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Capítulo - 01

As histórias que eu ouvia desde que era criança sempre começavam com "Era uma vez" e eu ficava fascinada com cada palavra que era lida pela minha Tia Ângela, principalmente quando chegava ao final e ela me olhava sorrindo e dizia o famoso "E viveram felizes para Sempre".

A melhor parte do meu dia era quando antes de dormir ela se deitava ao meu lado sempre com um novo livro para ler até que eu pegasse no sono, mergulhada no mundo dos sonhos onde tudo era colorido, com lindos castelos, pássaros cantando e animais falantes, mas além dessas lindas histórias, ela também me contava como o mundo real funcionava, sempre me ensinando a ser uma menina forte, mas sem nunca perder a humildade, a bondade e jamais perder o sorriso dos meus lábios.

Tia Ângela, junto com o Padre Lutero sempre tinham algo novo para me ensinar, inclusive que eu jamais deveria esconder os meus sentimentos, que eu sempre deveria andar de cabeça erguida seja qual fosse à situação e, que as lágrimas não me fariam uma pessoa fraca e sim alguém que não tem vergonha de demonstrar suas emoções, sejam elas felizes ou tristes. No entanto eu nunca deveria ser rude a ponto de magoar alguém principalmente sem antes ouvir o que a outra pessoa tinha a me falar, que julgamentos precipitados poderiam acabar sendo mal interpretados e que eu sempre deveria cultivar o perdão dentro do meu coração, da mesma forma que eu deveria ajudar a quem precisasse.

Eu sempre procurei fazer de tudo para que eles se orgulhassem de mim, pois eles eram a minha família e eu jamais queria decepcioná-los, no entanto quando eu comecei a entender mais das coisas do mundo real, eu me perguntava, por que eu não tinha uma mãe e um pai igual a todos os meus colegas da escola ou os nossos vizinhos? Por que o meu sobrenome era diferente do deles?

Essas perguntas foram respondidas algum tempo depois, porém eu jamais imaginei que o meu "Era uma vez" fosse tão complicado e que talvez o fim da minha história não houvesse o tão almejado "E viveram Felizes para Sempre", no entanto eu fui ensinada a nunca desistir, não importa o caminho que eu tivesse que trilhar desde que fosse com sabedoria e honestidade. Que não importa as surpresas ou as Coincidências que eu encontraria no trajeto, pois o meu Destino já estava traçado.

Portland - Maio/2007

- Borboletinha, onde você está? - Escuto Tia Ângela me chamar, mas eu não quero que ela veja que eu estou chorando. - Apareça meu Amor, eu vi você entrando em casa.

- Ah Mamãe, deixa essa menina, ela está fazendo isso só para chamar sua atenção. - Ouço a voz da Thaís próxima à porta do quarto e eu fecho os olhos com força para elas não me acharem.

- O que você fez com a Ana, Thaís? - Tia Ângela pergunta brava, mas eu não quero que ela fique brava.

- Eu? Por que toda vez que essa menina mimada chora, sou eu o motivo?

- Se você não fez nada, como sabe que ela está chorando?

- Ah quer saber, eu vou para a casa da Luma.

- Volte aqui, Thaís. - Tia Ângela chama por ela, mas eu sei que Thaís saiu, porque eu ouço o barulho alto da porta. - Borboletinha, fale com a Titia, onde você está? - Eu coloco as duas mãos no rosto, quando ouço que ela está se aproximando do meu esconderijo secreto. - Achei você! - Ela abre a porta do guarda-roupa, mas eu continuo com os olhos fechados. - O que aconteceu para que você esteja chorando? Olhe para a Titia. - Eu nego com a cabeça ainda cobrindo o rosto com as mãos. - Olha para mim, meu Amor, fala por que você está chorando? - Ela tira as minhas mãos do rosto, mas eu fecho os olhos mais apertados. - Então eu vou ter que entrar dentro desse seu esconderijo e ficaremos nós duas escondidas. - Eu abro os olhos bem rápido quando ela se senta ao meu lado, dentro do guarda-roupa, e eu sorrio porque ficou engraçado. - Isso mesmo, eu gosto de ver esse seu sorriso, mesmo com essas duas janelinhas na frente. - Ela toca o meu nariz com o dedo e depois seca as minhas lágrimas, e eu fico olhando para ela, até que começo a falar.

