Capítulo 4
"Consolo inesperado!"
Dois dias depois eu fui chamada sendo informada que tinha uma visita. Eu estava tão eufórica! Por um momento imaginei que fosse a minha vó. Mas quando adentrei a sala vi que se tratava do Carlos. Meu semblante passou de alegria e euforia para desconforto e medo. Sinceramente Carlos não me fazia bem, sentia-me assustada, desde a última vez fiquei apreensiva, nosso encontro não foi dos melhores. Minha cabeça ainda doía daquela batida na mesa, mas resolvi ouvi-lo, quem sabe ele peça desculpas.
Percebi que não tinha nada a ver com o que eu pensei, quando vi ele dispensando o policial que era obrigado a fazer vigia no lado de fora da porta. Também percebi que ele aproximou-se mais do que o necessário daquele homem, o que aparentou que estava pagando para o policial nos deixar sozinhos. Eu permaneci com minha expressão a mesma, não mostraria que estava com medo daquilo.
Eu sempre soube que Carlos deu trabalho a Cecília, e era óbvio pra mim, visto que sempre ouvia as discussões de ambos ao telefone. Cecília sempre contava com pesar que Carlos sempre pedia dinheiro para seus luxos. Eu sentia pena dela, ele claramente não tinha visão de um homem maduro de seus trinta e poucos anos. Não sabia exatamente a idade dos filhos de Cecília, não é que ela não tenha falo, é que não dei importância a esse detalhe. Mas era evidente que Lúcio era o mais velho.
Carlos pouco importava-se com a empresa deles, Cecília contava que ele não gostava de ter responsabilidades, por esse motivo ele nunca tinha se casado. Eu sempre achei que talvez as mulheres que não tenham sido tão loucas a ponto de casar com alguém que pouco se importava com os outros além dele mesmo. Carlos era um ser humano de índole horrível e uma personalidade horrorosa. Era notório seu racismo para com os de classe inferiores.
Ele virou-se a minha direção aproximando-se e segurando meu braço direito de forma nada amigável. Talvez ele tenha voltado para concluir o serviço que Lawrence o interrompeu da última vez.
— Finalmente podemos conversar a sós querida Samira.— Meu estomago embrulhou com a parte "Querida".
Era óbvio que Carlos me detestava sem nem mesmo esforçar-se o bastante para conhecer a minha pessoa. Ele puxou meu braço desajeitadamente me trazendo de encontro ao seu corpo de forma nada agradável. De cenho franzido o encarei confusa com sua mudança de atitude totalmente brusca. Lembro-me muito bem que ele tinha praticamente me agredido, que era caso de até processo se eu tivesse interesse. Mas enrolada da forma que já estou eu queria distancia de justiça. O afastei imediatamente puxando meu braço, mas a minha força por mais que persistente não comparava com a de um homem de trinta e poucos anos. Meu pulso doeu imediatamente, era como uma agulhada no osso do pulso. Mordi os lábios ao senti-la, me prendi de um grito. Puxei a respiração nervosa tentando me conter e não demonstrar fraqueza, Carlos não merecia aquilo.
— Porque está tão nervosa?— Ele me prendeu contra a única mesa que tinha naquela sala.
— É que não gosto de qualquer um com esse tipo de aproximação comigo. Você é o último da lista a qual eu permitiria algo desse tipo.— Segurei meu pulso direito com a mão esquerda. Tinha certeza que estava deslocado. Prendi um grito quando senti que não conseguia erguer a mão direita.
— Isso pouco importa Samira.— Ele falava o meu nome de forma desdenhosa. — Você não tem opção de escolha, pensa um pouco...— Ele puxou meu corpo como se eu não pesasse nada e me posicionou sobre a mesa. Suspirei totalmente desconfortável. — Posso tira-la daqui sem muito esforço sabe, eu sou o único que está fazendo as acusações nesse caso, e eu sou o único que pode retira-las.
Carlos acariciou meu rosto e eu afastei do toque imediatamente. Eu não podia acreditar naquilo que estava ouvindo. Carlos não estava preocupado em quem era o assassino, ele não se importava com isso, ele estava no intuito de apenas me manter pressa a ele de alguma forma. Pensar naquilo me causou um medo absurdo, ele comprovou mais uma vez que não se importava com ninguém, nem mesmo sua própria mãe. Mas o que me deixava confusa era, por que eu? O que ele ganhava com isso? Porque tão de repente estava forçando uma aproximação intima comigo? Eu estava totalmente confusa e perdida naquela questão.
