Capítulo - 45
O voo de Boston a Seattle nunca pareceu tão demorado como hoje, sendo às 05h30min de voo mais longas da minha vida e, enquanto estou no táxi a caminho do Hospital, o qual a desconhecida me informou, tento ligar no celular do meu pai e ele não me atende e isso está me deixando preocupado, pois pelo horário, ele já deveria ter chegado de sua viagem. Tento mais uma vez e novamente a ligação vai direto para caixa de mensagem.
– Pai, assim que pegar esse recado, me ligue de imediato, por favor, pois eu estou em Seattle e preciso do Senhor nesse momento. – Deixo mais um recado e respiro fundo, no momento que o Taxista para na entrada do Hospital. Não espero que ele fale o custo da viagem, pois na pressa eu mesmo olho no taxímetro o entregando uma nota de $ 100,00 (Cem Dólares) e abro a porta, pois eu não trouxe bagagem. – Obrigado, Senhor! E pode ficar com o troco.
Ele me encara surpreso por um momento, mas não espero que ele diga nada, pois saio correndo, entrando no Hospital. Na Recepção pergunto por Carla, confirmando que a desconhecida falou mesmo a verdade e sou direcionado para a sala de espera, onde ela diz que logo o Médico falará comigo e isso me deixa ainda mais nervoso do que eu estava.
A ansiedade para ver o meu filho e saber como a Carla está faz com que eu comece a andar de um lado para outro. Sinto-me sufocado e uma vontade de quebrar alguma coisa começa a me dominar. Eu tento me controlar ao máximo, afinal, estou em um Hospital e não posso chamar atenção ou fazer uma cena. Eu me sento, levanto novamente, olho no relógio e nada de ninguém vir falar comigo e eu fico nesse ciclo até que vejo um Médico se aproximando, mas por sua expressão, algo está errado e isso faz o meu coração gelar.
– O Senhor é acompanhante de Carla Miller?
– Sim, eu sou o namorado dela, Raymond Steele.
– Senhor Steele, eu sou Carlos Meyer, Ginecologista e Obstetra responsável pelo parto de sua namorada, porém nós tentamos fazer o possível, mas infelizmente o bebê não resistiu.
– O quê? – Sinto o meu corpo ser nocauteado pela forma direta que ele diz isso, no entanto ele parece não ligar muito para o que acabou de dizer, mesmo parecendo um pouco nervoso, o que eu acho estranho por ele ser um Médico.
– A sua namorada chegou até o Hospital com a pressão muito alta e tentamos baixá-la, antes de submetê-la a cirurgia para iniciar o parto, mas infelizmente o bebê não resistiu e...
– E como... Como está a Carla?
Engulo o nó que se formou em minha garganta, sentindo uma dor inigualável por perder um serzinho que eu nem sabia de sua existência até horas atrás, mas preciso saber como está à mulher que eu amo, pois não posso perdê-la também.
– A Senhorita Miller chegou com fortes dores de cabeça e dor intensa do lado direito do abdômen e teve duas convulsões. Tentamos reduzir a pressão ministrando os medicamentos necessários, mas ela acabou entrando em coma e...
– Em coma? – Pergunto alarmado e ele assente.
– Sim, Senhor Steele, mas conseguimos reverter o quadro para que não se agravasse ainda mais, no entanto o coma foi inevitável, mas não se preocupe, ela está estável e a qualquer momento poderá acordar, assim que o corpo dela se recuperar.
– Eu posso vê-los? – Ele me olha por um momento e suspira.
– A Senhorita Miller está na UTI, mas deixarei que o Senhor entre por cinco minutos e quanto ao bebê, conversaremos depois que o Senhor voltar. – Ele fala e desvia o olhar dos meus e isso me deixa intrigado, fazendo-me secar os meus olhos que insistem em derramar lágrimas sem parar.
– Qual é o problema, Dr. Meyer?
– Senhor Steele, eu insisto para conversarmos sobre isso quando o Senhor estiver mais calmo, pois eu acho...
