Just one day, just (parte 2)
Hoseok ficou vendo Mila ir embora, sem entender bem o que havia acontecido. Só sentia um grande amargor na boca e pensava que tudo o que ela havia dito parecia um imenso mal agouro. Assim como quando haviam lembrado da ex de Namjoon dizendo que eles não tinham futuro.
Se sentou novamente na manta, quando perdeu Mila de vista. Olhos secos, mas o coração e a mente um pesado turbilhão. Ela não tinha olhado uma única vez pra trás. Ficou pensando nas palavras dela. Ela tinha escutado quando havia dito que ela não era sua namorada pra mulher do tteokbokki. Que bosta!
Só havia dito aquilo porquê... Porquê... Porque era a verdade, ora! Ela não era a namorada dele, apesar de tudo que ele sentia por ela. E ela não poderia ser namorada dele, não naquele momento, tão próximo do debut.
"E QUANDO ela poderia ser?"
Uma voz inconveniente fez essa pergunta no fundo da mente dele. Porém, ele a ignorou. Acabara de ser magoado pra refletir sobre isso.
Pena. Ela disse que sentia pena dele... Com a cabeça baixa, ele relembrou todos os momentos em que passaram juntos. Em alguns, parecia mesmo que ela sentia pena dele, no entanto na maior parte do encontro, e mesmo antes, ele sentia que ela gostava dele...
"O que foi que você disse?"
"Qual o próximo lugar que você gostaria de me levar Hoseok? Talvez um lugar que também não está na sua lista? Um motel por acaso? "
"Me fala que você nunca pensou em dormir comigo?"
"Afinal, a gente não é namorado, não é mesmo?"
"Isso que você persegue tanto, sua carreira, que é mais importante que as pessoas...
Pensando em tudo aquilo que ela falou, Hobi tinha quase certeza de que Mila ficara magoada porque pensou que não era tão importante pra ele. Mas ela era!
"Mais importante que se tornar um idol?" De novo a voz inconveniente. Balançou a cabeça se levantando do chão. Sentia o cansaço do dia mal descansado no corpo e na cabeça. Precisava deitar. Pensaria naquilo depois de dormir...
☕☕☕
-- Poxa, hyung, de novo? -- Eles gravavam o MV no estúdio, dois dias depois do encontro fracassado, e pela segunda vez Hoseok trombava com Jimin na parte crucial da coreografia. Era sorte nenhum dos dois ter se machucado.
-- Perdão gente. Vamos de novo. -- Ele se desculpou, sem jeito, aos demais que o olhavam, sem acreditar. Hobi nunca errava algo que já sabia de cor.
-- Vamos parar cinco minutos. -- RM, o líder, era quem falava agora. Se aproximou de Hobi, enquanto os demais, ainda incrédulos sentavam-se pelos cantos cochichando.
-- Tá tudo bem cara? -- Agora era o Namjoon amigo que falava, com um tom preocupado.
-- Eu só preciso ir ao banheiro.
-- Vou com você.
Hobi usou um dos mictórios, enquanto Nam simplesmente ficou encarando o próprio rosto sério, agora sem óculos escuros, no espelho do banheiro.
-- Joonie, você acha que sou egoísta? -- Era a pergunta que vinha rondando a cabeça dele, toda vez que lembrava das últimas palavras de Mila. E isso era o motivo de suas desconcentrações e do fato de não ter ligado ou mandado mensagem pra ela até o momento. Pra esse último, ainda tinha o fator de não ter plena certeza se ela sentia pena dele ou não. Estava com a cabeça explodindo desses pensamentos, mesmo após descansar do 하루만. E isso estava afetando seu trabalho.
-- ... sim. -- Namjoon respondia a sua pergunta, mas ele já havia abstraído a presença do amigo, por causa das preocupações. Saiu do mictório.
-- Como? -- Perguntou se aproximando de Namjoon e da pia do banheiro pra lavar as mãos.
-- Aconteceu alguma coisa Hobi? Você está muito distraído e você não é assim.
