Hobi se conectou no wi-fi do lounge exclusivo para clientes vip da companhia aérea no aeroporto do Qatar, onde fazia a última escala para Seoul. Faltavam poucas horas para chegar em casa e não via a hora de tomar um longo banho e esticar o corpo em sua cama quente e macia pra sentir confortavelmente a falta de Mila. Só se veriam de novo dali algumas semanas, quando ambos estivessem nos Estados Unidos. Parecia uma eternidade.

Olhando o celular, haviam várias mensagens no grupo dos caras e mais tantas individuais, que ele ignorou e haviam cinco mensagens dela:

"Já embarcou?"

"Esqueci de te comprar uma lembrancinha daqui!"

"Mas o que você ia gostar de ganhar daqui? Ainda não sei...

"Quando você puder, me responde."

"se bem que pode ser de madrugada, aí vou estar dormindo e não vou responder..."

Ele riu, porque era como se pudesse ouvi-la dizendo aquelas coisas em um fôlego só. Já era de madrugada no Brasil, mas ele respondeu mesmo assim.

"vou gostar de qualquer coisa que me der, mas tem que ser algo bonito. E acho que agora é de madrugada aí no Brasil sim. Agora eu que vou esperar você me responder..."

Terminava de digitar, quando o senhor Song se sentou ao lado dele, com uma cara muito séria.

– Já viu suas mensagens?

– Ainda não. – Só as que interessavam. – Por quê? Aconteceu alguma coisa? – Não gostou do tom sério do segurança.

– Sejin sunbaenin me enviou mensagem dizendo para você olhar as suas. Com urgência.

Acionando de novo a tela do celular, Hobi olhou com mais cuidado as mensagens que havia ignorado e várias eram de Yoongi hyung. O amigo, que quase nunca mandava mensagens.

"e aí Hobi, como foi a viagem?"

"deu tudo certo com a família da Mila?"

"espero que sim... Bom, avisa quando estiver chegando, porque a gente precisa fazer uma reunião antes da turnê. Nada demais."

Nada demais... Ignorou essa parte, porque algo estava acontecendo sim. Abriu a seguir a mensagem de Namjoon:

"Hyung, sei que você chega no voo das três, por favor, venha direto pra empresa. Precisamos conversar com Bang PD, o fotógrafo do casamento do Yoongi hyung apareceu."

Merda, caralho, bosta.

"a merda bateu no ventilador." Essa era a mensagem de Jin hyung.

E mais mensagens caóticas dos mais novos, querendo saber que hora que ele chegava e informando que era mesmo um paparazzi a pessoa que tinham visto tirando fotos.

Tinha abstraído totalmente esse problema, mas a realidade das coisas parecia que escolhia os momentos em que estávamos de guarda baixa para nos golpear.

Abriu novamente o chat com Mila, fechando-o em seguida. Pensara em contar o que estava acontecendo logo, mas talvez fosse melhor conversar com o grupo antes sobre o assunto, principalmente com Yoongi Hyung.

Respondeu a mensagem de Namjoon e se desconectou. Era o pior momento para tudo aquilo estar acontecendo... PQP!!!

****

– E aí, como foi?

Mila deixou a mochila sobre a cama e se sentou. Tinha ido a escola somente para conversar sobre seu desligamento, mas estava cansada como se tivesse dado aula o dia inteiro.

– Bom... Eu pedi para ser mandada embora, não quero perder o dinheiro do FGTS e do seguro-desemprego, mas eles me enrolaram e vão me dar a resposta só amanhã.

– Demorou tudo isso de tempo lá pra te falarem isso?

– É... Tive a certeza que eles acham que sou trouxa mesmo...

– Só agora teve a certeza disso? – Mirela retrucou, em um tom jocoso.

– Ah, cala a boca! – Mila atirou um travesseiro na irmã. Só conseguia pensar em como fazer pra elas continuarem tendo como pagar as contas ali no Brasil, enquanto ela vivia seu sonho.