- Titia, por que a minha Mamãe me jogou no lixo? - Ela abre bem os olhos e me olha assustada.

- Quem te falou isso? - Ela para de falar e faz uma carinha triste. - Claro, só poderia ter sido a Thaís. - Ela fala baixinho, mas eu escutei. - A sua mamãe não jogou você no lixo, meu Amor, isso não é verdade.

- Então por que a Thaís disse que eu fui jogada no lixo e que o Padre Lutero me achou e te deu? - Pergunto confusa, e ela me olha, mas eu sei que ficou triste.

- Não escute essas coisas que a Thaís fala, minha pequena. - Ela se senta melhor no meu esconderijo e me puxa para o seu colo. - Você é uma menina muito especial, por isso o Padre Lutero pediu para que eu cuidasse de você, porque ele sabia que eu estava muito triste quando o meu bebezinho virou uma estrelinha e você chegou como um raio de sol numa manhã nublada, como eram os meus dias naquele momento. - Ela me abraça bem apertado, mesmo eu não entendendo direito o que ela quis dizer.

- Então onde a minha Mamãe e o meu Papai estão, Titia? - Eu levanto a cabeça, e ela fica me olhando por um tempo.

- Eu não sei, meu Amor. - Ela volta a falar e me abraça de novo e ficamos nós duas mais um pouco dentro do meu esconderijo que não é mais secreto agora.

(...)

Portland - Janeiro/2014

Hoje é o meu aniversário de 15 anos e mesmo sabendo que um dos meus desejos não será realizado, da mesma forma que não aconteceu durante todos os anos que passou, ainda assim estou muito feliz, pois além de ganhar uma festa linda da Tia Ângela e do Padre Lutero, eu ainda verei o Tio Marco e estarei ao lado das pessoas que são tão importantes na minha vida.

No entanto, no meio de tanta felicidade que transborda do meu coração, eu me permito sentir uma parcela de tristeza ao me olhar no espelho e ver refletido a imagem de uma adolescente que tem muitos sonhos, mas que não tem o amor de seus pais, mesmo não sabendo o motivo para eles não estarem ao meu lado nesse momento, no entanto eu não tenho mágoa deles, até porque eu não sei as circunstâncias que os levaram a me abandonar, - e se eles me abandonaram de fato - pois como disse o Padre Lutero, no tempo certo tudo irá se resolver e eu terei todas as respostas para os "porquês" que eu fiz desde quando eu tinha 8 anos e a Thaís na intenção de me machucar, falava que eu fui jogada fora como lixo.

Eu confesso que por um tempo eu acreditava mesmo nas palavras venenosas da Thaís, mesmo não entendendo o motivo para ela me odiar dessa forma, porém tanto o Padre Lutero como a Tia Ângela não permitiam que eu ficasse triste e conversavam comigo, dizendo o quanto eu era especial e importante na vida deles, mas no fundo eu sinto que toda essa raiva que ela sente se dá pelo fato de ter que dividir a atenção de sua mãe com outra pessoa.

Eu tentei por diversas vezes desde quando era criança a me aproximar dela, mesmo tendo uma diferença de 5 anos entre nós duas, mas eu a via como uma irmã mais velha, na qual eu poderia me espelhar, me aconselhar e desabafar, no entanto ela nunca me deu brechas para realizar tais ações, usando sempre de palavras duras e muitas vezes cruéis para me ferir, o que eu não vou negar que machucam ouvi-las até hoje, mas eu sempre que vou dormir peço a Deus para perdoá-la, pois eu já havia feito.

- Ana, vamos nos atrasar. - Assusto-me com Tia Ângela entrando no meu quarto e eu sorrio vendo o quanto ela está linda, mesmo estando com os olhos marejados. - Você está linda, Borboletinha. - Sorrio do apelido que ela sempre me chama desde que eu era pequena.

- A Senhora também está linda, Tia. - Ela se aproxima e beija a minha testa.

- Eu sei que não teremos muito tempo para conversar na festa, por isso eu vou aproveitar que estamos sozinhas agora. - Ela pega as minhas mãos nas suas e sorri olhando em meus olhos. - Eu quero que você saiba que mesmo não tendo sido gerada no meu ventre, você nasceu do meu coração desde o momento que me olhou com esses olhinhos azuis enquanto eu te amamentava. - Ela solta a minha mão e toca o meu rosto secando uma lágrima que deslizou sem eu perceber. - Que mesmo eu te ensinando a me chamar de Tia, eu sempre me considerei a sua mãe e eu me orgulho muito da menina doce, carinhosa e forte que você está se tornando. - Ela me envolve em seus braços e eu a abraço apertado. - Eu te amo muito, Anastásia, nunca se esqueça disso.

- Eu também te amo muito, Tia. - Ela se afasta e me olha sorrindo. - Obrigada por sempre estar ao meu lado e me dado o amor de mãe que eu sempre precisei. - Ela nega balançando a cabeça e pega o meu rosto entre suas mãos.

- O meu amor você sempre terá, minha Pequena, enquanto eu tiver vida, mas agora... - Ela se afasta para pegar o estojo de maquiagem e se aproxima novamente. - Vamos retocar essa maquiagem que os convidados já devem estar no salão nos esperando.

(...)

- Tio Marco! - Eu corri em sua direção assim que o vejo entrar no salão de festas, me jogando em seus braços.

- Borboletinha, você está tão linda. - Ele me afasta do abraço e me olha com carinho, mesmo eu vendo uma sombra de tristeza em seus olhos. - Me desculpe o atraso, mas eu quase não consegui escapar para vir te parabenizar.

- Não tem problema, Tio Marco, o importante é que o Senhor conseguiu vir. - Ele sorri e toca o meu rosto, mas fica sério de repente olhando para algo atrás de mim, acompanho o seu olhar e vejo o Padre Lutero se aproximando com o semblante fechado.

- Chegou atrasado, Marco, precisamos conversar. - Padre Lutero fala sério, sem nem mesmo cumprimentar o sobrinho e eu estranho a sua atitude, mas seu semblante suaviza assim que ele olha para mim enquanto faz um carinho no meu rosto. - Eu já falei isso assim que você chegou, mas não posso deixar de repetir o quanto está linda, Filha, uma verdadeira Princesa. - Eu sorrio, mas logo ouço a voz do meu Tio.

- Tio Lutero, podemos conversar depois? Eu acabei de chegar e logo eu terei que voltar para Seattle. - Ele fala e eu volto a olhá-lo assustada, ele não vai ficar para almoçar comigo amanhã?

- Justamente por isso mesmo que iremos conversar agora, antes que você volte para... Para o seu trabalho. - Ele fala com raiva na voz e eu não estou entendendo nada, mas por ver a minha confusão ele se aproxima e pega a minha mão. - Me desculpe minha Filha, mas o assunto que eu tenho para falar com o seu Tio é mesmo importante. - Ele olha para o sobrinho rapidamente e volta sua atenção novamente para mim e eu apenas assinto.

- Daqui a pouco eu volto Borboletinha, guarde uma dança para mim, tudo bem?

Eu sorrio concordando, ele beija a minha testa e vejo os dois se afastarem, no entanto mesmo sabendo ser errado o que eu irei fazer nesse momento, algo me diz para eu segui-los e tentar descobrir o motivo para o Padre Lutero tratar o sobrinho de forma tão rude. E é por esse motivo que eu sigo na direção que eles foram, assim que entraram na sala reservada do salão de festas.

Eu olho para os lados e ninguém está prestando atenção no que eu estou fazendo e me aproximo da porta que ficou entreaberta. De onde eu estou não posso vê-los, da mesma forma que eu acredito que eles também não estão me vendo e mesmo com a música alta que está tocando no salão ainda posso ouvi-los perfeitamente.