– Eu não quero saber o que o Senhor acha Doutor, eu quero apenas que me diga qual é o problema e por que não posso ver o meu filho agora? – Ele olha para os lados, passa a mão em sua testa que começou a suar de repente, o que eu acho ainda mais estranho, pois dentro desse Hospital está bem frio, mas ele acaba assentindo, me encarando um pouco cauteloso.
– Como eu havia dito para o Senhor, a Senhorita Miller teve duas convulsões e precisamos correr contra o tempo para estabilizá-la e assim que conseguimos, iniciamos o parto. – Eu assinto e novamente seco o meu rosto, sentindo o meu coração doer por imaginar a mulher que eu amo sozinha, passando por tudo isso e, ele logo continua. – O bebê nasceu com vida, foi levado para a UTI Neonatal, pois... É... Levando em consideração que... Que devido às complicações do parto, o bebê nasceu com dificuldades para respirar. No entanto, algumas horas depois, o bebê teve... Teve uma parada cardiorrespiratória e veio a óbito. – Encaro o Médico por um momento e vejo que ele está nervoso, quando na verdade ele deveria estar habituado a situações como essa e algo está errado, eu sei que está.
– Eu quero vê-lo mesmo assim? Onde o meu bebê está?
– Senhor Steele...
– Onde está o meu bebê, Doutor Meyer, eu quero vê-lo agora! – Elevo um pouco o tom de voz cansado de tudo isso e, ele engole em seco, desviando os olhos dos meus novamente. – O meu bebê não morreu, estou certo, Doutor? – Ele não fala nada, eu me aproximo e sem perceber, seguro em seu colarinho e ele arregala os olhos. – Onde está o meu bebê? O que vocês fizeram com ele?
– Senhor Steele, acalme-se, o Senhor está nervoso com toda essa carga emocional, o que é normal nesse caso, mas...
– Mas nada, eu quero saber onde está o meu bebê e o Doutor irá me falar agora. – Vejo dois Seguranças se aproximando, mas ele os para com um gesto de mão e eu o solto, ele arruma a sua roupa e me olha com pena.
– Senhor Steele, o seu bebê sumiu. – Dou dois passos para trás, sentindo o impacto de suas palavras e ele suspira. – Não sabemos o que aconteceu ou quem o levou, estamos tomando as devidas providências para localizá-lo.
– Como... Como isso é possível? – Falo num fio de voz e balanço a cabeça, tentando acordar desse pesadelo, mas isso é real e está de fato acontecendo comigo. – Vocês chamaram a Polícia? – Ele fica em silêncio e eu acabo perdendo a paciência. – VOCÊS CHAMARAM A POLÍCIA?
– Senhor Steele, eu preciso que o Senhor mantenha a calma, pois não queremos um escândalo nesse momento e logo saberemos o que aconteceu.
– Escândalo? Escândalo eu irei fazer, se não for acionado a Polícia nesse exato momento, pois se o meu bebê foi sequestrado... – Minha voz embarga e sinto as minhas forças que eu tentava a todo custo manter pela Carla, se esvair e permito que o meu corpo deslize pela parede até que eu esteja sentado no chão e as lágrimas voltam com tudo me sufocando ainda mais. – Por quê? Por que com o meu bebê? Por que isso está acontecendo? Por que eu não estava aqui? Por que eu permiti que isso acontecesse? – Pergunto para ninguém em específico e sinto uma picada em meu braço e vejo uma Enfermeira se afastar com uma seringa na mão.
– O Senhor irá se sentir melhor depois que acordar, desculpe-me por isso.
Eu tento perguntar por que ela está se desculpando, mas sinto o meu corpo ficando anestesiado e os meus olhos pesando e a última imagem que eu vejo são dois Enfermeiros se aproximando antes que enfim, eu feche os meus olhos.
(...)
Acordo sentindo uma dor de cabeça sem explicação e tento abrir os meus olhos que estão pesados e me pergunto o que aconteceu, pois num minuto eu estava... Não! Realmente não foi um pesadelo e tudo o que eu ouvi realmente é verdade. Lembrar-me de tudo me sufoca na medida em que o peso dos acontecimentos me atinge como uma avalanche, fazendo-me levar a mão no peito para tentar amenizar essa dor que eu não sei explicar exatamente a dimensão e muito menos eu sei como fazer isso parar, ainda mais por me lembrar de que a mulher que eu amo ainda não sabe o que está acontecendo.
