Capítulo - 104
Richard continua andando de um lado para o outro no Centro de Comandos, enquanto Jay verifica minuciosamente o vídeo do leilão para afirmar, mais uma vez, que não é adulterado, comprovando o que já sabíamos: Marco Rossetti está realmente vivo.
- Augusto tem muito que explicar sobre aquele corpo encontrado. - Richard volta a se sentar e dobra as mangas de sua camisa, aproximando-se novamente da tela do laptop.
- Ele não lhe entregou o laudo da perícia papiloscópica e depois a análise de DNA, comprovando que o corpo encontrado era realmente do Marco, Richard? - Ele me encara e dá uma risada sem humor.
- Sim, ele me entregou Taylor. E sabemos que Augusto jamais permitiria um erro tão grotesco como esse.
- Então posso dizer que houve uma primeira vez, Richard, porque esse aqui realmente é o reflexo de Marco Rossetti, bem vivo neste vídeo que foi gravado há três dias. - Jay fala ainda analisando a gravação, acelerando o vídeo para o momento do leilão, mas franze o cenho. - A maioria dos presentes nesse leilão são homens, mas observe esses dois aqui mais afastados. - Ele sinaliza na tela, ampliando a imagem. - Eu tenho certeza que são duas mulheres.
- Richard, você observou a organização desse leilão? - Samantha que esteve calada por um momento, chama a nossa atenção. - Os trajes usados, as máscaras cobrindo toda a face, a ausência dos "lotes", as cores das placas levantadas, o completo silêncio que é quebrado apenas pela voz do leiloeiro, além de parecer um grupo seleto dentro do salão, deixando claro que isso não é apenas um simples leilão de uma organização criminosa.
- Apesar de estar cansado, irritado e preocupado demais com toda essa situação que surgiu com o fato de Marco Rossetti estar vivo, e sobre esse maldito leilão, eu concordo que a semelhança com os Cavalheiros de Lótus é inquestionável, se não fosse pelo detalhe de que, segundo Jay há pelo menos duas mulheres presentes, sendo que no Lótus só era permitido homens, e se não tivéssemos acabado com a organização há 7 anos. - Richard pontua o que sabemos, mas o modus operandi dessa organização é a mesma que Samantha citou.
Cavalheiros de Lótus era uma organização de criminosos de alto escalão, onde alguns se passavam facilmente por cidadãos modelo, sendo Empresários, Políticos, Juízes, Advogados e até mesmo ex-Militares de alta Patente, mas tinham vidas duplas, sendo também a escória da sociedade. Eram pessoas que se envolviam com tráfico de drogas, de armas, de órgãos e tráfico humano, principalmente crianças e mulheres que eram enviadas para casas de prostituição.
Sete anos atrás recebemos um caso que a Polícia de Massachusetts e outras Organizações Governamentais não conseguiam resolver, pois sempre que invadiam o local, onde estava ocorrendo os eventos da organização, não havia ninguém. Estava completamente vazio como se fossem avisados do que iria acontecer. E de fato era o que realmente acontecia, pois dentre os criminosos, havia um Chefe de Polícia renomado, por realizar grandes prisões, antes que se debandasse entrando na lista dos Policiais corruptos da Corporação.
Essa organização era conhecida por fazer grandes negociações através de leilões, com o diferencial que não havia "produtos" no local, onde o Comprador que arrematasse o lote retiraria o seu produto com o Vendedor sem que os demais membros soubessem de onde seria efetuada a transação final, para não comprometer a organização e caso alguém não honrasse com a entrega programada era punido pagando com a própria vida.
Mas com o passar dos anos, eles foram ficando mais ousados, onde o Chefe da Organização, Orlando Faulkner - um homem com um passado trágico, marcado pela perda de toda a sua família, sendo a esposa e as suas três filhas, em um incêndio e que foi morto aos 87 anos no dia da operação, junto com quase todos os outros membros -, decidiu que começaria a leiloar não apenas mercadorias adquiridas no mercado negro, mas também crianças e mulheres.
