Capítulo 6
"Perdendo algo precioso!"
Vê o céu, as arvores, sentir a brisa, o vento me rodeando. É incrível como sempre só passamos dá valor as coisas simples da vida, quando as perdemos. Pareciam anos o que passei naquela delegacia. Era como perder a esperança, perder a vida, perder o prazer. Todos os dias eu pensava em tudo que estava perdendo aqui fora. Estava perdendo a minha vida, os meus objetivos, as minhas idealizações. Tudo tinha caído por minha cabeça. Agora eu tentaria me reerguer, eu tentaria esquecer aquele pesadelo horrível ao qual fui submetida.
Eu não tinha ideia de como faria isso, já que estou desempregada após a morte de minha patroa. Tudo que eu ainda poderia era recuperar o bico como garçonete a noite na boate de Elias. Não sei se minha vaga ainda estaria ali disponível, teríamos que por enquanto usar a pouca grana que tinha guardada na poupança, e lutar pra sobreviver com o mínimo possível até conseguir outro emprego que pagasse o que dona Cecília pagava. Seria um pesadelo para nós, afinal, mesmo com a grana da dona Cecília ainda passávamos por muita dificuldade.
Tinha o Caleb, os gastos envolvidos em criar, sustentar e educar uma criança de cinco anos. Também tinha a vovó e seus remédios para pressão. Eu pensei que meus pesadelos e dificuldades acabariam ao sair da cadeia, mas agora me dei conta que estava sendo promovida a um novo nível de dificuldades, e essa não tinha prazo de termino.
Levantei do banco da praça ao qual estava sentada e me forcei a ser forte corajosa e determinada. Era hora de agir e voltar a ser a Samira destemida e que lutava sempre pela sobrevivência dos da minha casa.
Aah vovó!
Eu a abraçaria da forma que nunca a abracei. Pensar em tudo que passei desde o ocorrido com dona Cecília, em pensar o quanto estive sozinha, desamparada e a mercê de pessoas poderosas onde minhas palavras não tinham valor algum. As experiencias que vivi durante essas quase três semana eu não esqueceria facilmente.
Aah Caleb!
A mamãe o abracaria com tanta força, o beijaria tanto e diria o quanto o amava. E que mesmo com aquilo tudo, os meus pensamentos sempre foram nele. Meu filho! Ao passo que progredia de volta a minha casa eu pensava nas consequências de estar no lugar certo porém na hora errada. Pensava no quanto a vida era preciosa, e no quanto a esperança era fundamental pra vida do ser humano. Embora eu fosse pobre, desprovida de recursos, no meu lar tinha amor, e esse amor era o sentimento mais lindo e mais importante do que qualquer dinheiro.
Adentrei a rua estreita da minha casa, mas algo estava errado, os vizinhos fechavam a porta quanto mais eu me aproximava a frente da casa deles. Eu estranhei aquela atitude deles. Quando parei na última casa do beco estreito e escuro eu vi a porta da nossa casa aberta ou melhor, quebrada. Meu coração se apertou imediatamente! Eu corri direção a casa adentrando e vendo que tudo estava destruído. Meu coração acelerou a pensar em situações ruins. Onde estava o meu filho? E a minha vó? Eu procurei por pistas por toda a casa, mas a casa parecia abandonada e a algum tempo. Tinha sangue em alguns lugares e as roupas dos dois permaneciam lá. Eu corri ao quarto procurando no esconderijo dentro do guarda roupa na parte baixa quase no chão. Não encontrei o cartão do banco nem mesmo os poucos dinheiros que estavam lá junto com o cartão e a senha do banco.
Eu não conseguia acreditar naquilo, no ápice do desespero levei as mãos a cabeça soltando um grito de desespero. Eu estava desesperada, meu peito doía em pensar que poderia ter acontecido algo muito sério com os dois. Eu saí pelo beco apertado batendo nas portas pedindo explicações. Mas todos não responderam ao meu chamado, aos meus pedidos desesperados.
— Joana por favor!— Eu bati na porta da vizinha mais próxima a espera de respostas. O que estava acontecendo? eu conhecia todos eles, porque estavam me evitando?
Eu saí desesperada sem rumo nenhum a seguir. Eu não fazia ideia de onde poderiam estar. Quando saí do beco encontrei Carlos. Limpei os olhos rapidamente completamente confusa com aquela imagem. Carlos aproximou-se cruzando os braços.
— O que você quer aqui?— Perguntei ao afastar rapidamente dele. Ele era bem claro com o que queria, e eu não seria burra de me aproximar sabendo do que ele foi capaz de fazer comigo.
