Capítulo - 50
Por mais que eu desejasse todos os anos conhecer os meus pais, eu acreditava que isso seria praticamente impossível de acontecer, ainda mais depois que sai de Portland para vir para Seattle, mas hoje, estando sentada a mesa ao lado da minha família biológica faz o meu coração se encher de um sentimento tão bom que é até difícil nomear.
Eu sei que ainda teremos que nos conhecer melhor para podermos estreitar nossos laços para serem sólidos e conseguir compartilhar não apenas segredos, mas também pedir conselhos quando necessário, mas parece tão certo estar com eles que nem parece que nos conhecemos como pais e filha apenas há algumas horas.
E mesmo sabendo que ainda teremos que ter a confirmação do Exame de DNA para confirmar o que todos – inclusive o meu coração – tem certeza, ainda fico temerosa que isso possa ser apenas um sonho ou um fantasia da minha mente que gosta de imaginar situações fantasiosas, mas eu sinto no meu coração que este é mesmo o meu lugar.
Mesmo que eu ainda não consiga chama-los de pai e mãe em alto e bom som – e talvez isso só aconteça depois que sair o resultado do DNA –, o meu coração insiste em dizer que eles são de fato os meus pais e que eu preciso parar de ter esse medo. Que eu preciso parar de ser negativa quanto a essa situação e aceitar o que está nítido desde o momento que os conheci, afinal, eu consigo ver em seus olhos o amor que eles já sentem por mim e isso me deixa com o coração aquecido, sendo que esse sempre foi um dos meus temores, o de ser rejeitada uma segunda vez – pois eu acreditava ter sido abandonada –, quando os encontrasse e que não fosse amada por eles.
Apesar de a Senhora Alana, melhor dizendo, a minha avó, não ser tão calorosa como os meus pais e de certa forma me sentir um pouco desconfortável pela forma como ela me olhou durante todo o almoço, eu pude perceber que tanto meu pai quanto a minha mãe são pessoas simples e humildes. Além de parecerem pessoas de bom coração, o que se confirmou pela forma como eles tratam os seus empregados, com respeito e educação.
A forma carinhosa com que a minha mãe falou de sua madrinha de consideração, e ela estando sentada à mesa conosco, prova o que eu disse no quesito educação e respeito por parte dos meus pais. E devo confessar que eu gostei muito da Margarida, que fez com que eu me sentisse acolhida e querida, como se ela fosse também a minha avó, demonstrando estar verdadeiramente feliz, apenas por eu ter encontrado a minha família ou, na verdade, eles terem me encontrado.
Apesar de ter sentido um pouco a tensão que pairou no ambiente, depois que minha avó reclamou por Margarida estar sentada à mesa, o clima voltou a ficar leve e descontraído. Não vou negar que isso tenha me incomodado, e muito, porque para mim todos são iguais, independente da função ou profissão que cada um exerce. Ainda mais se for considerado membro da família, como o meu pai fez questão de ressaltar, encerrando de uma vez por todas aquele assunto desagradável.
Assim que retornamos para a sala, após o almoço, o meu pai adotou um postura um pouco mais séria ao convocar Christian e Richard para conversarem em seu Escritório. E por mais que Christian tenha tentado sorrir ao me beijar – o que me deixou com um pouco de vergonha por todos estarem nos observando –, e demonstrar que estava tudo bem, eu senti que eles iriam discutir alguma coisa importante, mas prefiro não pensar nisso, afinal de contas, se fosse para eu saber sobre o assunto em questão, isso não seria discutido as portas fechadas.
– Há quanto tempo você trabalha na Loja da Vanessa, Menina? – Me surpreendo com a pergunta vinda por parte da minha avó, pois desde que nos cumprimentamos, ela não fez mais que apenas me analisar.
– Estou trabalhando na Dress For Less apenas há sete meses.
– E o que você fazia antes disso?
– Eu apenas estudava e ajudava nos afazeres de casa, nada, além disso. – Dou de ombros e ela assente.
– Você disse que faz Administração, não é mesmo, Filha? – Minha mãe senta-se ao meu lado e pega a minha mão, fazendo-me sorrir.
– Sim, estou no quarto período de Administração, na Universidade de Seattle.
