Capítulo - 54
Conversar com Anastásia e contar parte dos fantasmas que ainda me assombram, foi revigorante, apesar de não ter conseguido tocar na ferida que insiste em permanecer aberta, não por eu sentir algum tipo de sentimentos ou algo do tipo, mas por ser algo extremamente vergonhoso e que faz com que eu me sinta patético, por ter sido tão ingênuo a ponto de não enxergar as verdadeiras intenções daquela mulher.
Porém sentir o seu toque delicado, ouvir as suas palavras tão sinceras e com tanto sentimento fez com que algo despertasse em mim e me fizesse perceber que eu sou digno sim de ser amado. Que não é um passado no qual eu não consegui controlar e que eu me permiti ser controlado que vai conduzir a minha vida de agora em diante. Fez-me perceber também que cabe somente a mim, decidir se quero continuar vivendo baseado no vitimismo do que me aconteceu e me afundar nos infortúnios de um sentimento tão destrutivo como à insegurança.
Mas assim que a ouvi dizer que me ama e olhar naqueles olhos azuis cristalinos, vivos, puros e inocentes, que enxergam o mais profundo do meu ser, fez com que eu tivesse a certeza que a resposta é não. Não quero mais ser aquele homem frio, inseguro e que preferia o isolamento como meio de proteção emocional. Eu quero ser amado e também amar. Eu quero viver sem medo do que pode vir acontecer, pois como ela mesma ressaltou "o futuro a nós não pertence", mas eu também acredito e sinto que Anastásia é a metade que me faltava. Que ela é a minha alma gêmea que chegou ao momento certo para me resgatar, antes que eu conseguisse me afundar num caminho sem volta. O caminho da solidão e amargura.
Anastásia apareceu no momento que eu tentava buscar um recomeço que nem mesmo sabia por onde iniciar. Ela é a lufada de ar fresco que eu precisava para respirar enquanto mergulhava cada vez mais fundo no mar de incertezas, autoaversão, amargura e insegurança. Ela veio para me mostrar que mesmo sendo jovem, tímida e delicada é também forte, determinada e estava pronta para quebrar os últimos cacos das barreiras que eu construí ao longo dos últimos anos e que insistiam em permanecer de pé, sendo capaz de aquecer o meu coração apenas por dizer "Eu amo você, Christian Grey", com tanta certeza que fez com que eu voltasse a respirar.
Eu me perguntava se tudo que eu sabia sobre o amor não passa de simples ficção, daqueles romances clichês que eu gostava de ler, pois por um momento eu cheguei a duvidar que esse sentimento realmente existisse. Que ele fosse capaz de alcançar corações que batiam separados e passar a compassar na mesma frequência e sintonia. E então eu me apaixonei no meio do caos que estava a minha vida e descobri que sim, o amor existe, mas para aqueles que se permitem sentir e vivenciá-lo sem reservas ou ceticismo e foi a partir do momento que eu me permiti ser amado que eu soube que também era capaz de amar.
Porra! Eu amo a Anastásia de uma forma tão genuína que não acreditava mais ser capaz de fazer e tudo isso em tão pouco tempo que me assusta, não vou negar, mas que estou disposto a ver até onde isso irá nos levar. Eu respiro fundo, aspirando o perfume de seus cabelos enquanto a tenho em meus braços e ligo a luz do abajur para ver o horário e vejo que são quase 05h00 da manhã e não irei conseguir dormir.
Olho para a minha mão vendo a aliança brilhar e não consigo acreditar que fiz o pedido de namoro de um jeito tão simples, mas que foi tão perfeito que nem se eu tivesse reservado o melhor restaurante, com a melhor opção de cardápio seria capaz de superar a magnitude do significado que teve, justamente por ter sido espontâneo, sincero e nada planejado e muito menos com palavras ensaiadas e agora, oficialmente, Anastásia é minha. Minha namorada e a Menina-Mulher que alcançou o meu coração a ponto de me fazer amar.
