Capítulo - 08
Acordo com o som do despertador indicando que mais um dia se inicia e sorrio por imaginar que logo o outono estará chegando, uma estação que para muitos remete a tristeza e melancolia, mas apenas porque não conseguem enxergar a beleza desta estação que indica um novo recomeço.
Andar nos parques e poder ver o avermelhar e amarelar das árvores, assim como a queda de suas folhas e frutos é um lindo recomeço, pois elas estão nos dizendo, se preparem, pois novos e melhores virão. O clima nublado e frio é uma forma gostosa de estar perto de quem amamos, podendo nos aconchegar num abraço apertado absorvendo o calor que nos envolve, assim como o sol quando se esconde entre as nuvens mostrando os seus segredos e mistérios, fazendo um espetáculo no céu ao ter seus poucos raios ultrapassando as camadas que o protege.
Olho para o relógio e pulo da cama, pois fiquei mais tempo do que imaginei em meu mundo de fantasias que se eu não correr para o banheiro agora chegarei atrasada na Universidade e, assim faço, tomando um banho rápido.
- Você tem certeza disso Filha? - Ouço Padre Lutero conversando baixinho com a Tia Ângela na cozinha, assim que saio do quarto e me escondo no corredor.
- Tenho sim Padre, o custo de vida em Seattle é mais alto do que tínhamos em Portland e as nossas reservas estão praticamente no fim. - Tia Ângela suspira e ouço o barulho da cadeira se arrastando no assoalho. - Eu mandei o meu currículo para o Grey Hospital and Medical Center, agora é só aguardar para ver se serei chamada para uma entrevista. - Arregalo os olhos por ser o Hospital da família do Caleb.
- Você é uma boa Enfermeira Ângela, eu tenho certeza que você será chamada em breve. Agora eu não sei como posso ajudar, pois desde que eu pedi dispensa do Sacerdócio que não recebo mais a Côngrua. - Padre Lutero se cala por um momento e sei que ele está pensando em algo e, eu sinto um aperto no coração por saber que a culpada por todas as dificuldades financeiras que eles estão falando, sou eu. - Eu vou falar com o Marco, eu falei que não mexeria naquele dinheiro, mas se for necessário, não teremos outra opção.
- E falando em Marco, o que aconteceu para ele ter sumido? - Essa é uma boa pergunta que eu também gostaria de saber Tia Ângela.
- Eu conversei com ele e achamos melhor que se mantivesse afastado, pelo menos por um tempo.
- Padre Lutero, eu sei que o Senhor pediu para eu não perguntar nada referente a esse assunto, mas o que de fato aconteceu naquele dia quando... - Ela se cala quando eu tento me aproximar para ouvir melhor e acabo deixando a minha mochila escorregar do ombro batendo na parede. - Borboletinha, bom dia! - Ela olha rapidamente para o Padre e eu fico sem graça por eles acharem que eu estivesse ouvindo, o que de fato estava.
- Bom dia, Tia, Padre Lutero. - Me aproximo e beijo a bochecha deles me sentando a mesa em seguida. - Onde está a Thaís? - Pergunto para disfarçar o meu embaraço.
- Ainda não saiu do quarto, mas ela deve estar dormindo, pois chegou de madrugada em casa. - Ela fala com desgosto e eu não falo nada, apenas assinto enquanto como mais um pedaço de pão e bebo o meu chá.
- Filha, você não está atrasada? - Padre Lutero olha para o seu relógio de bolso e eu arregalo os olhos, por saber que ouvir conversas alheias me fez perder a noção do tempo e eu levanto da cadeira.
- Estou e muito! Eu vou acabar perdendo o ônibus.
- Pegue um táxi depois minha Filha, mas termine o seu café da manhã. - Tia Ângela fala com um sorriso terno nos lábios, mas se o dinheiro está acabando eu não irei gastar mais se posso muito bem pegar o ônibus.
- Eu já terminei Tia, eu escovo os dentes na Universidade. - Bebo o restinho do meu chá, pego a mochila e beijo novamente o rosto dos dois. - Até mais tarde.