Eles eram extremamente organizados e apenas a nata do crime conseguiria fazer parte dos Cavalheiros de Lótus, porém nem sempre todos os membros estariam presentes nos "eventos", e nesse caso usavam máscaras para não revelar quem seria o Comprador vencedor para cada "lote" a ser leiloado. Todos vestiam de forma idêntica, totalmente de preto, com trajes compostos por ternos, sobretudo, luvas, chapéus e máscaras cobrindo toda a face, e na hora do leilão permaneciam em completo silêncio, onde apenas a voz do leiloeiro era ouvida no salão.
Não era qualquer criminoso que poderia se tornar um membro dos Cavalheiros de Lótus, pois isso aconteceria apenas se fosse indicado por outro membro e se fosse aprovado pelo Chefe da Organização. Só assim o "candidato a se associar" receberia uma carta, que quem visse diria que seria um convite comum para um evento qualquer como outros frequentados pelos "cidadãos exemplares" que os recebiam, sempre para não levantar suspeitas da real intenção por trás daquele envelope, mas havia um código que ao ser acessado, indicava que o convite chegou às mãos de quem realmente deveria.
No dia seguinte o novo membro associado aos Cavalheiros de Lótus receberia uma caixa elegante na cor preta - mesma cor usada no envelope da carta convite -, com um tablet criptografado, sendo validado por biometria e que seria usado apenas após inserção do código recebido anteriormente, e três placas, cada uma com um significado diferente, que deveria ser levada a cada evento que aquele membro em questão fosse chamado. E somente após o recebimento de novos convites, recebidos em seus tablets, que o Associado saberia o local que ocorreria os futuros eventos.
E quanto às placas, deveriam ser utilizadas de acordo com a cor específica para cada situação, onde a Gold (Ouro) era usada para lances primários, ou seja, aqueles de menores valores e serviam para o leiloeiro e os demais membros terem ciência que aquele Associado não tinha interesse em dispor de grandes quantias para determinados "lotes". A placa Black (Preta) era usada para lances secundários em lotes com maiores valores, mas significava que o Associado tinha um limite para entrar na disputa. E a placa Escarlate (Vermelha) era usada com a intenção de mostrar que o Associado iria até as últimas consequências se interessasse pelo lote daquela rodada, além de todos os membros Associados aos Cavalheiros de Lótus receberem em seus tablets a lista dos "objetos" que seriam leiloados em cada evento.
Todas essas informações - e os nomes dos membros que não estavam presentes naquele evento -, foram obtidos no dia da operação, quando Percy Tanelli, O Chefe de Polícia Corrupto e o único sobrevivente dentre os membros naquela noite, decidiu cooperar na intenção de receber redução de sua pena, ciente que passaria muitos anos atrás das grades por seus crimes cometidos. Mas isso não chegou a acontecer, pois ele foi encontrado morto na cela que era mantido, algumas horas depois de ter sido preso por ter sofrido uma parada cardíaca.
- Não posso negar que a similaridade é inquestionável, Richard, o que me leva a crer que seja uma nova organização seguindo os mesmos padrões do Lótus. - Ele assente, mas não me interrompe. - Da mesma forma que sabemos o que aconteceu há 7 anos, mas e se for algum herdeiro que tenha passado despercebido no momento que a Interpol reassumiu o caso? Dessa forma possa ter seguido o legado de seu antecessor.
- Esses são questionamentos que estou fazendo a mim mesmo nesse momento, Taylor, porém não seria um problema da nossa Equipe, até que fôssemos convocados para agir. Só que a partir do momento que ocorreu um leilão, do qual a minha cunhada era o "produto" da transação, isso também passou a ser pessoal. - Ele fala entredentes, mas suspira em seguida e passa a mão em seus cabelos, antes de nos encarar. - Não pedirei que entrem nessa missão comigo, pois como eu disse isso passou a ser pessoal para mim e vou entender se vocês não...
- Ghost, Semper fi, Semper Paratus, Comandante! - Samantha, Jay e eu falamos juntos o interrompendo, fazendo-o sorrir de lado e assentir. - É só dar as ordens que nós estaremos prontos para seguir. - Completo em seguida, colocando a mão em seu ombro.