Afasto-a delicadamente dos meus braços para não acordá-la e levanto-me, seguindo para o banheiro e depois de secar o meu rosto, eu olho mais uma vez para a Anastásia, dormindo tão serenamente que mais parece um anjo e sorrio saindo do quarto. Desço as escadas e caminho na direção da Academia, onde pretendo treinar e apesar de ter bebido ontem e não ter dormido, sinto-me ligado de uma forma que preciso me exercitar e tentar desligar a minha mente que ainda tenta me aborrecer repassando os acontecimentos depois daquele jantar.
Porém eu percebo que não está me incomodando tanto como havia acontecido assim que ouvi as palavras do Edgar, mas me despertou uma curiosidade para entender sobre o que ele falava. Mas a questão que eu não havia me dado conta antes e que está me incomodando agora é como ele sabe que eu tenho uma namorada? Como ele sabe que estou em um novo relacionamento e Débora - mesmo parecendo que tudo faz com que alguém me lembre dela - é uma simples memória ruim do meu passado?
Isso não faz sentido, até mesmo porque o nosso namoro é recente e nada foi noticiado ou divulgado por nenhum meio de comunicação, sendo que eu procuro manter a minha vida pessoal em total privacidade. E eu lembro também que ele não perguntou sobre o meu relacionamento, ele simplesmente afirmou me deixando ainda mais intrigado.
- Bom dia, Filho! - Assusto-me e diminuo a velocidade da esteira, assim que ouço a voz do meu pai.
- Bom dia, Pai! - Ele fica apenas me olhando por um momento e percebo que por suas roupas e o cansaço evidente em seu rosto ele acabou de chegar do Hospital. - O Senhor está chegando agora? - Ele suspira e eu desligo a esteira, tentando recuperar o fôlego.
- Sim, ontem à noite eu recebi uma ligação do Hospital, informando que um jovem havia sofrido um acidente de moto, mas já chegou ao Hospital em estado de coma encefálico profundo e irreversível, mas era doador de órgãos e havia um paciente compatível na fila de espera, aguardando o transplante de coração. - Ele suspira novamente e passa as mãos no rosto cansado. - Por mais que esse seja o meu trabalho e que eu deva usar apenas a razão e a lógica da ciência, é impossível não pensar em vocês, os meus filhos, quando me deparo com um jovem de 27 anos que perdeu a vida por uma imprudência no trânsito. - Ele nega com a cabeça e percebo o quanto isso o deixa mexido, mesmo estando acostumado por ser a sua profissão. - E pensar que só assim seria capaz de salvar uma vida que não havia tanta perspectiva enquanto permanecia numa cama de Hospital, apenas porque outra perdeu a sua.
- Eu imagino o quanto deve ser difícil, Pai. Ver alguém perder a vida para dar à outra pessoa a oportunidade de voltar a viver. - E eu que poderia estar vivendo há muito tempo, me afundava por ignorância e autopiedade, penso, mas não verbalizo e ele assente.
Ele caminha na direção do banco que usamos para fazer abdominal e se senta, enquanto eu permaneço escorado na esteira. E por um momento um silêncio desconfortável permanece entre nós e eu me pergunto por que eu fiz que o nosso laço de pai e filho se rompesse quase que por completo, apenas por que eu o afastava de mim.
Eu sempre vi o meu pai como o meu herói. Um amigo que não tinha receio de conversar com seus filhos e mostrar como era a vida real e o quanto ela poderia ser cruel, se não fossemos fortes o bastante para enfrentar todas as adversidades que pudéssemos encontrar no caminho. De ensinar o que era certo e errado e que mesmo tendo o seu tempo limitado por causa do Hospital, nunca deixou de nos dar atenção - mesmo que Richard ficasse a maior parte do tempo comigo e Caleb -, buscando sempre estar presente e não permitir que nos perdêssemos pelas armadilhas da vida.
- E você, meu Filho, o que aconteceu para estar acordado há essa hora? - Ele quebra o silêncio e eu suspiro, me aproximando para sentar ao seu lado. - Pesadelos de novo? - Eu nego com a cabeça antes de respondê-lo.