- Vá com Deus minha Filha. - Padre Lutero faz o sinal da cruz em mim e eu sorrio o agradecendo.
Saio correndo de casa e começo a pensar que eu preciso arrumar um emprego de meio período para ajuda-los nas despesas da casa, pois se eles estão aqui é justamente por eu ter vindo para a Universidade de Seattle estudar Administração, fazendo com que eles deixassem as suas vidas para trás e nada mais justo do que eu fazer isso.
(...)
- Bom dia, Peste! - Dou um salto no lugar quando ouço a voz de Caleb no meu ouvido, enquanto pego alguns livros no armário.
- Que susto Caleb, você quer me matar do coração? - Coloco a mão no peito tentando acalmar as suas batidas frenéticas.
- Não se preocupe com isso, Ana, que vaso ruim não quebra e nem tem infarto. - Ele sorri, mas percebo que está um pouco triste.
- O que aconteceu? Você está triste? - O seu sorriso se fecha e ele suspira.
- Ontem eu acabei discutindo com o meu irmão quando cheguei para almoçar, agora ele ficará seis meses fora e eu não gosto de ficar brigado com ele, mesmo sendo a pessoa mais irritante do mundo. - Me aproximo e o abraço, sendo apertada em seus braços, sentindo o seu perfume refrescante.
- Não fique assim, eu tenho certeza que com um telefonema vocês farão as pazes e tudo ficará bem.
- Você fala isso porque não conhece a peça. - Sinto o seu sorriso em meus cabelos. - Christian é um pouco... Complicado. - Ele me afasta e sorri de lado.
- Bom dia, casal! - Ouvimos a voz de Pietro e fazemos careta ao mesmo tempo. - Quando vocês vão assumir de vez esse romance? - Eu olho para Caleb de olhos arregalados, que olha para mim da mesma forma.
- Nunca! - Respondemos ao mesmo tempo e Pietro gargalha.
- Vocês dois são uma comédia e é o assunto da Universidade. - Ele abre o seu armário, para pegar o seu material, mas continua sorrindo.
- Como assim o assunto da Universidade? - Pergunto confusa e Pietro me olha como se fosse óbvio.
- Vocês repararam que estão sempre juntos e vivem abraçados pelos corredores do prédio, sem contar as constantes implicâncias que tem um com o outro?
- Pietro que absurdo isso, para não dizer no mínimo bizarro. - Caleb faz outra careta e eu bato no braço dele.
- Por quê? Aninha é linda, sem contar que tem vários pretendentes na Universidade, mas vocês fazem um belo casal. - Ele para de falar e arregala os olhos para Caleb. - Espera! Você é gay? Como eu não percebi isso antes?
- O quê? Claro que não! De onde você tirou isso, Pietro? - Impossível não gargalhar do desespero de Caleb, mas me contenho em seguida por estar chamando atenção dos outros alunos que circulam pelo corredor. - Pietro, só em pensar em ter algo com a Ana me dá arrepios, pois seria a mesma coisa de eu ter algo com algum dos meus irmãos. - Ele estremece de forma exagerada e eu concordo com ele. - Totalmente nojento e desnecessário pensar nela dessa forma, pois ela é como a minha irmã.
- E você por um acaso tem uma irmã, Criatura? - Pietro coloca as mãos na cintura e eu seguro o riso, mais uma vez. - Até onde eu sei você tem dois gostosos como irmãos e falando nisso, quando iremos conhecê-los? Como eles são? Se parecem com você? - Pietro dispara uma pergunta atrás da outra e Caleb me olha como se pedisse ajuda, mas eu apenas dou de ombros.
- Vá devagar aí, Pietro. - Ele apenas gesticula com as mãos impaciente, fazendo Caleb bufar e revirar os olhos, mas responde a pergunta. - O Richard é mais velho e se parece mais com a nossa mãe, agora o Christian, digamos que se parece muito comigo. - Ele dá um sorrisinho como se isso fosse uma piada interna e eu fico sem entender. - Podemos marcar algo na minha casa, mas vocês só poderão conhecer o Richard, pois Christian viajou ontem e só volta em seis meses.