-- Eu... -- Como explicar algo que não havia contado ao amigo? E ainda mais depois de ter dado tudo errado. -- Eu estou pensando muito sobre isso, de ser egoísta. De me importar mais com a minha carreira do que com as pessoas próximas a mim, como minha família, por exemplo.
-- Eu acho que é egoísmo mesmo.
Hobi havia perguntado, mas não estava esperando aquela resposta de Namjoon, um cara sempre polido.
-- Sério? -- Começou a se sentir miserável.
-- Sim. -- Namjoon desviou o olhar do espelho e olhou para o amigo. -- Mas não é só você que é egoísta. Todos nós somos. Esse é nosso sonho. Se não formos pelo menos um pouco egoístas, isso não vai pra frente. -- Sorriu um sorriso de ânimo ao amigo. -- Eu terminei com a menina que eu gostava por isso aqui, Suga hyung largou a família dele que não apoiava seu sonho pra vir tentar uma coisa e no fim conseguiu algo que nem estava nos planos dele, Jin hyung não está investindo em ser ator, que foi algo pelo qual a família dele pagou, porque começou a sonhar o mesmo sonho que a gente. Mesma coisa Jungkook, que não pensou duas vezes em usar o dinheiro da família pra aperfeiçoar sua dança nos EUA ano passado, e Jimin e Taehyung que largaram tudo pra vir pra cá. É egoísmo, mas não quer dizer que somos más pessoas. Precisamos que isso dê certo, porque é o resto da nossa vida que está em jogo. Não sei se deu pra entender...
-- Deu sim, Joonie. -- Fazia sentido, precisava voltar a focar nisso.
-- Certo. Acha que está melhor? -- Aqueles anos juntos faziam com que eles se conhecessem como verdadeiros irmãos.
-- Sim...
-- Os cinco minutos já passaram e o valor do estúdio e do cenário está ficando mais caro... -- Era Suga hyung, que acabava de aparecer na porta do banheiro.
-- Certo! Vamos! -- Disse Hobi, agora totalmente focado.
☕☕☕☕
O Bangtan finalmente havia debutado, mas as coisas ainda não estavam boas para o lado deles. Os music shows tinham sido poucos e os comentários das pessoas e dos especialistas sobre o grupo não eram dos melhores, pra não dizer coisa pior.
-- Precisamos focar no que importa: os nossos fãs. -- Namjoon tentava levantar os ânimos que estavam um pouco baixos naquela manhã no dormitório. -- Fizemos nosso primeiro fanmeeting e foi um sucesso!
Todos concordaram. Tinha sido o ponto alto da estréia. Apesar de não serem uma unanimidade para os fãs de k-pop em geral, eles já tinham fãs animados por eles, inclusive fora do país.
-- Amanhã será nossa primeira folga depois de mais de um mês. Aconselho todo mundo a ir visitar suas famílias e fazer coisas pra aliviar a pressão dos últimos dias. Tudo bem?
Os outros garotos concordaram com a sugestão do líder, naquele dia de verão que já começava abafado. Todos tentariam seguir o que ele acabara de dizer, apesar de não saber se conseguiriam.
-- Vamos que precisamos ensaiar a coreografia da música nova. -- Namjoon disse, se levantando do chão da sala e sendo seguido pelos demais.
-- A gente podia passar na tia pra pegar café e bolo né? Faz tempo que a gente não vai lá. -- Quem pedia isso era o maknae, que parecia ainda estar morrendo de sono.
Hobi engoliu em seco, porém naquele horário Mila ainda não estaria no Café. Ele ainda ensaiava o que dizer a ela quando a encontrasse de novo.
-- Podemos sim Kookie -- Nam afagou a cabeça dele. -- Vai ser bom pra gente acordar de vez.
-- Eu só quero o meu com muito gelo... -- Yoongi complementou e todos saíram de casa em direção ao estúdio de ensaio.
Nenhum deles estava esperando encontrar o Café fechado naquela manhã de sábado. O cartaz na porta dizia que eles haviam encerrado as atividades e agradecia a todos os clientes e amigos.
