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Capítulo - 66

Seattle – Agosto/2017

Nunca imaginei que um dia iria sair de Portland, o local que morei por 32 anos, desde que meus pais se mudaram da Itália e se aventuraram a morar nos Estados Unidos, sendo Oregon o nosso novo lar. Foi o local que me apaixonei a primeira vez, me formei em Enfermagem, me casei, enterrei os meus pais – cedo demais – e tive os meus filhos. Um local cheio de memórias, boas, ruins e também onde tive os meus recomeços.

Mas justamente focando nos recomeços que decidimos nos mudar, quando Anastásia foi aceita na Universidade de Seattle para cursar Administração com uma bolsa integral – o que tínhamos certeza que não seria diferente, pois ela se preparou muito para isso –, o que está sendo motivo de preocupação do Padre Lutero e do Marco desde que ela recebeu as cartas de admissão, há três meses.

– Marco, não seria melhor ter convencido a Ana a fazer Literatura Inglesa e dessa forma permaneceríamos em Portland? – Apenas fico ouvindo a conversa deles, enquanto estão sentados à mesa da cozinha e eu continuo lavando a louça do almoço.

– E qual o argumento que usaríamos Tio Lutero? Se Administração era realmente o que ela queria? Ainda mais que ela ganhou uma bolsa integral, o que obviamente ela não precisaria se preocupar com isso se o Senhor não fosse um cabeça-dura e usasse o dinheiro que é dela. – Padre Lutero suspira, pois eles sempre têm essa conversa.

– Marco, eu já falei que com o que temos, nós conseguimos mantê-la e a menos que seja de extrema urgência, não iremos mexer naquele dinheiro.

– Tio Lutero, pelo amor de Deus! O dinheiro pertence a ela. – Marco passa a mão nos cabelos curtos e respira fundo, encarando o tio. – Como vocês irão fazer? O custo de vida em Seattle é mais alto que em Portland, o Senhor pediu dispensa do Sacerdócio, não receberá mais a Côngrua, a Ângela também pediu demissão do Hospital que trabalhava. Sinceramente, eu não quero que ela passe nenhuma dificuldade e muito menos vocês. – Suspiro e resolvo interromper essa discussão deles, que sempre se repete pelo mesmo motivo.

– Marco, eu tenho as minhas economias e quando eu perceber que não será mais suficiente, Seattle é grande, há vários Hospitais e tenho certeza que conseguirei alguma coisa, ou até mesmo Enfermeira particular de alguém se for o caso. – Além do dinheiro que você deposita em minha conta, completo em pensamento encarando-o, mas ele entende.

– Tudo bem. – Ele não insiste mais no assunto e coloca café em sua xícara, mas sei que está preocupado com mais alguma coisa.

– O que mais está te preocupando, Marco? Tenho certeza que não é apenas o fato de poder faltar alguma coisa para Anastásia. – Ele suspira e bebe um gole do seu café.

– Como você disse, Seattle é grande, mas ainda assim tenho medo que os pais da Ana a encontrem antes do previsto.

– Mas caso isso acontecesse e por ventura eles se cruzassem na rua, não teria como eles saberem que ela é a filha deles, Marco. – Ele dá uma risada sem humor e nega com a cabeça.

– Acredite em mim, Ângela, eles saberiam. – Fico confusa e ele suspira. – No início até poderia ser considerado apenas uma suspeita, mas Anastásia é uma cópia fiel do pai dela, os mesmos cabelos, os olhos, os traços do rosto, a marca de nascença que ela tem nas costas e arrisco dizer que até mesmo o gênio obstinado e a curiosidade aguçada que ela tem, são herança do pai, mas com a delicadeza e a doçura da mãe.

– Mas então por que você permitiu que ela viesse para Seattle?! – Refaço a pergunta do Padre Lutero um pouco alarmada, mesmo não entendendo de fato os seus motivos, mas antes que ele responda ouvimos a porta da sala ser aberta, nos fazendo calar.