- Não, Pai! O cansaço e a bebida só não foram suficientes para desligar a minha mente para que eu conseguisse dormir. - Ele fica sem entender e mais uma vez eu suspiro. - Digamos que o passado resolveu aparecer para provar que por mais que eu tente, nunca poderei esquecê-lo.
- Mas não precisa e nem deve esquecê-lo, Filho. Até mesmo porque o passado sempre irá fazer parte de você. Do homem que se tornou e do quanto se fortaleceu, além do aprendizado para não repetir os mesmos erros de antes. - Pondero suas palavras e assinto, mas eu queria muito ter percebido isso antes de ter me afastado da minha família. - E como andam as coisas com a Anastásia? - Sorrio pela simples menção do nome dela e automaticamente toco a minha aliança.
- Melhores do que um dia eu poderia imaginar acontecer, Pai. - Ele assente com um sorriso de lado. - Estamos oficialmente namorando agora.
- Essa é uma ótima notícia, meu Filho. - Ele coloca a mão no meu ombro e sorri. - Eu fico muito feliz e também aliviado que você tenha encontrado uma pessoa tão especial como ela. Desde o dia que o seu irmão trouxe ela aqui em casa, a sua mãe acreditava que ela seria uma excelente nora. - Ele dá risada e nega com a cabeça. - E realmente ela está sendo, só que do gêmeo que nem havia a conhecido ainda.
- Talvez se eu tivesse a conhecido antes, Pai, tudo poderia ter sido diferente e eu não teria ficado aqueles seis meses no México, apenas para me afastar de vocês. - Assim que falo essas palavras, o sentimento de culpa aperta o meu peito e ele suspira, apertando a mão em meu ombro.
- Ou quem sabe não teriam a oportunidade de desenvolver o laço que vocês têm hoje. - Encaro o meu pai e ele sorri triste. - Você ainda não estava pronto para se permitir superar o que havia acontecido, Filho. Por mais que a sua ausência, mesmo morando na mesma casa que nós e, a distância que você impôs a si mesmo estivesse nos afetando, isso foi necessário para que você pudesse amadurecer.
- Mas a que preço? O sofrimento de vocês, por eu ter sido frio, grosso e insensível ao que vocês poderiam estar sentindo por minha culpa?
- Filho, você pode ter certeza que sentimos sim, por vê-lo se afundando cada dia mais em si mesmo, mas sentíamos muito mais por não podermos interferir. - Apenas ouço o que ele diz e depois de um bocejo que mostra o quanto está cansado, ele volta a falar. - E por mais que tivéssemos vontade de fazê-lo, sabíamos que cada um tem o seu tempo para enfrentar as adversidades, mas isso não faz de você mais fraco, por demorar dois, três anos para ver que precisava mudar. Muito pelo contrário, isso só prova o quanto você estava sendo forte por querer enfrentar sozinho os seus fantasmas e eu tenho muito orgulho do homem que você se tornou, pois hoje você não é mais aquele jovem imaturo, cheio de medos e inseguranças. - Eu dou uma risada amarga negando com a cabeça.
- Ah, eu posso não ser tão jovem quanto antes, Pai, mas ainda tenho muitos medos e inseguranças, com toda certeza.
- E isso é bom, meu Filho, só prova que você é como qualquer um de nós. Humano e que tem sentimentos, mas diferente do que você possa pensar isso não é negativo. Ter medo e às vezes ser inseguro te faz também querer fazer diferente, para não sucumbir como antes e eu consigo ver que você não quer mais ser como estava sendo.
- Não mesmo! - Falo resoluto e giro a aliança em meu dedo novamente. Ele observa o meu movimento e assente. - Por muito tempo eu acreditei que me afastar não faria mal a vocês e nem a mim mesmo, pois eu coloquei em minha cabeça que quem não se envolve, não sente.
- Mas também não vive e poderia perder as várias oportunidades que a vida estaria te dando de superar, recomeçar e fazer melhor, como por exemplo, perderia a chance de usar essa bela aliança em seu dedo e namorar uma menina com o coração tão nobre como a Ana. - Fico envergonhado por um momento e ele dá uma risada abafada, antes de bocejar mais uma vez. - Eu não quero que você esqueça o seu passado, Christian, apenas seja capaz de fazer dele uma experiência, um aprendizado para ser melhor hoje e com certeza, fará com o que o futuro seja mais feliz e completo.
- Obrigado, Pai. - Não preciso dizer sobre o que, pois ele já sabe. Ele se levanta e eu faço o mesmo para logo receber o seu abraço, que tanto senti falta.
- Não precisa agradecer meu Filho, a sua felicidade e a dos seus irmãos é o que sempre irá importar. Se vocês estiverem bem e felizes, todo o resto é passado. - Eu assinto ainda no abraço, mas logo nos afastamos. - Agora eu vou dormir um pouco, à noite e madrugada foram bem longas e muito cansativas. - Eu assinto e ele dá um tapinha no meu rosto e volta para o interior da casa, me deixando com o coração mais leve, afinal, eu ainda me culpava por ter me afastado dele e da minha mãe.
E agora eu vejo que Anastásia estava mesmo certa, pois os meus pais sempre me amaram - assim como os meus irmãos - e continuam me amando, independente das merdas que eu havia feito no passado. Mas de uma coisa eu posso ter certeza, que não voltarei mais a decepcioná-los.
(...)
- Bom dia, Lola!
- Que susto, Menino! - Ela salta no lugar e coloca a mão no peito, me olhando com os olhos arregalados, assim que entro na cozinha. - Eu pensei que todos ainda estivessem dormindo. - Ela respira fundo, tentando certamente controlar as batidas do seu coração e volta a sua atenção para o fogão.
- Na verdade, acredito que todos ainda estejam de fato. - Ela olha rapidamente para mim, mas não fala nada e pelo seu olhar compreensivo, sei que ela imagina que eu não dormi a noite, como tinha o costume de fazer. - Eu queria pedir um favor. - Fico sem jeito com o que irei pedir, mesmo que a Lola seja como uma segunda mãe para mim e meus irmãos. Ela foca sua atenção toda em mim, aguardando que eu fale. - Você poderia... Hum... Passar as coisas da Anastásia para o meu quarto?
- Claro que sim, Querido.
- Bom dia, Lola! O Carrick... Oh, meu Filho, está tudo bem? - Minha mãe se interrompe o que iria dizer para Lola assim que me vê e caminha em minha direção. - Aconteceu alguma coisa, você está com uma carinha que não dormiu nada. - Ela toca o meu rosto e eu sorrio de lado, negando com a cabeça por ver sua preocupação.
- Não aconteceu nada, Mãe, não se preocupe. - Ela assente não muito convencida, mas não insiste e volta a sua atenção para Lola novamente.
- Lola, o Carrick chegou a pouco do Hospital e está dormindo. Você poderia pedir para as meninas não subirem para não acordá-lo, por favor?
- Fique tranquila, que ninguém irá incomodá-lo, Grace.
- Obrigada, Lola! Ele deverá ficar a manhã toda em casa, então acredito que ele irá almoçar antes de ir para o Hospital. - Lola assente sorrindo e minha mãe enlaça o seu braço no meu, mesmo que eu esteja suado e seguimos para a sala. - E você, Filho, essa carinha não me engana, o que aconteceu? - Suspiro resignado, afinal, eu estou cansado de sempre omitir o que de fato me incomoda. Ela senta no sofá e eu sento na mesinha de centro de frente para ela.
- Ontem eu encontrei o Edgar e ele falou algumas coisas que me aborreceram, mas não precisa se preocupar, pois eu não irei mais deixar o passado influenciar no meu presente, como antes. - Ela me analisa por um momento e depois de ter visto que eu estava dizendo a verdade, suspira como se um peso tivesse sido tirado dela.
- Eu fico feliz que você tenha percebido que não vale a pena ficar remoendo o passado, ainda mais por causa daquela... Daquela mulherzinha que nem aqui está mais. - Ela fala com desgosto, como se isso fosse um xingamento e eu apenas concordo com a cabeça.
— Eu sei, Mãe. Posso ter demorado a perceber isso, mas estou ciente de que não posso mais deixar que os acontecimentos do passado ditem a minha vida, pelo menos não mais, pois quem sairia perdendo seria apenas eu, ainda mais se continuasse afastando as pessoas importantes para mim.
- Fico muito satisfeito em ouvir isso, meu irmão. - Assustamo-nos com a voz de Richard que entra na sala com Caleb a reboque, este que se joga no sofá e deitando no colo da nossa mãe. - Bom dia, Mãe! - Richard se aproxima e beija os cabelos dela, sentando do outro lado.
- Bom dia, meus Filhos. - Ela sorri e olha para Caleb, que está estranhamente calado. - O que aconteceu com esse menino que está parecendo que não dorme há dias? - Ele abre um olho e olha para mim, fazendo uma careta.
— Dormir é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida, Mãe, mas nessa madrugada, alguém interrompeu o meu sono sagrado. — Nossa mãe fica sem entender e ele se senta, respirando dramaticamente. — Mas não se preocupe, parece que isso não irá mais acontecer. — Ele foca sua atenção em mim, mas não fala nada e logo sua atenção é desviada quando vê as ajudantes da Lola caminhando para a sala de jantar para arrumar a mesa para o café. — Estou morrendo de fome, será que a Lola fez panquecas?
— Com certeza que ela fez. Já que você é um saco sem fundo, caso contrário, teria que aguentar seu choro igual a um menino que ficou sem a mamadeira. — Richard fala com um sorriso de lado e Caleb pega a almofada do sofá jogando nele, e nossa mãe sorri negando com a cabeça. — Está tudo bem mesmo, Christian? — Ele pergunta, sério, me avaliando, e eu afirmo.
- Está sim, Richard. - Ele olha para minha mão e sorri de lado, arqueando uma sobrancelha. - Oficializei o pedido nessa madrugada.
- O quê? - Caleb praticamente grita e quase me derruba da mesinha, puxando a minha mão. - Quanto tempo eu dormi? E por que eu não fiquei sabendo disso? Quando você comprou isso?
- Filho, com tantas perguntas você vai deixar o seu irmão tonto. - Minha mãe sorri e pega a minha mão, apertando-a num gesto reconfortante. - Eu fico muito feliz com isso, pois você não poderia estar namorando pessoa melhor do que a Ana.
- Claro! E isso graças a quem? A mim, obviamente. - Caleb fala cheio de si e eu nego com a cabeça. - Espero que saiba me recompensar por eu ter apresentado a Ana a você, irmãozinho.
- Na verdade, você não me apresentou ninguém, Caleb, se eu lembro bem, nos esbarramos por mera Coincidência do Destino na porta do Hospital dos nossos pais. - Ele revira os olhos e bufa, mas abre seu sorriso debochado para variar.
- Isso porque ela correu para os seus braços, pensando que fosse eu, meu caro, então, pode me agradecer com uma lancha bem equipada, que aceito de bom grado. - Minha mãe e Richard dão risada da cara de pau dele e eu nego novamente com a cabeça, levantando-me.
- Eu vou subir, pois acredito que a Anastásia já deve ter acordado e daqui a pouco tenho que levá-la para a Universidade. - Eles assentem se levantando também e os deixo na sala de jantar e subo as escadas indo rapidamente para o meu quarto, que logo mais será o nosso quarto.
(...)
Depois de encontrar o meu quarto vazio e tomar o meu banho rapidamente, eu encontro a Anastásia no corredor, com um lindo sorriso nos lábios e mais uma vez ela consegue me surpreender com a sua maturidade, quando tocamos no assunto que será inevitável e inegociável, pois a Segurança dela não é algo que pretendo brincar e sei que o seu pai também não permitiria isso, de forma alguma.
E, como eu disse, a sua maturidade para lidar com situações problemáticas me surpreende e me deixa ainda mais apaixonado. Apesar de saber que ainda temos algumas coisas para conversar e definir, o tempo não permitiria que conversássemos naquele momento e acabei, inclusive, me esquecendo de falar com ela sobre a mudança de quarto. O que acredito não haver problemas, pois desde que ela foi para a minha casa não dormimos separados.
O caminho até a Universidade foi rápido e tranquilo, ou possa ser apenas o meu estado de espírito que está melhor do que eu pensei que poderia estar - mesmo que eu não tivesse dormido nem um minuto sequer - e estranhamente, me sinto leve, sem o peso que ainda insistia em permanecer dentro de mim, como garras arranhando o meu peito, tentando me sufocar.
- Obrigado por ontem, Taylor. - Ele olha rapidamente pelo retrovisor interno do carro, mas vejo que ele ficou confuso. - Por ter ligado para o meu irmão. - Eu sei que foi ele quem avisou ao Richard que eu estava no Escritório bebendo, afinal, eu havia deixado a sacola com as alianças dentro do carro.
- Eu apenas senti que o Richard seria a pessoa mais adequada para estar com o Senhor naquele momento. - Eu assinto agradecido, mas resolvo mudar de assunto.
- Sobre a Segurança para Anastásia? Você já tem alguma posição?
- Se o Senhor concordar, eu acredito que pessoa mais capacitada para a função, seria a Samantha Foster.
- E quanto ao marido dela? Ela sabe que precisaria ficar a disposição da Anastásia, 24/7, correto?
- Sim, Senhor! Quanto a isso não haverá problemas, o Richard havia dito que eles poderiam ficar no anexo ao lado do complexo dos Seguranças. Devido a nossa profissão, eles não se prendem a lugar nenhum. - Penso por um momento, mas se o meu irmão e Taylor confiam nela, não vejo porque colocar outra pessoa para a função e acabo concordando.
- Peça para eles fazerem a mudança nesse fim de semana, que na segunda-feira a Samantha começará. Providencie um carro também e deixe a disposição dela.
- Sim, Senhor.
Alguns minutos depois, Taylor entra no estacionamento da GNIH e damos o assunto por encerrado. E devo admitir que eu estivesse um pouco relapso com o meu trabalho — e nem parece que, até um tempo atrás, eu vivia única e exclusivamente para minha Empresa —, e sou grato por ter Aleksander assumindo a Empresa na minha ausência, mas acredito que agora tudo entrará na normalidade novamente.
- Bom dia, Laura!
- Bom dia, Senhor Grey! Taylor!
- Senhorita Castro. - Taylor dá um aceno de cabeça para ela e a vejo ficar ruborizada. O que está acontecendo aqui?
- Laura, me traga um café e a agenda do dia.
- Sim, Senhor Grey!
E dessa forma passei as primeiras horas da manhã, mergulhado entre projetos, análises de propostas para novos contratos e relatórios financeiros, até que Taylor entra na minha sala informando que Anastásia saiu mais cedo da Universidade e estava no Shopping com seus amigos, Pietro e Eloise Johnson e Melissa Vitalli.
Por um momento eu penso que possivelmente essa tranquilidade dela em frequentar lugares como esse poderá acabar, logo depois de ser anunciada como a herdeira de Raymond Steele, mas arrisco a dizer que o seu pai fará de tudo para que isso não tenha um impacto negativo em sua vida, da mesma forma que eu farei de tudo para sempre mantê-la segura, mas sem que ela perca a sua privacidade, pois eu sei exatamente o quanto isso é estressante.
Respiro fundo e volto ao trabalho, deixando que o sentimento de dever cumprido me invada, me deixando muito satisfeito, por saber que no fim do mês estaremos entregando mais um transatlântico, desenvolvido e construído em meu próprio Estaleiro, para Atlantis Cruises. Um projeto que demorou praticamente 26 meses para ser concluído, mas com perfeição, e logo estará desbravando os mares em seu primeiro cruzeiro oficial com passageiros.
— Vamos almoçar, Christian? — Levanto o olhar da tela do meu computador para encarar Aleksander, que está hesitante em entrar na minha sala.
— Vamos, sim. — Ele me olha desconfiado, mas não fala nada. — Tem falado com o Oliver?
— Ele disse que viria à Empresa para falarmos sobre a reunião do Senador Salazar. Ele quer se prevenir caso o Senador decida fazer alguma coisa devido à sua recusa em aceitar o projeto dele. — Assinto e suspiro aliviado, mas acredito que ele não fará nada a respeito. — Hum, você está bem?
— Por que eu não estaria? — Arqueio uma sobrancelha, mesmo sabendo sobre o que ele está se referindo.
— Bom, devido aos acontecimentos de ontem, talvez. — Ele entra na minha sala, fechando a porta, e eu suspiro.
— Estou bem, Aleksander.
- Estranho.
- O que é estranho?
- Eu pensei que você iria estar com o demônio no couro, ou poderia querer arrancar o meu couro por ter te convencido a aceitar essa reunião com o Senador e consequentemente ter se encontrado com o Edgar.
- Apesar de que a minha primeira intenção fosse recusar o agendamento dessa reunião, somos profissionais acima de tudo, mesmo que não soubéssemos quais eram as reais intenções do Senador, o que não podemos afirmar nada, por serem apenas suposições, sobre o uso daquelas lanchas. - Ele assente, apesar de ter tanta certeza quanto eu que o Senador não iria usá-las apenas para lazer. - E sobre o Edgar, não teria como você saber que a Empresa contatada seria a dele e você não tem culpa nenhuma dele ser um tremendo babaca.
- Quem é você e o que fez com o meu amigo que seria capaz de congelar até o Oceano Ártico com apenas um olhar?
- Deixa de ser idiota, Aleksander. O Oceano Ártico já é congelado. - Reviro os olhos e levanto-me, vestindo o meu paletó.
- Ah, meu amigo! Mas aquele gelinho lá não seria páreo para a sua frieza. - Nego com a cabeça e ele me acompanha, saindo da minha sala. - Mas brincadeiras a parte, eu fiquei mesmo preocupado com você. - Eu suspiro novamente e olho para ele, assim que entramos no elevador, acompanhados por Taylor.
- Não há necessidade de se preocupar, estou mesmo bem. - Ele assente, mas continua me encarando. - Eu cheguei à conclusão, depois de alguns incentivos, é claro, que não vale a pena ficar remoendo um passado que não deve mais ser lembrado, Aleksander. E por mais que esse passado tenha sido doloroso, humilhante e vergonhoso, o presente e o futuro só dependerão de mim, decidir se quero seguir em frente ou ficar estagnado. E essa última, não é mais uma opção.
- Vou sentir saudades, então. - Aleksander coloca a mão no peito de um jeito dramático e fico sem entender.
- Saudades? Saudades de quê, Aleksander?
- Das baixas temperaturas que refrigeravam a Empresa, pois pelo visto o Senhor Gelo resolveu se aposentar. - Ele dá risada da própria piada idiota. Eu apenas reviro os olhos, negando com a cabeça e logo saímos do elevador, caminhando pelo Saguão do prédio.
(...)
Sair da GNIH para buscar a Anastásia na Loja passou a ser um dos momentos mais prazerosos do meu dia, principalmente quando ela se aproxima com aquele sorriso e olhos azuis intensos que conseguem ofuscar até mesmo o brilho da lua sobre nossas cabeças. Sentir o calor do seu corpo próximo ao meu e os seus lábios doces e macios, por pouco não fazem com que eu perca o controle, mas me lembro de que ela não é qualquer mulher, mas sim aquela que fez o meu coração voltar a bater sem reservas.
Sentindo o peso dos acontecimentos de ontem, à noite não dormida, somado ao dia exaustivo de trabalho hoje, faz com que o cansaço comece a me sobrecarregar, porém ouvir as suas palavras ao dizer que me ama me faz soltar um suspiro em deleite que revigora a minha alma. Aconchego-a ainda mais em meus braços, mesmo tendo ciência que deveríamos colocar o cinto de segurança, mas não o fazemos e seguimos todo o caminho até em casa num silêncio confortável, apenas sentindo o calor do corpo um do outro.
À medida que nos aproximamos de casa, percebo que Anastásia começa a ficar inquieta e se eu não estiver sendo prepotente por dizer que consigo decifrá-la, esse comportamento dela - tendo em vista a sua curiosidade aguçada - é de quem quer fazer várias perguntas, mas que não sabe por onde começar. Sorrio de lado, quando ela começa a bater os dedos num gesto nervoso em minha coxa, sem nem mesmo perceber e seguro a sua mão, trazendo-a aos meus lábios, esperando o momento de abordá-la, assim que entrarmos em casa.
- Você sabe que pode me perguntar qualquer coisa, não é? - Pergunto assim que entramos na sala e ela suspira, olhando em meus olhos.
- Eu sei, mas se você não...
- Oh, que bom que vocês chegaram. Lola acabou de colocar a mesa. - Minha mãe a interrompe vindo ao nosso encontro nos recebendo com um abraço, como se não tivesse nos visto pela manhã. - Lavem as mãos para podermos jantar todos juntos, depois vocês sobem.
- Nos dê apenas um minuto, Mãe, e nos juntaremos a vocês.
Seguro a mão de Ana, quando ela começa a seguir a minha mãe, que assente e se retira nos deixando sozinhos. Eu respiro fundo, lembrando-me que tenho que falar com ela antes de subirmos para o quarto.
- Algum problema, Christian?
- Depende se o que eu fiz for um problema para você. - Ela fica sem entender e eu falo de uma vez. - Hoje pela manhã eu pedi para Lola passar as suas coisas para o meu quarto. Era para eu ter conversado com você antes, mas acabou não surgindo à oportunidade, mas se você não quiser e decidir permanecer no quarto de hóspedes, eu... - Ela me interrompe dando um beijo nos meus lábios e só então eu percebo que estava falando sem nem mesmo respirar.
- Eu não sei de onde você tirou que era um homem frio e sem coração, quando na verdade é tão fofo, principalmente quando está nervoso. - Faço uma carranca para ela, por me chamar de fofo, um absurdo devo ressaltar, mas não dura muito por ver o seu sorriso se alargar e receber mais um selar em meus lábios. - E eu não vejo problema, levando em conta que desde que eu vim para a sua casa, dormimos sempre juntos, mas... - Ela morde no lábio inferior e, baixa os olhos por um momento, mas faço com que ela volte a me olhar.
- Mas...? - Ela suspira e nega com a cabeça me dando um sorriso.
- Nada. Vamos jantar antes que sua mãe volte para nos buscar. - Ela pega a minha mão e me arrasta na direção do lavabo, porém ela me olha por sobre o ombro, voltando a falar. - A propósito, eu admito que tenha gostado mais do seu quarto do que do meu, então, não vejo problema em continuarmos nele.
Sorrio da sua carinha sapeca, o que me surpreende com a sua atitude e lavamos as mãos, seguindo logo depois para a sala de jantar onde éramos aguardados por minha... Não! Não faz mais sentido eu dizer apenas minha, pois eles são a nossa família. E tivemos um jantar tranquilo, conversando amenidades como há muito tempo eu não me permitia desfrutar e mesmo ouvindo as provocações do Caleb, deixando Anastásia envergonhada, falando sobre o nosso namoro e obviamente, não deixando de se gabar por ter sido o intermediário do nosso encontro, eu não poderia desejar momento melhor como este.
Mas novamente a tensão se fez presente, quando depois de passarmos um tempo na sala com os meus pais, resolvemos subir para o meu... Para o nosso quarto, porém eu já percebi que Anastásia não é adepta a enrolação no tocante ao que deseja saber, pois fui pego completamente desprevenido com as palavras que vieram a seguir.
- Christian, por que a Vanessa me disse àquela vez que você seria o futuro marido dela? E o que aconteceu para você demonstrar ter tanta aversão por ela?
É Aleksander, o Senhor Gelo, de fato está se aposentando, mas não para todos obviamente 😏😏😏!
E Christian? Tenho apenas três palavras para te dizer agora: Você que lute 🤭🤭🤭!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro