Capítulo - 64
Decisões sempre são difíceis de tomar, ainda mais quando você não tem dinheiro suficiente para realizar tudo àquilo que tinha vontade, mas e quando de repente, você se vê com mais dinheiro do que poderia imaginar que seria possível ter em sua conta?
Confesso que eu ainda esteja um pouco atordoada desde o dia que estive no Banco Nacional de Portland com o Christian, há dois dias, porém depois que o choque inicial passou, percebi que o meu namorado não ficou tão surpreso quanto eu, o que me confidenciou depois que já sabia sobre aquela conta quando fez o levantamento de antecedentes sobre mim, no entanto, a quantia até então era relativamente menor.
Mas eu cheguei à conclusão que não iria ficar me preocupando com isso e se meu tio me deixou esse dinheiro – e que eu tenho certeza não ser relacionado a nada ilegal –, assim como os seus bens, farei de tudo para aproveitá-los da melhor maneira possível e com sabedoria, como sempre me foi ensinado, afinal, não é porque tenho um saldo maior em minha conta que serei uma pessoa diferente, pois eu acredito que a pessoa é quem faz o dinheiro que tem e jamais o contrário.
No entanto não vou negar que saber que poderei dar uma vida mais tranquila para minha tia, que é e sempre será como uma mãe para mim e também ajudar a minha amiga com mais facilidade me deixa deveras satisfeita, ainda mais depois de me encontrar com o Corretor de Imóveis indicado por Christian e analisar alguns imóveis, o que estou nesse momento visitando o último dos três que mais gostei, onde marquei de me encontrar com a Júlia e sua mãe, além de ser próximo à Loja, o que tudo indica, futura Grey Royal Style, sendo que Vanessa ainda não se manifestou na tentativa de reaver a Empresa.
O imóvel é composto por três pavimentos, sendo o térreo com um espaço adequado para uma Delicatessen – o que funcionava antes e inclusive há alguns móveis e equipamentos deixados pelo proprietário anterior –, ou até mesmo um pequeno Restaurante, pois há uma cozinha ampla e arejada. O 1º piso seria uma extensão, que poderia ser usado como um lounge, com espaço para leitura ou apenas conversar com os amigos, além de ter também um apartamento no 2º piso, muito confortável com duas suítes, sala em conceito aberto com a cozinha, área de serviço com um pequeno banheiro e uma sacada e devo ressaltar que está praticamente todo mobiliado, o que é um ótimo bônus.
– O que você achou William?
Assim que encerraram as nossas aulas de hoje – e a última prova do trimestre – eu conversei com Eloise, Pietro e o meu primo sobre as revelações surpreendentes dos últimos dias e quando eu disse que viria me encontrar com o Consultor, William se disponibilizou a vir comigo, para que eu não viesse sozinha, mesmo estando acompanhada de Samantha e escoltada por Mark e Ryan, mas confesso que fiquei mais tranquila, pois não posso ficar pedindo para que Christian me acompanhe sempre, afinal ele tem a sua Empresa para comandar e eu preciso começar a me habituar a ter novas responsabilidades que saem da minha zona de conforto.
– Gostei muito, Ana. – Eu sorrio, pois é realmente lindo. – Além de você não ter que se preocupar com reforma, pois está tudo muito novo.
– Sobre isso. – Evan Stewart, o Corretor de Imóveis, chama a nossa atenção. – Creio que a única parte que precisará de uma reforma, mas que não é nada substancial, seja o depósito dos fundos, pois não foi prioridade do proprietário anterior quando decidiu colocar o imóvel a venda.
– Sim, eu imaginei isso mesmo. – De fato eu havia percebido, mas considerando que o restante do imóvel está perfeito, isso não será um problema.
– Ademais, será apenas personalização quanto à definição do negócio. – Evan conclui e eu assinto, olhando mais uma vez em volta, conseguindo visualizar quando estiver em funcionamento, isto é, se Júlia e sua mãe aceitarem a minha proposta.
– Evan, sobre a entrega das chaves, quando eu poderia tê-las? – Ele sorri e coloca o molho de chaves em minhas mãos.
– Se a Senhorita gostou do imóvel e resolver ficar com ele, as chaves já serão suas. – Arregalo os olhos, pois não imaginava que seria tão rápido e William tem a mesma reação.
– Assim tão rápido? Não seria viável primeiro concretizar o negócio? – William pergunta e Evan nega com a cabeça.
