Capítulo - 33
Quando eu cheguei ao Hospital fiquei mais tranquilo em saber que Ana estava bem, apesar de estar desolada com o que havia acontecido, pois perder alguém nunca é fácil, ainda mais uma pessoa tão boa e importante para ela, como era o Padre Lutero. Ver seu rostinho vermelho e seus olhos tristes me cortou o coração, mas infelizmente são situações que nem toda a proteção que eu estou disposto a fazer pelos meus irmãos e por ela, seria o suficiente para evitar a sua dor e sofrimento, sobrando-me apenas estar ao seu lado, dando amparo e carinho que ela necessitasse, assim como eu sei que Caleb faria.
No entanto, entre todos os rostos possíveis que poderiam estar naquele Hospital, o último que eu pensaria ver seria o Christian e, eu não vou negar que eu tivesse ficado surpreso em vê-lo encostado naquela parede, enquanto olhava para Ana de forma curiosa e intensa, mas também fiquei preocupado por saber que ele estaria revivendo aquele dia, por estar em um Hospital, mas no momento a Ana precisava mais de mim do que ele, que logo se despediu indo para casa e se precisasse, o meu irmão poderia contar com os nossos pais, fato que eu achei pouco provável que ele recorresse a algum dos dois, sabendo muito bem que seja o que fosse que estivesse em sua cabeça, guardaria apenas para ele.
Conversar com os Investigadores de Polícia não foi fácil para Ana, ainda mais por ouvir que possivelmente tentaram matar as pessoas que ela amava e agradeci muito por Caleb tê-la levado para sentar um pouco mais afastado, pois assim eu poderia conversar melhor com eles, fato que me deixou mais tranquilo em deixar esse caso nas mãos da Polícia, pois conheço Derek Loretto desde a Universidade, sendo o irmão mais novo do Capitão Augusto Loretto e, ambos são muito honestos vindos de uma linhagem de Militares e, também o Victor Monteiro, que se formou na mesma época que Derek, dois anos antes de mim.
– Derek, eu sei que você tem certeza que o carro realmente foi sabotado e não apenas suspeitas como você disse para a Anastásia. – Ele me olha por um momento, mas assente.
– Sim, Richard! O carro foi localizado e retirado do Lago Washington a mais de 4 horas e a minha Equipe fez uma análise antes de removê-lo do local. – Ele olha para onde Ana está com Caleb e volta a me olhar. – Eu não poderia colocar mais coisas na cabeça daquela jovem, sabendo que esse é um momento delicado.
– E eu agradeço por isso, mas o que você identificou nas avaliações primárias?
– O Victor pode falar melhor sobre esse caso, pois ele que acompanhou a Perícia. – Ele olha para Victor assentindo para que ele fale.
– O carro estava de ponta-cabeça dentro do lago, então quando foi puxado, pudemos ver que a mangueira de fluído de freio havia sido cortada, mas não a ponto de rompê-la, no entanto quem fez isso, sabia que a perda do fluído seria gradativa. – Assinto para que ele continue. – Além dos danos causados pelo capotamento, pudemos observar também que outro carro colidiu com o do Senhor Rossetti, fazendo assim com que ele perdesse o controle, devido à alta velocidade que dirigia na Ponte Evergreen, tendo em vista que o velocímetro travou a 150 Km/h, num local onde a velocidade máxima permitida é de 60 Km/h. – Victor conclui e eu fico espantado, pois quem iria querer matar um Padre e o seu sobrinho?
– Outro carro colidiu com o deles? Tem certeza quanto a isso? – Ele assente sem hesitar. – Então não há dúvidas que de fato foi uma tentativa de homicídio e que eles estavam sendo perseguidos. – Afirmo e volto a olhar para Ana, que continua a chorar.
– Sim Richard. – Derek Confirma e segue o meu olhar direcionado a Ana, mas continua em seguida. – Solicitei as filmagens das câmeras de segurança e os meus Técnicos irão fazer o rastreamento do GPS do veiculo e só assim saberemos o que de fato possa ter ocorrido. – Assinto, por saber que agora o processo não será tão rápido quanto gostaríamos. – Entrei em contato também com o Senhor Raymond Steele, tendo em vista que o Senhor Marco Rossetti era Segurança Particular da Esposa dele.
– Segurança do Raymond? – Ele assente e isso é novidade para mim. – E tem alguma notícia quanto ao paradeiro dele?
– Não. A informação que passamos para a sobrinha deles é tudo que temos até o momento, mas devido às evidências, ele pode ter sido jogado para fora do carro no momento do capotamento e vou ser sincero com você, meu amigo, as chances dele ser localizado com vida, são quase nulas, devido à gravidade que ocorreu o acidente e as condições do veículo. – Novamente assinto, mas com pesar dessa vez, não o conheço, mas eu sei que Ana ficará ainda mais triste do que se encontra.
– Obrigado, Derek, eu vou assumir essa situação em nome da Anastásia, pois ela não terá cabeça para lidar com isso, então qualquer novidade ou se precisar de alguma informação, me procure, colocarei a minha Empresa a disposição também se for necessário.
– Pode deixar Richard. – Ele estende a mão, na qual aperto, sendo seguido por Victor que faz o mesmo. – Entraremos em contato em breve.
Dou-lhes um aceno de cabeça e respiro fundo, vendo-me na mesma situação que me encontrei há um pouco mais de dois anos, apesar de serem situações completamente diferentes, no entanto eu caminho até meu irmão e Ana – que continua abraçada a Caleb derramando lágrimas silenciosas –, para avisá-los que providenciarei todos os trâmites legais para liberação do corpo e traslado, sendo que Ana quer sepultá-lo em Portland e, é isso que faço nas próximas horas.
(...)
Convencer Ana a ir para a nossa casa não foi fácil, apesar de ouvir a decepção com que ela falou sobre a Thaís não querer ter ido com ela ao Hospital e, eu não entendo, como pode uma pessoa tão jovem ser tão ruim como aquela mulher? E mais impressionante ainda, saber que ela é filha de uma mulher tão doce e bondosa como a Ângela, o exemplo disso é a forma com que Ana foi criada, o completo oposto da irmã de consideração, mas como dizem, nascemos o que temos que ser, cabe a nós apenas saber se evoluiremos escolhendo fazer o bem, ou se permitiremos ser consumidos pelas sombras que habitam em nosso ser, pois todos nós temos os dois lados, bastando então decidir e escolher o qual seguir.
– Como o Christian está Mãe? – Pergunto assim que ela deixou Ana acomodada no quarto de Hóspedes, retornando para a sala.
– Ele disse que estava apenas cansado e subiu para o quarto. – Ela se aproxima e senta-se ao meu lado no sofá e, eu aproveito para deitar em seu colo, sentindo o seu carinho em meus cabelos. – Mas eu o achei um pouco... Disperso e irritado, apesar de não querer demonstrar, mas o achei também diferente no retorno dessa viagem. – Assinto de olhos fechados.
– Quando eu cheguei ao Hospital, ele estava lá, apenas observando a Anastásia de uma forma especulativa, digamos assim, apesar das circunstâncias e, eu sei também que a mente dele o levou àquele dia, mas eu não poderia deixar a Ana sozinha com o Caleb naquele momento. – Ouço minha mãe suspirar e ficar em silêncio por um momento.
– Você agiu certo Filho, o seu irmão apesar de tudo, ficou bem e mesmo se não estivesse nós sabemos que ele não iria falar nada e faria de tudo para permanecer o mais distante possível. – Eu não falo nada, apenas murmuro um "hurum" por sentir o cansaço me abater. – Filho, vá tomar um banho, você está quase dormindo aqui. – Ouço o sorriso em sua voz e suspiro cansado, levantando-me em seguida.
– Irei mesmo, boa noite, Mamãe!
– Bom descanso, meu Filho!
Beijo a sua testa e subo as escadas, mas antes de seguir para o corredor que leva até o meu quarto, eu me viro e caminho na direção do quarto de Christian, passando na frente ao de hospedes e posso ouvir o choro baixinho de Ana, fazendo-me suspirar, pois infelizmente ela terá que sentir essa dor, para poder superar e, volto a seguir o meu destino.
Abro lentamente a porta, constatando que meu irmão está dormindo, mesmo que não seja um sono tranquilo e sinto o meu coração pesar por isso, mesmo que ele sempre tenha sido agitado, mas desde aquele dia que ele nunca mais teve um sono normal, tendo que recorrer constantemente a remédios para dormir e eu me amaldiçoo internamente por não ter tentado mais em mostrar-lhe a verdade e hoje, talvez tudo pudesse ser diferente.
Eu respiro fundo, pois apesar de seu afastamento eu estou feliz por saber que Christian está novamente conosco em casa, depois de seis meses em outro País. Caminho a passos lentos até a sua cama e acaricio os seus cabelos, igual eu fazia quando ele e Caleb eram pequenos e, vejo o quanto ele está suado.
– Richard? – Assusto-me com sua voz e ele abre os olhos sonolentos.
– Volte a dormir, está tudo bem.
Respondo mesmo sabendo que ele não irá se lembrar disso, por estar dopado, como sempre, no entanto ele apenas assente vagarosamente e volta a fechar os olhos e nesse momento em que ele está com a guarda-baixa, eu consigo ver o meu irmãozinho, mesmo sendo hoje um homem tão alto quanto eu. Afasto-me e caminho na direção da porta, mas sua próxima palavra me faz parar.
– Ana. – Olho novamente para ele e o vejo dormindo e sem perceber um sorriso me escapa.
– Quem sabe, meu irmão, aquela menina também não te conquiste, como fez com todos nós?
Murmuro, mesmo sabendo que ele não irá acordar e saio do seu quarto seguindo para o de Caleb, onde o vejo dormindo um sono pesado e, sorrio por ver o quanto esses dois são iguais em aparência, mas desde sempre com personalidades diferentes. Nego com a cabeça e desligo o abajur que ele deixou ligado e caminho para o meu quarto, pois eu preciso de um banho para tirar o cansaço desse fim de noite.
(...)
Depois de tomar um banho, sinto fome e lembro-me de que o jantar de boas-vindas ao meu irmão não aconteceu, por isso decido pegar uma fruta na cozinha para comer a essa hora da madrugada, no entanto quando eu saio do meu quarto eu vejo Ana passar no corredor de cabeça baixa, sem nem mesmo perceber a minha presença, entrando no quarto de hóspedes. Eu sigo o meu propósito e no momento que eu chego às escadas, vejo Christian com um olhar perdido no meio da sala, com a mão no peito, como se estivesse sentindo dor deixando-me preocupado, mas logo ganho a sua atenção.
– Você está bem, Christian? – Ele apenas me olha com a sua cara irritada de sempre, ignorando completamente a minha pergunta, pois ele sabe exatamente ao que me refiro, principalmente por tê-lo visto naquele Hospital.
– Por que vocês trouxeram essa menina para a nossa casa, Richard? – Sua pergunta me surpreende, pois de todas as possíveis, essa seria a menos provável que eu pensaria em ouvir.
– E você queria que fizéssemos o quê? Que tivéssemos simplesmente deixado que ela ficasse sozinha, mergulhada na dor que estava esmagando o seu coração por ter perdido alguém que ela amava?
– Pelo que eu pude perceber vocês deram o suporte que ela precisava. Agora trazer uma estranha para a nossa casa? Isso é exagero você não acha? – Percebo o sarcasmo em suas palavras, mas o conheço bem e sei que essa é uma das defesas que ele usa para mascarar algo que o incomoda.
– Ela não é nenhuma estranha, ela é amiga do Caleb e se tornou uma pessoa especial não só para ele, mas também para mim e nossos pais. – Respondo um pouco ofendido por ele imaginar que deixaríamos Ana sozinha numa situação como essa e me aproximo mais dele.
– Mas ela é estranha para mim e, eu não fico confortável me encontrando com ela aqui. – Tenho vontade de sorrir do seu argumento, mas mantenho-me firme para ver o que mais ele irá falar.
– Christian, você nem a conhece e muito menos esteve com a Ana, para falar que a presença dela te incomoda. – Aproximo-me colocando a mão em seu ombro, vendo seus olhos antes tão brilhantes, opacos e tristes, mas posso ver algo diferente neles hoje. – O que está acontecendo com você meu irmão? Você não era assim. – Ele desvia o olhar dos meus, mas eu insisto. – Respeitamos a sua decisão de se isolar e ter o seu momento e, nós até te entendemos e demos o tempo que você julgava ser necessário, mas você não acha que é hora de deixar o passado para trás e tentar pelo menos ser um pouco mais humano? – Ele continua em silêncio e eu continuo. – Você poderia pelo menos tentar voltar a ser parte do irmãozinho que corria para o meu quarto quando tinha um pesadelo, dormindo na minha cama e que ainda arrastava o seu irmão gêmeo junto.
– Esse Christian não existe mais, Richard. – Ele se afasta do meu toque e isso me deixa magoado por perceber que aos poucos ele se afasta ainda mais. – E esse irmãozinho que você fala, não tem mais cinco anos e sabe que correr para o quarto do irmão mais velho, não vai resolver os seus problemas, por isso não me peça algo que não irá mais acontecer. – Ele responde com frieza e eu apenas nego com a cabeça.
– Você está enganado, meu irmão. – Ganho a sua atenção, vendo sua cara confusa, o que me faz sorrir minimamente, por ver que parte do meu irmão sonhador e curioso ainda está bem presente dentro dele. – O meu irmãozinho está mais vivo dentro de você do que possa imaginar, basta você se permitir sentir e ele voltará à superfície, sedento para recuperar tudo que acha que perdeu por causa de mentiras e falsas ilusões.
– Você não sabe o que está dizendo. – Ele retoma a sua frieza e eu o ignoro.
– Eu sei sim, pois eu te conheço muito bem. – Desisto de comer algo e viro-me para subir as escadas, mas o olho por cima do ombro tendo a sua atenção em mim. – E quanto a Ana, não se preocupe, pois ela é uma menina doce e carinhosa, além de ser discreta e saber respeitar o espaço do próximo e não irá te incomodar. – Pelo menos não fisicamente, mas pelo visto, alguém irá visitar os seus pensamentos, completo apenas para mim, por conhecer muito bem esse pirralho irritado e, com isso eu volto a subir as escadas e sorrio, por saber que Christian foi tirado de sua zona de conforto sem nem mesmo perceber.
(...)
No dia seguinte ao "acidente" que vitimou o Padre Lutero, Ângela retornou para Seattle e eu pedi para que um dos meus Agentes a buscassem no Aeroporto, a levasse até a sua casa, para que pudesse pegar tudo que fosse necessário, pois achamos melhor que Ana não voltasse ainda para a casa, onde teria tantas lembranças que a deixariam ainda mais triste e, com isso elas ficaram conosco até o dia do Sepultamento.
Nos últimos dois dias, Christian retomou a sua rotina na Empresa e a de se manter afastado de sua família, o que não surpreendeu a ninguém, porém eu pude perceber que mesmo que estivesse triste Ana sempre procurava com o olhar a presença de alguém e eu sei muito bem a quem ela estava procurando, mas não falei as minhas suspeitas nem mesmo para Caleb, por respeito ao momento de luto que a amiga dele estava enfrentando.
No entanto o que até então eram apenas suposições se concretizaram na manhã de quarta-feira, quando o meu irmão nos surpreendeu chegando à mesa para tomar café da manhã conosco e mesmo que ele praticamente não falasse nada – apenas do seu trabalho e sobre a sua indicação para que Raymond me procurasse agendando uma reunião –, o seu olhar não saia da entrada da sala, até que Ana apareceu tímida e com as bochechas coradas quando fixou o seu olhar nos de Christian, sendo interrompido apenas quando Caleb a abraçou e mesmo sem saber, a colocou para sentar em sua cadeira, em frente ao nosso irmão.
Se a situação não fosse um tanto quanto melancólica, eu teria rido por ver a forma que esses dois se olhavam, até o momento que Christian percebeu que eu os observava e me olhou irritado, jogando o guardanapo sobre a mesa, levantando em seguida.
– Se vocês me dão licença, eu tenho uma reunião e não posso me atrasar. – Frio como sempre, ele deu a desculpa perfeita para simplesmente sair de casa.
– Novidade seria se não tivesse.
Caleb resmunga, fazendo com que Ana desvie a atenção de Christian para encará-lo, assim como o nosso irmão que apenas lhe direciona um olhar ainda mais frio se possível e dando uma última olhada em Ana, saiu a passos rápidos para a porta de entrada da casa.
– Você não perde a oportunidade de implicar o seu irmão, Filho. – Minha mãe fala, apesar de não estar repreendendo o gêmeo implicante, pois sorri por estar acostumada com isso entre os dois.
– Não falei nada demais, Mamãe, só a verdade. Como se o Senhor eu mando no Tempo se atrasasse para alguma coisa.
Ele revira os olhos de forma exagerada e eu apenas nego com a cabeça, vendo que nem isso arrancou um sorriso de Ana, mas ela me encara e sem perceber lhe dou um sorriso de lado, o que a deixa com as bochechas coradas, talvez por ter percebido que eu tenha visto a troca de olhar entre ela e o meu irmão.
No entanto, encerramos o assunto e continuamos a tomar o café da manhã e, logo seguimos para Portland, onde Ana deu o seu último adeus ao um dos homens que foi sua referência paterna por muito tempo, o que nos deixou muito emocionados com as suas palavras e com isso, só pudemos comprovar o quanto essa Menina-Mulher é forte, apesar de parecer frágil e muito delicada.
(...)
Depois de muito insistir e ter todas as negações possíveis por parte de Ana em continuar mais alguns dias conosco, a deixamos com Ângela na casa delas e eu segui com Caleb para a nossa, num silêncio confortável devido à situação, que mesmo conhecendo há tão pouco tempo, Padre Lutero era um grande e sábio homem e isso também nos deixou tristes, pela forma abrupta na qual ele teve a sua vida ceifada.
Chegar a casa e tomar um banho fez com que eu me sentisse renovado e Caleb parece ter tido a mesma ideia, pois nos encontramos logo depois na sala, onde cada um se jogou em um sofá, cada um preso em seus pensamentos, até ouvirmos Lola entrar na sala com lanches e sucos.
– Lolinha do meu coração, você não sabe como eu estava com fome e a preguiça para ir até a cozinha estava falando mais alto. – Caleb fala se levantando para ajudá-la a colocar a bandeja sobre a mesinha de centro e ela sorri do meu irmão.
– Ah eu sei sim, eu conheço vocês como a palma da minha mão. – Ela bate o dedo na palma da mão e arranca uma careta de Caleb.
– Não faz assim, mulher, que desse jeito eu me apaixono ainda mais e vou te roubar do seu velho te trancando no meu quarto. – Caleb se aproxima a abraçando e beijando a sua bochecha gordinha e ela dá um tapa no braço dele. – Que violência é essa, Lola? Eu aqui todo apaixonado por você e sou correspondido com tapas.
– Você me respeita, Menino, que eu tenho idade para ser a sua mãe. – Eu nego com a cabeça, por ver a cara safada de Caleb e sei que vai falar besteira.
– Ah, mas você não é minha mãe e idade são apenas números que nada significam para o amor. – Ela faz uma cara zangada e tenta dar outro tapa nele que se afasta gargalhando.
– Caleb, para de falar besteiras e deixe a Lola em paz.
– Aprenda com o seu irmão a como ser um bom menino e me deixe voltar a preparar o jantar. – Ela me olha sorrindo de forma terna e volta a sua atenção para Caleb. – E depois de comerem, leve a bandeja para a cozinha, seu galanteador barato. – Ela se vira e segue para a cozinha e Caleb me encara com olhos arregalados, o que me faz gargalhar.
– Mas olha só como essa mulher está abusada. – Ele se aproxima um pouco mais da porta e completa quase gritando. – Galanteador barato coisa nenhuma, Dona Lola, agora se me quiser, vai ter que correr atrás de mim que sou difícil. – Ouvimos apenas ela reclamar dizendo o quanto Caleb é atrevido e eu nego novamente com a cabeça pegando o copo com suco e meu sanduíche.
– Caleb, deixe de falar asneiras e senta aqui que quero falar com você. – Ele me olha confuso, pegando a bandeja e colocando sobre o sofá.
– Quando você me olha sério assim, quer dizer que vem bomba, mas eu não fiz nada, sou inocente e nego qualquer acusação, pois não fui eu quem pegou a sua moto sem você perceber e muito menos que se esqueceu de abastecer, mas posso te ajudar a descobrir o culpado. – Ele morde no seu sanduíche e me olha com a mesma cara de pau de quando era adolescente.
– Mas que diabos! Eu sabia que não tinha sido eu a esquecer do combustível seu... – Respiro fundo e volto para o foco da conversa. – Não é isso que eu quero falar, mas bom saber que o meu irmão anda pegando a minha moto, escondido. – Ele me olha com cara inocente e balanço a cabeça, falando logo o motivo da conversa. – Você percebeu algo diferente no nosso irmão, principalmente na presença da Ana? – Ele pensa por um momento enquanto mastiga e após beber um pouco do seu suco, começa a falar.
– Pensando bem, eu percebi sim, principalmente por algo que aconteceu no aeroporto. – Continuo em silêncio para que ele prossiga. – Ele me pediu desculpas por ter sido rude, quando eu disse que havia sentido a falta dele, sem contar que ele aceitou a ir comigo sem muito hesitar, mas na presença da Ana? Não pude observá-los muito, mas o que você percebeu?
– O fato de ele te pedir desculpas é um avanço, temos que admitir, mas desde o momento que cheguei ao Hospital, eu vi a forma que ele olhava para Ana, depois o peguei na sala preso em pensamentos e na defensiva, mas algo estava o incomodando, sem contar que ele falou o nome dela enquanto dormia... – Ele me interrompe com a minha última fala.
– Como assim enquanto dormia? Como você... Ah claro! Você continua entrando nos nossos quartos. E se estivéssemos acompanhados? Você iria entrar mesmo assim? É por isso que não durmo pelado, vai que você fica com inveja da diferença do tamanho do meu pau e corta um pedaço para ficar como o seu.
– Caleb, foco! E se vocês tivessem namoradas eu não entraria obviamente, mas não muda de assunto. – Ele faz careta e eu seguro o riso por ver que esse não muda nunca com as suas histórias e dramas. – Como eu estava dizendo, além de ouvir chamá-la em seu sono, o clima entre os dois estava bem carregado na mesa do café da manhã, hoje.
– Richard, eu acho que você está imaginando coisas, principalmente por querer que o nosso irmão supere o passado, mas pensa comigo? O Christian virou um coração de pedra, a Ana estava muito triste por causa do Padre, sem contar que ela ainda é uma criança e muito inocente para imaginar algo assim com o nosso irmão. – Caleb fala num fôlego só e eu penso em suas palavras, mas nego com a cabeça.
– Caleb, a Ana é uma mulher de 20 anos e uma hora ou outra ela vai encontrar alguém. – Ele faz uma careta, contrariado e eu sorrio. – Não adianta fazer essa cara, pois eu sei que você a protege como um irmão mais velho, eu também a vejo assim, mas é inevitável e isso irá acontecer, ou você gosta dela de outra forma? – Ele arregala os olhos e engasga com o suco, respondendo logo depois de recuperar o fôlego.
– Claro que não, você ficou louco? – Eu balanço a cabeça em negação por saber disso. – Eu só acho que a Ana é muito delicada e inocente. Além do mais, nós sabemos que o Christian se fechou para qualquer tipo de sentimento, vivendo cada dia mais na amargura e frieza que virou a sua vida depois daquela mulher. – Ele fala e vejo a tristeza em seu olhar por falar isso do seu irmão gêmeo e eu suspiro.
– Eu sei Caleb, mas algo me diz que não estou enganado e eu acho que é justamente isso que o nosso irmão precisa. – Ele me olha sem entender e eu continuo. – Uma pessoa delicada e inocente, mas que ao mesmo tempo é muito forte e determinada, pois só assim conseguirá alcançar aquele coração e fazer com que o nosso irmão volte a ser o que era antes.
– E o que você tem em mente? Vamos vestir túnicas brancas, colocar auréolas douradas na cabeça e usar arcos e flechas com coraçõezinhos na ponta, ou no caso, colocar fogueiras para derreter o gelo do nosso irmão? – Ele pergunta com um sorriso debochado, mas logo o seu sorriso some ao perceber que é mais ou menos isso que tenho em mente. – Não, Richard, isso não vai funcionar e se ele maltratar a Ana? Mesmo sendo o meu irmão, eu não vou permitir isso.
– Isso não vai acontecer, Caleb! Eu conheço o irmão que eu tenho, na verdade eu conheço vocês dois. – Ele me olha e dá de ombros, pois sabe que ninguém os conhece melhor do que eu. – Vamos observá-los, principalmente o nosso irmão na menção do nome da Ana, pois você sabe que ele sempre foi muito transparente e por mais que ache que esteja tendo êxito, não consegue mascarar suas verdadeiras emoções, pelo menos não conosco. – Ele me olha em dúvida, mas acaba assentindo. – Posso estar sendo precipitado, pois eles se viram a primeira vez no domingo, mas eu tenho certeza que não estou enganado.
– Tudo bem, faremos do seu jeito e eu irei observar a Ana também. – Eu assinto e ele continua. – Mas precisaremos tentar que eles se encontrem mais vezes para saber se você não viu apenas curiosidade no olhar dos dois, afinal, a Ana descobriu que eu tenho um irmão gêmeo apenas no domingo, quando confundiu o Christian comigo o abraçando.
– Como assim?
– Ah, você não sabe da história. – Ele sorri de lado e volta a falar. – Eu sempre falei que tinha um irmão mais velho e um mais novo, então ninguém na Universidade sabia que sou gêmeo, ainda mais idêntico e, quando chegamos ao Hospital, o Christian ficou na entrada enquanto eu estacionava o carro, mas a Ana o viu primeiro e, achando que fosse eu, se jogou nos braços dele. – Nego com a cabeça por saber que isso seria algo típico que Caleb diria, pois ele sempre gostou de ver a surpresa quando as pessoas o viam com Christian.
– Tão previsível, Caleb, eu não sei por que ainda me surpreendo com você fazendo isso. – Ele dá de ombros novamente e sorri arteiro, parecendo um adolescente e não um homem de quase 26 anos, ou talvez apenas eu o veja ainda como um dos meus pirralhos.
– Mas enfim, se for apenas coisa da sua cabeça e que isso possa ser apenas você querendo que o nosso irmão recomece, nós não forçaremos nenhuma situação que possa deixa-los desconfortáveis, combinado?
Assinto mesmo tendo a certeza que eu não estou enganado, pois aquela troca de olhar dos dois falou muito mais do que palavras, pois eu já senti e vivenciei aquilo, sendo que eu também acreditei e ainda acredito em amor a primeira vista, mesmo que o meu não tenha dado muito certo.
Hum! Vão fundo cupidos, pois o plano deu mais certo do que vocês possam imaginar 🤭🤭🤭🤭!
E agora essa questão do "acidente" do Tio Marco, hein? Ainda fico triste por eles 😔😔😔😔!
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