Capítulo - 112
Por um momento fico apenas o encarando, tentando entender se eu ouvi corretamente com quem ele pretende se encontrar, mas pela forma cautelosa que ele retribui o meu olhar, percebo que não me equivoquei. Só não consigo encontrar uma razão lógica para que ele precise se encontrar com aquela mulher, que deixou claro várias vezes e em diversas situações o quanto é obcecada por meu noivo.
- E por qual razão você precisaria se encontrar com a Vanessa, Christian?! - Sinto a irritação me dominar mais rápido do que eu consiga controlar e me levanto da cama, colocando as mãos na cintura ainda o encarando. - O que você acha que a Vanessa será útil sobre o seu principal suspeito?
- Amor, eu só preciso tentar descobrir até que ponto a Vanessa possa estar envolvida nessa história, mas será apenas uma reunião, então fique calma, por favor? - Ele se levanta da cama também e tenta se aproximar, mas me afasto.
- Claro! Será apenas uma reunião! E você espera o quê? Que ela gentilmente vá confirmar que é cúmplice do homem que quer se vingar de você? Que ela de muita boa vontade responderá todas as suas perguntas sem pedir nada em troca? - Dou uma risada incrédula, negando com a cabeça. - Você é tão inteligente, Christian, mas agora está sendo um idiota! - Ele arregala os olhos por um momento pelo meu rompante, mas sorri de lado e volta a se aproximar, não permitindo que eu me afaste dessa vez.
- Idiota?
- Exatamente! Um idiota! - Repito mais uma vez e tento fazer com que me solte, mas é em vão. - Christian, eu quero que me solte! - Ele continua sorrindo e nega com a cabeça.
- Eu nunca irei soltá-la, meu Amor! Ainda mais quando você estiver irritada assim por causa de uma pessoa que não tem a mínima importância para mim.
- Mas ela não pensa assim! E conhecendo a perversidade daquela mulher como eu conheço essa "reunião" só terá algum êxito se você ceder ao que ela quer. - Tento mais uma vez empurrá-lo, mas sem de fato querer afastá-lo. - E você sabe exatamente o que ela quer! - Falo entredentes, tão irritada como nunca me senti antes só de imaginar as mãos daquela Bruxa Má do Oeste no meu noivo, que dá uma risada abafada, deixando-me ainda mais irritada por ele estar se divertindo as minhas custas. - Christian!
- Eu posso pelo menos tentar explicar o porquê preciso conversar com a Vanessa? - Ele faz com que eu o encare, apenas para vê-lo com um sorrisinho de lado em seus lábios. - Você sempre é tão compreensiva e ouve antes de me julgar ou condenar, mas agora está tirando suposições de algo que não acontecerá, pois não estarei sozinho nessa reunião. - Permaneço em silêncio, apenas o encarando. - O Richard estará presente se eu realmente for me encontrar com ela, e eu jamais faria algo que pudesse magoá-la, Anastásia! E isso nunca esteve em discussão. Mesmo se fosse necessário que eu entrasse em um jogo para conseguir obter qualquer resposta vinda daquela mulher, eu não faria! - Respiro fundo e encosto a cabeça em seu peito, pois eu sei disso.
- Eu sei! Desculpe-me, Amor, mas é tudo tão...
- Confuso? Complicado? - Ele me afasta e faz com que eu volte a focar em seus olhos, dando-me um sorriso carinhoso. - Eu compreendo que com tudo que descobrimos nas últimas horas, ainda estamos sobrecarregados e um pouco perdidos sem saber o que devemos fazer. - Ele acaricia o meu rosto, fazendo-me suspirar. - Mesmo que a Vanessa não vá responder o que esperamos, e eu também não gostaria de me submeter a esse encontro, o Richard acredita que ela possa nos dizer algo que seja útil, pelo menos no que diz respeito sobre o porquê de ela ter contato com o homem, que tudo indica, fez parte do meu passado.
- A Vanessa até pode responder as suas perguntas, mas para isso acontecer você sabe exatamente o que ela vai querer em troca, Christian! - Ele continua acariciando o meu rosto e nega com a cabeça.