- Não tem problema, eu posso fazer teste drive com o seu irmão mais velho e quando o outro voltar, eu decido com qual ficar. - Pietro fala tão sério, como se de fato isso fosse uma possibilidade. - Será que seus irmãos seriam ativos ou passivos? Não que eu veja problemas em uma relação versátil, mas eu prefiro receber a dar amor, se é que me entendem. - Sem me conter, eu gargalho mais uma vez das caras e bocas que ele faz e Caleb arregala os olhos.
- Pelo amor de Deus Pietro! Isso é informação demais, ainda mais para se ouvir sobre os meus irmãos. - Ele pega na minha mão e me puxa corredor a fora enquanto continuo rindo. - Vamos logo para nossas salas, pois a aula já vai começar.
- Depois não querem que falem que vocês é um casal, andando de mãos dadas assim.
Pietro resmunga enquanto nos segue, olho por cima do ombro vendo o seu sorrisinho malicioso mais uma vez, mas Caleb e eu apenas damos de ombros, afinal não ligamos, somos amigos e é isso que importa.
(...)
Mesmo tendo aquela conversa descontraída - para não dizer maluca - com o Pietro, ainda não consigo parar de pensar no que ouvi mais cedo da tia Ângela com o Padre Lutero, mas agora analisando tudo que eu ouvi, tem algo que me chamou a atenção, pois o que será que o Padre Lutero queria dizer sobre "mexer naquele dinheiro"? De que dinheiro ele estava falando? E por que ele precisava conversar com o tio Marco?
No entanto eu sei que continuarei a ficar sem respostas para essas e as diversas perguntas que surgiram desde que eu tinha 15 anos quando "sem querer" eu ouvi os dois conversando naquela sala, mas sobre isso eu não posso resolver nada, diferente de comprar um jornal e tentar encontrar algum trabalho que contratem Universitários para turnos de meio período.
- Ana, você está ouvindo? - Pisco algumas vezes quando Eloise estala os dedos na minha frente. - Garota em que mundo você estava? - Eu sorrio envergonhada, pois eu realmente não prestava atenção no que diziam.
- Desculpe-me, Eloise, eu não ouvi. O que vocês estavam falando?
- O Caleb estava falando para marcarmos um almoço na casa dele amanhã, o que você acha? - Penso por um momento, mas não vejo motivos para não aceitar.
- Por mim está tudo bem.
- Então ótimo. - Caleb bate a mão na mesa se levantando em seguida. - Vou falar para os meus pais não marcarem nada e, às 11h00 eu pegarei você, Ana.
- Não precisa Caleb, é só me passar o endereço que com certeza chegarei à sua casa. - Reviro os olhos, pois eu não teria coragem de fazê-lo sair de sua casa que fica do lado oposto da minha, apenas para me buscar.
- Eu posso passar para pegá-la, Caleb. - William que até então estava calado se pronuncia e todos olham para ele. - O condomínio de Eloise e Pietro não fica muito longe da casa da Ana, não seria problema nenhum para nós. - Ele fala e eu recebo sorrisos e balançar de cabeça de Pietro e Eloise concordando com ele.
- Está tudo bem para você? - Caleb me pergunta e mais uma vez eu reviro os olhos.
- Não precisaria de qualquer forma, mas se não for de fato incomodar, William, eu aceito a carona.
- Então estamos combinados, amanhã com exceção do William que já os conhecem, vocês irão conhecer a minha família, ou pelo menos a maioria dela. - Ele faz uma careta e pega a sua mochila.
- Espera aí, William! Então você já conhece a família, desse daí? - Pietro pergunta apontando para Caleb que bufa revirando os olhos. - Por que você nunca me contou que conhecia os meus futuros namorados? Onde fica o amor cunhado traidor? - Ele fala indignado cruzando os braços e fazendo um bico nos lábios.