– Se eles não te mandarem embora, vais ter que pedir as contas mesmo... – Mirela recostou na parede do quarto com o travesseiro que Mila jogara nela.

– Não é tão simples...

– O que não é simples?

– Eu sou a principal fonte de renda daqui de casa. Como vão ficar as coisas aqui sem a minha renda?

– Nossa... – Fazendo uma careta, Mirela olhou para o teto. – Eu não sou tão inútil assim, sabe?

– Não foi isso que eu disse...

– Não com essas palavras. – Dessa vez ela que jogou o travesseiro na irmã que agora olhava um ponto fixo no chão. – A gente vai dar um jeito, Mila! Só não desiste, por favor, senão vou ser obrigada a te comer na porrada e não to afim disso hoje.

Mila riu das palavras da irmã, apesar de saber que, se desistisse, Mirela jogaria isso na cara dela para todo o sempre, capaz até de violar seu túmulo pra xingá-la de burra quando morresse.

– Eu não vou desistir, mas to preocupada. Se ao menos tivesse um jeito de garantir que fosse demitida, eu... Ah, tive uma idéia!

****

As únicas palavras que Hobi emitiu na reunião foram pra aplacar os ânimos do mais novo deles sobre a chantagem feita a amiga de Thaisi pelo veículo de mídia para saber informações sobre o casamento de Yoongi hyung e responder brevemente sobre a sua viagem ao Brasil. Se sentia exausto e o único pensamento que rondava sua mente era que as coisas poderiam ser mais simples pra eles, que ele desejava que as coisas fossem mais simples, ainda mais naquele momento em que parecia que todas as áreas da sua vida estavam entrando em perfeita harmonia... Só que não.

Chegando em casa tomou um banho e foi se deitar. Ainda não sabia como contar aquilo pra Mila, mas acreditava que algumas horas de sono lhe dariam uma melhor perspectiva do problema.

Acordou com Jimin chacoalhando-o.

– Hobi hyung, levanta, já tá na hora do ensaio para os shows.

– Hum? – Parecia que não tinha dormido nada. – Já?

– Sim. – Jimin se sentou no pé da cama e ficou observando o rosto cansado de seu hyung. — Tá sentindo bastante o jetlag?

Enquanto se sentava na cama, Hobi refletiu um pouco sobre a pergunta simples:

— Acho que não é só o jetlag, Jimina. Toda essa notícia sobre a chantagem e o que o Yoongi hyung vai fazer pra minimizar o escândalo, que nem deveria ser considerado um escândalo, me nocautearam também.

Se levantando ele deu um longo suspiro enquanto se espreguiçava.

— Os outros já estão prontos? — Foi até o guarda-roupa e pegou a roupa mais confortável que encontrou. Enquanto tirava a camisa do pijama, Hobi percebeu que Jimin não havia respondido sua pergunta. Se voltou para o amigo que ainda parecia o observar.

— Jimina, tudo bem?

Jimin que na verdade havia se perdido nos próprios pensamentos voltou a realidade presente com a segunda pergunta de Hobi. Balançou a cabeça e fechou com força os olhos antes de responder:

— Tudo bem sim. Só fiquei pensando em como as coisas vão ser daqui pra frente. Se tudo isso vai afetar negativamente o grupo e principalmente se Thaisi vai conseguir ser preservada de alguma forma. — Foi a vez de Jimin suspirar.

Depois de vestir a calça de moletom, Hobi se sentou ao lado do companheiro de quarto e o abraçou pelos ombros.

— Não faço ideia de como as coisas vão ser depois do pronunciamento do Yoongi hyung e da empresa. Vamos ter que nos preocupar com isso quando acontecer. — Hobi também não conseguia parar de pensar sobre, assim como se descobrissem sobre seus investimentos recentes e, pior, sobre Mila. Podia sentir o terror que rondava Thaisi e Yoongi naquele momento, por ser algo que poderia facilmente acontecer com ele mesmo e seu amor recém-encontrado.

— Pensando na Mila? — Jimin fez a pergunta acertada quando percebeu que agora era Hobi que havia se perdido em pensamentos.