- Ela pode querer qualquer coisa, mas dependerá de mim o que estarei disposto a entregá-la, você não acha? - Ele pergunta retoricamente, não me deixando responder. - Ela se encontrar na Boate do Edgar com Dener Rice não é uma simples coincidência, Amor! Sem mencionar o fato que ela alugou o Galpão atrás da GRS para a Transportadora que pertencia ao Otelo Rice e Lúcio Grives pouco tempo depois que eu voltei de Boston. E depois emprestou para alguém que contratou Sérgio Ziegler Júnior com a intenção de sequestrar, manter dentro de uma sala que era um cofre e depois levá-la para fora do país, então Vanessa Parker tem muito que explicar.
- Agora quem está se sentindo uma idiota, sou eu! - Ele sorri de lado e me envolve em seus braços.
- Uma vez uma mulher linda me disse que se eu confiasse nela, seria o bastante para que conseguíssemos enfrentar qualquer situação e quem quisesse nos prejudicar, mas que eu também deveria confiar em seu julgamento e que sempre conversaríamos antes de discutir, pois eu precisava acreditar que ela nunca fosse capaz de fazer algo que me magoasse ou que fosse capaz de me trair por não ser da índole dela, e eu sei que posso confiar totalmente nessa mulher que hoje é dona do meu coração. - Ele beija os meus lábios e sorri, fazendo com que o meu rosto esquente por ouvi-lo usar as minhas próprias palavras contra mim. - Eu confio totalmente em você, meu Amor, mas agora quem está pedindo essa cortesia para comigo, sou eu, então você pode fazer isso por mim? - Suspiro e assinto, pois mais uma vez ele tem razão.
- Eu confio totalmente em você, Christian, mas se deixar aquela mulher se aproveitar da situação e sequer tocá-lo, Deus que me perdoe, porque eu nem sei o que serei capaz de fazer com você. - Estreito os olhos, mas isso serviu apenas para que ele gargalhasse das minhas palavras.
- Nem passou por minha cabeça cogitar uma coisa dessas! Porque estou começando a perceber que uma mulher ciumenta e grávida é uma mistura perigosa. - Dou de ombros, mas não consigo evitar um sorriso ao envolver o seu pescoço com os meus braços.
- Ainda bem que você sabe disso, mas caso tenha alguma dúvida da minha versão irritada, pergunte ao Caleb, que ele já conheceu o peso da minha mão.
- Deus me livre! Não quero de forma alguma ser alvo da sua versão irritada, Amor. - Ele sela os meus lábios e se aproxima do meu ouvido, baixando a voz para um tom mais rouco e sedutor. - Eu prefiro a versão em que você me provoca, apenas para eu fazê-la gozar gemendo o meu nome.
- Christian!
Impossível evitar choramingar quando ele sussurra assim, e ele dá uma risada mordendo o lóbulo da minha orelha, mas se afasta e mais uma vez acaricia o meu rosto, retomando a sua seriedade costumeira, como se fosse fechar um grande negócio.
- Independente do que eu for fazer, ou com quem eu precisar me encontrar, nunca mentirei ou omitirei isso de você, Anastásia, da mesma forma que o meu limite para obter qualquer resposta necessária se findará no momento que qualquer linha possa ser cruzada a ponto de magoá-la. - Quem acaricia o seu rosto agora sou eu.
- Eu sei! E essa é uma das razões para eu te amar tanto.
- Um das razões? - Mordo o lábio e assinto, ouvindo novamente o seu tom provocador. - Poderia me dizer mais uma razão para que me ame tanto? - Aceito a provocação e me afasto, dando passos para trás.
- Venha comigo e descobrirá!
- Eu já falei o que vai acontecer se você me provocar Anastásia! - Ele começa a caminhar na minha direção, como um felino em busca de sua presa.
- Mostre-me o seu melhor, meu Amor!
Com um grunhido feroz, ele me alcança e devora a minha boca, prensando-me na parede ao lado da porta do banheiro. E mesmo estando cansada física e emocionalmente com tudo que aconteceu e a nossa rápida discussão sobre a Bruxa Má do Oeste, por ora quero apenas me entregar e recebê-lo em meus braços.
E o que acontecerá depois, bom... Pensaremos nisso depois!
[...]
Seria muita inocência da minha parte acreditar que Christian não me convenceria a remarcar para outro dia o meu encontro com o Oliver e a Melissa no Banco, alegando que eu estivesse muito cansada e que precisava descansar. Mas não tentei contradizê-lo, pois de fato eu realmente precisava dormir um pouco e colocar a minha cabeça no lugar, tendo em vista que acordamos pela madrugada e os acontecimentos que sucederam após isso foram realmente complicados.