- Pietro, deixa de exagero. Eu fui umas duas ou três vezes na casa do Caleb para fazermos algum trabalho da Universidade. - Ele se levanta, sendo seguido por todos nós. - E eu não conheço os dois irmãos dele, apenas o mais velho.
- Que história de futuros namorados é essa, Pietro? - Agora quem cruza os braços é o Caleb, enquanto o encara. - Os meus irmãos não são gays seu maluco e eu acho bom que você nem fale isso perto deles.
- Por quê? Por um acaso eles são homofóbicos? - Pietro pergunta preocupado.
- O quê? Claro que não! - Caleb responde até um pouco ofendido pelos irmãos. - O Richard é só reservado e o Christian, digamos que não é a pessoa mais bem humorada da face da terra, não, espera, melhor dizer do Universo.
- A forma que você fala do seu irmão, até parece que ele é um ser intragável, Caleb. - Eu afirmo por já ter observado outras vezes ele falar algo semelhante em relação ao irmão mais novo.
- Por que ele é? - Soou mais como uma pergunta e eu o olho sem entender. - Ele nem sempre foi assim, mas... Coisas aconteceram fazendo-o mudar. - Vejo o seu olhar ficar triste e a curiosidade me bate, mas sei que se ele pudesse falaria, então permaneço em silêncio. - Um dia você irá conhecê-lo e verá que tenho razão. - Ele sorri, mas ainda está com semblante triste e eu assinto encerrando o assunto. - Agora vamos? Eu quero passar no Hospital para falar com a minha mãe, depois de te deixar em casa.
- É... Bom... Você pode ir, eu pretendo passar em um lugar antes de ir para casa. - Ele sempre desvia o caminha para me levar, mas hoje pretendo passar na Banca de jornal que fica próximo ao ponto de ônibus, o que é caminho oposto o que ele costuma fazer.
- O que você está aprontando, sua peste? - Ele me olha desconfiado, mas reviro os olhos mais uma vez nesse dia e pego a minha mochila colocando-a no ombro.
- Não estou aprontando nada, Caleb. - Ele não se convence muito, mas dou um beijo na sua bochecha e o meu melhor sorriso.
- Tudo bem, até amanhã pessoal. - Despedimo-nos e cada um foi para o seu destino.
Eu poderia falar com Caleb sobre a Tia Ângela ter deixado um currículo no Hospital de seus pais, mas eu não acho correto usar a minha amizade com ele como benefício para algo, pois eu tenho certeza que ele falaria com os seus pais, no entanto a minha tia não iria gostar disso se eu fizesse algo assim, até porque ela saberia que eu ouvi a conversa deles.
Deus! Essa minha curiosidade ainda vai me colocar em problemas um dia e, eu vou ficar bem encrencada se Padre Lutero souber de uma coisa dessas.
(...)
- Ainda bem que você chegou Estorvo, eu estou morrendo de fome. - É a primeira coisa que ouço de Thaís assim que entro em casa. - E por que demorou tanto? Minha mãe disse que você chegaria por volta das 12h30. - Olho no celular e vejo que de fato demorei hoje, pois são mais de 14h00.
- Hoje eu não vim de carona. - Entro e coloco a mochila no sofá oposto em que ela está sentada enquanto pinta as suas unhas com um vermelho vibrante. - Onde está a Tia Ângela?
- Ela saiu dizendo algo como passar não sei onde para deixar não sei o quê. - Ela faz sua cara de tédio e me encara. - E o que te interessa onde ela foi? Será que até nisso ela tem que te dar satisfações? Não basta fazê-la deixar a nossa casa, a casa que era do meu pai, para vir para essa Cidade porque a "Princesinha" queria estudar numa Universidade idiota? - Eu suspiro porque ela nunca vai se cansar de destilar o seu veneno.
- Olha Thaís, não que eu te deva explicações de algo, mas primeiro, a minha Universidade não é idiota e se você estivesse interessada em progredir, procuraria fazer algo da sua vida também e segundo, eu não pedi para o Padre Lutero e muito menos para a Tia Ângela deixarem suas vidas para me acompanharem, mas sou muito grata por isso. - Respondo calmamente e vejo o ódio cintilar em seus olhos.
- Escuta aqui, sua bastarda, quem você pensa que é para falar assim comigo? Está ficando corajosa não é? - Ela se levanta do sofá e caminha na minha direção, mas eu não me movo.
- Eu posso não ser ninguém como você diz Thaís, no entanto eu não sou mais aquela menininha que você conseguia assustar ou ofender com as suas palavras venenosas e que se escondia no guarda-roupa e, quer saber de uma coisa? Se você está com fome, faça você mesmo a sua comida, pois tem capacidade o suficiente para isso. - Pego a minha mochila e passo por ela entrando no meu quarto logo em seguida, mas ouço os seus gritos e xingamentos na sala.
Não vou negar que suas palavras ainda me machucam, apesar de eu já ter me acostumado com o seu ódio por mim, mas eu não irei me abalar com isso, pois tenho algo mais importante para fazer no momento e, com essa determinação eu pego o jornal na mochila, sentando-me na escrivaninha abrindo-o na parte dos classificados e começo a ver as diversas ofertas de emprego que estão sendo oferecidos.
Babá? Impossível por ser período integral. Secretária de um Escritório de Advocacia? O mesmo problema e ainda pedem preferência por quem possui Secretariado. Atendente de Telemarketing? Fica do outro lado da Cidade e seria para o turno da noite. Cozinheira? Além dos meus dotes culinários serem limitados, seria no período da manhã e nesse horário estou na Universidade e, dessa forma vou analisando todas as outras ofertas, que nem percebo o tempo passar, até que me deparo com um anúncio que me chama a atenção.
Vendedora na Parker Dress For Less, uma loja de luxo de vestuário feminino e masculino, para trabalhar das 14h00 às 20h00. Esse será perfeito e não exigem experiência, pois segundo o anúncio terá uma semana para treinamento e, vender roupas não deve ser algo tão complicado assim não é mesmo? Eu espero que não.
Sorrio feliz por ter encontrado esse anúncio e na segunda, assim que eu sair da Universidade eu comparecerei no horário marcado e espero que eu consiga essa vaga, pois o salário descrito será muito bem-vindo para ajudar com os gastos mensais e dessa forma, nem a Tia Ângela ou o Padre Lutero ficarão preocupados.
(...)
Ontem quando desci para o jantar, todos estavam presentes a mesa, inclusive a Thaís que me fuzilava com o olhar, mas nada disse. No entanto eu sei que a minha tia percebeu o clima estranho causado por ela na mesa, mas que em momento algum eu deixei transparecer irritação, até porque raramente isso acontece comigo.
No café da manhã de hoje ela tentou me alfinetar com alguma coisa, principalmente quando eu avisei a minha tia que iria sair, mas eu não dei brechas para que o assunto prosseguisse, mas o que está me incomodando nesse momento, é não saber o que vestir para o almoço na casa de Caleb. No entanto, pensando bem, não mostrarei ser uma pessoa que eu não sou apenas para benefício de terceiros, se gostarem de mim, será da minha forma simples de ser.
Olho-me no espelho arrumando os meus cabelos castanhos - que está precisando de um corte na minha franja - e faço uma maquiagem suave, apenas para realçar a cor azul dos meus olhos, passando em seguida às mãos retirando rugas imaginarias no meu vestido branco com pequenos hexágonos pretos, de alças largas, justo até a cintura e rodadinho até os meus joelhos. Coloco uma sapatilha branca com preta e está ótimo e, acredito não passar vergonha perante a família do meu amigo.
- Você vai sair assim? - Thaís pergunta com deboche assim que chego à sala. - Está parecendo uma menina de rua que ganhou um vestidinho de departamento barato. - Olho para minhas roupas e não me sinto tão segura agora, como estava há alguns minutos atrás.