– Não é necessário, Senhor Miller. O Senhor Grey está em contato comigo e disse que a única coisa que a Senhorita Steele precisaria se preocupar, seria em gostar ou não do imóvel e depois resolveríamos o restante.
– E quanto à transferência do valor da compra?
– Assim que o Contrato de Compra e Venda estiver pronto, marcaremos para a Senhorita assinar e será informada a conta para a transferência.
– Sendo assim, negócio fechado, Evan. – Estendo a mão, que ele aceita de imediato com um imenso sorriso no rosto.
– A Senhorita fez uma excelente aquisição, Senhorita Steele, além do imóvel ter passado por uma reforma a menos de um mês, está num local muito privilegiado, desejo sucesso para o seu novo negócio.
– Obrigada, Evan. – Sorrio animada e ele se despede também de William, deixando-nos sozinhos. Verifico a hora, pois pensei que iríamos demorar um pouco mais, por essa razão eu precisarei esperar mais alguns minutos até que Júlia e sua mãe cheguem.
– Estranho isso. – Olho para William ouvindo sua indagação e fico confusa.
– O que é estranho?
– Esse Corretor simplesmente te deixa com as chaves e vai embora, sem receber nenhum sinal ou tendo garantia que você pagará o imóvel? – Dou risada e nego com a cabeça.
– Foi ele quem vendeu o terreno para Christian construir a GNIH e para o Richard também fazer a Empresa dele, por isso eu acredito que ele deva conhecer a seriedade dos Grey quanto aos negócios e pelo que pude perceber, Christian deve ter comentado quem eram os meus pais. – Dou de ombros e volto a olhar tudo mais uma vez, sem ter o Evan por perto.
– Mudando de assunto, como você está Ana? Mas diga a verdade, afinal, querendo ou não são muitas mudanças num curto espaço de tempo. – Eu suspiro, mas resolvo me abrir com ele.
– No início eu tentei não me apegar muito ao fato de ter encontrado mesmo os meus pais e confesso que por medo de no fim, toda a expectativa pudesse se transformar em frustração se o Exame de DNA desse negativo por alguma razão, mas antes mesmo do resultado ficar pronto, o meu coração já estava feliz em saber que não fui abandonada, entende? – Ele assente e se aproxima, pegando a minha mão com um sorriso afetuoso nos lábios. – Não vou negar que ainda é um pouco estranho, pois até um pouco mais de um mês, eu tinha apenas a minha Tia e sofrendo com o luto por ter perdido os dois homens que foram minha referência paterna, mas então de repente, eu tenho um pai, uma mãe, duas avós, um avô, tio e dois primos, dos quais um deles, eu sempre tive um carinho especial quando pensava que era apenas meu amigo. – Seu sorriso se amplia e ele me abraça.
– Eu entendo o que você quer dizer, pois de alguma forma eu também sentia que você era especial. Eu sentia muito carinho por você, Ana, tinha vontade de te proteger e às vezes eu me segurava porque não queria causar um mal estar entre você e a Eloise, mesmo que vocês fossem muito amigas. – Dou risada e ele me afasta do abraço para olhar em meus olhos. – É sério mesmo, Ana! Acredite em mim, eu sei o que uma mulher é capaz de fazer se estiver com ciúmes.
– Deixa de ser bobo, William. – Ele dá risada e continuo. – Mas tirando o fato que eu estou muito feliz em ter o meus pais, ainda tenho receio de me aproximar, sabe? Não sei explicar, mas então eu entendo que para nos conhecermos melhor, para que possamos nos aproximar e fazer com o que o nosso laço se estenda muito além do sanguíneo é necessário que estejamos presentes e eu sei que eles também pensam assim, que também precisam se acostumar com a ideia de ter reencontrado a filha depois de 20 anos separados. – Ele nega com a cabeça me fazendo calar.
– Muito pelo contrário, Ana. Tia Carla e Tio Raymond estão respeitando seu momento e esperando que você se acostume com a ideia de ter sua família biológica por perto, mas na verdade, se eles pudessem estariam com você todos os dias. – Me surpreendo com o que ele diz, mas não falo nada e aguardo que ele continue. – Eles te amam muito, por isso eu digo que se você não estiver pronta para estar com eles, como seus pais, é aceitável, mas você achar que eles precisam de espaço eu posso afirmar que está completamente equivocada.
– Então você acha que eu... Que eu posso me aproximar deles?
– Não só pode como deve e te garanto que você os fará muito feliz.