- Não há a menor dúvida que essa organização realmente seja uma sucessora dos Cavalheiros de Lótus, pelo aparente modus operandi que vimos nas imagens, o que quer dizer que o Vendedor teria 48 horas para entregar o produto ao Comprador, mas sabemos que isso não aconteceu, tendo em vista que "o produto" está nesse momento sob a nossa proteção e o prazo, de acordo com a data que o vídeo foi gravado, já foi expirado. - Richard se levanta, assumindo a frieza que precisa para resolver essa situação.
- Se essa nova organização seguir as diretrizes usadas anteriormente, podemos subentender que estão planejando a extração do produto de alguma forma, mesmo que o prazo inicial tenha expirado, pois só assim a negociação seria concluída ou acarretaria na punição que sabemos qual é. - Samantha levanta a questão, antevendo que devemos estar mais atentos do que nunca.
- Vocês estão pensando na questão lógica e padrão da operação, mas estão esquecendo que quem arrematou o lote foi à pessoa que estava com Marco Rossetti naquele leilão. - Jay chama a nossa atenção, cruzando os braços. - Ele enviou este vídeo, justamente para sabermos que, ou ele tem tudo sob controle, ou que podemos confiar que nada irá acontecer no momento. E se há algo que eu posso afirmar, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, pelas cartas que ele deixou antes de "morrer" e por tudo que ele fez no passado, é que jamais faria algo que pudesse colocar a Senhorita Steele em perigo.
Richard fica pensativo por um momento após a afirmação de Jay, e consigo ver o quanto ele está cansado com esses problemas que vêm surgindo, um seguido do outro. Além de ser uma situação realmente pessoal para ele, o que não é bom para a operação, justamente por ter grande envolvimento emocional, que mesmo sendo um SEAL treinado, é impossível separar completamente as situações.
- Isso ficou mais do que claro, Jay, tendo em vista que o Marco preferiu fazer com que a Ana sofresse, duas vezes, por sua suposta morte, enquanto continuaria a protegendo a distância. Porém o que não está fazendo nenhum sentido seria a ligação dele com a pessoa que arrematou aquele leilão.
- Um ativo. - Samantha afirma, continuando em seguida. - Se o acesso a Organização segue os mesmos meios para se tornar um Associado, o que estamos presumindo que seja realmente isso, então esse membro é um informante do Marco. Caso contrário ele não teria conseguido estar presente naquele leilão, e isso não seria a primeira vez que um criminoso se torna peça-chave para alguma investigação e sabemos muito bem disso.
Richard mais uma vez se fecha em pensamentos, e sei que está ponderando todas as informações, tentando fazer a conexão de todas as peças que ainda estão soltas. Mas tenho que concordar com a Samantha e o Jay, até porque eu também não acredito por um minuto sequer, que Marco colocaria a Senhorita Steele em perigo, depois de tudo que ele fez para protegê-la, inclusive mantendo-a longe de sua família por 20 anos.
- O Marco não foi totalmente sincero naquelas cartas. E por mais que pudesse não ter a certeza da identidade do responsável por querer a Ana morta 20 anos atrás, afirmo com propriedade que ele descobriu depois.
- Por que você diz isso, Richard?
- Porque seria o que eu teria feito se precisasse proteger quem eu amo, Taylor.
- Mas não seria mais fácil se ele tivesse entregado, desde o início, o responsável e acabar com toda essa situação, evitando possíveis complicações futuras?
- Realmente seria, Jay, se ele estivesse protegendo apenas a Ana.
- A quem mais ele poderia estar protegendo, Richard? Isso não faz sentido. - Ele me encara por um momento e nega com a cabeça.
- Ainda não tenho essa resposta, Taylor, mas preciso falar com o Augusto, porque alguma coisa me diz que o que aconteceu 20 anos atrás é só o início de algo que não estamos conseguindo conectar com a situação atual. Além de ter certeza que não estamos tendo acesso a todas as informações que são realmente relevantes para aprofundarmos na investigação. - Ele nega com a cabeça e se levanta, e fazemos o mesmo. - E sinceramente, estou chegando à conclusão que estamos sendo manipulados a encontrar apenas o que querem que encontremos, mas vão descansar, até porque quem poderia responder algumas das nossas dúvidas, não será encontrado, a menos que ele queira que isso aconteça.