- Eu não posso falar nada por enquanto, Tio Lutero, por que o Senhor não entende isso? - Tio Marco responde algo para o Padre que eu não sei o que possa ser, mas seu tom de voz diz que ele está cansado desse assunto.

- É claro que eu entendo Marco, mas eu não concordo com isso desde aquela noite que você chegou com ela na Sacristia me prendendo nessa história por meio da Confissão. - Padre Lutero altera o tom de voz e eu me assusto, pois ele é a pessoa mais calma que eu conheço.

- Se não fosse dessa forma o Senhor não me ajudaria e ainda não guardaria esse segredo. Eu precisei fazer isso. - Tio Marco fala logo depois de um suspiro audível e em seguida deve ter se sentado na cadeira que tem na sala, ou melhor, se jogado, pois a mesma protestou com o seu peso.

- Meu Filho, eu entendo que as suas ações foram pensando em protegê-la, mas você parou para pensar que três pessoas estão sofrendo por causa disso? Que três pessoas estão perdendo um tempo que poderiam estar desfrutando juntos, principalmente um dia como esse de hoje? - Ele fala com a voz mais branda e o silêncio domina o ambiente por um tempo, me deixando ainda mais curiosa.

- Eu sei Tio Lutero e isso me mata toda vez que eu preciso olhar nos olhos de algum dos três, mas eu não posso arriscar em coloca-la em perigo. - Ele fica em silêncio por um momento, mas logo volta a falar. - Não de jeito nenhum! Eu não posso falar nada, não pelo menos até ela ser maior de idade. - Pelo visto ele respondeu a própria pergunta, pois eu não ouvi o Padre Lutero falar mais nada.

Eu decido sair antes que eles percebam que eu estava atrás da porta e entro no banheiro um pouco atordoada por pensar sobre quem eles estão falando. Com quem o meu Tio Marco trabalha? Pois isso parece ser perigoso pelo o que ele falou. Eu sei que ele é Segurança de uma família muito rica em Seattle, mas eu pensei que o seu trabalho não seria tão arriscado assim. Ele sente culpa por alguma razão, isso ficou claro para mim, mas quem são essas três pessoas que ele fala?

- Olha se não é a Princesinha da festa escondida no banheiro? - Assusto-me com a voz da Thaís e ao levantar o olhar, eu vejo sua imagem refletida no espelho atrás de mim.

- O que você quer Thaís? Você poderia parar com suas gracinhas pelo menos hoje? - Eu falo sem paciência pela sobrecarga de informações que gira na minha cabeça agora.

- Olha como você fala comigo, sua rejeitada. - Eu reviro os olhos, pois isso não me ofende mais. - E se você não percebeu, o banheiro é livre para que todos que estão nesta festa brega possam usar.

- Não seja por isso, pode ficar a vontade, pois eu terminei o que vim fazer aqui. - Eu tento passar por ela para sair do banheiro, mas ela segura o meu braço fazendo-me olhar em seus olhos.

- Escuta aqui, sua ridícula, você está se achando muita coisa, quando na verdade não passa de uma rejeitada pelos próprios pais. Uma menina que foi jogada fora, como o lixo que é, pois nem os próprios pais foram capazes de amar um estorvo como você. - Ela aperta o meu braço e os meus olhos marejam, mesmo eu não querendo as suas palavras me machucaram, mas eu não permito que as lágrimas derramem na sua frente. - Você é um estorvo, Anastásia, um nada, uma menina carente de atenção que fica fazendo de tudo para colocar a minha mãe contra mim, então se enxerga e coloque-se no seu lugar e saia da minha frente.

Eu não falo nada e vejo a raiva em seus olhos, no entanto ela solta o meu braço de forma brusca e me empurra, fazendo com que eu me desequilibre e se não fosse à bancada da pia, eu teria caído, no entanto eu simplesmente saio do banheiro, respiro fundo e coloco um sorriso no rosto e volto para minha festa, afinal hoje é meu dia e não deixarei nada estragar a minha felicidade, pelo menos não agora.

(...)