— Como pode fazer tudo isso se não tem se quer dinheiro? sua mãe morreu, sua protetora e única que te dava uma renda está morta.— Eu o respondi. Não era sensato fazer aquilo realmente, mas eu tinha que puxar mais dali, pois aos poucos eu só conseguia duvidar dele. E se ele fosse o causador da morte de sua própria mãe?
Carlos pareceu não gostar nenhum pouco. Seu rosto expressou raiva mas de uma forma um pouco contida. Ele pressionou meu pescoço tentando mostrar que tinha controle sobre aquela situação. O empurrei apenas com a mão esquerda e contive um grunido ao soltar o pulso direito. Pulei da mesa seguindo direção a porta.
— Algém por favor pode abrir essa porta?— Bati na porta com a mão esquerda fazendo barulho o suficiente para que algum policial que não fosse o comprado me ouvisse.
Mas era tecnicamente impossível pois a porta estava trancada, e eu sabia que o dinheiro sempre estaria a frente de qualquer dever. As pessoas estão desesperada todos os dias, o poder do dinheiro era capaz de destruir familias.
Não consegui gritar pois Carlos cobriu minha boca imediatamente. Meu pulso estava doendo muito, eu estava começando suar. O medo do que poderia acontecer estava me consumindo. Era desesperador, vi Carlos passar me arrastar para trás me afastando da porta. Ergui a perna para trás o acertando quase em cheio no meio das pernas. Ele me jogou contra a mesa e aquela ação parecia ter quebrado todos os meus ossos. Não consegui levantar, minha respiração estava fraca, parecia ter batido as costas contra a mesa.
Carlos parecia urrar de dor no meio das pernas, eu sorri fraco só pra mim. Eu estava acabada literalmente, mas eu consegui sorrir mesmo assim. Enquanto tentava acalmar eu tentei me erguer forçando meu corpo mesmo doendo. Consegui sentar, mas Carlos me cobriu com seu corpo passando a apertar minha garganta com mais força do que da outra vez. Estava sem ar, eu não estava conseguindo raciocinar direito pra entender o que ele pretendia fazer. Ele não iria me matar, ele não ganharia nada com isso.
A minha respiração estava cada vez mais fraca. Mas alguém avançou sobre o Carlos o tirando de cima de mim. Eu não consegui vê com clareza, mas era alguém com poder sobre o Carlos pois ele não revidou. Na verdade Carlos foi acertado na face.
Passei a mão sobre minha garganta sentindo a pele arder, queimar. Era um absurdo, estava cansada de tudo aquilo. Fui erguida rapidamente, os braços eram largos e fortes. A camisa era macia e tinha um cheiro impecável de se sentir na verdade. Descansei por alguns segundos de olhos fechados tentando acalmar o meu corpo que estava totalmente dolorido.
— Você está bem?— Aquela voz grave me puxou do descanso breve que tinha dado ao meu corpo. Ele me pôs sobre uma superfície um pouco macia. Era como um colchão não muito confortável, porém melhor que a mesa que fui jogada por cima.
Abri os olhos lentamente ao sentir as mãos rígidas e fortes sobre meu rosto. Me deparei com Lúcio me encarando com um semblante totalmente preocupado.
— Consegue me ouvir?— Ele perguntava enquanto segurava minhas bochechas de um lado a outro. Eu nunca tinha o visto com aquela expressão. Era surpresa pra mim que as vezes que o encontrei, ele agiu de forma muito dura comigo. Não se comparava ao Carlos, claro, ele não era um agressor daquela forma. Mas não fora tão amigável as outras vezes. Aquilo me impressionou.
Soltei um gemido ao sentir ele segurar minha mão direita tentando me colocar numa posição mais confortável. Ele percebeu e encarou meu pulso arroxeado logo em seguida. Murmurando um "Droga".
— Sinto muito!— Ele ergueu-me novamente e eu não fazia ideia de pra onde ele estava me levando. Mas não tive muita escolha pois aos poucos eu senti que estava apagando.
Quando acordei eu estava na cama de um hospital. Dava pra saber mesmo sem ter aberto os olhos. Eu permaneci como se não estivesse acordada, sem mexer ou transmitir alguma expressão. Senti um leve deslizar de dedos por minha bochechas seguindo direção ao meu cabelo. Não dava pra saber quem era com os olhos fechados, mas eu estranhamente sabia quem era. Eu não sei como mas eu sentia que era ele, Lúcio. Sem abrir os olhos eu falei o seu nome.
—Senhor Lúcio ?— Eu soltei vendo ele parar os movimentos rapidamente. Eu não abri os olhos, eu permaneci com eles fechados. Ouvi seus passos leves aproximando da cama ficando a minha frente.