Eu não consigo entender por que isso está acontecendo conosco. Como um bebê pôde ser levado de um Hospital logo após o seu nascimento e ninguém sabe como isso ocorreu? Eu não consigo acreditar que eu sou pai, porém eu não pude nem mesmo ver o rostinho do meu bebê ou pegá-lo em meus braços. Isso não é justo e não merecemos passar por uma situação como essa, mas eu preciso colocar a cabeça no lugar para encontrar o meu bebê e é por isso que reúno todas as forças que me restam e levanto-me dessa cama, vendo que estou num quarto no Hospital.
Respiro fundo e caminho para o banheiro e jogo uma água no rosto, pois não faço ideia de quanto tempo eu estou nesse lugar e preciso falar com o meu pai. Ele saberá o que fazer e irá me ajudar a localizar o meu filho. Meu Deus! Eu me sinto tão perdido e não sei o que fazer primeiro, pois preciso encontrar o meu bebê, saber como a Carla está e falar com o meu pai, pois eu preciso muito dele nesse momento.
– Senhor Steele, como está se sentindo? – Encaro a Enfermeira que me faz essa pergunta e vejo que foi a mesma que me sedou, mas respiro fundo, afinal ela está apenas fazendo o seu trabalho.
– Quanto tempo eu estou aqui? – Ela olha em seu relógio e volta a me olhar.
– Um pouco mais de três horas.
Assinto, pois isso foi muito tempo sem que eu pudesse fazer alguma coisa, por esse motivo eu passo por ela e me preparo para sair do quarto, sentindo como se eu estivesse em modo automático, porém eu me lembro de que não faço ideia de onde a Carla está e viro-me para encarar a Enfermeira que me olha como se eu tivesse perdido a razão, o que deve ser de fato verdade depois de tudo.
– Onde fica a UTI?
– No terceiro andar, mas... O Senhor está bem?
– Não... – Olho em sua identificação e vejo o seu nome. –... Judith, eu não estou bem. Eu fui sedado sem a minha permissão. A mulher que eu amo está nesse momento numa UTI e que não sei quando irá acordar. O meu bebê foi sequestrado e agora eu consigo entender que se eu não tivesse percebido que algo estava errado, eu não saberia desse fato, pois iriam me fazer acreditar que o meu filho havia morrido no parto e ninguém me dá uma posição de absolutamente nada do que aconteceu e o que estão fazendo para trazer o meu bebê de volta. Então, Judith, por esse motivo é impossível que eu esteja bem.
Falo num fôlego só e dou-lhe as costas, saindo do quarto, deixando-a de boca aberta com o meu rompante, no entanto estou muito preocupado e perturbado para me importar com a boa educação no momento, pois a única coisa que eu quero fazer e ver a minha mulher e encontrar o meu filho.
(...)
Nada! Ninguém sabe absolutamente nada de como o meu bebê foi levado do Hospital e ninguém viu isso acontecer. As câmeras estão passando por uma manutenção e não foi possível ver quem pegou o meu filho e o porquê disso ter acontecido. Ninguém percebeu nada suspeito e todos alegam que isso jamais ocorreu nas dependências do Hospital.
Estou ficando louco, pois nem a Polícia conseguiu descobrir algo que pudesse nos levar a uma pista e se a Carla não estivesse numa cama de Hospital, por ter sido submetida a uma cesariana e sendo monitorada – o que o Médico me garantiu que ela está bem e que poderá acordar a qualquer momento – eu diria que isso é uma brincadeira de muito mau gosto, pois tudo me leva a crer que isso não é real.
O meu pai não me atende no celular, não me atendem no telefone de casa e eu fico cada minuto que passa mais perdido, sentindo que eu estou perto de perder a razão, mas eu respiro fundo me segurando para não socar a cara do Diretor do Hospital que me encara sem muita vontade, parecendo que não foi nada demais um bebê ter sido roubado do Berçário do Hospital que ele é responsável.
– Senhor Steele, estamos fazendo o possível para tentar entender o que aconteceu!