Depois do meu aniversário eu não vi mais o Tio Marco e isso já faz quatro meses, no entanto aqueles fragmentos da conversa dos dois que eu ouvi não saem da minha cabeça, mas deve ser mesmo apenas algo relacionado ao trabalho do meu Tio que se trata de uma profissão perigosa por ser um Segurança e, o Padre Lutero fica preocupado com o único sobrinho que tem, mas eu acredito também que possa ser porque eu fiquei com peso na consciência em ter escutado uma conversa que não me dizia respeito e se o Padre Lutero ou a Tia Ângela souberem disso ficarão muito decepcionados comigo.

- Thaís, eu já disse que você não vai e pronto. - A voz da Tia Ângela me tira dos meus pensamentos culpados quando chega à sala com a Thaís logo atrás.

- Mas que droga, Mãe, é só uma festa e você não pode me proibir, eu sou maior de idade e eu decido para onde e com quem eu vou sair. - Ela altera o tom de voz e eu vejo o quanto minha Tia fica triste com as atitudes da filha.

- Você tem razão, minha Filha, você de fato é maior de idade, no entanto o dinheiro que você precisa para essa viagem é meu, então eu decido se te darei ou não.

- Por que você faz isso comigo, Mãe? Eu tenho certeza se o dinheiro fosse para essa rejeitada da Anastásia você não hesitaria em dar o quanto ela pedisse. - Eu baixo a cabeça por ver o seu olhar raivoso em minha direção.

- Thaís não fale assim da Ana! E diferente de você que não quer saber nada da vida, ela não faz nada a não ser estudar e jamais me pediria para viajar para outra cidade com pessoas que eu nem conheço, simplesmente porque quer ir a uma festa.

- Ah claro, a rejeitada é perfeita mesmo, tão perfeita que nem os pais a quiseram e a jogaram no primeiro latão de lixo que acharam, porque se... - Me assusto com o barulho do tapa que minha Tia desferiu em sua face e a veja com os olhos marejados, mesmo estando com raiva.

- Eu estou cansada dessas suas palavras venenosas, Thaís, você pode me falar tudo o que você quiser, mas eu não permitirei que você fale assim com a Ana, está me ouvindo? - Ela não responde nada a mãe, mas me olha com ódio por eu ainda estar com os olhos arregalados pelo susto que eu levei.

- Está satisfeita, bastarda? Não era isso que você sempre quis fazer? Colocar a minha mãe contra mim? Pois bem, parabéns! Você conseguiu e saiba que eu odeio vocês duas, eu ODEIO! - Ela termina de falar gritando e sai correndo pela porta, quase atropelando o Padre Lutero.

- O que aconteceu aqui? Por que a Thaís saiu desse jeito de casa? - Ele pergunta confuso enquanto tira o seu chapéu da cabeça, sentando-se em seguida ao meu lado no sofá, enquanto Tia Ângela suspira e seca uma lágrima que deslizou por sua face.

- Não se preocupe Padre Lutero, isso foi apenas mais uma das malcriações da Thaís que não se cansa de ofender a Ana, com o mesmo assunto de sempre. - O Padre faz uma carranca. - Eu vou buscar um café para nós. - Ela sai da sala e eu sei que ela foi chorar na cozinha para ninguém ver.

- E você, minha Filha, está caladinha? - Ele pega na minha mão e eu suspiro. - Não fique triste e nem acredite nas palavras que a Thaís te fala, pois nada disso é verdade.

- E como o Senhor sabe Padre Lutero? O Senhor sabe o que aconteceu com os meus pais para eles terem me abandonado? - Pergunto na esperança que ele me fale algo, no entanto da forma que ele desvia o olhar dos meus, eu sei que não falará, pelo menos não o que eu quero ouvir.

- Eu... Eu não sei minha Filha, mas só posso te dizer que eles não te abandonaram e eu tenho certeza que eles te amam muito. - Ele fala com tanta convicção que é impossível acreditar que de fato não saiba quem são os meus pais.

- Mas se eles me amam como o Senhor está me dizendo, por que não estão comigo? Se eles tivessem ficado comigo, a Tia Ângela não estaria sofrendo por ver a filha cada dia que passa ficar mais rebelde, tratando-a mal e falando palavras que eu sei que a machucam. Eu não traria tantos problemas para vocês. - Sem perceber as lágrimas estão deslizando por minha face e um soluço irrompe por minha garganta.

- Não fale isso, Anastásia! - Me assusto com a voz embargada da Tia Ângela se aproximando e se sentando ao meu lado enquanto me abraça. - Você não está me fazendo sofrer, muito pelo contrário, você chegou à minha vida num momento que eu estava frágil, muito triste e mesmo tendo uma filha de 4 anos que precisava de mim, eu não conseguia reagir. - Ela me afasta do abraço e faz com que eu olhe em seus olhos.

- Mas a Senhora continua triste com as atitudes da Thaís, Tia. E isso é porque ela não aceita dividir a sua atenção comigo e eu não queria que fosse assim. - Ela nega balançando a cabeça e seca as minhas lágrimas.

- Isso não é verdade, meu Amor, a Thaís sempre foi uma menina difícil e isso não tem nada haver com você. Eu nunca te contei sobre o meu bebê, não é? - Eu nego com a cabeça e ela me dá um sorriso triste. - Quando eu engravidei pela segunda vez, a Thaís tinha acabado de fazer 4 anos e o meu casamento com o pai dela não estava muito bem, no entanto quando eu completei três meses de gestação, eu tive um deslocamento de placenta e minha gravidez passou a ser de risco, mas que com repouso eu conseguiria seguir com a gravidez normalmente. - Eu assinto e ela respira fundo, pois eu vejo o quanto é doloroso para ela relembrar isso. - Mas como tudo que é ruim ainda pode piorar, quando eu completei sete meses, o pai da Thaís sofreu um acidente de carro e para minha surpresa ele estava com a vizinha e os dois morreram, eu levei um susto muito grande e comecei a ter contrações, pois além de ter perdido o meu marido, ele estava me abandonando com duas crianças e ainda descobri que o meu bebezinho estava com o coraçãozinho muito fraco, mas mesmo assim os médicos conseguiram controlar as contrações e eu ainda consegui levar a gravidez até o oitavo mês, porém mais uma vez as dores recomeçaram e o parto precisou ser antecipado, mas o meu bebê não resistiu. - Ela começa a chorar e eu não consigo me segurar também.

- Eu sinto muito, Tia, eu sinto de verdade. - Eu a abraço e sinto o meu coração doer em imaginar o quanto ela sofreu por perder seu bebezinho.

- Quando a minha barriga começou a crescer, a Thaís não aceitava que teríamos um bebê em casa, fazia birra e às vezes eu me assustava com ela beliscando a minha barriga, como se pudesse machucar o irmão, por isso eu falo que o problema não é com você, meu Amor, você entende isso? - Ela me afasta novamente e eu assinto, mesmo sabendo que o fato de não ser sua irmã agrava ainda mais a minha convivência com a Thaís. - Quando o Padre Lutero chegou com você, tão pequenininha e faminta, eu não pensei duas vezes em te amamentar e por sorte o meu leite não havia secado, o que eu considero um milagre devido a todo o estresse e a dor que eu passei quando o meu bebê morreu, o abandono e luto por meu marido, como se esse fosse o meu destino cuidar de você. - Ela pega o meu rosto entre suas mãos e sorri em meio a lágrimas. - Você foi à força que eu precisei para reagir e conseguir cuidar da minha filha e de você, que precisava tanto de mim quanto eu precisava de você naquele momento, por isso eu não quero que jamais repita que está me fazendo sofrer, está me ouvindo?

Eu assinto e a abraço novamente e logo sentimos os braços do Padre Lutero nos envolver também e, entre lágrimas e o abraço das duas pessoas que são tão importantes para mim, eu entendo que não sou eu o motivo para Thaís agir dessa forma, no entanto eu espero que ela possa mudar para enfim podermos viver em harmonia, pois ela querendo ou não, nós somos uma família.

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