- Assim como os Fantasmas se escondem nas sombras, as Cobras também são sorrateiras e sabem o momento certo para dar o bote.
Jay faz o trocadilho pelo fato de Marco ser um Snake - o que ficou evidente no momento que a Senhorita Steele identificou a tatuagem do corpo encontrado -, membro de uma Equipe de Elite tão bem treinada quanto a Ghost, e isso nos faz rir por um momento, mas Richard respira fundo e continua com as ordens em seguida.
- Samantha, reforce a segurança da Ana na Universidade e também na GRS, o que facilita o fato da Loja ainda estar fechada, dando a vocês melhor controle de quem entra no local, mas não podemos manter a guarda baixa em hipótese nenhuma. - Ela assente sem interrompê-lo. - Só não mencione isso ao Christian ainda. Deixe-o pensar que as novas medidas tomadas são por causa daquele Psicopata que quer vingança por causa da Débora. - Ele suspira e passa as mãos em seus cabelos, contrariado. - Mesmo que isso não me agrade, porque eu disse que não omitiria mais nada dele e do Caleb, prefiro não alarmá-lo com mais esse problema, ainda mais quando sabemos que temos o apoio do Marco e possivelmente da sua Equipe na proteção da Ana.
- Não se preocupe Richard, não direi nada. - Ele assente, focando a sua atenção em mim.
- Taylor, não se esqueça de selecionar os Seguranças para a Empresa do Edgar. Depois de tudo que descobrimos e a forma que a Débora conseguiu manipulá-lo, como fez com o meu irmão, não podemos deixar nada acontecer a ele também. - Ele se cala de repente, como se estivesse se lembrando de algo. - Aquele sócio dele, o Mason, também é ex-Militar, e pelo pouco que consegui conversar com ele, acredito que será alguém a quem poderemos confiar. Mande o Scott para a Boate, e enquanto ele estiver infiltrado como funcionário, poderá analisá-lo para comprovarmos isso, além de podermos descartá-lo como suspeito.
- Considere feito. - Ele assente, e olha para Jay, que começa a falar antes dele.
- Eu já sei Comandante. Eu terei que me virar e conseguir verificar todas as câmeras de Segurança da INJ, as externas da GNIH, ter acesso às câmeras da Boate, fazer o rastreamento do carro da Global Courier, analisar novamente as câmeras do Estaleiro do México e identificar quem fez a troca dos projetos. Falar para o Dominic ir ao Hospital Geral de Massachusetts para ver a possibilidade de ainda haver gravações armazenadas de quase três anos atrás, o que é pouco provável, mas caso tiver, identificar quem estava com Débora Lins em suas consultas Médicas e também no dia que ela e o bebê morreram. Além de dar suporte para o Taylor e a Samantha. - Richard sorri de lado e assente. - Sinceramente, preciso urgente de um Analista para me ajudar, ou dois, senão quem precisará ser reprogramado serei eu.
Richard nega com a cabeça, mas acabamos dando risada e saímos do Centro de Comandos, mesmo estando ciente que a situação realmente seja crítica para que Jay possa dar conta de tudo sozinho.
Porém em meio à tensão que foi minimamente aliviada, sabemos também que precisamos estar mais atentos do que nunca quanto à segurança, e esperar o momento para que Marco Rossetti resolva revelar que está vivo e nos dar as respostas que tanto precisamos para acabar de vez com os problemas que cercam a vida da Senhorita Steele e a sua família.
[...]
Ficamos constantemente com a adrenalina em alta quando estamos em uma missão, justamente por esperar que a qualquer momento alguma coisa possa acontecer, porque sabemos que é inevitável, e foi dessa forma que os dias se seguiram, onde mantemos a atenção redobrada a qualquer movimento suspeito.
E apesar de tudo parecer calmo demais, como se fosse o prelúdio do que está para acontecer, mesmo que não saibamos quando ou onde, deparamo-nos com uma situação que não me agradou em nada, desde o momento que Samantha me informou que a Senhorita Steele recebeu duas visitas inesperadas pela manhã. Coincidentemente os mesmos indivíduos que se encontram neste momento na sala de reuniões com os Senhores Grey e Wright.