— É. Pensando quando chegar a minha vez. — Pois ela chegaria, ah se chegaria, completou mentalmente. Ele só esperava ser tão sangue frio quanto Yoongi estava sendo.

— Talvez eles nunca descubram. — A pequena esperança contida na sentença de Jimin fez Hobi abrir um sorriso triste.

— É. Talvez. — Mas ambos sabiam ser muito difícil isso acontecer. Cada pequena coisa e passo que davam eram reportados. Algumas vezes conseguiam despistar a imprensa, como em sua viagem recente ao Brasil, porém, com o casamento de Yoongi vindo a público, esse cerco se fecharia ainda mais. E ainda precisava contar o que estava acontecendo a Mila, rezando para que ela não desistisse dos planos devido a esse problema.

— JIMINAAA!!! HOSEOKAAAA!!!! VAMOS!!! OS CARROS CHEGARAM!!! — O grito de Jin hyung vindo da sala os tirou de seus devaneios tenebrosos, então eles pegaram suas coisas e, em silêncio, saíram do quarto.

****

— Eu vou precisar sair mais cedo hoje.

O pedido de Mila não foi recepcionado bem pela coordenadora da escola onde trabalhava.

— De novo?! Ontem você já saiu mais cedo, além de ter chegado atrasada também. — A coordenadora estreitou os olhos para Mila, curiosa. — Você está com algum problema pessoal?

Parecia ser o momento perfeito pra ter aquela conversa, pensou Mila, depois de três dias de enrolação por parte da escola a seu pedido. Ela só precisava ter cuidado sobre o que era ou não necessário revelar.

— Há três dias pedi que mandassem embora, mas não tive mais nenhuma resposta sobre isso. E sei que pretendem cortar alguns professores da grade. Quero pedir que eu seja uma delas.

Aquela sentença pareceu pegar a coordenadora de surpresa:

— Como tu sabes disso? — Percebendo que havia confirmado o que Mila acabara de contar, tentou desconversar em seguida. — Não sei aonde tu ouviu isso, mas não é bem assim...

— Tudo bem, mas e quanto ao meu pedido? — Mila interrompeu a argumentação da coordenadora. Não queria ouvir as desculpas dela, até porque confiava mais na rádio peão do que nela. — É possível que eu seja mandada embora? Abro mão dos 40%, preciso somente do seguro desemprego mesmo.

— Bom... Tu estás com algum problema? O pedido pra ser mandada embora e agora os atrasos... — A coordenadora definitivamente queria saber da fofoca da vida de Mila, devia se mesmo um prato cheio saber da vida dela que sempre tinha sido tão reservada.

Mila suspirou resignada, pensando na meia verdade que contaria:

— Eu estou com problemas na minha família. — Não era totalmente verdade, mas também não era mentira de que precisava do seguro-desemprego por conta da família, quando não estivesse mais em Belém. — E preciso desse tempo pra resolver várias questões...

— Ah, eu sinto muito... Posso ajudar em alguma coisa? — A mulher queria mesmo a história completa. Dava quase pra ver ela salivando pra saber.

— Pode sim. — Foi a resposta pronta de Mila. E antes que a mulher abrisse completamente o sorriso, pois saberia da fofoca completa, Mila completou. — Pode me mandar embora. Se puder ser hoje mesmo, eu agradeço muito mesmo, serei eternamente grata! — Tentou fazer a cara mais angelical e pidona que podia.

— Bem... — Pela expressão da coordenadora parecia que receberia nova negativa, quando naquele momento o diretor da escola entrou, sem bater, na sala da coordenação, falando já sobre um assunto que provavelmente não era para os ouvidos de Mila.

— Já começou as dispensas dos professores, Cátia? — Ele só percebeu, tarde demais, que a coordenadora não estava sozinha na sala. — Oh! Desculpe pela interrupção.