-- O que será que aconteceu? -- Jimin agora olhava preocupado para os amigos. -- Eles andavam tendo tantos clientes...
Hobi tentou ligar pra tia, porém a mensagem que recebeu foi de que aquele número havia sido desligado. A mesma coisa com o do tio. Cada vez com uma sensação pior no estômago, Hobi tentou ligar para o número de Mila e a ligação caiu direto na caixa postal.
Sua vontade era sair correndo dali pra tentar encontrar com ela e saber o que havia acontecido. Mas era dia de ensaio.
-- Tentei ligar pro tio e pra tia. Os números estão desligados... -- Foi a única coisa que se limitou a dizer.
Todos se entreolharam, preocupados e impotentes. Parecia que tudo estava dando errado.
-- Vamos, a gente ainda precisa ensaiar. Depois tentamos descobrir o que aconteceu. -- Nam chamou todos e foram cabisbaixos pro estúdio.
Aquele foi o dia de ensaio mais improdutivo de todos...
☕☕☕☕
Hobi iria pra Gwangju, assim como os demais iriam pra suas cidades visitar suas famílias, mas ele adiou sua partida para a tarde do domingo. Precisava falar com a Mila, não poderia mais adiar aquela conversa. Também queria saber o que tinha acontecido com os tios. Estava com a cabeça a milhão desde o dia anterior.
Chegou na faculdade e viu muitas pessoas saindo com malas de viagem. Pelo visto, era fim do semestre. Ficou procurando por ela a esmo. Por fim, começou a perguntar a algumas pessoas, mas que não puderam ajuda-lo. Estava já desanimando quando sentiu um toque no ombro. Se virou esperando ver Mila, porém era uma menina com rosto redondo e simpático que olhava pra ele e lhe parecia levemente familiar.
-- Sim? -- Ele perguntou enfim, após ficarem se encarando um tempo.
-- Você é o Jung Hoseok, amigo da Mila, certo? -- Foi a vez dela perguntar. Ela também segurava uma pequena mala de viagem.
-- Sim. Você sabe onde posso encontrar com ela? -- Ele voltava a ter esperanças.
O rosto dela ficou sério.
-- A Mila já voltou pro Brasil.
Hobi sentiu uma pontada no estômago.
-- Ela tinha me dito que só voltaria no fim do mês que vem...
-- Ela recebeu uma ligação da família e precisou voltar mais cedo.
-- Aconteceu alguma coisa com a família dela? -- Agora ele estava realmente preocupado.
Soo Bin ficou sem graça com a pergunta. Ela desconfiava que tinha acontecido algo grave o suficiente para a colega ter solicitado adiantamento de provas e ter ido embora em cerca de uma semana após a ligação, mas não tinha sido amiga suficiente de Mila pra saber ao certo o que havia ocorrido. A única coisa que pode fazer por ela era o que faria agora.
-- Eu não sei ao certo, mas imagino que sim... Ela me pediu o favor de te devolver isso, caso eu te encontrasse. -- A moça retirou de dentro da bolsa a tiracolo um objeto e o estendeu a Hobi. Era o celular.
Ele pegou o aparelho e ficou um tempo olhando pra ele, em silêncio.
-- Ela só pediu pra entregar isso? Mais nada?
-- Ah! Ela pediu pra te dizer que sente muito.
-- Que ela sente muito?
-- Sim.
-- Você não tem nenhum contato dela? Um e-mail talvez? -- Hobi tentou a última coisa que poderia pra fazer contato com Mila.
-- Não tenho. Desculpe. -- Soo Bin ficou ainda mais encabulada. Tinha sido uma péssima colega de quarto, só agora ela via nisso. Pelo menos teve a oportunidade de ajuda-la em algo, entregando aquele celular. O rapaz parecia desolado, coitado.
Pensou em anima-lo um pouco.
-- Você debutou em um grupo de k-pop recentemente certo?
-- Sim. -- Ele não parecia nada animado.