Não gosto da ideia de deixá-lo sozinho, sem que eu esteja pelo menos do lado de fora da sala de reuniões, mas como esse cliente é um "velho" conhecido e depois de ter feito a verificação de ambos os convidados, o Senhor Grey havia dito mais cedo que não haveria necessidade que eu o acompanhasse, mesmo que ele soubesse que eu não abriria mão de acompanhar em tempo real as câmeras posicionadas dentro da sala, porém jamais desrespeitando a sua privacidade.
- Fique tranquilo, Taylor, o Senhor Rice é um cliente da GNIH antes mesmo que a Empresa tivesse sido inaugurada oficialmente. - Desvio a minha atenção da tela do meu tablet e olho para a Laura, que tem um sorriso em seus lábios. - Posso dizer que um dos primeiros projetos pessoais foi o catamarã dele.
- A Senhorita sabe como que ele chegou até o Senhor Grey? - Ela franze o cenho e nega com a cabeça.
- Não, Taylor. Isso aconteceu antes que eu fosse a Secretária do Senhor Grey, quando ele havia arrendado o Estaleiro em Olympia e tinha um Escritório provisório no local. Eu sei que alguns projetos ele fechou antes mesmo de retornar para Seattle, agora os novos clientes eu não sei como vieram até a GNIH.
- Compreendo, mas agradeço assim mesmo, Senhorita Castro. - Ela suspira e nega com a cabeça.
- Você ainda vai continuar me chamando de Senhorita Castro, mesmo depois de...
- O local é inapropriado para falarmos sobre assuntos pessoais, Senhorita Castro, e peço desculpas por ter me excedido mais cedo, novamente. Foi irresponsável e imoral da minha parte.
Sinto-me culpado por estar sendo hipócrita, quando quem se aproximou de uma forma nada profissional fui eu, quando resolvi beijá-la pela primeira vez, três meses atrás, na Copa particular do Senhor Grey, enquanto ela preparava a bandeja para levar a sala dele. E isso aconteceu mais vezes do que deveria, mas foi mais forte do que eu poderia suportar, estando em sua presença todos os dias, sentindo o seu perfume e tendo os seus olhos castanhos esverdeados sobre mim, mesmo que eu não me arrependa de fato em ter feito isso.
Porém eu sei que ela espera mais, o que eu não poderei dar a ela, por essa razão eu resolvi me afastar, antes que a situação saísse do controle e chegasse a ponto de nos machucar, por estar envolvendo mais que uma simples atração sexual e sim sentimentos que não poderão de forma alguma ser despertado, o que temo que possa ter sido tarde demais.
- Do que você realmente tem medo, Taylor? - Ela olha em volta, confirmando que estamos mesmo sozinhos, e se levanta parando a minha frente.
- Laura, aqui não é...
- Você disse que não era casado e que nunca teve ninguém na sua vida. - Ela me interrompe, continuando em seguida. - Você não se envolve com ninguém, ou apenas comigo? Isso é por que somos colegas de trabalho? Ou por que eu sou mãe solteira? - Nego com a cabeça, olho mais uma vez na tela vendo que a reunião ainda está em andamento e respiro fundo, voltando a encará-la.
- Não é nada disso, Laura. Claro que o fato de sermos colegas de trabalho seria um agravante, mas esse não é o caso, e muito menos o fato de você ser mãe solteira. Porém a situação é um pouco mais complicada que isso.
- Olha, Taylor, eu sou uma mulher de 35 anos, com um filho de 4, e que não tem mais tempo para dúvidas, incertezas ou "complicações". Eu realmente gosto de você, mas se prefere usar a velha desculpa do "O problema não é você, sou eu" para cima de mim, é melhor mesmo não continuarmos com seja o que for isso que acontece entre nós dois.
Fico em silêncio por um momento, apenas encarando os seus olhos decepcionados, mas como eu poderia me envolver com uma mulher, quando na minha profissão o amanhã é uma incógnita ainda maior do que as incertezas do que nos espera no futuro? Como explicar para a mulher que fez com que eu me apaixonasse aos 35 anos, que hoje posso estar aqui, mas que a qualquer momento a nossa Equipe - da qual não poderei mencionar -, poderá ser solicitada para executar um trabalho, sem saber se retornarei ou não para os seus braços?
Além de ter uma criança envolvida na equação, um garotinho de 4 anos, que eu já percebi ser carente de afeto paterno, que é muito doce e completamente apaixonante, e que poderá facilmente se apegar ao homem que passar a ser alguém frequente na convivência do seu lar, vendo-o com a sua mãe e assim, fazer com que a ideia de uma possível família seja frustrada se este mesmo homem sumir de repente.
Não posso ser egoísta e fazer isso com eles, mas também não posso fazer isso comigo mesmo, pois sou um ser humano como qualquer outro e que tem sentimentos, mesmo que a maior parte do tempo, a minha postura seja de alguém frio e sem emoções. No entanto, não consigo simplesmente fingir que não sinto nada por ela, da mesma forma que não consigo encerrar o que nem começou de fato.
- Laura, eu não estou usando nenhuma desculpa, mas... Você não entenderia. - Ela sorri, mas não de verdade, e assente, afastando-se e voltando a se sentar.
- Eu poderia falar para você tentar me explicar, quem sabe eu fosse capaz de entender, mas como eu disse antes, eu sou uma mulher de 35 anos e não uma adolescente com dúvidas se deve ou não continuar com um possível romance que nem mesmo começou. - Ela pega o seu headseat, posicionando-o novamente em sua cabeça. - Mas eu quero deixar claro, Taylor, que posso estar desistindo de nós dois nesse momento, pois não irei insistir em algo que você não quer, mas não irei desistir de encontrar alguém futuramente ou até mesmo amanhã, quem sabe?
Suas palavras e o seu dar de ombros me fazem engolir em seco, e antes que eu refute o que ela acabou de dizer, afirmando que ela não vai arrumar outra pessoa coisa nenhuma, o telefone começa a tocar, e ela volta ao trabalho. Mas sinto um gosto amargo na boca e a inquietude por perder a quem nunca chegou a me pertencer de fato. O que acredito que isso será o melhor a ser feito, antes que sentimentos mais profundos possam estar envolvidos.
Mas será que é realmente isso o que eu devo fazer?
[...]
Observar o Senhor Grey e a Senhorita Steele num mundo só deles - mesmo que estejam dentro do carro comigo e Samantha -, faz-me perceber o quanto esse rapaz mudou desde que comecei a ser o seu Segurança Pessoal.
Vê-lo tão amargurado, com o olhar perdido e sempre nublado, além da postura dura e fria que havia adotado em tão pouca idade, como ele costumava ter, enchia-me de tristeza, justamente por ter presenciado de longe o quanto ele era um adolescente sereno, com os olhos sempre brilhantes e cheios de sonhos, que por pouco não foram destruídos pela maldade de pessoas sem caráter.
E talvez seja por isso que de forma involuntária acabo dando um sorriso de lado, ouvindo-os fazer planos para o fim de semana com os seus amigos, fazendo-me esquecer das palavras da Laura, pelo menos por um momento, afirmando que não iria mais insistir em nós dois. Assim como o seu olhar triste, quando eu não voltei a tocar no assunto, pois logo precisei descer para me encontrar com o Senhor Grey, saindo da GNIH em seguida, após o término de sua reunião com Otelo Rice e Lúcio Grives.
- Que cara de cachorro que foi chutado pelo dono é essa, Taylor? - Samantha questiona assim que entramos no Anexo dos Seguranças, mas não lhe direciono o olhar para responder.
- Não sei sobre o que você está falando, Samantha. - Sei que ela negou com a cabeça, mas continuo antes que ela volte a falar algo. - Antes que você siga para a sua ala, precisamos conversar sobre os visitantes da Senhorita Steele, pois eles também estiveram na GNIH em reunião com o Senhor Grey.
- Taylor, faz 15 anos que eu o conheço, o que posso dizer que sei cada gesto e cada mania que você tem, além de poder enumerar boa parte das cicatrizes que você ganhou ao longo dos anos, inclusive a sua tática irritante de falar sobre trabalho quando quer mudar de um assunto de cunho pessoal.
- Acredito que o seu marido não vá gostar de saber que você está observando tantos detalhes em outro homem, Senhora Foster. - Ela expira ruidosamente, exasperada, e pega no meu braço, antes que eu abra a porta do Escritório do Centro de Comandos, para encará-la.
- Não faça isso, Taylor! Até mesmo você tem direito a ter dias ruins, porém não precisa guardar tudo aí dentro. - Ela enfia o dedo no meu peito sem desviar os olhos dos meus. - O Senhor Grey e a Senhorita Steele estão em casa e seguros, portanto podemos tirar alguns minutos antes de falarmos sobre o que aconteceu durante o dia.
- Conversaremos depois, Samantha, o Richard ainda não retornou e precisamos... - Ela nega com a cabeça e me interrompe.
- Precisamos relaxar alguns minutos e só depois teremos cabeça para focar no trabalho. Se o Richard estivesse aqui, Taylor, ele diria a mesma coisa, afinal, não somos apenas colegas de trabalho, nós somos mais que amigos, porque nós somos uma grande e torta família. E é isso que a família faz para com os seus: conversam, ajudam a resolver os problemas, não apenas do trabalho, mas também das nossas vidas pessoais.
- Você não vai desistir não é?
- Você desistiu de tentar conversar comigo, quando a minha mãe praticamente me expulsou de casa, apenas por eu ter decidido seguir os passos do meu pai, ingressando-me na Marinha? - Sorrio de lado e nego com a cabeça. - Então você tem a sua resposta.
Penso por um momento e analiso as minhas opções, mas Samantha tem razão, afinal, o meu turno de hoje já foi encerrado e qualquer eventualidade, sei que o Senhor Grey entrará em contato.
Porém por enquanto, eu realmente preciso deixar o profissional de lado, nem que seja por alguns minutos, e ser apenas um homem como qualquer outro, que também tem os seus problemas pessoais e situações mal resolvidas e incompreendidas quando o que está em questão, é esse infeliz do meu coração.
Eita, lasqueira 😱😱! O buraco realmente é mais embaixo, não é verdade 😏😏! Afinal, o que tudo indica, não estamos lidando com um simples criminosos aqui ou apenas uma questão de dinheiro por ambição, mas algo muito maior do que podemos imaginar 😏😏.
Mas acho que já deu para vocês perceberem (e se não perceberam irei falar), que esse leilão não será um "evento" exclusivo para este livro, certo? Nesse evento teremos os futuros Antagonistas (Vilões) do livro 2, do livro 3 e com consequência também no livro 4 (Ops, algumas de vocês ainda não sabem do livro 4 🤭🤭).
Pois é! Além de Christian e Anastásia, Richard e Isabella e Caleb e Charlotte, os herdeiros (Os trigêmeos e companhia) também contarão as suas histórias e o livro deles logo será colocado na plataforma (como o 2 e 3 com lançamento futuro), tendo como título O Legado do Destino.
Mas voltando as considerações do Capítulo, vocês sabem que o Marco ter voltado e ter "contado" que está vivo, significa que teremos várias respostas respondidas e bandidos presos - ou mortos 😏😏 -,(Glória a Deus, não é mesmo 🤭🤭?), porém Richard tem razão, afinal, estão passando as informações que acreditam que ele e sua Equipe devem saber, fazendo-os chegar perto, mas ainda faltando peças para tudo realmente se encaixar 😤😤.
E mais uma vez, Richard também está certo quando disse que o problema é mais complexo, e não apenas pelo fato do Marco ter afastado a Ana dos pais, durante 20 anos, não sendo apenas para proteção dela, porque há alguém a mais nessa redoma de proteção 😏😏. E tenho certeza que nem passa na cabeça de vocês quem possa ser 😏😏.
E, Taylor? Eu vou dar na sua cara, viu seu Ghost Gostoso 🤬🤬! Quem disse que você não pode se apaixonar e se entregar a esse sentimento 🤬🤬? Ahhh, já sei! Isso tudo é drama para ser resolvido no livro 2, não é 😏😏? É! Eu já sabia disso 😏😏!
Bommmm, ainda teremos a terceira e última parte contada por Taylor, mas não se preocupem que não irei demorar, como demorei para postar este capítulo, então até mais 💋💋.
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