- Thaís, não começa! - Tia Ângela se aproxima com seu sorriso doce e me abraça. - Não liga para ela, você está linda. - Eu sorrio em agradecimento, mas não falo nada para não demonstrar que as palavras da Thaís me afetaram. - Seus amigos já chegaram, mas não quiseram entrar. - Eu arregalo os olhos e pego a minha bolsa que havia colocado no sofá.
- Não pretendo chegar muito tarde, Tia Ângela.
- Não se preocupe querida, você precisa se divertir, agora vá e tenha um excelente dia.
Beijo a sua bochecha e saio de casa, sem nem olhar para Thaís, encontrando Pietro batendo o pé no chão enquanto está do lado de fora do carro e vejo Eloise e William se beijando, deixando-me envergonhada por ter que interrompê-los.
- Ainda bem que você chegou, eu não aguentava mais segurar vela para esses dois. - Eu o abraço assim que me aproximo. - Nossa! Você está linda, tão linda quanto a Afrodite.
- O Pietro tem razão, Ana, você está muito linda. - Eloise apoia os braços sobre a janela aberta e me olha sorrindo.
- Obrigada gente! Oi, William! - O cumprimento assim que entro no carro, sendo seguida por Pietro. - Desculpe-me a demora, eu não sabia que vocês já haviam chegado.
- Não tem problema, chegamos há pouco tempo. - William responde sorrindo e logo estamos entrando no fluxo do trânsito. - A sua mãe até nos convidou para entrar, mas achamos melhor não atrapalhar. - Ele me olha rapidamente pelo retrovisor interno e eu sorrio.
- Ela não é minha mãe, mas é como se fosse, pois foi ela quem me criou. - Respondo ainda sorrindo e ele me olha novamente de forma curiosa.
- Desculpe-me, pensei que você morasse com os seus pais.
- Não tem problema, eles são a minha família e, eu os amo muito.
Ele não fala mais nada sobre esse assunto e seguimos numa conversa animada, onde passamos boa parte do caminho rindo da animação exagerada do Pietro, dizendo que se o "gaydar" dele apitar com o irmão de Caleb, ele sairá desse almoço comprometido.
Logo chegamos num condomínio extremamente luxuoso, não espera! Assim que os portões se abrem, eu vejo que não é um condomínio, isso é à entrada da casa do Caleb, pois há uma única Mansão, como essas que vemos em capas de revista, deixando-me boquiaberta com a beleza do lugar.
Será que eles têm um mordomo com os cabelos branquinhos, vestindo um terno extremamente chique e usando luvas brancas? Acabo soltando uma risadinha com esse pensamento, chamando a atenção de Pietro ao meu lado.
- O que foi? Do que você está rindo? - Ele me olha sorrindo, sem nem mesmo saber o motivo da minha risada.
- Eu estava pensando se os pais do Caleb tem um mordomo com cabelos de algodão, vestido naquelas roupas formais e luvas brancas? - Assim que eu falo, William solta uma gargalhada, sendo acompanhado de Eloise e Pietro e eu fico envergonhada por ter dito isso em voz alta.
- O que está acontecendo? - Assusto-me quando a minha porta é aberta por Caleb e antes que alguém conte a minha gafe, eu saio do carro o abraçando.
- Não aconteceu nada, foi só uma piada. - Olho para Pietro, de cara feia e ele ainda rindo ergue as mãos em sinal de rendição, mas não sei se posso confiar nessa cara que ele está fazendo. - Bonita a sua casa. - Falo depois de dar um beijo em sua bochecha.
- Obrigado, Aninha, mas vamos entrar, meus pais e o Richard estão os esperando.
Todos descem do carro e após os cumprimentos, seguimos para a porta e sinto um friozinho no estômago e um pouco receosa, pois agora eu tenho certeza mais do que absoluta que as minhas roupas estão muito simples, mas bem, essa sou eu e espero que tudo ocorra bem.
É isso mesmo, Ana, seja você mesma e não ligue para
essa mal-amada da Thaís e se divirta, conhecendo seus
futuros sogros e o cunhado mais velho😏😏😏!
O que será que vai acontecer nesse almoço?
Algo me diz que Pietro não vai ficar quieto e vocês?
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