Concordo com a cabeça e penso no que William disse, afinal, eu acho que estou com medo, mas sinceramente não sei medo do quê, pois tanto meu pai quanto a minha mãe já demostraram que me amam, agora cabe a mim, estreitar nossos laços e acabar com essa barreira invisível que estou erguendo entre nós, afinal, eles são a minha família biológica e tenho certeza que os amarei tanto quanto a família que me criou.
(...)
– Oi, Ana! – Sorrio e me aproximo para cumprimenta-las.
– Oi, Júlia! Como vai Dona Amélia? – Ela sorri e me abraça.
– Muito bem, mas me chame só de Amélia, assim não pareço mais velha do que de fato sou. – Dou risada da careta que ela faz e assinto, olhando em seguida para William.
– Esse aqui é o William Miller, o meu... Primo. – Júlia arregala os olhos, afinal, eu ainda não havia contado que encontrei a minha família biológica para ninguém, mas não pergunta nada. – William, essas são Júlia, minha amiga e sua mãe, Amélia Lopes. – Eles se cumprimentam com apertos de mãos, fazendo com que Júlia lhe dê um sorriso tímido, mas ele se aproxima e me abraça pelos ombros.
– É um prazer conhecê-las, mas irei deixa-las sozinhas, para que possam conversar melhor, estarei do lado de fora, tudo bem? – Eu assinto e sorrio agradecida, enquanto ele beija os meus cabelos e caminha para a porta, mas tenho uma sobrancelha arqueada de Júlia em minha direção e eu dou de ombros.
– Longa história, Júlia, mas depois eu conto com detalhes.
– Tudo bem, mas o que estamos fazendo aqui, Ana? – Ela pergunta curiosa, olhando tudo em volta, assim que William fecha a porta.
– Primeiro eu gostaria que vocês olhassem esse imóvel comigo e depois conversaremos tudo bem?
Elas fazem uma troca de olhar e vejo que estão confusas, mas assentem e eu apenas sorrio, começando a fazer um tour pelo imóvel, assim como Evan fez mais cedo, apesar de saber que Júlia não pode demorar, pois ela precisa voltar para a Loja. Mostro todos os detalhes do térreo, a cozinha onde há alguns equipamentos e móveis – não sendo muitos, pois acredito que o proprietário tenha deixando-os como incentivo para facilitar a venda –, o que deixou Amélia encantada com as extensas bancadas em mármore preto e uma ilha central, muito prática.
Subimos as escadas para o 1º Piso e sem perceber comecei a falar sobre a perfeição do local para fazer um cantinho de leitura, com poltronas, puffs confortáveis e mesinhas para estudos, o que fez com que Júlia e sua mãe dessem risadas da minha empolgação. Voltamos para o térreo e abri a porta lateral que dá acesso ao depósito dos fundos. Conversamos sobre a reforma do local e identifiquei que todas as prateleiras não têm mais utilidade, assim como os armários que estão bem gastos, mas como eu havia dito, são apenas detalhes.
E enfim, subimos as escadas que dá acesso ao apartamento e quando abri a porta, elas ficaram encantadas com o lugar. O espaço, a decoração, o layout que foi desenvolvido com um conceito mais moderno, as cores em harmonia, dando a sensação de aconchego e de lar.
– O que vocês acharam? – Pergunto ansiosa e sento-me no sofá, sendo acompanhada por elas.
– Muito bonito e tudo de muito bom gosto. – Amélia fala com sinceridade e eu sorrio.
– Você está pensando em abrir um negócio próprio, Ana, agora que saiu da Dress For Less? – Júlia pergunta curiosa e eu penso no que dizer, sem assustá-las.
– Sim e não. – Elas me olham confusas e dou uma risadinha. – Na verdade, Amélia, depois de conhecer o local e também a localização que nós estamos, o que você me recomendaria para colocar este imóvel em funcionamento? – Ela pensa por um momento e fico em expectativa.
– Bom, analisando a localização onde há várias Lojas de grifes que com certeza, são frequentadas pelas madames da alta sociedade, eu recomendaria uma Delicatessen que também seja um Bistrô. – Gostei da ideia e continuo atenta ao que ela diz. – Você deve estar pensando que nas redondezas há vários Restaurantes, desde o peculiar aos tradicionais e também há uma Delicatessen não muito longe daqui, mas esse seria o seu diferencial, pois além da Delicatessen com o lounge que você imaginou no 1º Piso, com espaço para leitura e descanso, poderia servir também na hora do almoço refeições caseiras e saborosas, o que fugiria do chique e extravagante que estão habituados nessa região, mas com qualidade, simplicidade e poderia potencializar no charme que o imóvel te permite, deixando o ambiente mais ousado, mas ainda assim sofisticado. E se me permite uma sugestão, eu apostaria também na classe trabalhadora, o que seria um grande atrativo para os funcionários das Lojas vizinhas por ter um Bistrô, sendo um pouco menos formal do que os demais que focam demais na elitização.