-- A Mila me mostrou o MV de vocês. Achei bem legal! -- Ela sorriu animadora.
-- Ela te mostrou nosso MV?! -- Ele parecia surpreso agora.
-- Sim. Ela assistiu várias vezes antes de ir embora, assim como os shows que vocês participaram.
-- Sério?! -- Incredulidade passava pela cabeça de Hobi. Será que Mila não estava mais brava com ele?
Pensou em perguntar isso para a moça na sua frente, mas lembrou que ela não sabia muita coisa sobre a Mila, além do que já havia lhe dito. Uma tristeza bateu fundo no seu peito.
-- Obrigada. -- Agradeceu e se voltou pra ir embora.
-- Por nada. -- Escutou a resposta da menina as suas costas.
Só conseguia sentir um grande e pesado arrependimento. Tinha focado muito em si mesmo, ao ponto de esquece-la? Será que um dia teria oportunidade de vê-la de novo? Será que tinha acontecido algo grave na família dela?
As perguntas o atormentavam. E a agonia de talvez nunca mais ver Mila e dizer que era apaixonado por ela o fez finalmente chorar.
☕☕☕☕
Doze dias antes, Mila verificava se não estava esquecendo nada no dormitório. Soo Bin, surpreendentemente, a ajudava. Parecia que enfim queria se tornar amiga dela nos últimos dias. Mas era tarde demais.
-- Acho que é só isso. -- Se sentou na cama sem lençol.
Faltavam ainda 6 horas pro seu vôo de volta ao Brasil. Talvez fosse bom já ir andando, afinal não sabia se teria algum imprevisto até o aeroporto...
-- Não tem nada seu no banheiro. -- Soo Bin voltou de sua inspeção e procura das coisas da Mila.
-- Que bom. Obrigada pela ajuda.
A colega se sentou em sua própria cama arrumada. Só voltaria pra casa no fim do mês.
-- Por nada... Na verdade, eu sinto muito não ter sido sua amiga esses meses que passou aqui... -- Soo Bin estava encabulada e Mila surpresa.
-- Bom... -- A brasileira não sabia o que responder, afinal a vida dela não tinha sido fácil ali, e a colega realmente tinha parte da culpa nisso.
-- Eu achei que você estava dando em cima do Minho, por isso te tratei mal...
-- Tudo bem, Soo Bin. -- Agora já tinha passado. -- Mas e ele e a Rae Won? Faz bastante tempo que não os vejo... -- Graças a Deus, pensou.
Soo Bin fez uma careta e apertou nervosamente as mãos.
-- Não sei. E espero não saber. Eles começaram a namorar.
Aaaaaahhhh, então era por isso que a menina andava solitária e simpática com Mila. Havia sido posta de escanteio pelos "amigos" dela.
-- Sinto muito. -- Era a única coisa que podia dizer, se fossem mais íntimas diria que ela se livrou de dois satanás.
Ficaram em silêncio, não tinham assunto entre si.
-- Acho que vou indo... -- Mila se levantou da cama.
-- Mila... -- Soo Bin a chamou. Ela voltou a olhar pra colega que olhava pra ela, com um semblante um pouco triste. -- Me perdoe. Eu fui uma péssima colega de quarto.
Um suspiro foi a primeira reação de Mila.
-- Agora já foi Soo Bin. Eu sinto muito também não termos tido uma relação melhor.
-- Eu posso te ajudar em mais alguma coisa? Qualquer coisa? -- A moça queria expiar suas faltas para com Mila. E esta estava prestes a negar, quando se lembrou de algo.
Foi até a bolsa de mão e pegou de lá o celular de Hobi. Ele realmente não tinha ligado pra ela. E o orgulho dela tinha dado lugar a vergonha. Não sabia nem como começar a pedir desculpas. Tinha sentido falta dele todos os dias. Mas depois do telefonema de casa, e tendo que fazer todas as provas mais cedo do que esperava, também não tinha tido tempo pra sofrer demais. Fora bom, apesar do problema que a esperava quando chegasse no Brasil.
-- Você se lembra de um amigo meu que apresentei pra você, Rae Won e Minho? O nome dele é Jung Hoseok. -- Ela viu o olhar confuso da colega. -- Daquela vez que o Minho quase levou um soco de um cara que estava comigo? -- Resolveu ser mais específica.
-- Aaahhh sim! Lembro dele! Aquele do grupo idol que debutou? -- Ela acabara mostrando pra Soo Bin o MV do Bangtan que havia saído, pois a menina estava realmente empenhada em ser mais simpática naqueles últimos dias.
-- Esse mesmo! Você poderia entregar isso pra ele? -- No caso improvável de ele procura-la na faculdade, o que achava difícil, mas simplesmente não queria ficar com algo que não era seu, pensou.
Estendeu o celular a colega.
-- Entrego sim! Sem problema. Quer deixar algum recado pra ele?
-- Recado?
-- Sim, se quiser escrever um bilhete... -- Foi a sugestão de Soo Bin.
-- Um bilhete? -- Na remota hipótese de que ele iria procura-la, ainda não era uma boa idéia deixar um bilhete tão íntimo com uma pessoa que ela não confiava. -- Não precisa... -- Mudou um pouco de idéia. -- Você pode dizer a ele que eu sinto muito?
-- Que sente muito? -- Soo Bin ficou curiosa sobre isso, mas não teve coragem de perguntar mais.
-- Sim. Ele vai entender. Eu vou indo. -- Pegou a mala e a bolsa de mão. -- Adeus Soo Bin, fica bem.
-- Adeus Mila. Você também. -- A colega parecia que iria chorar e ela também se sentia nostálgica, começava a perceber pela primeira vez que nunca mais voltaria a Coréia e a melancolia bateu.
Resolveu dar um último mimo a si mesma, antes do turbilhão que a esperava em casa, e resolveu pegar um táxi até a estação de trem que a levaria até o aeroporto.
O taxista acabou pegando o caminho que passava pelo parque do Rio Han e ali Mila não conseguiu mais segurar o choro. Lembrou-se do 하루만, e de como tinha ferrado com tudo. Deu-se conta por fim que era completamente e irremediavelmente apaixonada por Jung Hoseok, mas que isso não valia de nada agora, pois nunca mais se veriam...
☕☕☕☕
Entrou em casa, depois de quase 48h de viagem. Estava acabada, mas sabia que ainda não poderia descansar.
-- Nossa, finalmente chegou! -- Michele, a irmã mais velha, se levantou da cadeira em que sentava. -- Achei que teria que ficar aqui mais um dia.
-- Olá pra você também Michele. -- Mila apertou os lábios nervosa.
-- Tia! -- O sobrinho Gabriel veio correndo e a abraçou, e ela pode dar um pequeno sorriso.
-- Oi meu querido! -- Beijou o topo da cabeça dele, retribuindo o abraço.
Foi abraçada com ele até o sofá onde estavam sentadas a mãe e a irmã mais nova, que de certa forma amparava como podia a mãe, claramente doente.
-- Oi mãe! -- Queria abraça-la e conforta-la, mas ficou assustada com a aparência da mãe, muito mais magra e pálida do que antes dela viajar.
-- Oi minha filha. -- A mãe sorria pra ela, mesmo enfraquecida.
-- Oi cabeção. -- Mila enfim cumprimentou a irmã mais nova, Mirela que segurava no braço da mãe para faze-la levantar e abraçar Mila.
-- A sua é maior. -- A irmã a provocou, sorrindo.
Mila se soltou do abraço do sobrinho e abraçou a mãe, que coube inteirinha no seu abraço. Ela estava muito magra. Tinha sido uma boa idéia ela ter saído do hospital?
-- Acabaram as boas vindas, agora quem tem que ir embora somos nós. -- Michele interrompeu o momento. -- Vamos Gabriel. -- Chamou o filho.
O menino se agarrou a Mila e balançou a cabeça negando ir.
-- Vamos sim. Só estamos aqui ainda por consideração a mãe que me pediu pra esperar a volta da Mila, que já está aqui.
-- Consideração? -- Mila soltou um riso sarcástico. -- Você sabe o que isso significa?
-- Olha só quem está falando, a pessoa que acabou de voltar da sua aventurazinha do outro lado do mundo.
-- Eu continuei ajudando em casa mesmo de longe. -- Mila se defendeu, afinal quase todo o dinheiro que ganhara no Café havia enviado pra família.
-- Não interessa! Você foi viver sua vida e eu estou indo viver a minha. Vamos Gabriel! -- Chamou de novo o garoto, que se agarrou ainda mais em Mila.
Michele estava prestes a pegar o filho pelo braço e puxa-lo, quando todos ouviram:
-- Deixe ele ficar. -- Era a mãe que falava.
-- Que eu saiba, ele continua sendo meu filho mãe. -- Michele disse em um tom mais ameno, já que falava com a mãe agora.
-- Sim, mas ao mesmo tempo que você tem o direito de ir, ele tem o direito de ficar, se quiser.
Ela apertou os dentes, ainda tinha um resquício de respeito pela mãe, mas não afundaria com aquela família. Ela já tinha seu bote de salvação.
-- Certo, se quer ficar que fique. -- Pegou sua bolsa e saiu pela porta, o resto de suas coisas já tinha ido na frente, pra sua nova vida.
A mãe vacilou ali. E todos a ajudaram a ir pra cama.
-- Mãe, não é melhor irmos pro hospital? -- Mila estava realmente preocupada. A mãe sempre fora uma pessoa ativa, vê-la daquele jeito era angustiante.
-- É só uma anemia. Estou tomando os remédios, vai passar. -- A mãe disse se ajeitando na cama. -- Amanhã quero que me conte como foi o intercâmbio, agora vá descansar. -- A mãe os despachou, já de olhos fechados.
Mila sabia que aquela decisão de Michele de ir embora, com um grande amor ou sei lá o que, deixando realmente todos eles pra trás, havia afetado a mãe mais do que ela admitiria. Era o mesmo que havia feito o marido, anos antes. E agora a filha mais velha.
-- O que ela tem Cabeça? É só anemia mesmo? Porque ela está muito mal... -- Mila perguntou baixinho, pra irmã após ligar a TV e o sobrinho ficar distraído.
-- É uma anemia profunda, tanto que quando ficou internada acharam até que poderia ser leucemia. -- Mirela olhava com os olhos amendrontados pra ela. -- Mas é só anemia, o corpo da mãe parou de fabricar hemácias pelo que parece.
-- Acha que foi pelo que aconteceu? -- A irmã indo embora.
-- Ela já estava fraca no começo do ano, mas ficou pior depois que a Michele falou que ia embora. Elas estavam brigando demais.
-- Por minha causa? -- Michele não tinha gostado nada da história do intercâmbio de Mila.
-- Também. -- Mirela suspirou. -- Desculpa ter te ligado.
-- Você fez certo.
-- É que fiquei desesperada. Ficamos sem dinheiro, tive que ir pedir pra tia e ela queria levar todo mundo pra casa dela... -- A tia era ótima pessoa, mas outra coisa totalmente diferente seria ir morar com ela e perderem toda sua liberdade.
-- Você fez certo em me ligar. Não consegui mandar mais dinheiro pra vocês, porque perdi o emprego na Coréia. Mas vamos dar um jeito em tudo e cuidar da mãe e do Gabriel. Vamos dar um jeito.
E Mila deu. No outro dia, mesmo com o jetlag, saiu pra procurar emprego, conseguindo um de garçonete em um restaurante. Ela e a família sobreviveriam.
Queria ter postado mais cedo esse capítulo, mas não consegui. Vou tentar escrever o próximo amanhã, vamos ver se consigo. 🙏
Semana que vem quero atualizar Don't leave me, que está na reta final, e Make It Right, onde as coisas esquentaram de vez. 👀
Boa leitura gente! 😘
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