– Tia Ângela! Padre Lutero! Cheguei! – Ana entra na cozinha e vê o Tio que se levanta para recebê-la em seus braços. – Tio Marco! Eu estava com saudade. – Ela se aconchega nos braços do tio, que sorri sentindo o carinho da Borboletinha dele.

– Eu também estava minha Princesa!

– Hoje foi o primeiro dia de aula, mas foi tão bom e bem diferente do que eu pensei Tio. – Ela fala com um imenso sorriso nos lábios. – Os estudantes na Universidade são um pouco diferentes de Portland, mas eu conheci algumas pessoas e tenho certeza que seremos bons amigos.

– Eu fico feliz que você esteja fazendo amizades, Borboletinha. – Marco beija a testa dela e volta a abraça-la.

– Sim, no início eu fiquei envergonhada, porque eles já se conheciam, mas em momento algum eles fizeram com que me sentisse deslocada. – Ela se afasta e continua muito empolgada. – O Pietro estuda na minha sala, que é irmão da Eloise, o William que é namorado da Eloise faz Medicina e é mais sério, já o Caleb, que também faz Medicina, é muito palhaço e dramático. – Ela dá risada, mas vejo Marco arregalar minimamente os olhos, mas eu só percebi por estar de frente com ele. – Eu vou tomar um banho e daqui a pouco eu volto. – Ela dá um beijo na bochecha do Tio, faz o mesmo com o Padre Lutero e comigo e sai correndo da cozinha.

– Marco?

– Respondendo a sua pergunta anterior, é por causa daquele sorriso que eu não poderia jamais impedir que ela viesse para Seattle.

– Mas... – Incentivo, pois consigo perceber que há algo a mais na reação dele.

– Só pode ser ironia do destino ou muita coincidência, pois os novos amigos que ela mencionou... – Ele suspira, balançando a cabeça quando se interrompe. Olha para o corredor e volta a se sentar. – Um deles é primo dela. – Ele fala num tom de voz mais baixo, eu arregalo os olhos e o Padre Lutero permanece calado, apenas encarando o sobrinho.

– Primo? Como você pode afirmar isso? – Faço a pergunta no mesmo tom e Marco suspira.

– Esqueça esse assunto, eu já falei mais do que deveria. – Ele bebe o restante do café de sua xícara e faz uma careta por estar frio e olha para o Tio, como se conversassem pelo olhar, me deixando perdida. – Tio, o Senhor mesmo sempre diz que tudo acontece na hora que tem que acontecer, no entanto, enquanto eu puder evitar o inevitável, eu farei, mesmo que isso consuma um pouco mais a minha alma quando tiver que encará-los.

– Você sabe a minha opinião quanto a isso e o que você deveria fazer. – Padre Lutero fala sério e o sobrinho nega com a cabeça.

– Tio, estamos nisso há 18 anos, não posso simplesmente chegar e falar, "Desculpem-me por tudo, mas aqui está a filha de vocês e espero que me perdoem". Não dá Tio Lutero, pelo menos não ainda, eu prometi que a protegeria e é o que irei fazer.

– Eu só espero que você saiba o que está fazendo, Marco. – Padre Lutero se levanta, saindo da cozinha e vejo Marco suspirar.

– Eu também espero Tio Lutero. Eu também espero. – Ele murmura mais para si e se levanta. – Ângela, avise a Ana que precisei voltar para o trabalho, depois eu volto para vê-la. – Ele pega o paletó no encosto da cadeira, vestindo-o.

– Marco, eu sei que não devo fazer perguntas, mas... Me conta pelo menos quem são os pais dela? – Ele suspira e coloca uma espécie de fone no ouvido esquerdo.

– Na hora certa você irá saber Ângela, mas por ora, esqueça essa história. – Ele segue para a sala e eu o acompanho.