Contudo, após dormir algumas horas depois do almoço, eu consigo pensar com um pouco mais de clareza sobre os possíveis cúmplices que trabalham na GRS, e começo a juntar alguns pontos na intenção de tentar encaixar algumas peças desse quebra-cabeça que parece faltar muitas outras para chegarmos a uma direção que faça lógica.
Não duvido que a Andrea possa ser uma cúmplice, dado o nosso histórico nada amigável - claro que por parte dela para comigo e não o contrário -, mesmo que tudo não passe de uma infeliz coincidência, que de tantos lugares em Seattle eu fosse procurar trabalho justamente na Loja que pertencia à mulher, que pudesse ter algum envolvimento no passado do homem que viria a ser o meu namorado somente alguns meses depois.
Porém analisando o quanto a minha vida é repleta de coincidências - nem todas ruins, é claro -, tudo é possível acontecer. O que ainda acredito que nada acontece por acaso, mas sendo uma obra do destino que faz tudo acontecer na hora e no momento certo. E isso pode também justificar a mudança de comportamento da Vanessa comigo, que nunca foi bom de fato, mas depois de um tempo piorou consideravelmente para então mudar novamente, como foi o caso daquele inventário fora de hora que ela me obrigou a fazer no cofre da Loja.
Lembro-me claramente que isso só aconteceu depois que ela me encontrou naquele Restaurante com o Christian, dando-me dois dias para que eu o concluísse, o que seria impossível ainda mais estando sozinha. E no dia que ela retornou da tal viagem que estava fazendo, agora me recordo que Otelo Rice e outro homem teve uma reunião com ela, e depois disso ela me chamou em sua sala, foi muito educada - algo atípico vindo dela, é claro -, e ainda autorizou que a Melissa me ajudasse a finalizar o inventário.
Eu sei que o outro homem não era o Lúcio Grives, pois a primeira vez que o vi foi antes que a Loja fosse reaberta, apenas no dia que Otelo retornou com a desculpa de querer falar com a Vanessa, apresentando-o como o seu amigo que estava visitando Seattle. Será que o outro homem possa ser o Dener Rice? E se for, será que um deles possa ser o possível psicopata que quer vingança por causa da Débora?
Arregalo os olhos e me sento na cama, lembrando-me do celular daquela mulher que eu guardei na minha gaveta do closet. Sinceramente eu não sei a razão para que eu o tivesse guardado, pois durante anos o meu noivo o usou para se martirizar e se convencer que nunca mais deveria confiar em outra mulher. Então imagino que ele conheça todo o conteúdo que haja nele, mas por outro lado, nada me impede de verificar novamente, afinal, ele disse que eu poderia fazer o que bem entendesse com aquele aparelho velho.
O que não hesito em fazer ao me levantar da cama, entrar no closet e pegar o aparelho, que obviamente está descarregado, mas sei que o carregador dele está na gaveta da mesinha de cabeceira, onde o encontrei naquele dia. Coloco-o para carregar e enquanto o aparelho não liga, mordisco o canto da unha do meu polegar, e confesso que eu esteja receosa com o que poderei me deparar, como também posso não encontrar nada.
- Liga! Liga! Liga!
Murmuro comigo mesma, um pouco impaciente, mas como estava tempo demais descarregado a bateria estava completamente seca, e antes que eu pudesse pensar que não fosse ligar, o aparelho acende em minhas mãos e por pouco eu não dou um grito de felicidade. Faço uma careta ao me deparar com uma foto dela como papel de parede e tento não pensar em quantas vezes o meu noivo ficou encarando essa imagem, principalmente por não ter se dado o trabalho de mudá-lo.
Não vou negar que ela seja mesmo bonita, e analisando os seus traços suaves, os seus cabelos longos e loiros, os seus olhos verdes e o seu sorriso amplo não seria muito difícil imaginar a razão para que tanto o Christian quanto o Edgar tivessem se interessado por ela. Mas não vou negar também que os seus olhos são frios e traiçoeiros, talvez seja apenas o meu ciúme falando mais alto, ou apenas seja pelo fato de eu não gostar dela por tudo que fez ao homem que amo antes de morrer.
Balanço a cabeça tentando dissipar os pensamentos que envolvam o Christian e ela juntos, como dois apaixonados, e as imagens não foram nada agradáveis, mas antes que eu fique ainda mais irritada - o que vem acontecendo com muita facilidade -, pois isso é parte do passado dele e eu jamais serei capaz de apagá-lo, começo a "navegar" pelas opções do celular.
