho, quando na verdade eu queria estar falando com ele e continuo lendo.

'Estarei viajando no fim de semana para encontrar com o Raymond e contar a ele que será pai, pois eu sei que a Carla não irá dizer nada, até que ele se forme, mas é direito dele saber sobre a gravidez da mulher que ama. No entanto, sabemos que Carla está entrando no nono mês de gestação e diante a isso, quero que você fique atento a ela. E prometa que irá protegê-las, com a sua vida se for necessário, mas não as deixem sozinhas, até que Raymond esteja com a sua família ou que eu retorne de Boston.

Ainda não posso dizer com detalhes sobre aquele assunto, mas terei certeza quando retornar, pois eu o conheço e sei que não hesitará em tomar medidas legais sobre o caso, mas até lá, confio à segurança da minha família e da família que meu filho está formando em suas mãos, então não me decepcione, Rossetti, e isso é uma ordem.

Lorenzo Steele'.

Sorrio mais uma vez, pela ordem no final da carta, pois o meu pai era o homem mais gentil que eu poderia conhecer em se tratando dos seus funcionários, mas não posso deixar de pensar que o meu pai sabia sobre a gravidez da Carla e era sobre isso que ele queria conversar comigo.

No entanto, sobre que assunto ele dizia ao Marco, que não poderia ainda entrar em detalhes? E contra quem o Marco deveria proteger minha mulher e minha filha? Sabendo que não irei ter essas respostas, eu continuo vendo o conteúdo do envelope e franzo o cenho, por ver algumas notas fiscais da minha Empresa – antigas e de poucos meses atrás –, porém algumas originais e outras que poderiam ser cópias se não estivessem superfaturadas.

Vejo fotos de um homem conversando com os meus funcionários do oleoduto de Alberta, de Michigan e Texas, porém em todas as fotos, não consigo ver o homem nitidamente, por estar usando uma capa preta e longa, óculos e chapéu. Há também uma mulher esguia, que se mantém de costas e se não fossem os saltos altos, eu não diria que fosse de fato uma mulher. Pego o bilhete que deixei de lado e vejo que foi escrito por Marco, contendo poucas palavras.

'Raymond, de onde saíram essas provas, há muitas outras, porém não darei a oportunidade de você colocar a sua vida e da sua família em risco tentando buscar por respostas. Eu sei que não posso exigir muito de você depois de tudo que aconteceu, mas confie em mim e se algo me acontecer, confie no Capitão de Polícia, Augusto Loretto, pois ele é um grande amigo e poderá te ajudar a encontrar o culpado por querer fazer mal a sua filha, mas façam isso sem fazer alardes.

Estive muito perto do responsável, mas sei que ele não está trabalhando sozinho. Eu sou bom no que faço, mas quem está por trás disso também é. E por alguma razão, há algo contra você e a forma de atingi-lo é através da sua filha. Fique atento aos seus funcionários, pois eu descobri que há pessoas infiltradas na sua Empresa, não sei quem são, pois quando me aproximei, recebi ameaças, mas fique tranquilo, que até então, ninguém sabe que Anastásia está viva, mas cuidado! O perigo está mais próximo do que você possa imaginar.

Marco Rossetti'.

– Que ótimo! Mais enigmas para poder resolver. – Resmungo comigo mesmo e dobro a carta e o bilhete. – Não seria mais fácil, você e o meu pai, terem falado com clareza sobre tudo isso e acabar de vez por todas com esse possível perigo? – Devo estar ficando mesmo maluco, por brigar com quem não pode mais me ouvir.

Mas uma coisa é certa, estão usando a minha Empresa para ganhar dinheiro e irei descobrir quem está fazendo isso, assim como quem é a pessoa que quer fazer mal a minha filha. E que Deus tenha piedade de quem for, por que eu, não terei nenhuma.

Eita! Que foram várias revelações! Ou talvez, nem tantas... Ainda 😏😏!

Vixi! E agora? Quem serão esse homem e essa mulher? Eu que não sei de nada 🤭🤭!

Ps.: O capítulo ficou enorme (8.568 palavras), mas eu não quis dividi-lo dessa vez, então desculpem-me por isso 🤭🤭.


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