– O que acontece, Senhor Mendez, é que o possível não é suficiente, pois eu quero... Não! Eu exijo que você não apenas tente entender o que aconteceu. Eu exijo que vocês localizem o meu filho e o traga para mim, antes que a mãe dele acorde, mas o que eu estou vendo aqui é que você está agindo como se o que foi sequestrado, foi apenas a sua caneta de trabalho e não uma criança. – Falo entredentes para não gritar com ele, mas ele apenas suspira e assente.
– O Senhor precisa manter a calma, pois estamos fazendo tudo dentro do que temos para trabalhar e buscar as respostas que o Senhor precisa, pois como eu havia dito isso nunca havia acontecido antes e estou tão estarrecido quanto o Senhor, mas...
– MAS EU NÃO QUERO SABER! – Acabo gritando enquanto bato os punhos cerrados sobre a sua mesa. – Eu quero o meu filho. Eu só quero o meu filho.
– Senhor Steele, nós estamos interrogando o pessoal envolvido no parto e também os que deveriam ter cuidado do bebê no Berçário... – Interrompo o Policial que não fiz questão de saber o seu nome, pois algo chama a minha atenção.
– Como assim "deveriam ter cuidado do bebê no Berçário"?
– O seu bebê não chegou ao Berçário, Senhor Steele. O Pediatra que deveria estar na sala de parto, foi encontrado no vestiário masculino dopado, amarrado e amordaçado, mas por estar ainda um pouco atordoado, ele não se lembra do que aconteceu.
– Meu Deus! – Desabo na cadeira e seguro minha cabeça entre as mãos, que ficou mais pesada do que estava.
– Senhor Steele, eu não imagino o que o Senhor está sentindo, mas estamos fazendo tudo que está em nosso alcance para encontrarmos o seu bebê.
Eu não respondo mais nada, apenas levanto a cabeça e encaro o Diretor do Hospital e o Policial, porém por me sentir desgastado com tudo isso e ainda mais perdido, eu levanto-me e saio da sala, deixando-os para resolverem o que estiver que ser resolvido por eles, no entanto eu irei tomar as minhas providências, mas antes, eu preciso ficar com a minha mulher e me preparar para contar a ela sobre o nosso bebê.
(...)
– Senhor Steele, eu consegui comprar essas roupas para o Senhor e também um carregador de celular, como havia me pedido. – Sorrio minimamente agradecendo pela gentileza e ela me entrega as sacolas. – Se precisar de mais alguma coisa, pode me chamar.
– Obrigado, Judith. – Ela assente e sorri antes de me deixar sozinho no quarto.
Depois que eu saí da sala do Diretor do Hospital, encontrei com a Judith no corredor e compadecida com o meu estado, ela me levou até o quarto onde a Carla já estava. Tendo em vista que estou nesse Hospital há quase 40 horas – e devo estar parecendo um mendigo por estar com as mesmas roupas e sem tomar um banho –, ela perguntou se haveria algo que pudesse fazer para me deixar mais confortável, o que aceitei de imediato.
O meu celular descarregou ontem pela manhã e por não querer sair desse Hospital fiquei incomunicável, não sabendo nem mesmo se o meu pai retornou as minhas ligações. Suspiro cansado, tanto físico quanto emocionalmente, mas pego a sacola olhando o seu conteúdo e encontro um camiseta, calça jeans e até mesmo uma cueca, assim como produtos de higiene e agradeço mentalmente por Judith ser tão bondosa. Levanto-me da cadeira que estou ao lado da cama de Carla, dou um beijo em sua testa e antes de entrar para o banheiro, coloco o celular para carregar, para ver se consigo falar com o meu pai.
Dentro do banheiro eu permito que as lágrimas se rompam novamente e me pergunto o que eu fiz para merecer isso? O que a Carla fez para ter que passar por todo esse sofrimento, tendo que passar por um resguardo sem ter o nosso bebê em seus braços? Será que conseguiremos encontrar o nosso bebê, depois de todo esse tempo sem nenhuma pista que possa nos levar ao nosso filho?