– Onde você disse que morava antes? – Minha avó volta a perguntar e minha mãe olha para ela com a testa franzida, talvez não entendendo aonde ela queira chegar com esses questionamentos, mas eu respondo mesmo assim.
– Em Portland, mas devido ao curso que eu queria ser aqui em Seattle, e ter conseguido uma bolsa integral, nos mudamos há quase dois anos.
– Sabe o que eu não consigo entender? – Minha avó questiona novamente. – O porquê de o Rossetti ter dito que você era sobrinha dele e agora você aparecer como sendo a suposta filha do meu filho que até então estava desaparecida e, para falar a verdade, estávamos quase acreditando que você estivesse de fato morta.
– Alana, por favor! – Minha mãe a repreende e ela apenas revira os olhos, mas continua me encarando com seus olhos castanhos interrogativos.
– Está tudo bem, não se preocupe. – Eu sorrio e aperto a mão da minha mãe para tranquilizá-la, mas logo volto a minha atenção para minha avó. – Eu sempre soube que não era sobrinha biológica do meu Tio, mas tanto ele, quanto a Tia Ângela e o Padre Lutero me consideravam e me amavam como se eu fosse de fato da família deles, então acredito que por essa razão ele tenha me apresentado dessa forma. – Ela não fala nada, apenas fica me ouvindo. – Agora quanto a eu ser a filha do Senhor Raymond e da Senhora Carla, acredito que tenha sido obra do destino ter direcionado os nossos caminhos para que nos encontrássemos, afinal eu também não fazia ideia quanto a isso, sendo que até ontem, eu não sabia nada sobre os meus pais, quem seriam ou onde eu poderia encontrá-los, apesar de sempre ter desejado que um dia isso fosse possível de acontecer.
– Na verdade, Alana, isso não é mais uma suposição, pois não resta a menor dúvida que a Ana seja a filha de Raymond e Carla, assim como ela é a sua neta, no entanto eu acredito que o Marco a tenha apresentado dessa forma, porque era assim que ele a considerava, como a sobrinha que ele amava muito. Então não há nenhum problema na forma que ele se referiu a ela.
Caleb fala sério, passando o braço sobre os meus ombros, aproximando o meu corpo do dele enquanto nos mantemos sentados e eu o agradeço com um sorriso forçado, pois eu estava começando a ficar desconfortável com a forma que a minha avó está me olhando, como se não acreditasse em mim ou na minha história.
– E qual é a sua relação com os Grey? Pois eu vejo que você fica bem confortável na presença de qualquer um deles, não é mesmo? – Ela arqueia uma sobrancelha, olhando para a forma que Caleb me mantém num abraço lateral, mas antes que eu responda, ele mesmo o faz.
– Claro que ela fica confortável conosco, Alana, afinal de contas, ela é a namorada do meu irmão gêmeo e é como uma irmã mais nova tanto para mim, quanto para Richard, então não seria diferente, você concorda?
– Claro, meu Querido. Você tem razão. – Ela dá um sorriso singelo e volta a me olhar. – Eu estou apenas curiosa para conhecer um pouco mais sobre a minha neta, você entende não é, Anastásia?
– Entendo sim, Senhora. Eu não vejo problema em responder suas perguntas, até porque eu não tenho nada a esconder.
Ela assente e por um momento, o silêncio – um tanto quanto constrangedor –, tomou conta do ambiente. Porém eu considero natural, essas dúvidas e desconfianças por parte dela, sendo que ela deve estar apenas preocupada com o seu único filho, que depois de longos anos estando procurando uma filha que não fazia ideia se um dia a encontraria e de repente, alguém chega dizendo que é filha perdida deles, apesar de não ter sido exatamente assim que aconteceu, mas seus medos e receios são válidos, com toda certeza.
Dando-me conta que preciso ir para a Loja, eu pego no pulso de Caleb para verificar a hora e arregalo os olhos, vendo que falta menos de 40 minutos para o meu expediente iniciar e eu já estou encrencada o suficiente por ter faltado na segunda, para poder me atrasar hoje, sendo que eu estou bem longe de conseguir concluir o Inventário das Joias, como foi ordenado por Vanessa.
– Se você estiver pronta para ir, Ana, eu te levo. Eu também preciso retornar para o Hospital. – Caleb se levanta e eu faço o mesmo, suspirando em alívio por ele ter percebido que eu queria ir embora.