Mila aproveitou aquele momento para fazer por si mesma, antes que fosse dispensada da conversa sem conseguir o que precisava:

— Ela estava conversando comigo sobre a minha dispensa, Cláudio. — Fez uma cara de resignação.

— Verdade? — Pareceu confuso. — O nome da Mila estava na lista de demissões? — Agora a pergunta foi direcionada a Cátia, que não conseguiu responder, pois Mila tomou sua frente mais uma vez.

— Ela me disse que não, mas como venho tendo problemas em casa e não conseguindo chegar no horário, possivelmente tendo que faltar sem justificativas médicas por conta disso, resolvemos que seria melhor eu ser dispensada também. — Toda a explicação de Mila deixou a coordenadora sem palavras para negar, afinal, ela havia mentido dizendo que não haveriam cortes. Ficariam elas por elas.

— Sério?! — O diretor, apesar de parecer confuso, não pareceu se importar muito com a dispensa de Mila, mesmo que suas palavras seguintes dissessem o contrário. — Foi muito bom trabalhar contigo nesses últimos anos, espero que tudo dê certo pra ti daqui pra frente.

— Sim, sim. Aqui está minha carteira de trabalho pra ser dada baixa. Também foi muito bom trabalhar aqui. — Nesse momento, Mila já estava pronta pra ir, a bolsa atravessada no corpo, enquanto deixava a carteira de trabalho em cima da mesa da coordenação.

Saiu da sala com um sentimento de triunfo. Ainda que fosse somente uma demissão, parecia que enfim as coisas realmente estavam dando certo pra ela.

****

Tinha adiantado diversas coisas após sair da escola, com relação as documentações da viagem e para o curso e naquela noite recebeu o primeiro telefonema de Hobi após seu retorno à Coreia, até então tinham passado alguns dias somente trocando mensagens, mas não tinha achado estranho, principalmente por conta do fuso horário e devido aos ensaios da turnê. Porém, foi só escutar o tom de voz dele que Mila percebeu que havia algo errado:

— Aconteceu alguma coisa, Hobi? — perguntou com cautela, pois já começavam a crescer caraminholas na sua mente, pensando se ele havia se arrependido de tudo.

— Bom... — Ele parecia reticente em falar e isso alarmou ainda mais Mila.

— Você está cansado? São oito da manhã aí, né? — Mila saíra para o quintal, pois se ele realmente fosse dizer que tinha se precipitado e desistido de tudo, ela não sabia se conseguiria esconder aquilo da mãe e da irmã.

— Sim, sim. Estamos ensaiando desde as seis. Estamos dando um intervalo agora.— Ele suspirou. — Mas não é sobre isso que eu queria conversar, Mira. E é melhor eu contar logo, antes que você saiba pela imprensa.

— Imprensa?! — O pânico se instalou de vez na cabeça de Mila. — Como?! Quer dizer, quem contou sobre os planos da cafeteria?! — De repente, pensou que Hae Jin pudesse ter falado algo sem querer pra alguém...

Mas Hoseok interrompeu os pensamentos caóticos de Mila:

— Não é sobre a cafeteria. É sobre o casamento da Thaisi e do Suga hyung. Quando chegarmos nos EUA amanhã Yoongi hyung vai soltar uma carta dele pra imprensa sobre, porque o paparazzi está rondando os convidados do casamento e fazendo chantagem.

— Aí meu Deus! — Um sentimento de alívio e logo depois de horror tomou conta de Mila. — Preciso falar com a Tha.

— Vai ser bom você falar com ela sim. E, Mira... — A hesitação de Hobi a deixou mais nervosa, se isso fosse possível naquela situação.

Talvez ele estivesse vendo como seria difícil eles ficarem juntos com toda a situação da Tha e do Yoongi e estivesse arrependido. Talvez ela também devesse estar se arrependendo, mas, no momento, ela só conseguia sentir medo. Medo por ter deixado o emprego, medo por ter embarcado de cabeça naquele novo plano de carreira, e, principalmente, medo de Hoseok querer terminar com ela. Resolveu ser corajosa, entretanto:

— Pode falar, Hobi.