— Vim atrás da fujona, não esperou minha carona. Estava ansioso para te trazer para seu doce lar.— Ele aproximou-se de mim falando de forma desdenhosa. Eu dei a volta nele seguindo direção contraria a minha casa. Eu não seria boba de deixar ser pega por Carlos novamente.
— Não preciso de carona sua, e outra coisa, você está proibido de se aproximar de mim, seu estúpido.— Soltei, vendo ele começar esboçar seu descontentamento com minhas palavras.
— E quem dirá que me aproximei de você? Pelo o que posso vê, só tem você e eu.— Ele aproximou-se novamente, dessa vez segurando meu cabelo de forma rígida, seria impossível sair daquele puxam correndo.
— Você é idiota? O que você quer comigo afinal? O que você tem na cabeça seu imbecil ? Não tenho valor algum pra você, então porque persiste tanto em dificultar a minha vida?— Já que não podia me soltar devido o puxão no cabelo. Eu o puxei pela sua camisa vendo ele encarar o meu rosto surpreso com minha ação. Carlos pareceu ficar balanceado pela situação.
Senti sua mão afrouxar o aperto, vi seus olhos me encarar fixo com um nítido sentimento bizarro. Eu não podia acreditar que Carlos estava nutrindo algum sentimento por mim. Ele trincou o maxilar como se tivesse raiva e ao mesmo tempo sentimento reprimido.Talvez eu estivesse totalmente por fora, pelo visto Carlos era o tipo de homem que gostava de desafio. Além de totalmente egoísta claro, talvez fosse uma especie de conquista estranha pra ele, talvez ele tenha raiva de algo que eu faça, talvez eu tenha ferido seu ego de alguma forma. Ter aquela visão me ajudaria a manobrar a situação e não deixar ser controlada. Ele não poderia saber que estava sendo enganado, pessoa do tipo dele gostava de ganhar, então eu teria de ser ou submissa, ou escolher conquistar ele em atrito. E a segunda opção era a minha decisão.
— Você não tem vergonha Carlos?— Soltando em um tom de voz natural e de peito eu perguntei. Ele ergueu meu rosto direção a ele. Era como se estivesse em uma guerra interna entre seu desejo e sua mente contraria. Eu sorri vitoriosa ao perceber aquilo.— Tenho 22 anos,Carlos.— Completei aproximando meu rosto da sua orelha. Era uma tarefa complicada, visto que Carlos era muito alto, era como Lúcio. Ambos tinham um físico de causar inveja nos novos de vinte e poucos anos.
— Nossa diferença deve ser um pouco grande não?— Ele soltou meus cabelos do aperto definitivamente, agora erguendo meu maxilar de forma possessa. Se fosse outro cara ali naquela situação eu tremeria as pernas.
— 12 anos.— Ele disse de olhos fechados. Eu o encarei confusa. — Tenho 34.— Não pude evitar arregalar os meus olhos. Realmente era uma diferença considerável.
— Bom! Um pouco estranho não?— Eu consegui alcançar seu cabelo adentrando os dedos e puxando as mechas.
— É o que torna mais emocionante.— Ele virou-me rapidamente. Balancei a cabeça fechando os olhos sentindo o corpo rodar um pouco. Suas mãos estavam mais ágeis e eu não estava gostando nada daquilo. Com um salto para trás afastei o corpo vendo ele confuso e um pouco perdido. Ele estreitou os olhos me encarando como se questionasse "você estava gostando ué"
— Mas as coisas não são tão simples Carlos.— Entonei a voz no seu nome.— E se você estiver tendo algum desejo estranho me envolvendo nele, não, isso não vai rolar.— Dei passos para trás lentamente vendo que ele estava um pouco vulnerável.
— Você é muito esperta, Samira.— Ele disse de dentes serrados. — Mas isso mais cedo ou mais tarde vai acontecer.
— Não, não vai. — O respondo rapidamente. — Preciso mais do que beleza para me envolver com alguém. Foi por não pensar nisso que sou mãe solteira hoje. Não sou idiota de cometer o mesmo erro, com o cara errado.
— Você não sabe se é um erro.— Carlos passou aproximar-se desesperadamente como se estivesse na expectativa de algo que ansiava muito.
— Não posso acreditar que seu desejo seja tão gran...— fui interrompida abruptamente com seus lábios sobre o meu. De olhos abertos eu tentei desvencilhar do aperto e do beijo indesejado por mim.
Embora Carlos fosse muito atraente e bonito, ele não tinha adjetivos melhores que esse. Egoísta, egocêntrico narcisista. Eu não sou idiota de esquecer tudo que aconteceu e o que ele me causou. Minhas memorias com o Carlos são horrorosas. Ele não se importava com ninguém mais do que ele mesmo. Mas talvez eu estivesse errada e Carlos estivesse com uma competição tosca para alimentar seu ego, ou pior, Carlos talvez fosse do homem que não consegue ouvir e aceitar um "não". Talvez Carlos estivesse com raiva de sentir-se atraído por uma mulher que não fazia parte da elite a qual ele pertencia. Ele pressionava meu corpo de forma possessa como se seu desejo fosse grande mas a sua raiva também. Era aquele tipo de homem que toda mulher deveria fugir, se não quisesse problema.
Obedecendo meus protestos ele afastou-se enquanto permanecia com um olhar embriagado, inflamado de paixão. Meu Deus! O Carlos realmente estava sendo sincero com seu desespero.
— Se for permanecer fazendo as coisas do seu jeito já que minha voz não tem importância para você, pelo menos me surpreenda. Que isso? você é um homem experiente, esperei mais do seu beijo.— Aquela era a sua ferida, o seu ego. Homens como Carlos sentiriam-se afetado com comentários críticos com relação aos seus encantos para com as mulheres.
Ele encarou-me completamente raivoso com um misto de paixão ferida e não correspondida. Sem dizer mais nada ele me deu as costas me deixando finalmente sozinha.Quando percebi que estava sozinha me questionei o que estava acontecendo, afinal beijada novamente ? Claro que o beijo muito bem vindo de Lawrence não tinha nada a ver nem a comparar com aquilo do Carlos. Mas de todo modo ainda eram assuntos que eu precisava entender. Eu era uma menina comparada aos dois, estranhamente eu suspeitava da atitude dos dois agora.
Embora Lawrence não tenha feito algo questionável ao ponto de Carlos.
Respirando pesadamente eu finalmente foquei no que realmente importava para mim. Meu filho e minha vó, eu ainda não fazia ideia de onde poderiam estar. Enquanto pensava em possibilidades seguindo o mais longe daquela vizinhança ao qual eu antes morava.Eu pensei na Camila, a conhecida mais próxima que eu tive na boate do Elias. Embora não fossemos tão próximas ela foi a mais próxima de um amigo que pude ter, eu pensei que seria o único lugar mais seguro que meu filho e minha vó poderiam estar.
Eu segui direção a casa dela as pressas. Eu percebia em todo lugar que chegava que as pessoas me encaravam como se vissem algo sobrenatural ou absurdo de se vê. Quando toquei a campainha da casa da Camila e ela abriu, foi como confortar meu coração metade do que sentia. Ela soltou um suspiro e me puxou para dentro as pressas.
— Samira, que caos sua vida se tornou!— Ela me abraçou apertado e de repente eu me sentia apreensiva. Eu estava começando ficar nervosa com medo do que ela iria me dizer, e se eles não estivessem com ela?
— Meu filho?— Eu soltei entre lagrimas que não pude conter. Ela confirmou de cabeça me abraçando mais apertado.
— Tá tudo bem, ele está na escola. Eu o tenho levado para lá desde que...— Ela parou rapidamente.
Eu a afastei do abraço encarando ela assustada. Camila tentava esconder algo, mas era uma tarefa difícil para ela. Camila era o tipo de mulher com traços de personalidade oral. A mulher que falava muito, que sempre estava aberta a falar e compadecer de outros. Camila soluçou e era como se de repente a minha vida estivesse por um fio.
— O que aconteceu?— Perguntei.
— Sua vó faleceu.
Não consegui esboçar reação alguma, primeiro achei que tinha ouvido errado. Mas aos poucos meu corpo foi pesando ao ponto de que não pude mais me manter de pé. Uma parte de mim acreditava naquela historia absurda e outra parte não queria acreditar. Caí sobre o chão completamente paralisada. Camila me abraçou imediatamente. Sem saber o que fazer eu me ergui do chão seguindo porta a fora, eu corri mesmo ouvindo Camila me gritar, corri sem saber para onde ir. Eu só queria gritar, eu queria colocar pra fora aquela sensação agonizante. Eu parei, eu gritei, eu chorei. Meu corpo chegou a um ponto em que não tinha forças para absolutamente nada. Não podia acreditar no que tinha acontecido, eu não queria acreditar, eu não queria ouvir. Quanto mais gritava mais eu queria gritar e jogar para fora aquela dor dilaceradora no meu peito.
Estava devastada. Não fazia ideia de onde estava, eu só percebi que tinha corrido muito quando vi um sapato social masculino parando a minha frente. Aos poucos eu segui com os olhos coberto em lágrimas até encarar a pessoa que via, mas quando a luz do sol chocou contra minha visão eu seguei por alguns segundo e sem conseguir dizer, ou fazer algo eu apaguei.
Cada capitulo uma tragedia para a Samira. Misericordia!🥲💔 Mais um capitulo empolgante aí.
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