– E sobre os amigos que ela mencionou? E esse primo dela, o que deveremos fazer? – Ele nega com a cabeça e olha na direção do quarto dela que está com a porta fechada.

– Nada acontece por acaso, Ângela. Aprendi isso com o meu pai e o Tio Lutero. – Eu assinto, pois também ouço muito isso do Padre Lutero. – Por isso, se assim o destino quis que ela o encontrasse e fizesse amizade com pessoas próximas a ele, alguma razão deve ter, mas ela está muito feliz em poder fazer novos amigos e eu jamais tiraria isso dela.

Novamente assinto e ele se despede indo embora e eu suspiro, pois eu também acredito que tudo nessa vida tem um propósito, só basta sabermos desvendá-lo e aceita-lo no momento certo.

(...)

Setembro/2018

– Quem era na porta, Ângela? – Ouço a voz do Padre Lutero e viro-me, percebendo que ainda estava parada na porta depois de fechá-la.

– Era o Senhor Fontana. – Ele assente e aguarda que eu continue. – Veio avisar sobre o reajuste anual e perguntar se iremos renovar o contrato por mais um ano, mas eu já confirmei e ele irá trazê-lo no próximo mês que vir receber o aluguel. – Ele assente e suspira, sentando-se no sofá.

– Eu havia me esquecido sobre isso. – Ele volta a suspirar e sento-me ao seu lado. – As finanças estão ficando apertadas, não é Ângela? Mesmo com o dinheiro que o Marco deposita na sua conta. – Eu arregalo os olhos por ele dizer isso.

– Padre Lutero, eu sei que o Senhor disse que... – Ele nega com a cabeça e pega em minha mão, interrompendo-me.

– Não se preocupe minha Filha, eu sou velho, mas não sou estúpido e eu sabia que apenas as suas economias não seriam o suficiente para cobrir todas as despesas durante esse ano que passou. E eu ouvi da última vez que o Marco esteve aqui, quando avisou sobre o depósito.

– Desculpe-me, Padre Lutero, eu não quero que o Senhor pense que estávamos agindo por suas costas, mas... – Novamente ele me interrompe com um sorriso singelo nos lábios.

– Você não tem que se desculpar Ângela, eu sou cabeça-dura, mas sei reconhecer quando vocês têm razão.

Suspiro, aliviada, mas antes que eu fale mais alguma coisa, ouvimos batidas na porta e franzo o cenho, pois Ana tem a chave, assim como o Marco, então só pode ser o Senhor Fontana que deve ter se esquecido de falar alguma coisa e é o que respondo para o Padre Lutero que me olha confuso.

– O Senhor Fontana deve ter esquecido alguma coisa. – Ele assente e levanto-me para atender, mas as batidas ficam mais bruscas e acho isso estranho, porém tenho uma surpresa assim que abro a porta. – Thaís!

– Nossa! Que demora foi essa para abrir a porcaria da porta? – Ela fala seca e fica me encarando, o que ainda estou sem reação. – Não vai me deixar entrar? Estou cansada e quero dormir. – Afasto da porta e ela entra, arrastando sua mala.

– Filha, onde você esteve por todo esse tempo? Por que não ligou avisando que viria? – Pergunto quando o choque inicial passa e ela para no meio da sala, mas me encara com tédio.

– Eu estava por aí, mas não vem ao caso agora e se eu já tinha o endereço daqui, então eu iria ligar para quê? Essa é boa! Eu ter que ligar para avisar quando iria para casa. – Ela desdenha e se senta no sofá sem nem mesmo cumprimentar o Padre Lutero. – Pelo menos você escolheu uma casa grande, pena que é no subúrbio, tão longe do Centro.

– Como você está, Thaís? – Padre Lutero pergunta polidamente e ela cruza as pernas de forma despreocupada e vejo o quanto minha filha está diferente.

Vestindo roupas extremante curtas e apertadas – e aparentemente caras –, usando maquiagem pesada e com os cabelos mais longos, mas percebo também que está mais arrogante e isso machuca o meu coração por ver que ela ficou três anos longe de mim e nem mesmo um abraço ou um "Como vai Mãe?", eu ouvi de sua boca.

– Poderia estar melhor se estivesse na casa que era do meu pai, mas por enquanto irei sobreviver. – Suspiro por ver que ela está diferente em tudo, inclusive mais sem educação. – Onde está aquela Bastarda? – Ela pergunta olhando para suas unhas bem feitas e eu nego com a cabeça.

– Thaís, não começa com isso, por favor! – Ela revira os olhos e se levanta, pegando a sua mala.

– Tanto faz. Onde é o meu quarto? Estou cansada, quero tomar um banho e dormir. – Ela começa a arrastar a mala e caminhar pelo corredor, abrindo à porta do quarto da Ana.

– Esse é o quarto da Ana, você terá que dividir o quarto comigo por enquanto.

– Você só pode estar brincando, não é? – Ela me encara raivosa e eu suspiro.

– Não, minha Filha, eu não estou. Se você tivesse avisado que viria, teríamos arrumado o quarto que está vazio, mas hoje ele está sendo usado como despensa, então até que possamos arrumá-lo, você irá dormir comigo. – Pego a sua mala e sigo para o meu quarto, colocando-a sobre a uma cadeira no canto da parede.

– Eu não posso acreditar nisso. – Ela exalta o tom de voz e entra no cômodo, analisando-o. – O quarto da rejeitada é maior que o seu e eu ainda terei de dividi-lo com você?

– Thaís, será apenas por alguns dias, até que possamos arrumar o outro. – Saio do quarto e ela me segue irritada.

– Pelo visto aquele Estorvo continua tendo privilégios nessa casa, pois o que parece, nem mesmo estava esperando que eu viesse morar com você, sendo que nem teve a decência de arrumar um quarto para mim. – Ela fala alterada e eu respiro fundo.

– Thaís, você fica três anos longe de casa, não sei onde e muito menos com quem. Não me liga, a não ser para pedir dinheiro. Chega e nem um "Oi, Mãe! Tudo bem?", me diz. Não liga avisando que está vindo para casa e ainda se acha no direito de cobrar alguma coisa? – Ela me olha com mais raiva ainda e nego com a cabeça, suspirando chateada.

– Primeiro que quem saiu da minha casa, a casa que era do meu pai, para vir atrás daquela bastarda foi você! Segundo, eu não tenho que dar satisfações de onde estava e muito menos com quem eu estava, pois sou maior de idade e faço o que bem entender e é a sua obrigação estar com tudo pronto para quando eu quisesse aparecer e morar nesse fim de mundo, pois nem em um lugar decente vocês prestaram para arrumar uma casa! – Ela fala com tom de voz mais alto e fico sem reação.

– Thaís, tenha mais respeito com a sua mãe. – Padre Lutero se levanta nervoso, e eu sinto meus olhos marejarem, pois minha filha acabou de chegar e já está arrumando confusão.

– Padre Lutero, não se meta que a conversa aqui é entre essa mulher, que diz ser minha mãe e eu, não com você. – Ela olha para ele com deboche. – Se é que posso te chamar de Padre, pois parece que você deixou de ser um, para vir atrás daquela órfã rejeitada.

– Thaís! – Respiro fundo, controlando o nó que se formou em minha garganta, e ela me olha entediada, apesar de ver que está com raiva, no entanto ouvimos a porta se abrir e vemos Ana, que está surpresa ao olhar para Thaís.

– Olá, Rejeitada, eu estou de volta.

Fico constrangida com o sarcasmo e acidez nas palavras da minha própria filha ao conversar com a Ana, que não faz nada além de ser educada e carinhosa, como sempre. E no momento que ela vai para o seu quarto, dizendo que tem um trabalho da Universidade para fazer eu cheguei a uma conclusão que nada será como antes, principalmente por ver o ódio no qual Thaís encara a Ana e não entendo o porquê disso, mas não posso negar que eu esteja feliz – mesmo minha filha sendo como é – por saber que ela está bem e que está em casa, comigo. Eu só espero que tudo possa dar certo e que ela seja capaz de entender que eu amo as duas igualmente e que esses sentimentos negativos que cultiva em seu interior é completamente sem fundamento.

(...)

Novembro/2018

Às vezes eu me pergunto como tantas coisas podem acontecer em apenas dois meses, pois num momento tínhamos nossa rotina pré-estabelecida desde que nos mudamos para Seattle. Era tudo sempre muito calmo, descontraído, leve e harmonioso. No entanto, desde que a Thaís veio morar conosco tudo está um completo caos.

E não vou negar que agradeço muito por Ana ter escutado a minha conversa com o Padre Lutero, num momento de desabafo na cozinha, quando falávamos sobre as finanças e três dias depois, ela chegou – o que nos fez passar um susto, obviamente, por ela ter demorado a voltar para casa –, dizendo que iria começar a trabalhar, pois dessa forma ela não ficaria tanto tempo na companhia da toxicidade da Thaís.

Ter que assumir isso me dói tanto, mas essa é a minha realidade. Ter que ver a minha própria filha ser tão cruel com a minha filha do coração, que apenas tenta ignorar por mais que eu consiga ver o quanto isso a machuca. Ana sempre foi uma pessoa doce, carismática que conquista a todos com o seu jeitinho meigo e delicado, mas quem não a conhece, não sabe o quanto aquela menina é forte e determinada, mesmo que tenha um grande coração a ponto de perdoar com tanta facilidade, como ela faz.

Sinto o meu coração sangrar por me lembrar das palavras rudes da Thaís, quando tentou me forçar a escolher entre ela e a Ana, o que isso jamais iria acontecer, pois independente do motivo que Anastásia esteja conosco e mesmo que não tenha sido gerada em meu ventre, eu jamais seria capaz de fazer essa escolha, pois amo as duas sem distinção. Uma por ser a minha filha e a outra por ter me conquistado desde o momento que a amamentei pela primeira vez, quando a acolhi em meus braços e que me fez emergir do mar de tristeza que eu me enfiava.

Suspiro negando com a cabeça e me olho mais uma vez no espelho, vendo se estou apresentável para a entrevista de emprego que terei daqui a duas horas. A princípio eu achei que seria fácil conseguir uma vaga depois de entregar tantos currículos, inclusive no maior e mais renomado Hospital de Seattle, o Grey Hospital and Medical Center, mas não foi bem assim que aconteceu.

Depois de muito aguardar para ser chamada, resolvi ir a uma Agência de Empregos e havia uma vaga como Enfermeira Particular e devo dizer que fiquei um pouco receosa, pois o salário é relativamente alto, mas não havia detalhes sobre o que seria exigido do profissional. A única coisa que foi informada é que a vaga está sendo oferecida por Matteo Sawyer, um Empresário atuante na área Metalúrgica, além disso, mais nada.

– Thaís! – Bato na porta do seu quarto e ela não responde e não acredito que ela ainda esteja dormindo. – Thaís, abre a porta! – Ouço seus xingamentos antes mesmo do barulho da chave girando na fechadura e porta ser aberta abruptamente.

– Mas que droga! Posso saber o motivo dessa gritaria a essa hora da manhã? – Nego com a cabeça por ver que ela não tirou nem a maquiagem para dormir.

– Manhã, Thaís? São exatamente 12h00.

– Fala logo o que você quer, pois quero voltar a dormir. – Suspiro, afinal eu não posso discutir com ela e correr o risco de me atrasar.

– Estou indo para uma entrevista de emprego agora e o Padre Lutero ainda não chegou, por isso quando ele chegar aqueça o almoço e faça o favor de lavar as louças depois.

– Eu não acredito que você me acordou para isso? Ah tenha dó! Não sou empregada de ninguém, se ele quiser comer que faça.

– Thaís, até quando você vai ficar agindo assim? – Ela apenas me olha, mas não fala nada. – Você tem 25 anos, minha Filha, e não a vejo pensando no seu futuro.

– Claro que penso! Mas não se preocupe com isso, pois é justamente pensando no meu futuro que irei dormir e sairei mais tarde, não sei se volto para casa hoje. Agora se era só isso, vá procurar o seu emprego e me deixe em paz. – Ela bate a porta na minha cara e engulo o nó que está querendo sufocar a minha garganta, por ouvir as palavras dela, mas não quero pensar nada negativo, apesar de ser inevitável.

Respiro fundo e volto para o meu quarto, pego a minha bolsa, saindo de casa logo em seguida e espero muito que eu consiga esse emprego, pois não quero chegar a ponto de deixar tudo sob a responsabilidade da Ana e do Marco, ainda mais tendo uma filha como a minha dentro de casa.

(...)

Sempre tive uma vida modesta, apesar de confortável e nunca ter nos faltado nada, mas nunca almejei fortuna ou fui uma pessoa de com grandes ambições, talvez por essa razão, chegar ao endereço que me foi informado e ver a opulência da mansão, assim que os Seguranças liberam a minha entrada, me deixa um pouco embasbacada.

Sigo pelo caminho de pedras apreciando a grama tão verde, o jardim florido e ouço barulho de água. Fecho os olhos por um minuto, ouvindo a calmaria que esse som traz. Assim que abro os olhos, viro-me para onde estava ouvindo a água e um pouco distante, vejo uma fonte jorrando, feita de pedras simulando uma cascata. Simplesmente linda! Mas acelero meus passos, apesar de não estar atrasada, toco a campainha e logo sou recebida por uma Senhora de sorriso acolhedor, que presumo ser a Governanta da casa.

– Boa tarde!

– Boa tarde! Sou Ângela Molina e tenho uma entrevista com o Senhor Matteo Sawyer às 14h00.

– Seja bem-vinda, Senhora Molina, eu sou Dora Velasques, a Governanta do Senhor Sawyer. – Ela sorri e abre passagem para que eu entre e a acompanhe até a sala. – Sente-se e fique a vontade, assim que ele concluir a entrevista em andamento, a levarei até o escritório.

– Obrigada.

Ela sorri, saindo em seguida e eu observo o ambiente tentando acalmar o nervosismo que me domina no momento, parecendo que estou aguardando para a minha primeira entrevista de emprego – o que poderia ser considerado, levando em conta que meu único emprego, eu permaneci nele por mais de 22 anos –, mas por alguma razão sinto-me inquieta. Talvez seja por não saber exatamente sobre o que se refere à vaga que está sendo oferecida, no entanto eu sei que sou uma boa profissional e seja o que for, estou mais do que preparada para executar o meu trabalho com excelência.

Enquanto aguardo, passo meus olhos pela sala e minha atenção se prende as fotos do aparador. Levanto-me, aproximando-me, onde vejo um casal e um bebê muito lindo com seus cabelos loiros e olhos azuis. Há algumas com ele na fase da adolescência, ao lado de sua mãe – pelo menos imagino que seja –, apesar de não se parecer muito com ela, além do sorriso, diferente do que tenho certeza ser o seu pai, pois são muito parecidos, estando em outra foto, mas na fase adulta.

Prendo minha atenção por tempo além do considerado necessário em uma fotografia, pois pai e filho chamam a minha atenção, onde consigo ver uma sombra de tristeza em seus olhos e o sorriso em seus lábios não parece ser tão sinceros como nas fotos mais antigas. Observo um pouco mais e vejo uma Senhora de idade, muito bonita e elegante, sendo abraçada pelos dois homens, onde o mais jovem está vestindo uma farda, que se eu não estiver enganada é da Marinha, pois já vi muitas vezes o Marco usando uma idêntica a essa, antes de começar a trabalhar como Segurança particular.

Assusto-me assim que ouço passos e vozes se aproximando e volto a me sentar e tenho certeza que Ana estaria rindo de mim se estivesse aqui, pois estou agindo como ela nesse momento, uma verdadeira curiosa. No entanto acompanho com o olhar o momento que a Senhora Velasques caminha ao lado de uma mulher até a porta – e imagino que seja a candidata que estava sendo entrevistada –, abrindo-a e se despedindo, para em seguida focar a sua atenção em mim, com um sorriso polido em seus lábios.

– O Senhor Sawyer irá atendê-la agora, Senhora Molina. Poderia me acompanhar, por favor?

Sorrio constrangida, como se ela tivesse visto que eu estava olhando as fotografias sobre o aparador, levantando-me, pegando a minha bolsa e pasta sobre o sofá, acompanhando-a para o interior da casa. Por alguma razão sinto o meu coração acelerar, por imaginar que poderei ver um dos dois homens daquelas fotos, mas tento respirar calmamente na tentativa falha de controlar meu nervosismo.

Porém quando ela dá uma batidinha na porta, abrindo-a em seguida, sinto o ar me escapar por ver que fotografia nenhuma, faria jus ao homem que está em pé, do outro lado da mesa, usando um suéter azul sobre uma camisa branca, com os olhos azuis e cabelos loiros – apesar de ver alguns fios grisalhos –, pois ele é muito mais bonito pessoalmente.

– Obrigado, Dora, acredito que não teremos mais nenhuma candidata por hoje. – Sinto um arrepio percorrer o meu corpo, assim que ouço a sua voz, profunda e levemente rouca e acho estranho isso, mas ignoro, observando-os.

– Tudo bem, Matteo, se precisar de alguma coisa, basta interfonar. – Ele lhe dá um sorriso de lado e ela se retira, deixando-nos sozinhos, e ele, estende a mão em minha direção.

– Ângela Molina, correto? – Aperto sua mão e assinto.

– Correto, Senhor Sawyer.

– Sente-se, por favor.

– Obrigada.

Solto sua mão, ao me dar conta que ainda a segurava, sentando-me conforme solicitado. Pego o currículo da minha pasta, mesmo sabendo que a Agência de Empregos deve ter enviado para ele, mas mesmo assim, o entrego.

– Bom... – Ele pigarreia e analisa rapidamente o meu currículo, possivelmente por saber o seu conteúdo, voltando o olhar para mim. – Como a Agência não detalhou sobre a vaga que está sendo oferecida, atendendo ao meu pedido, farei isso agora, tudo bem? – Assinto para que ele continue. – Eu preciso de uma Enfermeira para cuidar da minha mãe, que recentemente foi diagnosticada com Alzheimer estágio 2, ou mais conhecido como inicial ou leve. – Novamente volto a confirmar com a cabeça, por saber dessa informação, e ele, continua. – Atualmente ela está morando comigo, desde que descobrimos a doença e mesmo que eu tenha a Dora, eu preciso ter uma Enfermeira à disposição dela 24 horas por dia.

– Compreendo Senhor. – O que é o correto, pois pacientes com DA não podem de maneira alguma ficar sozinhos, penso, mas não verbalizo.

– Depois que eu recebi os currículos das candidatas selecionadas pela Agência, eu tomei a liberdade de buscar por referências, afinal, estamos falando da profissional que ficará responsável pelo bem estar da minha mãe e fiquei curioso para saber o motivo que levou a Senhora a sair tão de repente do Hospital, no qual trabalhou por mais de 22 anos, em Portland. – Eu assinto, pois imaginei que essa seria uma de suas perguntas.

– Precisei sair do Mercy Hospital tão de repente, porque a minha filha mais nova foi aceita na Universidade de Seattle e por essa razão resolvi mudar-me para acompanhá-la. – Ele assente e vejo o brilho de algo em seus olhos, mas ignoro e continuo. – Ela tinha apenas 18 anos, então o Senhor pode imaginar que eu não poderia deixá-la vir sozinha, morar numa Cidade desconhecida.

– Compreendo Senhora Molina. Eu faria o mesmo nesse caso. – Dou-lhe um sorriso polido e assinto. – E quanto a sua disponibilidade de horário? Pois como eu disse, preciso de profissionais que possam se dedicar totalmente a minha mãe, sendo que eu posso me atrasar em algum momento na Empresa e não gostaria de correr o risco de tê-la sozinha, caso a profissional contratada tenha que se dirigir para outro local ou Hospital.

– Não tenho compromisso com nenhum outro emprego, Senhor Sawyer, caso eu seja a selecionada, ofereço a minha total dedicação e empenho do meu trabalho. – Ele assente satisfeito com a minha resposta, dando um sorriso de lado.

– Haverá ocasiões que eu precise me ausentar da Cidade ou até mesmo do País e se isso acontecer eu poderei levar minha mãe, dependendo de quantos dias eu precise ficar fora. A Senhora teria também essa disponibilidade? – Penso por um momento, mas Ana sabe se cuidar sozinha caso precise, além de ter o Padre Lutero que estará com ela, assim como a Thaís não precisa mais dos meus cuidados e total atenção, então...

– Sim, eu tenho disponibilidade quanto a viagens.

– O salário foi divulgado pela Agência, no entanto, haverá também horas extras caso seja necessário que o turno de trabalho seja estendido, assim como as viagens serão remuneradas a parte. Quanto a isso a Senhora tem alguma dúvida?

– Não, Senhor.

Ele me analisa por um momento e mesmo tentando parecer segura, o meu coração continua acelerado, o que é sem explicação, principalmente pela forma que seus olhos azuis parecem me avaliar, ultrapassando além da fachada profissional que tento transparecer.

– Caso seja selecionada, Senhora Molina, qual a disponibilidade para iniciar o período de teste na função?

– Imediatamente, Senhor Sawyer.

– Sendo assim... – Ele se levanta e eu faço o mesmo, aceitando a sua mão que me é estendida. – Aguardarei a Senhora aqui amanhã, às 07h00, de acordo?

– Totalmente, Senhor. E obrigada, pela oportunidade.

Por um momento, fico imersa em seus olhos azuis profundos e não me passa despercebido o seu escrutínio em meu rosto, que o sinto arder, igual uma adolescente e solto a minha mão vagarosamente da sua, fazendo-o pigarrear, recompondo-se.

– Acompanharei a Senhora até a saída. – Ele sai detrás da mesa e caminha na direção da porta, abrindo-a para que eu passe. Caminhamos lado a lado, até chegarmos à entrada da casa, onde apenas o barulho dos meus saltos pode ser ouvido e o meu coração mais descompassado do que estava.

– Mais uma vez obrigada, Senhor Sawyer, até amanhã.

– Até amanhã, Ângela.

Seu tom de voz saiu mais baixo ao pronunciar o meu nome, fazendo-me engolir em seco, enquanto foco novamente em seus olhos, mas dou-lhe um sorriso envergonhado e rapidamente saio da casa e só então eu solto a respiração que nem percebi estar prendendo e me pergunto: o que foi isso que acabou de acontecer?

É, Marco, com o destino não se brinca mesmo 😏😏😏

Ai, ai! Se eu pudesse, eu pegava essa Thaís e dava a surra que ela não ganhou quando era criança, viu 😤😤😤! Ohhhh, mulherzinha que só Jesus na causa. Coitada da Ângela 🤧🤧🤧!

E eu vou te responder o que acabou de acontecer Ângela 🤭🤭🤭🎵o cupido te flechou, te flechou, te flechou! E seu coração acertou, acertou, acertou🎵 🤣🤣🤣!

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