Galeria de fotos, vazia! Mensagens de texto, vazia! Agenda com poucos números, que eu não faço ideia a quem pertençam, identificados apenas por letras, como por exemplo, "C.G" e imagino que esse fosse do meu Christian, mas que não é o mesmo que ele usa atualmente, e "E.J", esse número possa ser ou era do Edgar Johnson, mas há outros também "A.G", "D.R", "E.R", "J.L", "J.S", "M.P", "O.R", "S.K", "V.P" e a lista continua seguindo o mesmo padrão.
Continuo a minha busca e vejo algumas datas marcadas no calendário, mas não dou importância, afinal são eventos de 3 anos atrás. Clico no aplicativo de mensagens online e abro o primeiro chat com um número não identificado, mas fecho assim que começo ler o seu conteúdo, lembrando-me do dia que Christian me falou sobre o seu passado e mencionou as trocas de mensagens que ele sempre lia para relembrar como havia sido feito de idiota nas mãos daquela mulher ardilosa, e assim acontece com os dois próximos.
Mas espera! Se essas mensagens foram trocadas com o suposto pai do filho dela, por que são três números diferentes? Será que trocavam com frequência para não serem descobertos? Volto a abrir e percebo que o teor das mensagens de um dos chats foge do padrão dos dois primeiros.
"Ele é muito idiota e você não sabe o sacrifício que eu tenho que fazer para ir para cama com aquele mimadinho ingênuo".
"Não, eu estou certa do que pretendo fazer, assim que os babacas dos irmãos dele voltarem para Seattle, ele fará tudo que eu quiser e nem vai perceber o que acabou com ele."
"Eu não vou desistir agora, depois de todo esse tempo suportando aquele otário."
- Meu Deus! Como pode existir uma mulher tão inescrupulosa desse jeito?
Falo comigo mesma e sinto náuseas apenas em ler as palavras dela, e consigo imaginar o quanto isso fez mal para o meu noivo, o que não posso criticá-lo por ter ficado tão desconfiado, preferindo se afastar das pessoas como ele fez, mesmo que tivesse errado em fazer isso com a própria família.
Mas respiro fundo e analiso mais uma vez, constatando que a troca de mensagens feitas por este chat realmente não é igual às demais, pois as outras ela se referia a pessoa com quem falava como "Gatinho", e aqui o assunto é mais direto e formal, sem a necessidade de "agradar" quem fosse recebê-las.
Tento abrir alguns documentos em PDF, mas pede uma senha, igual acontece com documentos enviados por Bancos do qual precisamos do SSN - Social Security Number -, para acessá-lo. Clico no aplicativo de e-mails e como não tenho a senha da conta, não consigo abrir, mas sei quem pode me ajudar com isso.
[...]
Depois de procurar por Richard em seu quarto e não encontrá-lo, acredito que esteja no Escritório com o Christian - que disse que iria trabalhar um pouco, enquanto eu descansava -, e sem me preocupar de estar descalça, desço as escadas e percebo que a casa está silenciosa, tendo em vista que Akira e Caleb ainda estão no trabalho, assim como Carrick e Grace que chegam mais tarde.
Bato na porta e não demoro a receber autorização para entrar, e não consigo controlar a surpresa ao encontrar não apenas o meu noivo e o meu cunhado, mas também o Edgar, que se vira e sorri assim que percebe que sou eu.
- Desculpe-me, eu volto depois. - Tento fechar a porta, por sentir a seriedade no ambiente, mas Christian rapidamente se levanta vindo em minha direção.
- Aconteceu alguma coisa, Amor? - Sorrio e nego com cabeça para tranquilizá-lo, vendo a preocupação em seus olhos.
- Não aconteceu nada, Amor, eu só queria conversar com o Richard por um momento, mas não é nada urgente e posso esperar. - Ele assente, mas direciono a minha atenção para Edgar, que se levanta e se aproxima também. - Olá, Edgar, tudo bem?
- Dentro do possível está tudo bem. - Não dando a mínima importância com olhos cinzentos o fuzilando, ele beija a minha testa. - Você está ainda mais linda do que da última vez que a vi, Anastásia.
- Obrigada!
- Não me teste Edgar!
Sorrio um pouco envergonhada, mas ele se afasta e encara o meu noivo com um sorriso sarcástico, vendo-o me envolver rapidamente em seus braços. E diferente do que imaginei, Edgar gargalha e nega com a cabeça.
- Não se preocupe Christian, que não há nenhuma má intenção por trás do meu elogio, estou apenas sendo sincero. Respeito muito a Anastásia, e sei que ela é a sua namorada, mas depois...
- Noiva!
Christian o interrompe e vejo Richard sorrir e negar com a cabeça com a única palavra dita com tanta intensidade pelo irmão, mas Edgar dá um sorriso sincero dessa vez, alternando o olhar entre mim e o meu noivo. E consigo perceber que ele também está diferente, com o semblante mais leve e os seus olhos azuis não estão tão tristes como da última vez que o vi. Será que ele e a Júlia conversaram?
- Parabéns aos dois, de verdade! - A carranca do meu noivo suaviza, dando um sorriso de lado ao perceber a sinceridade no tom de voz do Edgar. - E como eu estava dizendo, depois do nosso último encontro eu percebi que toda história tem dois lados e ambos merecem o direito a explicação, mesmo que isso possa nos surpreender e nos decepcionar na mesma proporção quando verdades são reveladas, mas eu cansei de apenas alimentar tanta mágoa e rancor como vinha fazendo a todo esse tempo.
- Você conversou com a Júlia, não é? - Não consigo controlar a curiosidade, mas sorrio quando ele assente.
- Conversei sim. - Não foi necessário que ele verbalizasse, e eu sei que ainda tem um "mas" na história deles. - E talvez esse não fosse o momento adequado e não pretendo repetir o que irei falar agora, mas eu quero me desculpar com você, Christian. - As suas palavras surpreendem a todos, mas ninguém o interrompe. - Eu ouvi apenas uma versão da história e por causa disso o julguei e o condenei, além de ter sido um babaca durante os últimos 5 anos, sem que você de fato merecesse.
- Isso é passado, Edgar, afinal, você não foi o único. Eu fiz a mesma coisa a seu respeito.
- Sim, você fez Christian! Mas se eu estivesse em seu lugar, sendo alvo de provocações sem compreender o porquê, eu faria a mesma coisa. - Edgar me olha rapidamente e sorri. - Mas podemos dizer que nós dois tivemos o privilégio em conhecer a Anastásia, em situações diferentes, é claro, mas foi através dela que tudo pôde ser esclarecido nos dando a oportunidade de recomeçar as nossas vidas sem mal-entendidos ou sombras da maldade daquela mulher. E mesmo que possa não ser tão fácil... - Ele volta a se aproximar e estende a sua mão. -... O que me diz de nos darmos uma chance também e recomeçar? - Christian olha para a mão dele por alguns segundos, mas assente a apertando.
- Podemos tentar Edgar.
Sinto os meus olhos marejarem com a atitude de ambos, mesmo sabendo que qualquer elo que pudessem ter no passado foi quebrado assim que a Débora se pôs entre os dois, usando-os e colocando um contra o outro. Mas sorrio por acreditar que esses dois ainda serão bons amigos e por um momento acabo me esquecendo do motivo que me trouxe aqui, até ouvir as palavras de Richard.
- Onde você encontrou esse celular, Pequena? - Tenho a atenção dos três sobre mim, e vejo que Edgar também reconhece o aparelho.
- Este celular era da Débora? - Dou um suspiro e olho para Christian, mas vejo que ele está apenas curioso e não incomodado, o que me deixa muito aliviada.
- É justamente sobre isso que eu queria conversar com você, Richard. - Afasto-me dos braços de Christian e me aproximo dele, entregando o aparelho em sua mão. - Será que o Jay conseguiria descobrir algumas senhas que há nesse aparelho?
- Por que exatamente você precisa disso, Anastásia?
Christian antecipa em perguntar, antes que Richard me respondesse e penso no que dizer, mas decido aproveitar a presença do Edgar e confirmar as minhas suspeitas, e novamente eu pego o aparelho, abrindo a agenda e buscando o que preciso.
- Antes de responder o seu questionamento, você reconhece esse número, Christian? - Ele franze o cenho, mas assente.
- Esse era o meu antigo número, antes que eu voltasse de Boston e trocasse. - Assinto sem nada dizer ainda e faço a mesma coisa com o Edgar.
- E você, Edgar, reconhece esse número?
- Sim, esse ainda é o meu número de telefone.
- O que você descobriu Ana?
Richard, que permanece sentado e imagino que seja por estar sentindo dor devido aos seus ferimentos, quem questiona, mas direciono o olhar para Christian, indagando se posso ou não compartilhar algo sobre o aparelho, mas ele compreende a minha pergunta silenciosa.
- Eu disse que não me importo mais com o que há nesse aparelho, Amor, entreguei a você para fazer o que bem entendesse. Então seja o que for pode falar na frente do Edgar, que também é um dos envolvidos nessa história. - Solto a respiração que nem percebi estar prendendo e assinto, enquanto nos sentamos.
- Eu fiquei pensando sobre os possíveis cúmplices do homem que quer vingança por causa da Débora e me lembrei do celular que eu havia guardado. Sem saber o que procurar exatamente eu comecei a mexer em tudo, e foi quando olhei a agenda e vi que alguns dos contatos não havia identificação, enquanto outros eram identificados apenas por letras. Então eu deduzi que se "C.G" fosse Christian Grey, "E.J" poderia ser Edgar Johnson e assim percebi haver um padrão. - Richard pede o aparelho e volto a entregar a ele, e vejo que Christian ficou pensativo, enquanto Edgar parece perdido, mas não fala nada.
- O que mais você percebeu Ana? - Richard questiona ainda avaliando o padrão da agenda no aparelho.
- No aplicativo de mensagens online...
- Você leu as mensagens? - Christian parece envergonhado por eu ter lido, mas sorrio e acaricio o seu rosto.
- Sim, Amor! Mas sabe o que eu vi naquelas mensagens? - Ele engole em seco e nega com a cabeça. - Que nada daquilo é sobre você, e sim sobre uma pessoa pobre de espírito, amargurada e que era movida pela ambição e maldade, que deixou a sua alma tão podre que não via o homem maravilhoso que tinha ao seu lado. - Ele me dá um dos seus sorrisos tímidos e selo rapidamente os seus lábios. - Mas que bom que ela não soube valorizá-lo, caso contrário eu não teria encontrado o amor da minha vida e o pai dos meus filhos.
- Filhos?
Edgar pergunta espantado e percebo que falei sem pensar, mas o sorriso orgulhoso nos lábios do meu noivo me deixa com o coração leve, vendo que o assunto "mensagens da Débora" ficou realmente no passado.
- Sim, Edgar! Eu serei pai! - Ele me aconchega em seus braços, por dividirmos o sofá e de forma automática acaricia a minha barriga, proferindo as próximas palavras quase com veneração. - A Anastásia está grávida de trigêmeos! - Edgar arregala os olhos e acabo dando risada da cara engraçada dele, que olha rapidamente para a minha barriga e não percebendo nada, obviamente.
- Nossa! Por essa eu realmente não esperava. - Ele balança a cabeça, mas sorri com o seu jeito sarcástico que já percebi ser o seu natural. - Isso tudo é medo da Anastásia não o querer mais, então resolveu logo engravidá-la com três bebês de uma vez?
- Edgar! - Repreendo-o e ele gargalha, fazendo-me negar com a cabeça, temendo pelo fim da breve trégua entre eles.
- Desculpe-me, mas velhos hábitos são difíceis de evitar ainda mais sabendo o quanto o Christian é esquentado e impaciente com provocações. - Fixo o meu olhar no meu noivo e percebo que ele nem se alterou com as palavras do Edgar, mas ostenta um sorriso em seus lábios e sei que irá retrucar.
- Não me importo mais com as suas provocações, Edgar, porque eu estou noivo, logo estarei casado e em alguns meses serei pai dos filhos da mulher que eu amo e que também me ama. - Ele me aperta um pouco mais em seus braços e beija os meus cabelos. - E pelo que eu pude entender você ainda não conseguiu nem mesmo convencer a mulher que ama a perdoá-lo, correto? - O sorrisinho prepotente do Edgar dá lugar a um totalmente sem graça, enquanto Richard sorri e nega com a cabeça.
- Touché! - Ele passa a mão em seus cabelos cacheados, jogando-os para trás. - Tudo bem! Eu entendi o recado e realmente mereci essa, Christian! - Sinto o peito de Christian vibrar em minhas costas, por tentar abafar a risada em meus cabelos e nego com a cabeça, mas Richard retoma o assunto.
- Agora que as diferenças de vocês realmente ficaram no passado, deixem a Ana explicar o que mais ela descobriu nesse celular. - Respiro fundo e volto a me sentar direito.
- Como eu comecei a dizer, analisando as mensagens dos três chats disponíveis, eu percebi que um deles foge do padrão dos outros dois, tendo na conversa um tom mais sério e formal, como se estivessem mesmo falando de "negócios". - Falo com cautela, mas eles apenas assentem para que eu possa continuar. - Enquanto os outros parecia algo forçado e que estivesse agradando... Melhor dizendo, como se estivesse convencendo quem quer que fosse receber as mensagens.
- Como se estivesse manipulando quem recebia as mensagens. - Christian afirma quase que para ele mesmo, parecendo ter se dado conta disso apenas nesse momento.
- Exatamente isso! Nos dois primeiros, ela se referia ao receptor como "Gatinho" e no último, sem apelidos, apenas tom formal e direto. - Edgar dá uma risada forçada e nega com a cabeça.
- Não sei exatamente o conteúdo dessas mensagens que estão falando, mas pelo visto "Gatinho" é a forma que ela chamava a todos os brinquedinhos dela. - Christian assente, e cada vez mais eu fico enojada com a capacidade perversa dessa mulher, mas resolvo concluir minha linha de raciocínio.
- Quanto ao aplicativo de e-mails, por ter senha pode ser que ela não se preocupasse em esvaziar a caixa de entrada ou os itens enviados. Então eu pensei que talvez pudesse haver algo que possa ajudar nas investigações, assim como alguns documentos que parece ser de algum Banco que também precisa de uma senha para acessá-los.
- Você nunca percebeu isso, Christian? - Richard faz o questionamento diante ao silêncio do irmão, que nega com a cabeça.
- Sinceramente eu estava mais preocupado em me punir lendo aquelas mensagens por ter me permitido ser tão idiota e manipulável, que eu não conseguia pensar além da caixa depreciativa que acompanhava o pacote na época. - Seu tom amargurado não me passou despercebido, mas apenas peguei em sua mão e entrelacei os nossos dedos, fazendo-o sorrir de lado.
- E isso é a pior idiotice que fazemos por acreditarmos somente em nossas verdades absolutas ou nos tornando reclusos na própria amargura a ponto de esquecer que há várias situações e possibilidades além da caixa que nos enfiamos. - Edgar responde no mesmo tom, e Richard dá um longo suspiro.
- A Ana tem razão em tudo que disse, principalmente sobre o padrão da agenda nesse aparelho, e tendo conhecimento sobre tudo que sabemos hoje, eu afirmo que o envolvimento da Vanessa com Dener Rice não é recente e não apenas com ele, pelo visto.
- O que você quer dizer exatamente com isso, Richard? - Christian faz a pergunta, que pelo visto é a mesma que Edgar e eu queríamos fazer.
- A obsessão da Vanessa por você e o envolvimento que teve com o Edgar não foi apenas uma simples coincidência. - Ele faz uma pausa e aponta para a agenda onde tem as iniciais "V.P" na tela. - Por alguma razão que eu ainda desconheço, a Débora tinha o número que ainda pertence à Vanessa na sua lista de contatos.
- Mas isso não faz sentido, Richard! Quando eu conheci o Sebastian e arrendei o Estaleiro em Olympia, eu nem sabia que ele tinha filhos, sem contar que a Vanessa e o Maurício não estavam em Seattle.
- Você conheceu o pai da Vanessa? Sebastian Parker? - Edgar pergunta confuso, mas Christian assente ainda mais confuso com os questionamentos dele. - Isso é impossível! O pai da Vanessa e do Maurício faleceu há mais de 5 anos, Christian! - Ele fica pálido ouvindo a convicção nas palavras do Edgar, e o silêncio que recaiu sobre o Escritório foi de congelar a alma!
E estou começando a acreditar que a teia de mentiras que envolvem o passado do meu noivo é tão extensa que a possibilidade de descobrir onde tudo isso vai terminar me deixa realmente apavorada. Pelo visto ser manipulado pela fria e calculista Débora foi apenas à ponta do iceberg, e agora só nos resta saber se permaneceremos intactos e com a mente sã quando o restante dessa grande massa de gelo for totalmente descoberta.
Pelo bem do meu coração, da sanidade do homem que eu amo e o futuro da família que estamos iniciando, eu espero que sim!
Espero que tenham gostado, então comentem 💬 e votem ⭐, combinado 😉😘?
Devagar as atualizações vão entrando nos eixos, então até semana que vem, com Fé em Deus 🥰🥰🥰!
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