– Eu sei que você precisa ir, mas sinceramente eu não queria você fosse agora, Anastásia. – Minha mãe fala com um tom de voz triste, assim que se levanta e eu sorrio para ela.
– Eu preciso mesmo ir trabalhar, mas poderemos nos encontrar em breve, pois agora teremos muito tempo para isso e oportunidades não faltarão. – Ela sorri e me abraça, fazendo-me fechar os olhos por sentir esse carinho de mãe... O carinho da minha mãe.
– É verdade, agora teremos todo o tempo do mundo. – Ela fala com a voz embargada e se afasta para olhar em meus olhos. – Quando eu te vi naquele dia com o Marco, eu senti que eu já te conhecia, mas eu pensei ser apenas mais uma vontade do meu coração buscando em todas as jovens que eu via a minha filha. – Ela acaricia o meu rosto e eu sorrio mesmo tentando segurar minhas lágrimas por ver o seu olhar afetuoso. – E saber que você é a minha Filha, a minha Menininha que eu senti crescer e se mexer em meu ventre, me deixa muito feliz, tanto que eu não consigo nem mesmo dimensionar. – Ela sorri e seca com os dedos as lágrimas que não consegui mais conter. – Mas agora, chega de lágrimas, pois teremos apenas motivos para sorrir e recuperar o tempo que nos foi tomado, sem ficar lamentando o passado. – Eu assinto e me afasto, assim que Caleb se aproxima para se despedir dela.
– Carla, obrigado pelo almoço, mas eu preciso voltar para o Hospital, ou os meus pais irão descontar do meu salário essas horas que estive ausente e sinceramente, não quero nem pensar nessa possibilidade em perder meu dinheiro tão suado.
– Você não tem jeito, Caleb. – Minha mãe nega com a cabeça e acabo dando risada da cara de coitado do meu amigo, ou seria meu cunhado? Ai que confusão. – Mande lembranças para Grace e Carrick, mas agora eu acredito que iremos nos ver com mais frequência, já que o seu irmão é o meu genro e além de amigos, faremos parte da mesma família, não é mesmo? – Ela olha para mim dando uma piscadela, me deixando envergonhada e Caleb, bufa dramático.
– Que azar o de vocês. Eu lamento muito por isso, Carla, mas a Ana nem para escolher o gêmeo mais bonito, preferindo o Senhor Irritado. – Ele nega com a cabeça e me abraça, me fazendo revirar os olhos, mas acabo sorrindo ouvindo a gargalhada da minha mãe.
– Bom, temos mesmo que ir ou chegarei atrasada. – Me aproximo abraçando-a novamente e aceno para minha avó que não levantou do seu lugar. – Eu... Eu sei que não resta dúvida que eu seja... Bem, que eu seja a filha de vocês, mas a Senhora poderia pedir para o William não comentar nada com a Eloise por enquanto? – Ela me olha confusa, mesmo eu achando que ele iria fazer isso, sendo que logo após o almoço ele foi se encontrar com a namorada. – Só até o resultado do Exame de DNA ficar pronto, para o caso de... – Ela nega com a cabeça e pega as minhas mãos me interrompendo.
– O resultado será o que já sabemos. E será positivo, por isso não precisa se preocupar, mas eu acredito que nesse momento, ele já deve ter contado não apenas para a Eloise, mas também para o pai dele e os seus avós. – Arregalo os olhos e ela sorri. – O William sempre acreditou que iriamos te encontrar, minha Filha, pois ele sempre foi muito apegado comigo, principalmente depois que a mãe dele o abandonou quando ele tinha apenas um ano. – Ela fala com tristeza na voz e imagino o porquê, afinal ela sempre desejou me encontrar e a mãe do William, simplesmente não o quis. – E mesmo que ele tenha esse jeitinho calado e reservado, ele sempre te amou, desde o meu ventre.
– Só não deixa o Senhor Ciumento escutar isso, pois é bem capaz do William voltar para Kansas voando, após receber um único soco. – Caleb fala com os olhos arregalados fazendo drama e acabamos rindo. – Agora vamos, Ana, ou você terá que aguentar a Bruxa Má do Oeste. – Ele sussurra o apelido "carinhoso" da Vanessa e nego com a cabeça, mas não posso negar que ele esteja certo.