Suspiro derrotado e balanço a cabeça tentando esquecer essas perguntas que não terei respostas, mas infelizmente isso é impossível, por isso apenas encerro o meu banho, escovo os meus dentes e, estou me sentindo um pouco mais humano novamente e depois de me vestir, saio do quarto e arregalo os olhos vendo Carla acordada, mas consigo ver que ela está confusa, talvez não entendendo o que está acontecendo e me aproximo rapidamente dela.
– Oi, meu Amor! – Ela me olha por um momento, piscando algumas vezes, mas logo parece se dá conta do que aconteceu e de onde ela está começando a chorar. – Ei, não chore! – Seguro a minha própria vontade de chorar e aperto o botão para que alguém possa vir vê-la.
– Me perdoe Ray, por favor, me perdoe! – Ela fala desesperada com voz enrouquecida e eu nego com a cabeça, pegando em sua mão.
– Você não precisa se desculpar Amor, pois... – Ela nega com a cabeça e me interrompe.
– Eu não deveria ter omitido sobre a gravidez. Eu deveria ter te contado sobre a nossa filha...
– Filha? – Sinto os meus olhos marejarem, mas me controlo e ela assente.
– Sim, a nossa Aurora. – Ela sorri entre as lágrimas e aperta a minha mão. – Você já viu a nossa filha? Como ela é? Ela está bem?
Fico paralisado ouvindo as suas perguntas sem saber o que responder, mas a porta é aberta e logo uma Enfermeira entra, percebendo que a Carla despertou, saindo em seguida para chamar um Médico. No entanto o meu coração que nunca parou de doer se aperta ainda mais ao perceber que de fato isso é mesmo real, pois agora não é mais apenas o "meu bebê" que foi sequestrado, mas sim a minha filha, a minha Princesinha Aurora e enquanto o Médico verifica se a Carla está mesmo bem eu ouço o meu celular vibrar, mas depois verifico quem deve ser, mas acredito que seja o meu pai.
Depois de alguns minutos que o Médico saiu a Enfermeira retirou a sonda que Carla usava e a levou para tomar um banho, depois de constatar que ela estava mesmo bem. Eu continuo sem saber o que fazer e como falar para ela que a nossa filha foi levada de nós sem que pudéssemos vê-la.
Seco o meu rosto rapidamente, assim que ouço a porta do banheiro ser aberta e lentamente Carla caminha até a cama com a ajuda da Enfermeira, porém eu permaneço no lugar, me controlando para não desabar novamente e deixá-la assustada. Porém no momento que ficamos sozinhos no quarto, o silêncio começa a ficar insuportável e Carla o interpreta de forma errada, pois seus olhos que estavam me analisando começam a marejar ficando tristes.
– Ray... Eu... Nós podemos fazer o Exame de DNA se você não estiver acreditando que a filha é sua, mas eu juro que... – Acordo do meu estupor ouvindo o que ela está pensando do meu silêncio e me aproximo a passos rápidos, sentando-me na cama, envolvendo-a com os meus braços.
– Carla, em momento algum eu duvidei que o bebê fosse meu. – Beijo os seus cabelos e engulo o nó que se formou em minha garganta para continuar a falar. – Eu só queria entender, por que você escondeu isso de mim, me privando de acompanhar a sua gestação, de sentir a nossa filha se mexer e estar com você em todos os momentos vendo a nossa filha se desenvolver em seu ventre. – Ela começa a chorar e isso aperta ainda mais o meu coração. – Desculpe-me, meu Amor, eu não estou reclamando, pois eu acredito que você teve as suas razões, mas eu preciso te contar...
– Ray, eu não queria esconder a gravidez de você. – Ela se afasta e olha em meus olhos, segurando firme a minha mão. – Mas você estava no último ano da sua Especialização e eu via o quanto você estava cansado tendo que viajar quase todos os fins de semana para ficarmos juntos. – Ela toca o meu rosto e novamente eu respiro fundo. – Eu sei o quanto você estava se esforçando para concluir o seu curso e não ter mais que voltar para Boston, mas... Se eu te contasse você teria trancado a sua matrícula, interrompendo o que faltava tão pouco para você se formar.