— Eu sinto muito, o Carlos extrapolou os limites. Isso não vai mais acontecer. Ser suspeita não te torna culpada, nem nos da o direito de machuca-la. Eu quero saber o que houve, quem fez aquilo com a minha mãe. Mas não é correto tratá-la dessa forma, isso não é papel de um homem. Peço que me desculpe por tudo isso.— Ele passou a falar. Parecia nervoso.
— O que te fez mudar de opinião ao meu respeito?— Eu abri os olhos vendo que era noite, vi ele me encarar. Era tudo muito escuro, as luzes não estavam acesas além de uma luz mais fraca perto da cama. Seus olhos escuros estavam fixos a mim como era costume dele.
— Não é que eu mudei de ideia, é que eu preciso ter certeza de todos os fatos antes de formar uma decisão sobre o caso. Estive conversando com Lawrence, ele me informou de novas informações do caso, e aquilo me fez pensar um pouco. A minha mãe chamou a Maria aquele dia, ela comentou aquilo na chamada. Talvez você esteja sendo vítima de algo. — Lúcio puxou uma poltrona parando de frente a mim.
Estava confusa com sua mudança repentina, mas sua explicação fazia sentido. Lúcio era um homem justo, era bom saber daquilo. Ele estava ferido, dava pra notar por seus olhos aflitos a procura de algo que nem ele sabia, a rapidez no falar mostrando que não era fácil pra ele falar sobre aquilo. Lúcio realmente estava querendo saber o que aconteceu naquele dia. Era consolador pra mim saber isso, pois eu podia sentir que era doloroso pra ele, ele perdera a mãe, fora um assassinato, qualquer um teria ódio dos possíveis suspeitos. Fiquei feliz por saber que ele não pensou só nele ou em como ele se sentia. Ele escolheu descobrir o culpado e não me tornar a culpada.
Eu tentei levantar fazendo um esforço para pelo menos sentar, meu braço esquerdo estava algemado sobre a cama. Encarei meu braço esquerdo me sentindo miserável. Ele tentou me impedir.
— Fique deitada, você fraturou uma costela, pode afetar sua respiração. E seu pulso também não está dos melhores.— Eu parei o encarando nada conformada.
— Obrigada por lembrar de mais dois problemas que tenho. — Sorri devagar sentindo um desconforto nas costas. — Hum! Eu tô quebrada realmente.— Conclui.
— Eu estava esperando você acordar. Pode ficar sozinha?— Ele perguntou. Eu franzi o cenho confusa.
Eu sempre me virei sozinha, era estranho ter alguém perguntando se eu poderia ficar sozinha. Afirmei com a cabeça. Vi ele virar as costas pra mim e seguir direção a porta. Eu fechei os olhos voltando deitar sobre a cama. Mas Lúcio não abriu a porta, ouvi seus passos direção a minha cama rapidamente.
— Samira?— Ele me chamou. E ouvir ele me chamar pelo nome foi diferente. — Você não fez aquilo com a minha mãe fez?— Ele não conseguia me encarar, parecia procurar algum lugar, era como se ele procurasse um refugio Lúcio tinha medo da resposta.
— Senhor Lúcio, eu jamais mataria a sua mãe ela foi um ser humano incrível, bondosa,divertida, gostava de dizer que eu estava muito magra também.— Solucei prendendo umas lagrimas que estavam por vir.— Dona Cecília me tratava muito bem e amava presentear o Calebe em datas especiais, eu seria um monstro horrível se tivesse sido capaz de mata-la. E eu sei que a verdade será descoberta. Eu confio que não vai ficar assim.— Lúcio ficou quieto atento as minhas palavras, ele olhou-me nervoso passando a mão sobre a boca pensativo. Ele me deu as costas finalmente saindo do quarto. Eu me reconfortei sobre a cama me sentindo consolada. Lúcio perguntou, ele não afirmou que eu tinha matado a mãe dele, ele perguntou. Era como se alguém acreditasse em mim de alguma forma, e saber daquilo me consolava. Eu estava disposta a resolver aquele caso. E faria o que fosse ao meu alcance para ajudar nas investigações.
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O que dizer??? 🙂 mulher sem palavra certo? 😂😂 mas eu resolvi ceder aos pedidos de uns caros leitores que estão tendo crise de ansiedade à espera de capítulos. E como eu disse no capítulo anterior... era semana, e hoje ainda é sexta🤭 então tá aí. Finalizando a semana com mais um presente.
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