E após nos despedirmos novamente – o que parece ser algo difícil de fazer, tendo em vista que eu também gostaria de ficar mais um pouco – e pedir para que ela se despedisse do meu pai por mim, o Caleb pegou a minha bolsa no carro com o Taylor e entramos no seu em seguida, enfrentando o tráfego movimentado das ruas de Seattle.
(...)
– Você está bem, Ana? – Olho para Caleb e ele desvia rapidamente a sua atenção do trânsito para me olhar. – Eu digo em relação a tudo isso, afinal, a sua vida com certeza irá mudar de agora em diante. – Eu assinto e sorrio por ver que ele está mesmo preocupado.
– Ontem quando o Christian me contou sobre os meus pais, eu confesso que fiquei com muito medo de como seria o nosso encontro, mas hoje, depois de ouvir toda a história deles e consequentemente a minha também, eu posso dizer que estou com o coração tranquilo e feliz. Na verdade muito feliz por saber que eu não fui abandonada como acreditava ter sido e por ver que os meus pais são boas pessoas. – Ele assente e pega a minha mão rapidamente, dando um aperto reconfortante.
– Mas eu percebi que você não conseguiu chamá-los de pai e mãe nem uma vez. – Ele afirma e eu suspiro.
– Não é que eu não quisesse, entende? Na minha cabeça eu já os considero assim e não os imagino de forma diferente, mas parece que verbalizar faz tudo parecer de fato real e confesso que o resultado do Exame de DNA esteja influenciando nessa questão, como se fosse um bloqueio que me fizesse acreditar que encontrei os meus pais de verdade.
– Eu entendo que você ainda esteja com receio, Ana, mas não precisa ter medo, pois as cartas que o Marco enviou tanto para você quanto para o Raymond, a fotografia de quando você era bebê que foi enviada como prova que a filha deles estivesse viva e uma série de coisas que você já sabe, é prova o suficiente. – Eu assinto e ele continua. – Além do mais, você é a cópia do seu pai e sinceramente, eu sinto vontade de me bater por não ter percebido isso antes. – Ele fala frustrado e eu sorrio enquanto nego com a cabeça.
– Caleb, você não tem culpa e se não os encontrei antes, foi porque ainda não era a hora para isso acontecer. – Ele assente e eu me lembro do que Christian disse, antes de entrar no escritório com o meu pai e Richard. – E que negócio é esse de você ter Escolta e eu nunca percebi? – Ele bufa e revira os olhos, mas mantém sua atenção no trânsito.
– Os meus pais sempre prezaram por nossa Segurança, mas depois que o Richard assumiu a Segurança da família ele inventou isso. – Eu assinto e ele olha rapidamente pelo retrovisor lateral. – Se você olhar pelo retrovisor, verá um SUV preto logo atrás, nos seguindo a uma distância segura. – Eu faço o que ele disse e de fato, consigo vê-los a um carro de distância de nós.
– Então por que você não tem um Motorista como o Christian? – Ele dá uma risada e nega com a cabeça.
– Na verdade, eu prefiro dirigir o meu carro, mas o Christian também prefere, apesar de ter se acostumado com o Taylor. – Eu assinto, pois já percebi que eles ficam bem à vontade dentro de um carro. – O problema é que além de ser um Grey, o Christian conseguiu sua própria fortuna muito cedo e o Richard achou melhor que ele tivesse além da Escolta, um Motorista e Segurança em tempo integral.
– Deve ser bem chato isso, afinal, vocês acabam não tendo privacidade.
– No início é ruim sim, mas depois é como se eles não estivessem te seguindo para todos os lados de tão discretos que são. – Eu concordo, sendo que em praticamente dois anos, eu nunca havia percebido que o Caleb andava com um carro atrás dele. – E você, Mocinha, logo irá se acostumar com isso também.
– Como assim? O que você quer dizer com isso?