– Sim, eu teria feito exatamente isso se fosse necessário, mas eu poderia também ter levado você para ficar comigo em Boston. Eu continuaria na Universidade e teria você ao meu lado. Eu veria a sua barriga crescer, ouviria o coraçãozinho da nossa filha e sentiria ela se mexer, apenas por ouvir a minha voz e dessa forma, ela não teria... Não teria... – Não consigo segurar mais e as lágrimas novamente voltam a deslizar por minha face e Carla me olha com carinho.
– Eu sei que eu errei, fui orgulhosa e muito teimosa, mas agora você poderá ter a nossa filha em seus braços e poderemos recuperar o tempo perdido. Ela irá te reconhecer assim que você pegá-la, pois ela irá te amar tanto ou até mais do que eu te amo. – Não consigo segurar o soluço que rasga o meu peito e nego com a cabeça e ela me olha assustada. – Ray, por que você está chorando assim? O que aconteceu? – Ela para de falar e fica pensando por um momento. – Por que ainda não trouxeram a nossa filha para eu amamentá-la? O que aconteceu com a nossa filha, Raymond?
– Carla, eu... Eu sinto muito...
– Não! A nossa filha não morreu, Raymond. Onde está a nossa filha? – Ela se desespera e tenta se levantar da cama, mas eu a seguro abraçando-a ainda mais apertado, porém com cuidado para não machucá-la, devido ao corte da cirurgia. – Eu quero ver a nossa filha! Onde está nossa filha, Raymond? – Ela bate no meu peito tentando se afastar, mas logo aperta minha camiseta em suas mãos enquanto começa a chorar desesperada. – A minha bebê, eu quero a minha filha.
– Carla, fique calma. – Ela nega com a cabeça e continua chorando, mas eu preciso contar a verdade para ela. – A nossa filha não morreu, Amor, mas... – Ela se afasta para poder me olhar e ver a esperança em seus olhos verdes que estão tristes me mata um pouco mais por dentro. – Você precisa manter a calma, Carla, pois você passou por uma cirurgia, ficou quase dois dias em coma e a sua pressão ainda não está normalizada e não é bom que você se altere tudo bem?
– Raymond, fale de uma vez, onde está a nossa filha? – Ela fala com a voz embargada e engulo em seco.
– A nossa filha... Ela foi... Ela foi sequestrada, assim que nasceu.
O grito de dor que Carla deu, rasgou a minha alma, fazendo com que eu me sinta impotente, sem conseguir acabar com a sua dor, pois nem a minha própria eu consigo aplacar nesse momento. Uma Enfermeira entrou no quarto para ver o que estava acontecendo e presenciando o estado que Carla estava logo a sedou para que ela não se machucasse.
Vê-la dessa forma faz com que eu me sinta um fracasso de homem por não ter conseguido proteger a nossa filha, mesmo que eu não soubesse dela, mas eu deveria ter ido atrás da Carla quando soube que ela havia saído da minha casa e não ter ficado sete meses sem vê-la, focado apenas na minha Especialização, no entanto não posso ficar apenas me lamentando, mas eu posso tentar fazer até mesmo o impossível se for preciso para trazer a nossa filha de volta para acabar com o seu sofrimento. E o que depender de mim, é isso que farei.
(...)
Depois que a Enfermeira sedou a Carla eu verifiquei as chamadas do meu celular na tentativa de distrair um pouco a minha mente, mas resolvi não retorná-las e decidi ir pessoalmente a minha casa para conversar com o meu pai, pois não irei ficar esperando apenas as investigações da Polícia sobre o sequestro da minha filha de braços cruzados e eu sei que o meu pai irá me ajudar com isso.
No entanto, assim que desço do táxi, eu percebo os olhares cautelosos dos Seguranças em mim quando abrem o portão para que eu possa entrar e me pergunto o que está acontecendo? Porém não pergunto nada a eles que continuam me olhando, como se estivessem esperando que eu fosse surtar a qualquer momento, mas apenas caminho na direção da casa e percebo o quanto estou cansado, pois desde que cheguei que eu não dormi – com exceção do momento que fui sedado – e nem comi direito, mas estou mais preocupado com a minha filha que não sei com quem possa estar e se estão fazendo mal a ela.