– Perfeito, Amélia! – Sorrio dando pulinhos no sofá de tão animada com as ideias que ela deu e ela sorri envergonhada. – Quando começamos?
– O quê? – As duas perguntam ao mesmo tempo e eu abafo uma risadinha com a mão, por ver a perplexidade em seus rostos. – Ana, o que... O que você está querendo dizer com isso? – Júlia consegue formular uma pergunta, enquanto Amélia parece não estar acreditando no que eu disse.
– É simples, Júlia, eu pensei numa forma de ajuda-las, mas até então eu estava procurando imóveis menores, na verdade uma casa consideravelmente ampla, para alugar e dessa forma, além de vocês morarem, a sua mãe não precisaria mais trabalhar, se ela conseguisse fazer alguns dos seus bolos ou até mesmo uma opção de Delivery de comida caseira, mas então... Algumas coisas aconteceram e eu consegui comprar esse imóvel, bom, o processo está em andamento, mas já posso considerá-lo meu.
– Ana! Nós não podemos... – Pego na mão de Júlia a interrompendo e sua mãe fica atenta ao que falo.
– Calma, me deixa explicar, tudo bem? – Ela engole em seco e assente. – Eu sei o que você irá dizer, mas considere isso como uma sociedade, onde eu entro com o imóvel e a sua mãe com os dotes culinários que ela tem e dessa forma, faremos esse negócio funcionar.
– Agradecemos a sua intenção, minha Filha, mas não podemos aceitar isso. – Amélia retoma a palavra com delicadeza e eu suspiro.
– Por que não, Amélia? – Faço a pergunta retoricamente, pois continuo em seguida. – Vamos analisar isso de outra forma então, pois se a Delicatessen e Bistrô fosse de outra pessoa e estivesse te oferecendo uma vaga de emprego, dando a oportunidade de mostrar seus dotes culinários e apreciar seus bolos, doces e pratos caseiros e mediante a isso, fosse remunerada, você aceitaria?
– Eu aceitaria, mas... – A interrompo de novo com um sorriso no rosto.
– Então qual é o problema? Pois a minha proposta é exatamente essa, a diferença que invés de receber um salário no fim do mês, você receberá participação nos lucros, considerando que o negócio tenha sucesso, obviamente.
– Mas isso está errado, Ana! – Júlia se pronuncia e ouço o que ela tem a dizer. – Nós não somos orgulhosas e sabemos quando precisamos de ajuda e no momento que você ofereceu para nos ajudar a alugar uma casa, aceitamos, pois sabíamos que conseguiríamos te pagar depois, mas você comprar um imóvel é diferente, pois mesmo se isso funcionasse e se conseguíssemos fazer o negócio ter sucesso, ainda assim seria injusto com você, além do mais, estaríamos morando no seu imóvel sem pagar absolutamente nada e sabemos que jamais seríamos capazes de pagar o valor que você investiu. – Suspiro e penso em mais uma alternativa.
– Certo, então se eu te contratar Amélia, dizendo que preciso de uma pessoa que saiba cozinhar e que seja capaz de comandar outros funcionários, onde você receberá um salário e benefícios, como por exemplo, um local para morar porque para mim, sua Empregadora, seria mais prático tê-la no estabelecimento, como seria também uma forma de ter alguém cuidando do meu imóvel, você aceitaria? – Ela pondera o que disse, mas assente.
– Sim, eu aceitaria.
– Então você consegue perceber que só muda a forma que vocês estão vendo o que estou oferecendo? – Elas ficam em silêncio, mas vejo que estão pensando em tudo. – O imóvel continuará sendo meu, a única coisa que você faria Amélia, seria trabalhar no local, fazer a mágica acontecer. Não vejam isso como se eu estivesse fazendo "caridade", mas sim uma oportunidade de colocar tudo que você sabe em prática e me vejam apenas como uma Investidora, com aplicação em longo prazo, ou se preferirem, podemos chamar isso de experiência compartilhada.
– Como funcionária isso então, Ana? – Sorrio com o interesse de Júlia e aproveito a oportunidade.
– Eu sei que você não pretende parar de trabalhar na Loja, Júlia, pois assim seria uma forma de você ter pelo menos a sua renda garantida, correto? – Ela assente, mas eu já sabia disso, pois ela também tem os pés no chão. – No entanto, como vocês podem ver, o apartamento está todo mobiliado, esperando apenas que vocês se mudem então não teriam que se preocupar com o aluguel, enquanto isso, nós providenciaríamos tudo que a Delicatessen e Bistrô precisaria para abrir, como a compra de maquinários, mesas, balcão, eletrodomésticos e afins, e você, Amélia, elaboraria os cardápios e as opções que poderão ser servidos, de acordo com a sugestão que você me deu.
– A Senhora poderia convidar a Rosa, Mãe, ela também precisa trabalhar e é tão boa na cozinha quanto a Senhora. – Sorrio para Júlia, que está comprando a minha ideia, mas sua mãe está pensativa.
– Amélia, eu sei que você já foi Governanta de uma família rica, mas que se mudaram e desde então está desempregada, como também tenho o conhecimento que havia vários funcionários sob o seu comando e aqui não seria diferente, aliás, seria sim, pois você estaria cuidando do seu próprio negócio. – Ela continua em silêncio, apenas ouvindo. – Como eu disse, eu serei apenas uma Investidora e se vocês se sentirem mais confortáveis para aceitar, quando a Delicatessen estiver gerando lucros podemos negociar um valor, como se fosse um aluguel, o que me diz?
– Mãe! – Júlia segura na mão dela e suspira. – A princípio eu também fiquei assustada, mas pensa comigo, tudo bem? – Amélia assente e aguarda que a filha continue. – Esta é uma grande oportunidade, Mãe, e eu sei que a Ana está fazendo de coração, vamos tentar e se não der certo, nos mudamos e a Ana poderá alugar para outra pessoa, para não ter prejuízo do seu investimento, mas esse sempre foi o seu sonho, poder fazer com que outras pessoas conhecessem e apreciassem os pratos, doces e bolos que a Senhora sabe fazer tão bem. – Sorrio para Júlia e Amélia suspira. – Eu acredito que dará certo, além do mais, a Senhora poderá se aperfeiçoar e inovar, como sugeriu que a Ana fizesse. – Amélia suspira novamente e olha para mim.
– Você tem certeza quanto a isso, Ana? Eu quero dizer, você está confiando em duas pessoas que no momento não estão tendo condições de pagar um lugar para poder morar. – Seus olhos marejam e eu alcanço sua mão, dando um aperto reconfortante.
– Amélia, eu tenho certeza quanto a isso e sei que o que vocês estão passando será apenas uma fase que irá passar logo, mas acredite que dará certo e não se preocupe em querer me pagar nada por enquanto, então me veja como a sua Sócia Investidora e não hesite em nada que precisar para colocar esse lugar em funcionamento e fazer dele o melhor da região. – Ela dá risada e se levanta, me puxando para fazer o mesmo para em seguida receber o seu abraço.
– Deus te abençoe, minha Filha! Dizer obrigada não seria capaz de expressar a minha gratidão por tudo que está fazendo por nós. – Ela se afasta e vejo lágrimas deslizando por sua face e sinto os meus olhos marejarem também. – Você merece tudo de bom que a vida poderá te oferecer e eu farei o possível para não decepcioná-la. – Eu nego com a cabeça e estendo a mão para Júlia que também está chorando.
– Não precisa me agradecer Amélia, a Júlia é minha amiga e amigos são para isso também.
Elas sorriem entre as lágrimas e me abraçam e eu sinto o meu coração quentinho por saber que estou conseguindo fazer o bem para alguém e acredito que Padre Lutero e o Tio Marco estariam orgulhosos de mim nesse momento e isso, é o que me basta.
(...)
Depois de conversarmos mais um pouco, Júlia teve que sair correndo para voltar para a Loja, assim que recebeu uma ligação da Marta dizendo que a Bruxa Má do Oeste estava precisando dela e aproveitamos para ir embora também, afinal, elas precisam se organizar para fazer a mudança, mas antes eu tenho que finalizar o processo da compra com o Evan para não acontecer nenhum imprevisto futuro, mas acredito que tudo dará certo e só então, começaremos a dar vida aquele lugar.
William conseguiu me convencer a ir com ele para a casa dos meus pais e sentindo um friozinho no estômago seguimos o caminho conversando sobre a família... Melhor dizendo, sobre a nossa família e o quanto os nossos avós e o meu tio Benjamin – pai dele – estão ansiosos para me conhecer. Fiquei muito animada para conhecer a Beatriz, a irmãzinha dele que tem oito anos.
Ele me contou que depois que a sua mãe foi embora, quando ele era apenas um bebê, o seu pai não queria mais se envolver com nenhuma mulher, dedicando a vida apenas ao filho, aos pais e a sua irmã mais nova, no caso a minha mãe, mas acabou se apaixonando pela filha de um dos fornecedores da pequena fazenda da família que fica no Kansas – por muita insistência dela –, e que é mais nova que seu pai oito anos e um tempo depois, a pequena Beatriz nasceu, para colorir o mundo do matuto Benjamin – palavras dele e não minhas – com muitas cores.
É nítido o amor que ele sente por sua irmãzinha e também por seu pai, mas segundo ele, não conseguiria mais viver na Fazenda e pretende estabelecer sua vida em Seattle, quando se formar, além de querer formar uma família com a Eloise. E falando em se formar, no início do ano ele concluirá a sua especialização em Oftalmologia e está muito animado para começar a sua Residência no Grey Hospital and Medical Center.
Sinto o meu coração acelerar quando ele passa os portões da casa, na qual estive aqui há alguns dias, liberando a entrada da Samantha em seguida, e mais uma vez me impressiono com o tamanho e o quanto é bonita. Suspiro assim que ele entra na garagem e pego a minha mochila – que entrego para Samantha guardá-la –, saindo do carro para caminharmos juntos para a entrada da casa.
– William, eu estava preocupada! Onde você... – Ouvimos a voz da minha mãe, assim que entramos na sala, mas ela para de repente, quando me vê, sorrindo em seguida. – Anastásia! Que surpresa maravilhosa, Filha!
– Oi, Mamãe! – Seu sorriso se amplia, mas vejo seus olhos marejados quando se aproxima e me envolve em seus braços.
– Oh, minha Filha! Eu estava com tanta saudade de você.
– Eu também estava e me desculpe não ter vindo antes. – Ela se afasta do abraço e nega com a cabeça, sorrindo.
– Não se desculpe meu Amor, eu sei que para você ainda é tudo muito novo, por isso leve o seu tempo e saiba que sempre estaremos aqui, esperando por você. – Sorrio envergonhada e ela acaricia o meu rosto, para pegar a minha mão e me levar para sentar no sofá. – Vamos nos sentar, mas... Aconteceu alguma coisa? Você não deveria estar trabalhando, Filha? – Eu suspiro e nego com a cabeça.
– Eu não trabalho mais na Loja, Mãe. – Ela arregala os olhos e encara William que dá de ombros, sentando-se no sofá a nossa frente.
– Mas... Espera! A Vanessa te demitiu? – Ela faz uma careta ao mencionar a Bruxa Má do Oeste e eu sorrio negando com a cabeça.
– Na verdade eu me demiti, mas é uma longa história. – Ela assente, mas vejo que está curiosa para perguntar o porquê, mas William muda de assunto e sorrio para ele.
– Tio Ray ainda está na Empresa, Tia Carla? – William faz a pergunta e minha mãe fica séria.
– Não, ele está no escritório, justamente com a... – Mas antes que ela continue, ouvimos vozes vindas do corredor e uma delas eu conheço muito bem. – Ray, temos visita. – Minha mãe chama a atenção do meu pai, que se vira e sorri quando me vê e levanto-me quando ele caminha na minha direção, sendo acompanhado por Vanessa que mantém seu olhar fixo em mim.
– Por que você não me avisou antes, Carla? – Meu pai pergunta e minha mãe revira os olhos, mas sorri em seguida. – Que visita maravilhosa! – Ele me abraça e eu sorrio, mas como tenho que agir como manda a boa educação...
– Como vai Vanessa? – Mas como nem todos conhecem o que é educação, ela me ignora e olha para o meu pai com seu ar superior.
– Sabe Raymond? Eu não costumo me envolver na vida dos meus amigos, mas como tenho tanta estima por sua família, me sinto no dever de avisá-lo que se você for contratar essa... Mocinha, que tome cuidado, pois ela poderá facilmente tentar seduzir seus amigos, clientes e até mesmo o seu sobrinho, além de não saber se colocar em seu devido lugar.
Ela fala com uma falsa simpatia e sorriso prepotente que não percebe quando o semblante do meu pai nubla e seus olhos brilham em raiva. A minha mãe arregala os olhos e sinto o meu rosto arder de vergonha com o que ela fala, enquanto William se levanta num rompante do sofá, mas nego com a cabeça para ele não falar nada e mantenho a minha cabeça erguida, mesmo sentindo vontade de chorar por ver o quanto Vanessa Parker é uma mulher baixa e sem escrúpulos.
– E você, Vanessa? Sabe se colocar em seu devido lugar? – O sorriso prepotente dela fecha quando meu pai faz a pergunta de forma cortante, deixando-a confusa.
– Claro que sim, Raymond, mas que pergunta é essa? – Meu pai dá um sorriso tão frio para Vanessa que deixa até a mim, desconcertada.
– Então você conhece a Anastásia o suficiente para dizer que ela não sabe qual é o seu devido lugar? Você sabe pelo menos o sobrenome dela para dizer tal coisa? – Novamente ela fica confusa.
– Sim, eu tive o desprazer de permitir que ela trabalhasse na minha Empresa, porém não tenho o hábito de memorizar sobrenomes dos meus empregados, mas... O que isso tem a ver com... – Meu pai nega com a cabeça e a interrompe.
– Agora eu entendo o porquê de você estar na situação que se encontra hoje, a ponto de perder a sua Empresa por incompetência não apenas quanto ao Tino Comercial, Vanessa, mas também por falta de caráter, prepotência e arrogância. – Ela arregala os olhos e vejo um sorriso discreto nos lábios da minha mãe que pega na minha mão, deixando-me entre ela e meu pai, o que não passa despercebido por Vanessa, que alterna o olhar entre nós três.
– Raymond! Eu não estou...
– Você cometeu dois erros na tentativa de ser tão benevolente, Vanessa. O primeiro foi tentar manchar a reputação de uma pessoa que trabalhou para você. E o segundo é não saber sobre quem você está falando.
– Eu não estou...
– Deixe-me ser mais claro, talvez assim você possa entender. – Meu pai olha para mim e sorri antes de voltar a encarar a Bruxa Má do Oeste com seriedade. – Eu quero te apresentar uma pessoa muito especial, Vanessa. Essa é Anastásia Steele, a minha Princesa, única Filha e Herdeira de todo o meu Império. – Ela arregala os olhos e fica pálida, dando um passo atrás.
– Raymond, me desculpe, eu não quis...
– Não quis dizer o que disse há poucos minutos? Você tem certeza, Vanessa? – Ele volta a interrompê-la, fazendo-a engolir em seco. – Eu também vou ser benevolente com você te dando a oportunidade de se retirar da minha casa, antes que eu chame os Seguranças, mas antes, a minha resposta que eu havia ficado de pensar é não! Não irei ser seu investidor para reaver a sua Empresa e sinceramente, dê meus sinceros cumprimentos para o novo proprietário, pois ele não sabe o bem que está fazendo para os funcionários tirando uma pessoa do poder como você, que não sabe o significado das palavras, ética e respeito.
Ela fica estática por um momento, para em seguida me lançar um olhar que não consigo decifrar, mas foi o suficiente para me sentir desconfortável, porém antes que ela fale alguma coisa, William – que está vermelho por segurar o riso – toca no braço dela, chamando a sua atenção.
– Eu te acompanho até a saída, Vanessa. – Ela desvia novamente o olhar dele e nos encara rapidamente, mas empina o nariz e tenta manter a pose.
– Não precisa! Eu sei muito bem onde fica a porta.
E dessa forma ela sai sem olhar para trás e William não consegue mais segurar a gargalhada, a ponto de se jogar no sofá. Eu solto a respiração que nem percebi estar prendendo, chamando a atenção do meu pai.
– O que aconteceu aqui? Por que a Vanessa falou tudo isso sobre você, minha Filha?
– Não se preocupe com isso, Papai. Eu não trabalho mais na Loja e na próxima semana, nem dela será mais. – Dou de ombros tentando manter a calma, mas vejo que ele ficou emocionado pela forma que o chamei.
– Mas mesmo assim, eu quero saber o que aconteceu, afinal, ela ofendeu a minha filha, dentro da minha casa.
Eu suspiro e confirmo com a cabeça, pois ele tem razão e após nos sentarmos, passo os próximos minutos contando como foi a minha "relação" com a Vanessa desde o início, quando comecei a trabalhar na Dress For Less até o dia que me demiti, pela ousadia dela em querer que eu marcasse um "encontro" entre ela e o meu namorado. E o quê o Christian fez após isso.
(...)
– Você não deveria ter aceitado isso, Minha Filha! – Meu pai fica muito bravo depois que eu contei tudo e suspiro novamente. – Isso que a Vanessa fazia com você, por todos esses meses, foi assédio moral.
– O seu pai tem razão, minha Filha, você poderia processá-la por isso, podendo acrescentar agora, calúnia, injúria e difamação. – Minha mãe completa e eu nego com a cabeça.
– Eu sei, mas eu precisava do emprego e na verdade, tirando a forma grosseira que ela me tratava, eu considerei tudo como um acréscimo a minha experiência e processá-la hoje, não me acrescentaria em nada. – Meu pai faz uma carranca e eu pego em sua mão. – Pai, não se preocupe com isso e se for pensar bem, ela já está recebendo uma punição maior do que merecia, afinal, está perdendo a Empresa que era tudo que importava para ela. – Ele sorri orgulhoso e fico sem entender.
– Christian está me saindo o genro perfeito.
– Pai! – Arregalo os olhos, pois pelo visto ele é conivente com a forma de "cumprir promessas" do meu namorado.
– Se eu já respeitava aquele rapaz como o excelente Engenheiro Naval que ele é agora eu não tenho palavras para mensurar o apreço que tenho por ele.
William e minha mãe dão risada da minha perplexidade, mas nego com a cabeça e acabo sorrindo também por ver que estar com eles, parece tão normal, como se tivéssemos feito isso sempre, mas antes que eu diga mais alguma coisa, o meu celular começa a tocar e vejo ser a minha tia.
– Eu preciso atender, é a minha Tia. – Eles assentem e sem perceber abro um sorriso. – Oi, Tia! Tudo bem?
– Oi, Borboletinha! Onde você está? – Franzo o cenho pela pergunta direta dela e isso chama atenção dos meus pais.
– Estou na casa dos meus pais, Tia. Aconteceu alguma coisa?
– Não aconteceu nada, meu Amor, mas... Você poderia marcar com eles, o nosso encontro?
– Tia... – Ela me interrompe, mas a conheço e sei que ela ficou pensando sobre isso desde que conversamos.
– Eu acho melhor conversar com os seus pais o quanto antes, Ana! Não conseguirei ficar tranquila sem antes esclarecer com eles tudo que sei e se precisar arcar com as consequências, que seja logo. – Eu suspiro e ouço que ela faz o mesmo do outro lado da linha.
– Tudo bem, Tia, me aguarda na linha só um minuto. – Ouço o seu "tudo bem" baixinho e encaro os meus pais. – A minha Tia quer conversar com vocês, sobre... Sobre tudo. – Minha mãe aperta a minha mão e me dá um sorriso carinhoso e meu pai faz o mesmo.
– Tudo bem, minha Filha, se ela quiser, poderá ser amanhã mesmo. Iremos até ela se preferir? – Meu pai pergunta e engulo em seco, mas não vejo raiva nos olhos dele e assinto.
– Tia, pode ser amanhã na nossa casa, depois que eu sair da Universidade? – Olho para os meus pais que assentem, ainda sorrindo, mas consigo sentir que eles ficaram um pouco ansiosos.
– Claro, meu Amor, estarei esperando por vocês! Agora aproveite os seus pais, até amanhã, Borboletinha!
– Até amanhã, Tia. – Desligo o telefone e sinto o meu coração acelerar, sem saber o motivo.
– Fique tranquila, Filha, eu te dei a minha palavra que não faria nada contra a sua tia e eu já entendi que ela é importante para você, mas só queremos conhecer a mulher que te criou, e tão bem, e tentar saber um pouco mais sobre esses anos que ficamos longe.
Assinto, ouvido as palavras do meu pai e tento sorrir, mas não vou negar que eu esteja nervosa com esse encontro, afinal, será a primeira vez que os meus pais se encontrarão com a mulher que até então, era a única mãe que eu conhecia, qual também é minha família. No entanto eu confio no meu pai e sei que nada acontecerá a ela, até por que... Eu não permitiria que fosse diferente.
Estou tão orgulhosa da Borboletinha 🤧🤧🤧! Está provando que o sangue empreendedor corre em suas veias, não é mesmo 😏😏😏?
Ei! O que é aquilo esquisito correndo ali atrás? Ahhh, é só a dignidade da Bruxa Má do Oeste, nada muito importante 🤣🤣🤣!
Eita que agora o encontro Ângela x Família Steele acontece 😱😱😱!
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