– Ana, você é namorada do Christian e eu já te falei a situação dele, sem contar que você é uma Steele também. – Fico confusa, pois eu sempre fui uma Steele, mas ele logo esclarece o que quis dizer. – Ana, o seu pai é um dos homens mais ricos do nosso País, para não falar do Mundo. – Arregalo os olhos e ele me olha rapidamente, sorrindo de lado. – Ele é conhecido como o Rei do Petróleo, então, sua peste, se acostume, pois agora você será a Princesinha do Petróleo. – Antes que eu pudesse assimilar as suas palavras, ele para na porta da Loja.
Eu apenas dou um beijo em seu rosto e desço do carro, após agradecer pela carona e entro praticamente no automático, seguindo para o vestiário para me trocar e começar o meu expediente, pois estou alguns minutos atrasada. Mas sinceramente, eu prefiro não pensar nisso agora, ou ficarei louca antes da hora.
(...)
– Oi, Ana! – Sorrio ao ouvir a voz de Júlia e me viro, assim que termino de prender o meu cabelo.
– Oi, Júlia, tudo bem?
– Estou bem sim! E eu queria agradecer por ontem. – Fico confusa e ela sorri tímida. – Por ter me feito aceitar o táxi que o seu namorado me ofereceu, ele foi muito gentil. – Sorrio ainda mais por me lembrar de Christian e me aproximo dela.
– Ele é mesmo, o Christian é um verdadeiro Príncipe. – Suspiro apaixonada e ela sorri. – Mas você não precisa me agradecer por nada, pois se não fosse por mim, você teria saído mais cedo da Loja e não chegaria tão tarde na sua casa. – Ela revira os olhos, mas volta a sorrir em seguida.
– Vamos parar com esse agradece daqui e dali, que eu já vi que nenhuma das duas irá desistir. – Damos risada e ela suspira. – Eu não queria acabar com esse seu sorriso, mas a Senhorita Parker está na sala dela. – Assim que ela termina de falar, o meu sorriso se desfaz na mesma hora, me fazendo suspirar.
– Droga! Ela não iria chegar apenas na sexta-feira? – Agora sim, eu estou muito, mas muito encrencada, pois não fiz nem a metade da metade do inventário das joias que ela mandou.
– Era o que a Marta disse, mas parece que ela conseguiu antecipar o que foi fazer em Paris e voltou mais cedo. – Visto o meu blazer, aliso uma ruga invisível no meu vestido e respiro fundo, calçando meus sapatos. – Mas não sei o que aconteceu nessa viagem, pois ela está de muito bom humor. – Ela fala pensativa e balança a cabeça, me olhando em seguida. – E pediu para que você fosse até a sala dela, assim que chegasse.
– Ai meu Deus! E só agora você me fala Júlia? – Ela dá de ombros e ri do meu desespero. – Bom, se não tem outra saída, o jeito é subir e ver o que ela quer.
– Boa sorte!
– É! Eu acho que vou mesmo precisar.
Dou risada da minha própria desgraça e saio do vestiário, caminhando para o elevador como se eu fosse para forca, mesmo que o significado de ir até a sala da Vanessa seja mesmo esse. No entanto assumirei meus erros se me forem cobrados, sendo que de fato eu faltei na segunda e cheguei atrasada hoje, então não tenho alternativa a não ser aceitar as punições que ela achar cabíveis para a situação.
Cumprimento a sua Secretária que me olha compadecida, por saber que Vanessa Parker sempre foi uma bruxa comigo e respiro fundo algumas vezes, antes de bater na porta e abri-la, logo após obter a sua autorização. Entro em sua sala, fechando a porta atrás de mim tendo seus olhos azuis atentos a cada movimento que eu faço. Sinto-me sendo avaliada, como se eu fosse mais uma de suas mercadorias, mas mantenho – ou tento pelo menos – a minha postura profissional e me aproximo de sua mesa.
– Boa tarde, Senhorita Parker! Pediu para me chamar?
– Boa tarde, Anastásia, pedi sim. Sente-se! – Estranho o seu pedido e a forma educada de falar, mas o faço assim mesmo. – Como está o Inventário das joias que eu pedi que fosse feito? – Claro que essa seria a pergunta que ela faria e seguro a vontade de revirar os olhos.
– Eu comecei a fazê-lo ontem, mas ainda tem muito que fazer, mas acredito que até sexta-feira eu consiga terminar. – Se eu passar a noite trabalhando, penso sem verbalizar e ela assente.
– Tudo bem! Eu não tenho mais pressa por enquanto, mas peça a Melissa para te ajudar. – Eu apenas assinto, apesar de estar estranhando toda essa bondade dela, mas ela continua. – No fim da tarde, irá chegar um novo lote de Roupas e Joias do Alexis Mabille, mas a Andrea irá recebê-las. – Novamente apenas assinto. – No entanto chegará também um lote exclusivo de ternos da Dior e estes eu quero que você organize, pois na sexta-feira um amigo muito querido virá pegá-los e quero que você o atenda e muito bem.
– Sim, Senhorita Parker.
– Por enquanto é só isso, pode se retirar e peça para Júlia me trazer um expresso sem açúcar.
– Sim, Senhorita, com licença. – Eu me levanto e ela faz um gesto com a mão para que eu me retire, voltando a analisar o mostruário de joias que está sobre sua mesa.
Saio de sua sala, sem entender o que acabou de acontecer, pois sinceramente eu acreditei que ela iria começar a gritar me chamando de irresponsável, de sonsa ou sei mais o que ela pensa sobre mim e por fim, me demitiria, mas foi o completo oposto do que imaginei. Bom, eu irei fazer o meu trabalho e não brincar com a sorte, isso sim.
(...)
O dia passou surpreendentemente agradável, enquanto eu continuei a fazer o inventário das joias na companhia da Melissa, que não deixou de me fazer rir com as suas histórias sobre seus pais, principalmente o seu pai que segundo ela, a cada dia que passa está ainda mais insuportável. E por essa razão, eu não tive tempo para pensar em tudo que conversei com o Caleb enquanto me trazia para a Loja referente aos meus pais e seu Status Social.
Mas logo mudamos de assunto para falar sobre a Marta que saiu para ir a uma consulta Médica, pois mesmo que ela estivesse sorrindo como todos os dias, conseguimos perceber que ela estava apreensiva com os resultados. Nós sabemos que ela está com medo do que sua Ginecologista diria, afinal, ela está com 40 anos e ainda não conseguiu engravidar, fazendo mais uma bateria de exames – junto com o Otávio, o seu marido –, para saber o que há de errado ou se é apenas estresse pela pressão da situação, mas eu tenho fé que tudo dará certo.
As mercadorias chegaram como a Vanessa havia dito e eu precisei deixar Melissa sozinha por alguns minutos, enquanto colocava os ternos no Departamento Masculino, na área reservada, mas logo voltei para o cofre e dessa forma a hora passou tão rápido que quando me assustei, já havia passado 30 minutos da hora que deveríamos ter ido embora. E se continuarmos nesse ritmo de trabalho, conseguiremos terminar tudo na sexta-feira, como eu havia dito para Vanessa que faria.
Troquei minhas roupas e assim que pego o celular, franzo a testa por achar estranho não ter nenhuma chamada não atendida do Christian, mas acredito que ele deveria apenas estar ocupado e sabia também que eu poderia demorar por causa do bendito inventário. Pego a minha bolsa e assim que me despeço da Melissa, eu saio da Loja e sorrio ao ver Taylor parado ao lado do carro.
– Boa noite, Taylor! – Cumprimento assim que me aproximo e ele abre a porta para que eu possa entrar, mas estranho por não ver o Christian no carro.
– Boa noite, Senhorita Steele! – Ele fecha a porta e dá a volta no carro e eu mordo a unha que levo a boca, na dúvida se devo ou não perguntar, mas acredito que não há problema, não é?
– Onde está o Christian, Taylor? – Ele me olha pelo retrovisor interno e coloca o carro em movimento, antes de me responder.
– Ele está na Empresa, Senhorita.
– Você sabe se ele ainda irá demorar a ir para casa?
– Provavelmente, Senhorita.
Apenas assinto por perceber que ele não irá me falar mais nada e me recosto no banco, colocando o cinto, sentindo um aperto no peito, pois alguma coisa está errada, eu só não sei o que possa ser, mas irei descobrir. No entanto agora, o que posso fazer é ir em silêncio durante o trajeto e não começar a pensar em besteiras, pois até o momento que ele seguiu para o Escritório com o Richard e meu pai, estava tudo bem.
Mas eu quero acreditar que seja apenas alguma coisa relacionada ao seu trabalho, pois eu sei que ele ficou praticamente o dia todo fora de sua Empresa e eu já ouvi várias vezes o Caleb reclamar que o irmão só ficava trabalhando, o que acontecia de ficarem dias sem ser ver, mesmo morando na mesma casa. Eu balanço a cabeça não querendo pensar em nada negativo que possa ter acontecido e logo Taylor atravessa os portões, parando na entrada da casa.
Eu suspiro e pego minha bolsa, me preparando para sair do carro, mas me sinto estranha chegando à casa do Christian sem a presença dele e isso faz com que eu me sinta um pouco deslocada, apesar de sempre terem me tratado muito bem, sendo os pais dele ou os irmãos. Mas eu acho que essa sensação se dá pelo fato de eu querer estar com o Christian, porém terei que esperá-lo.
Eu saio do carro e agradeço ao Taylor que logo volta pelo mesmo caminho que chegamos, provavelmente para ir até o Christian. E mais uma vez, eu respiro fundo e abro a porta, encontrando a casa num absoluto silêncio, o que me faz ver a hora e perceber que são mais de 21h00, mas assim que entro na sala, Lola aparece, para me receber.
– Boa noite, Menina Ana!
– Boa noite, Lola. – Ela sorri e eu me aproximo dela. Tento olhar em volta para ver se vejo alguém, mas ela antecipa a minha pergunta não formulada.
– Grace e Caleb já foram para seus quartos. O Carrick precisou voltar para o Hospital para uma cirurgia de emergência e o Richard avisou que chegaria mais tarde. – Eu assinto e ela volta a falar. – E você irá jantar agora? – Eu nego com a cabeça.
– Obrigada, Lola, mas eu irei esperar o Christian chegar. – Ela assente eu me aproximo dando um beijo em sua bochecha fofa, saindo da sala e subindo as escadas.
Entro no quarto que temporariamente é meu e me sento na cama, pego o celular e tento ligar para o Christian, mas após chamar algumas vezes, cai na caixa de mensagem. Talvez ele não possa atender agora e não irei insistir, não quero atrapalhá-lo e nem parecer uma namorada grudenta. Faço uma careta por pensar nisso e entro no banheiro e começo a tomar o meu banho, para aliviar o cansaço, pois o meu dia hoje foi bem atípico.
Primeiro, as revelações dos meus pais, que me desgastaram emocionalmente por conhecer a minha história, ou parte dela, pois ainda continuamos sem saber o porquê de tudo ter acontecido. Depois, a mudança de humor da Vanessa que me deixou bem intrigada, não que eu esteja reclamando, é claro, mas que isso não é típico dela, não é mesmo. E agora não tenho notícias do Christian, o que está me deixando muito preocupada, mas pode ser apenas coisa da minha cabeça, pois se tivesse acontecido alguma coisa, a família dele deveria estar sabendo, não é?
Depois de tomar banho, organizar os meus materiais para a Universidade amanhã e minha bolsa que devo levar para o trabalho, deito-me na cama e bocejo mais uma vez, pois pelo visto, Christian ainda irá demorar. Eu poderia ligar para a Tia Ângela para saber como ela está e ver se o tempo passa mais rápido, mas está muito tarde e não quero preocupá-la, apesar de precisar mesmo falar com ela, mas irei apenas descansar um pouco, antes que o Christian chegue e eu possa descobrir o que foi que aconteceu.
– Irei descansar só um pouquinho, daqui a pouco eu tento ligar para ele novamente.
Murmuro para o silêncio do quarto e desligo a luz, deixando apenas o abajur ligado e depois de bocejar mais uma vez, eu fecho os olhos e antes que eu perceba, o sono acaba me dominando.
Eita que a Vovó Alana está desconfiada se Ana é mesmo neta dela, hein? E Caleb entrou em defesa da peste da vida dele 🤭🤭🤭! Mas também deu muito o que pensar para Ana, sem ter essa intenção, não é mesmo 🤭🤭🤭?
E só eu que percebi que a Vanessa está estranha 😏😏😏? Qual será o motivo dessa mudança de comportamento repentino dela, hein? Sei não viu 🤭🤭🤭!
E esse "sumiço" do Senhor Possessivo, o que será que aconteceu 🤔🤔🤔?
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