Pensar nisso faz com que o meu coração se aperte, pois ela é apenas um bebê, com dois dias de vida, inocente e indefesa, porém eu paro de pensar nisso por um momento ou então a minha mente irá entrar em colapso antes que eu consiga pensar numa forma de encontrá-la. Respiro fundo algumas vezes, com a mão na maçaneta da porta, mas antes que eu possa girá-la para abrir, assusto-me com uma mão no meu ombro e me viro de imediato para ver quem possa ser.
– Boa tarde, Senhor Steele! – Analiso o homem a minha frente e vejo que deve ter a minha idade ou um pouco mais novo, não sei dizer, estou muito cansado para reparar nesses detalhes no momento e, me pergunto quem possa ser, mas ele vê a dúvida estampada em minha cara, pois logo se apresenta. – Eu sou Marco Rossetti, eu fui contratado pelo Senhor Lorenzo há alguns meses.
– Ah sim, muito prazer, Marco, mas se você me der licença, eu preciso falar com o meu pai, você sabe se ele está em casa? – Ele desvia o olhar dos meus por um momento, mas nega com a cabeça.
– Senhor Steele, eu estava o aguardando, por isso poderia me acompanhar, por favor?
– Primeiro, me chame de Raymond. Segundo, eu preciso mesmo entrar, depois eu... – Ele me interrompe e percebo que algo está fora do lugar.
– Eu insisto Senhor Steele. – Assinto e o acompanho, mas percebo que estamos indo para a garagem.
– Onde estamos indo, Marco?
– Ao Hospital Geral de Seattle?
Ele responde sem me encarar e eu me assusto, como assim Hospital? Porém ele abre a porta do carro sem dizer mais nada e eu entro, mas vejo a hora e percebo que não poderei demorar muito, pois Carla logo irá acordar e eu quero estar com ela, quando isso acontecer.
– Por que estamos indo ao Hospital? O que aconteceu e onde estão os meus pais?
– A Senhora Steele irá conversar com o Senhor, assim que chegarmos ao local. – Não pergunto mais nada mesmo sentindo o meu coração pesado e me permito fechar os olhos por um momento.
Acordo – o que parece ter sido apenas alguns segundos depois de ter fechado os olhos – com Marco me chamando e por um momento me sinto atordoado e ainda mais cansado, mas saio do carro e o acompanho, entrando sem ser anunciado e começo a ficar aflito assim que entramos no elevador, pensando o que poderia ter acontecido.
Ele bate na porta e alguns segundos depois, ouvimos a voz da minha mãe e logo estamos entrando no quarto e me assusto por vê-la sentada na cama com um braço imobilizado e o rosto com um hematoma.
– Mãe, o que aconteceu? Onde está o meu pai? – Me aproximo rapidamente dela, percebendo que o meu pai não está no quarto, mas ela começa a chorar me deixando preocupado. – Mãe?
– Raymond, Filho... – Ela me estende a mão que está livre da tipoia e eu a pego. – O seu pai... Ele... – Ela soluça e meu coração se quebra um pouco mais.
– Onde está o Papai, Mãe? – Faço a pergunta, mas não querendo de fato ouvir a resposta e ela me olha com seus olhos castanhos que estão avermelhados, enquanto aperta a minha mão.
– O seu pai... Ele... Ele morreu Filho. – Ela fala entre os soluços e eu solto a sua mão dando passos para trás.
Porque isso não pode ser verdade. Eu devo estar ainda dentro do carro e adormeci, tendo um pesadelo, pois eu não posso acreditar que o meu pai, o homem que é meu exemplo que pretendo sempre seguir, o meu amigo que sempre esteve comigo em todos os momentos, tenha morrido.
Não! Eu não quero acreditar nisso! Primeiro a minha filha é sequestrada e agora eu estou ouvindo que perdi o meu pai? Não! Eu preciso acordar desse pesadelo! Eu preciso! Pois dessa forma eu não irei aguentar. O que eu fiz para merecer isso, meu Deus? O que foi que eu fiz?
Ai, Raymond, você acabou com o meu coração desse jeito 😭😭😭😭😭!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro